Buccaneers @ Vikings: Desilusão em Tons de Purple & Gold

Paulo Pereira 29 de Outubro de 2012 Análise Jogos NFL Comments

Tampa Bay Buccaneers at Minnesota Vikings

1 2 3 4 F
Tampa Bay Buccaneers 10 10 10 6 36
Minnesota Vikings 0 10 7 0 17

Desilusão em Tons de Purple & Gold

Christian Ponder

A desilusão na cara do quarterback Christian Ponder dos Minnesota Vikings
Fonte da Imagem: AP Photo/Andy King

Recuemos no tempo, numa viagem na memória colectiva. Nesta nossa peculiar viagem, vamos assentar arraiais na offseason. Relembremos, nesta recordação, o que se escrevia na altura, sobre os contendores do Thursday Night Football. Os Minnesota Vikings não eram uma incógnita. Eram uma certeza. Pela negativa. Último lugar garantido na NFC North e praticamente transformados em saco de pancada geral. Adivinhava-se um ano de remodelação, com sinais de melhoria em relação a 2011, mas insuficientes para sair do fundo do pelotão da NFL. Por sua vez, em Tampa residia esperança. Não que a equipa fosse apontada ao que quer se seja, depois do caótico reinado de Raheem Morris. A chegada de Greg Schiano pretendeu introduzir disciplina num grupo repleto de talento, mas onde a rebeldia não era devidamente domada. Alguns apontavam como possível que, aproveitando a confusão reinante em New Orleans, a equipa pudesse capitalizar e aparecer como putativa candidata ao título divisional. Fast forward e regresso ao presente. Pois bem, nada do que foi maioritariamente dito aconteceu. Nos Tampa Bay Buccaneers nota-se a diferença, a habilidade, o trabalho. A equipa está diferente. Mas ainda não chega, para já. Por outro lado, os Vikings aparecem como uma agradável surpresa, contrariando as pessimistas premonições. Com uma defesa sólida, onde a secundária afastou a péssima imagem deixada em anos recentes e com um ataque onde pontificam alguns atletas excepcionais, a equipa de Minnesota começou a fazer sonhar os seus adeptos. 5-2, antes desta partida e a possibilidade de alcançar os playoffs cada vez a ser mais palpável. Se estes eram os papéis de cada um, foram rapidamente invertidos com o desenrolar do jogo. Os Bucs provaram que conseguem vencer on the road, perante uma equipa com recorde positivo. E fazem-no mantendo a vantagem alcançada cedo no marcador, nunca permitindo qualquer recuperação ao adversário, naquilo que constituía o calcanhar de Aquiles da equipa. Contra New York Giants e Dallas Cowboys, a equipa de Tampa Bay liderou o marcador a maior parte do tempo, apenas para ficar com a frustração final de assistir à recuperação dos adversários. Os Vikings, por sua vez, nunca demonstraram o porquê de elogios recentes, parecendo uma equipa previsível, incapaz de arriscar no game plan e nunca extraindo o melhor das várias armas que tem à disposição. Será um crime de lesa-majestade se estes Vikings, com os empolgantes Percy Harvin e Adrian Peterson, não terminarem com um recorde positivo. Mas os playoffs, face ao que se viu, continuarão a ser uma quimera.

