College Football 2014: Week 7 Review

Paulo Pereira 13 de Outubro de 2014 Análise Jogos College Comments
Mississippi State at Auburn

College Football 2014: Week 7 Review

Nos últimos anos vivemos sobre o jugo da SEC e de Alabama. Era na principal conferência que se dirimiam as questões sobre o título, tendo sempre no epicentro da questão a universidade gerida por Nick Saban. O ano passado mostrou que os potentados também se abatem. A histórica vitória de Auburn sobre ‘Bama veio mostrar que os dogmas já não são o que eram, como depois demonstrou Florida State, rompendo a opressão da SEC e levando uma equipa da ACC ao triunfo na competição. Este ano tudo está ainda mais transfigurado. Na Pac 12 e na SEC as equipas canibalizam-se. Os invictos caem, semana após semana. O caos torna difícil prever o que quer que seja. Os playoffs, inaugurados este ano, poderão contar com 4 equipas com derrotas. Mas, até essa fase, deleitemo-nos com o que nos é oferecido. Baylor resistiu a uma excelente TCU, num jogo repleto de pontos. Ole Miss e Mississippi State, irmanadas geograficamente, continuam a provar ser relevantes, abatendo peso-pesados. Na semana passada foi Alabama e Texas A&M. Desta feita, Auburn e novamente Texas A&M a caírem. As emoções não dão tréguas. Em jornadas visionadas por multidões (Texas A&M versus Ole Miss contou com mais de 110,633 espectadores), o entusiasmo vai numa espiral crescente. Para a semana, Florida State recebe Notre Dame, com ambas sem derrotas. Alabama, que escapou por um mísero ponto a nova derrota frente a Arkansas, recebe os Aggies, que vêm de duas consecutivas. Com tudo em aberto, cada jogo conta. Cada partida, cada snap, cada drive, coloca os vencedores mais próximos do acalentado sonho. Ao invés, uma derrota nesta altura pode significar o abrupto fim.

Indubitavelmente, mesmo num Sábado repleto de jogos importantes e apelativos, existia um que se sobrepunha a todos os outros. A ida de Auburn, nº 2 do ranking, a casa de Mississippi State, surpreendente revelação da prova e actual nº 3 do ranking, eclipsava as outras partidas. O Sábado anterior tinha colocado as previsões anteriores de cabeça para baixo, baralhando tudo e mostrando que a corrida aos playoffs é, este ano, aberta e imprevisível.

O Jogo da Semana

Auburn, 23 vs Mississippi State, 38

Comecemos pelo óbvio, para quem assistiu ao jogo. O ambiente. É fabuloso ver, no College, as assistências que conferem um colorido diferente a cada encontro. 63 mil espectadores! Os Bulldogs continuam on fire, tendo entrado para a história ao tornarem-se a primeira equipa, nos últimos 30 anos, a derrotar consecutivamente oponentes do top-10 (LSU, Texas A&M e Auburn). E agora, o que lhes reserva o futuro próximo? Sinceramente, face ao que a equipa tem vindo a produzir, era da mais elementar justiça os Bulldogs entrarem na próxima semana como o novo nº 1 da competição, destronando os Seminoles. O calendário de Mississippi, conforme já aqui foi escrito, tem sido tortuosamente difícil, bem mais do que o de Florida State. Mas isso, no fundo, é uma discussão estéril. O que importa é realçar a brilhante temporada da equipa, que teve continuidade contra Auburn. A entrada de Mississippi no jogo foi brutal, resolvendo a questão no primeiro período, com 3 touchdowns que colocaram o jogo em 21-0. Com uma defesa sufocante, que obrigou Auburn a erros consecutivos nas duas primeiras jogadas, e com Dak Prescott a continuar em estado de graça (o QB continua a deslumbrar no solo, onde amealhou mais 121 jardas e 2 TDs), Auburn quase foi varrida do mapa. Valeu o estoicismo da equipa, mentalmente forte, que a espaços ameaçou a hegemonia territorial. Sempre com Nick Marshall a comandar o ataque ( o QB procurou ultrapassar os erros iniciais, tendo conseguido ser o mais relevante elemento dos Tigers no jogo, com 100 jardas terrestres e 209 no passe), Auburn apenas conseguiu amenizar o desaire. Num jogo repleto de momentos deliciosos e exibições meritórias, destaque para D’haquille Williams, receiver de Auburn, com nova demonstração de qualidade. 6 recepções, 108 jardas e 2 TDs.