O Jogo

Os sinais de alarme tinham sido ligados em Minnesota, após o jogo com os Cardinals. A defesa tinha dado mais de 100 jardas corridas, de forma inesperada, deixando que LaRod Stephens-Howling saltasse para o cabeçalho das páginas dedicadas ao fantasy. Valeu, na altura, alguma ineptidão em John Skelton e uma linha ofensiva dos Cardinals que concorre para ser a pior da liga, para os Vikings conseguirem a vitória. Esperava-se um estancamento nesse capítulo, num jogo previsivelmente equilibrado. A equipa vinda de Tampa tem sido competitiva, mesmo colecionando mais derrotas do que vitórias. O ataque tinha feito um brilharete, contra os New Orleans Saints, com a conexão Josh Freeman/Vincent Jackson a deliciar os fãs. Mas ninguém esperaria o que se passou no terreno de jogo. Vindos duma curta pausa, após terem jogado no Domingo, os Buccaneers viajaram metade do País…para dominar de princípio ao fim uma partida rapidamente esvaziada de qualquer história. Depois de terem conseguido 463 jardas totais contra os Chiefs e 513 contra os rivais Saints, a equipa de Greg Schiano colocou 416 contra uma até então sólida defesa dos Vikings, encontrando forma de criar pressão num pass rush debilitado por lesões. Com um game plan similar a outros jogos, os Vikings foram vítimas da própria previsibilidade. Apenas Percy Harvin e Adrian Peterson conseguiram, a espaços, colocar a equipa no trilho do triunfo, mas os erros na defesa (impressionante a quantidade de tackles falhados e a ausência de capacidade para pressionar a OL) e os fumbles em alturas cruciais deitaram tudo a perder.

1º Período

Só deu Buccaneers, desde início, com os Vikings a esbarrarem em 3-and-out sucessivos. O marcador foi inaugurado no final de uma drive de 6 jogadas e 48 jardas, com o field goal de Connor Barth a ser concretizado, a 28 jardas de distância. Pouco depois, aproveitando mais um punt imperfeito de Chris Kluwe, Josh Freeman orquestrou uma longa drive, usando Doug Martin no jogo corrido e alternando o passe entre vários receivers. Destaques merecidos para Vincent Jackson, num dos seus poucos momentos altos, com uma recepção de 26 jardas, e Dallas Clark, contribuindo com uma recepção segura, de 10 jardas, bem perto da end zone. Drive finalizada por um insuspeito Eirk Lorig, com este a receber um passe de uma jarda. 10-0 no marcador e o Mall of America Field silenciado.

Erik Lorig, Doug Martin

Celebração de Erik Lorig
Fonte da Imagem: AP Photo/Andy King

2º Período

Continuou o passeio dos Buccaneers. Doug Martin foi empilhando jardas em cima de jardas, naquela que iria ser, no final, a noite de glória da sua carreira. A jogada iniciou-se com um sack de Michael Bennett, do qual resultou um fumble de Ponder, recuperado por Mason Foster. Freeman capitalizou a oferta da sua defesa e colocou Connor Barth novamente na linha de tiro. FG de 40 jardas e 13-0.
O momento do jogo em que parecia ser possível a recuperação dos Vikings. A equipa, finalmente, começou a carburar no ataque, com a combinação perfeita entre Percy Harvin e Adrian Peterson. Harvin inaugurou as hostilidades, por parte dos purple & gold, com uma recepção e corrida para um ganho de 32 jardas. Adrian Peterson fez o resto, pavimentando o caminho para a explosão nas bancadas. Passe perfeito de Ponder para Harvin, de 18 jardas, e o primeiro touchdown dos visitados. 13-7.

Percy Harvin, Eric Wright

O momento final do TD de Percy Harvin
Fonte da Imagem: AP Photo/Jim Mone

A defesa dos Vikings fez o que lhe competia, a seguir, parando de imediato a potencial reacção dos Bucs. E, depois, acontece aquele que é, para mim, o momento do jogo. Quando os Vikings cresciam a olhos vistos, com as jogadas a serem realizadas com sucesso e o ataque a mover-se de forma consistente, Adrian Peterson sofre um tackle de Ronde Barber, perdendo a bola, recuperada por Quincy Black, linebacker dos Buccaneers. Aproveitaram os Bucs, com Doug Martin a assumir-se como protagonista da drive, colocando a equipa na linha de duas jardas dos Vikings. Josh Freeman completou o trabalho, encontrando Mike Williams na end zone, marcado pelo rookie Josh Robinson. Belo lance, com um passe perfeito, em espiral, a aterrar numa apertada janela de oportunidade.

Os Vikings eram já uma equipa conformada. Mesmo assim, destaque para a drive que terminou num field goal de Blair Walsh, de 51 jardas. Nela, Ponder conseguiu provavelmente o seu melhor passe da noite, num longo lançamento para Jerome Simpson, num ganho de 26 jardas. O lance acentuou a ideia de que Simpson, se bem aproveitado no plano de jogo dos Vikings, poderá ser a deep threat que a equipa desesperadamente necessita.

3º Período

Provavelmente, o melhor período do jogo, com os dois lances mais fantásticos da partida. Na drive inicial, Doug Martin aproveitou um passe lateral de Josh Freeman, destinado a garantir apenas algumas jardas, para o transformar numa obra-prima de potência muscular, correndo 64 jardas pelo meio da defesa dos Vikings. Um rotundo ponto final na partida. O field goal, conseguido poucos minutos depois, por Connor Barth, apenas ajudou a esvaziar as bancadas do estádio, com os fãs cientes de que a derrota pesada era já uma realidade. Todos aqueles que saíram mais cedo perderam o lance magistral de Adrian Peterson, como se o veterano RB quisesse dar uma resposta ao rookie Doug Martin. É um lance similar, curiosamente de 64 jardas, com Peterson a cavalgar pelo meio da defesa, suportando dois tackles mas conseguindo, num esforço hercúleo, manter-se de pé.

4º Período

Garbage time. Resultado decidido e poucos motivos válidos de realce. Josh Freeman, mesmo assim, continuou a exibir a sua vasta gama de recursos, com um lance vistoso, para Mike Williams, de 34 jardas. É realmente impressionante assistir à repetição da recepção, com a bola magistralmente colocada no único sítio possível, resgatada pelas mãos de Mike Williams, completamente no ar, apertado pelo cornerback. A drive terminou numa curta corrida de Doug Martin, de uma jarda, para novo touchdown.

As Nossas Escolhas

MVP: Doug Martin, running back dos Buccaneers, com o jogo da sua ainda curta carreira. Impressionante demonstração de vitalidade, força e velocidade, quebrando tackles e movendo o ataque da equipa. 29 corridas, 135 jardas, 1 touchdown, aliados a 3 recepções, para 79 jardas e 1 TD. Merece claramente o título de MVP, celebrando o seu 1º jogo acima das 100 jardas. Com a suas mais de 200 jardas, no total, Martin torna-se o 1º running back da franquia a conseguir tal feito, desde Warrick Dunn, em 2000.

Jamarca Sanford, Doug Martin

Doug Martin, numa das suas incursões em território adversário
Fonte da Imagem: AP Photo/Jim Mone

Positivo: Nos Vikings existem poucos motivos de celebração. Destaques óbvios para os de sempre. Percy Harvin, pela consistência do seu jogo, assume-se como a ameaça mais válida no jogo de passe. Foram 7 recepções, 90 jardas e um touchdown. Junto dele, mesmo com o brilho da performance esbatido pelo fumble comprometedor, Adrian Peterson passou novamente das 100 jardas. Foi impressionante a capacidade do running back para furar defesas, quebrar tackles e acrescentar jardas após contacto, numa imparável demonstração de vigor físico. Em 15 corridas, 123 jardas e 1 TD. Na defesa, se Antoine Winfield fez o esperado, que foi secar por completo a ameaça Vincent Jackson, apenas Brian Robinson conseguiu mostrar, no front seven, alguma pressão. O defensive end esteve eficaz na linha de scrimmage, conseguindo deflectir 3 passes.