Oregon, 42 vs UCLA, 30

Esqueçam, por momentos, o marcador (que foi desnivelado grande parte do encontro). Frente-a-frente duas das potências da PAC 12 (e ambas no top-25 da prova) e dois dos mais mediáticos quarterbacks do College: Brett Hundley e Marcus Mariota. Outro factor interessante, antes do início da partida, era saber como reagiriam as duas equipas aos desaires anteriores. Oregon tinha claudicado contra Arizona e UCLA contra Utah, comprometendo ambas as pretensões a algo mais na temporada do que a mera luta pelo ceptro da conferência. Oregon foi um justo vencedor, ao saber aproveitar o regresso de Jake Fischer, o seu left tackle habitual. Sem ele, a OL de Oregon vinha demonstrando ser um passador, não dando tempo a Mariota para fazer a habitual magia. Na derrota da semana passada, Mariota sofreu 10 sacks. Contra UCLA isso foi estancado e, finalmente, a equipa teve o seu primeiro jogo da época com mais de 100 jardas corridas (Royce Freeman, com 121 e 2 TDs). Mais importante do que a imposição de um run game: Mariota teve tempo no pocket (e fora dele). Quando isso acontece, é difícil parar os Ducks. O QB de Oregon teve 210 jardas passadas, para 2 touchdowns, sem erros mencionáveis, e mais 75 jardas no solo, para mais 2 scores. Já que mencionei, acima, Brett Hundley, ele viveu para as expectativas geradas. Obrigado a lançar mais do que Mariota, por UCLA ter andado sempre atrás no marcador, Hundley não foi tão preciso (lançou 218 jardas, 2 TDs e uma INT) no passe, mas mostrou que pode ser tão letal com as pernas, colhendo 89 jardas e marcando por uma vez.

TCU, 58 vs Baylor, 61

What a game! Era um confronto de titãs, entre duas equipas invictas, com fortes aspirações na temporada, não só na conferência BIG 12 mas, sobretudo, no desejo acalentado de receberem o bilhete mágico para os playoffs. TCU, vinda de uma importante vitória contra Oklahoma, era um visitante indesejado para Baylor e tornou o jogo num empolgante thriller. Mas, como quase sempre, a equipa de Art Briles encontrou uma forma de escapar a uma derrota que, durante grande parte do jogo, parecia certa. Quando o linebacker de TCU Marcus Mallett retornou uma INT para touchdown, muitos espectadores que lotavam as bancadas resolveram sair. Prematuramente. Depois disso, assistiu-se a uma cavalgada impressionante dos Bears rumo a um triunfo épico, marcando 24 pontos consecutivos, nos últimos 9 minutos do jogo. Petty foi instrumental (perceberão o porquê se lerem o “quarterback da semana”), aproveitando o rico grupo de receivers que possui. A defesa assumiu a sua quota de responsabilidade, finalmente conseguindo parar o ataque contrário. A recuperação aconteceu, em 3 drives que terminaram em TDs. E, depois, com inúmeros nervos à mistura, alguma contestação na marcação de um pass interference, Baylor ficou em field goal range. 28 jardas, com 1 segundo no cronómetro e um estádio silencioso, rezando pelo sucesso do pontapé. 3 pontos que, mais do que garantirem a invencibilidade de Baylor e o seu favoritismo a novo título na Big 12, são preciosos em tornarem relevante o nome da equipa para o comité que seleccionará os 4 finalistas da época.