Nos Buccaneers é notória a subida de forma de Josh Freeman, O quarterback realizou o seu terceiro jogo seguido com 3 passes para touchdown, novidade na história da franquia. Freeman, a quem muitos auguram um futuro promissor, parece querer recuperar do desastroso ano de 2011. Sereno no pocket, plenamente confiante na protecção da sua guarda pretoriana, nunca vacilou, mesmo quando Vincent Jackson desapareceu do jogo. Usou Dallas Clark e Mike Williams como alvos principais, aproveitando a ausência parcial de Chris Cook, substituído por lesão, na defesa dos Vikings. Michael Bennett, defensive end, continua positivamente a construir uma época pessoal cheia de qualidades. Conseguindo ser pressionante, a maior parte do jogo, conseguiu um sack (o 5º da época) e um forced fumble (o seu terceiro, este ano), contribuindo ainda na defesa contra a corrida. O principal destaque na defesa foi o safety Ronde Barber. Mesmo com 37 anos, o veterano não dá mostras de abrandamento no seu entusiasmo, produzindo algumas big plays, que ajudaram à manutenção da tendência do jogo. Com dois forced fumbles, Barber ainda participou activamente em blitzes, nunca deixando que Ponder permanecesse confortável no pocket. Para quem, no início da época, dava sinais de que 2012 seria o seu último ano, Barber parece revitalizado no seu papel de mentor e líder de uma equipa extremamente jovem. Parece ser uma nota dominante este ano, nos Bucs, a utilização do fullback Erik Lorig em regulares incursões no passe. Contra os Vikings, Lorig obteve o seu primeiro touchdown, num belo movimento colectivo.
Nota final para saudar o regresso de Da’Quan Bowers, depois da lesão no ligamento do joelho que o manteve afastado, desde Maio. Usado de forma intermitente e apenas em situações de situational pass-rusher, Bowers conseguiu um sack e mostrou encorajadores sinais de recuperação das suas capacidades.

Negativo: Recuso-me a atribuir o grosso das culpas a Christian Ponder, mas é evidente que o quarterback dos Vikings atravessa um período de pouca confiança. Depois da horrível exibição contra os Cardinals, o jovem QB nunca conseguiu movimentar o ataque com ritmo, entrando bastante mal no jogo, falhando a maioria dos passes nas duas primeiras drives. Revelando um retrocesso na precisão do lançamento, raramente colocou a bola a mais de 10 jardas, deixando o ataque completamente dependente do jogo corrido. Mas, como disse, não é só ele que merece uma reprimenda. Jerome Simpson e Adrian Peterson, por exemplo, tiveram fumbles que custaram muito caro à equipa, levando a 10 pontos do adversário. A perda de bola de Peterson quebrou completamente o momentum dos Vikings, que tinham acabado de reduzir a diferença no marcador a apenas uma posse de bola. A defesa, conforme adiantado, esteve irreconhecível, falhando um número abismal de tackles (17) e nunca encontrando antídoto para parar Doug Martin. O pass rush nunca existiu, de forma consistente, deixando que Josh Freeman tivesse uma noite sossegada. Para finalizar, até o punter Chris Kluwe esteve numa noite para esquecer, nunca imprimindo profundidade aos seus pontapés, oferecendo sempre boa posição no campo ao adversário.

Pouco haverá a apontar aos Buccaneers, nesta sua terceira vitória da temporada. Sólidos na linha ofensiva, conseguiram ser pressionantes na defesa, mesmo numa noite algo apagada de Gerald McCoy. A única nota negativa vai para Donald Penn, o left tackle, que se envolveu numa pouco edificante luta com Jared Allen.

 

About The Author

Paulo Pereira

O meu epitáfio, um dia mais tarde, poderá dizer: “aqui jaz Paulo Pereira, junkie em futebol americano”. A realidade é mesmo essa. Sou viciado. Renascido em 2008, quando por mero acaso apanhei o Super Bowl dos Steelers/Cardinals, fiz um reset em [quase] todos os meus dogmas. Aquele desporto estranho, jogado de capacete, entranhou-se no meu ADN, assumindo-se como parte integrante da minha personalidade. Adepto dos Vikings por gostar, simplesmente, de jogadores que desafiam os limites. Brett Favre entra nessa categoria: A de MITO.