O Quarterback da Semana

Bryce Petty, Baylor. Eclipsado pelos mais mediáticos Marcus Mariota, Jameis Winston e Brett Hundley, Petty começa a merecer mais atenção dos media e dos fãs do futebol universitário. Não sendo já um segredo bem guardado, Petty é ainda olhado de soslaio por alguns sectores, pouco atreitos ao aparecimento de novos fenómenos e a uma competição cada vez mais aberta, longe dos cânones habituais. Baylor é uma equipa a ter em conta, com um crescimento sustentado na Big 12, merce do trabalho meritório de Art Briles. É, se quisermos, uma reencarnação da fantástica equipa de Boise State de alguns anos atrás, que arreliava contendores ditos mais fortes e mostrava que, fora dos círculos do poder do College (leia-se a SEC e Pac 12), também existia futebol. Do bom. Petty mostrou uma característica comum a todos os grandes QBs: resiliência mental. O jogo contra TCU foi duro e colocou a equipa de Baylor e o jogador contra a parede, em inúmeras ocasiões. E sempre, mesmo quando parecia impossível, foi encontrada uma forma de escapar. Petty não teve um jogo perfeito. Longe disso. Foi atormentado pela DL contrária. Cometeu erros. Exibicionalmente viveu uma noite de montanha russa, com altos e baixos. Mas, repetindo a ideia, soube encontrar uma forma de recuperar. Uma e outra vez, mesmo quando no 4º período lançou uma pick 6 que colocou o resultado em 58-37. Faltavam 11 minutos e 38 segundos para o final. Outro QB teria soçobrado ao peso do erro e ao resultado negativo. Petty encontrou forças nesse lapso. E engendrou 3 drives consecutivas, rápidas, que culminaram em scores para igualar a contenda. Teve, logicamente, o forte contributo da defesa, que forçou vários 3-and-outs. Depois, novamente com a bola nas mãos, com o tempo a escoar, Petty foi cirúrgico ao colocar a equipa em field goal range, para um pontapé de 28 jardas que garantiu a invencibilidade. 28/55 no passe, 510 jardas, 6 touchdowns e duas intercepções. Apenas mais um dia no trabalho, para Bryce Petty.

O Running Back da Semana

A PAC 12 está tão interessante – ou quase – como a SEC. Conferência aberta, com os putativos candidatos a demonstrarem terem fraquezas inesperadas, tem vivido em permanente estado de guerra, com feridas profundas infligidas pelos outros contendores. Arizona era, até agora, a única equipa invicta, sonhando com um feito que parecia, antes do início da prova, uma mera quimera. Mas quando se defronta, semana após semana, adversários difíceis, alguma vez a derrota surgirá. Ela apareceu, embrulhada de modo dramático, com um FG desperdiçado nos instantes finais. Não é isso que importa, para aqui. O que merece relevo é a forma empenhada como USC lutou, mantendo-se sempre competitiva no jogo, sabendo que disputava ali a última cartada na temporada. Já com duas derrotas, uma 3ª abriria um fosso impossível de ser superado, tornando a vitória na conferência uma miragem. O obreiro do triunfo, no ataque, foi o running back Javorius Allen, com um jogo memorável e que figurará como um dos melhores na sua carreira. Impondo desde cedo a força do seu jogo, explorando a debilidade de Arizona a defender a corrida, Allen ganhou jardas, colocou sempre a equipa em boa posição de campo e…pontuou. Foram 3 touchdowns, 205 jardas conquistadas em apenas 26 corridas (média de 7,9 por corrida).

Menção Honrosa da Semana

A classe de running backs que vai entrar no draft de 2015 vai ter uma coisa em comum: enorme talento! A profusão de nomes sonantes, que têm feito as delícias dos fãs do College, não cessam de aparecer. Já aqui falamos de Todd Gurley, agora suspenso numa daquelas ridículas sanções que regularmente a NCAA resolve dar. De Melvin Gordon, que continua a brilhar em Wisconsin. De Ameer Abdullah, a melhor razão para se ver um jogo de Nebraska. Hoje é a vez de Tevin Coleman, cujo nome tem sido cada vez mais mencionado, em tons fortemente apreciativos, na imprensa. Não é por isso que ele aparece aqui, em destaque. Nem sequer por ter ganho, o que até contraria um bocado a razão de ser deste prémio semanal oficioso. Mas Coleman, mesmo tendo saído derrotado no jogo do fim-de-semana, teve uma actuação hercúlea, lutando até à última gota de suor, até ao limite da exaustão, pelo triunfo. Não é exagero. Indiana, a sua alma mater, vegeta a meio da tabela na Big 10. E a deslocação ao reduto de Iowa, que luta pelo título na conferência, não se afigurava fácil. Não foi. Indiana foi vítima de atropelamento e fuga, perdendo de forma contundente por 45-29. O único destaque positivo, do lado dos perdedores, foi mesmo Coleman, uma força da natureza. O ainda junior, com 6’1’’ e cerca de 210 libras de peso, destroçou sempre que pode a defesa contrária, correndo 219 jardas e marcando 3 touchdowns. Com uma impressionante média de 14,6 jardas por corrida, pergunta-se porque é que ele apenas teve direito a 15 corridas? Se a sua efectividade era tremenda, desnudando a run defense de Iowa, que raio de game plan foi o de Indiana, que em vez de martirizar o adversário no solo continuamente, foi comedido na abordagem?

Menção Honrosa da Semana 2

Sou sempre atraído para os recruits que, vindos do high school, aparecem no college rotulados de estrelas em ascensão. Leonard Fournette é um desses. Running back prodigioso, foi catalogado como 5 stars, aumentando a expectativa de vê-lo em acção, em Baton Rouge. Fournette foi dando indícios, nos primeiros jogos com LSU, de que o potencial louvado pelos scouts estava lá, em estado bruto. Alguns highlights aqui, outros ali, e percebia-se que teríamos um jogador sensacional, quando desabrochasse. Fê-lo agora, num grande palco e quando a equipa mais necessitava dele. No embate da SEC contra os Gators, Fournette foi o melhor jogador em campo, mantendo vidas as aspirações da equipa de Les Miles na SEC West. 27 corridas, 140 jardas e 2 touchdowns, num jogo decidido nos últimos instantes num field goal de 50 jardas.

O Wide Receiver da Semana

Podem ser três? E da mesma equipa? Baylor é um viveiro de talento e a spread offense, com Bryce Petty aos comandos, o ideal para retirar proveito das skills dos seus jogadores. No tiroteio contra TCU (61-58), Petty não teve qualquer problema em encontrar alvos para os seus passes, quando a equipa estava com o modo recuperação em ON. Foram 510 jardas aéreas que colocaram em xeque a secundária contrária e tornaram os seus receivers em candidatos ideais para MVP da partida. Comecemos então a enumera-los:

  1. Antwan Goodley – 8 recepções, 158 jardas e 2 TDs;
  2. Corey Coleman – 8 recepções, 144 jardas e 2 TDs;
  3. KD Cannon – 6 recepções, 124 jardas e 1 TD.

Que equipa fantástica. Que ataque produtivo. Que show semanal eles dão!

O Defesa da Semana

Shaq Thompson é prodigioso. Ponto. Numa altura em que os scouts discutem os seus méritos, dividindo-se sobre a permanência do jogador como linebacker ou running back (sim, ele tem apetência para ambas as funções), o jogador de Washington teve um papel preponderante a “secar” o ataque de California, anteriormente produtivo. Na vitória por 31-7 foi omnipresente na defesa, com 11 tackles e 2 tackles for loss. Mas foi o seu forced fumble sobre Jared Goff, o QB de Cal, que se esgueirava para a end zone para marcar um TD, que se tornou o momento do jogo. Shaq não se limitou a forçar o fumble, impedindo a marcação de 7 pontos. Não. Ele recuperou a bola e correu com ela, 100 jardas, para marcar um touchdown fantástico, mostrando todas as suas habilidades nesse lance.

Menção Honrosa da Semana

Decorem o nome. Leonard Williams, DT de USC. Irão ouvir falar dele. E muito, nos meses antecedentes ao draft de 2015. Quase unanimemente considerado o melhor defensor da competição, Williams foi instrumental na difícil e preciosa vitória da universidade californiana sobre Arizona, colocando um ponto final na invencibilidade do adversário. É fácil colocar o ónus da derrota no kicker de Arizona, que falhou um field goal nos últimos segundos, negando o triunfo à sua equipa. Que seja. Leonard Williams fez o que foi preciso na defesa, parando ataque e sendo disruptivo na DL. Anotou 8 tackles, parou corridas o jogo inteiro e provocou um fumble numa altura decisiva.

About The Author

Paulo Pereira

O meu epitáfio, um dia mais tarde, poderá dizer: “aqui jaz Paulo Pereira, junkie em futebol americano”. A realidade é mesmo essa. Sou viciado. Renascido em 2008, quando por mero acaso apanhei o Super Bowl dos Steelers/Cardinals, fiz um reset em [quase] todos os meus dogmas. Aquele desporto estranho, jogado de capacete, entranhou-se no meu ADN, assumindo-se como parte integrante da minha personalidade. Adepto dos Vikings por gostar, simplesmente, de jogadores que desafiam os limites. Brett Favre entra nessa categoria: A de MITO.