Indianapolis Colts at Jacksonville Jaguars
1 | 2 | 3 | 4 | F | |
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Indianapolis Colts | 3 | 14 | 7 | 3 | 27 |
Jacksonville Jaguars | 0 | 3 | 0 | 7 | 10 |
More Than Luck…
Mais do que sorte (Luck), estes Indianapolis Colts aparentam ser sólidos. E merecem ser levados em conta.
Existem jogos que preenchem o imaginário de qualquer adepto. E depois, temos os outros, entre franquias medianas e/ou medíocres, que provocam uma torrente de bocejos à mera menção do nome dos participantes na partida. Tenho, no entanto, uma regra básica que criei, ao longo dos anos a ver jogos da NFL. Todas as equipas possuem motivos de interesse e, muitas vezes, é em jogos rotulados de dispensáveis que surgem jogadas e resultados memoráveis. No habitual rascunho que faço, quando me pretendo deleitar com três horas de acção de um qualquer jogo de futebol americano, procurei desvendar o que seria o encontro, bem antes dele acontecer. Seriam estes Colts reais, capazes de manter o bom momento de forma e perseguirem afincadamente o apuramento para os playoffs? E os Jaguars, como reagiriam eles a mais uma temporada miserável, sem qualquer interesse competitivo quando ainda falta metade da competição? Nos Colts, existiam vários motivos de interesse. A saber:
- Andrew Luck, ainda com o recorde de rookie com mais jardas passadas num jogo bem fresco na memória, continuaria a destilar classe, ou sofreria um revés inesperado? Andrew Luck, mais do que os elogios com que tem sido cumulado, desde a carreira universitária, possui algo que o torna especial. Um dom, difícil de definir, que o torna mais maduro do que deveria ser, na abordagem aos jogos. Contra os Dolphins, na semana passada, Luck jogou como nunca, defrontando uma defesa férrea, onde o pass rush é indomável. E Luck mostrou algo que, até hoje, tinha visto em poucos quarterbacks. Uma espécie de factor “Ben Roethlisberger”, que lhe permite estender jogadas, mesmo no limite do sack. Imagem emblemática do referido encontra do fim-de-semana passado: Luck a fugir do pocket, mantendo sempre o olhar no fundo do campo, observando as rotas dos seus receivers, enquanto era perseguido por dois jogadores dos Dolphins. Frio e cirúrgico, sofreu um sack, com Cameron Wake a mergulhar para as suas pernas. E aí, nesse momento, enquanto muitos sofreriam a perda de jardas e outros, desesperadamente, cometeriam o insensato acto de lançar para qualquer lado, Luck endossou a bola, num passe perfeito, para Donnie Avery, num ganho de 10 jardas. Percebem o porquê da associação do nome de Luck com Roethlisberger? É que o calmeirão que gere o ataque dos Steelers é o exemplo perfeito de QB que mexe os cordelinhos ofensivamente, testando os limites. Luck tem algo de similar.
- Segundo factor de consideração: como reagiria a secundária dos Colts, após as lesões dos titulares Vontae Davis e Jerraud Powers? Este duo de cornerbacks (sobreduto Powers, que tem sido uma revelação) tem conseguido unir dinamismo com impermeabilidade. Conseguiria Blaine Gabbert aproveitar a ausência e explorar a insegurança dos substitutos?
- E do outro lado, será que Luck exporia a debilidade do grupo de safeties dos Jaguars, onde a baixa prolongada de Dwight Lowery tem sido notada?
- Em equipas com estranhas semelhanças, no jogo corrido, embora por motivos diferentes, será que o ground & pound marcaria a diferença, para alguma delas? O ataque dos Jaguars é débil e isso ainda foi mais notado quando Maurice Jones-Drew se lesionou, privando a equipa da sua única arma de destruição maciça. Do outro lado, não existe um running back que seja uma figura de referência, embora os emergentes Donald Brown e Vick Ballard possam vir a constituir um reforço num ataque que apenas tem vivido da inspiração do jogo aéreo.
O Jogo
O jogo mostrou, perante uma audiência televisiva, quão distantes estão as duas equipas. Parecia, por momentos, que os Jaguars eram de outro campeonato, uma qualquer divisão inferior. Desde cedo isso se tornou evidente, com os Colts a serem superiormente conduzidos por Andrew Luck. O rookie denotou maturidade, presença, equilíbrio, habilidade para lançar sobre pressão, precisão no passe, gerindo todos os seus alvos com mestria. Sim, ele cometeu pecadilhos, pontuais lapsos mentais que, no cômputo geral, pouco significado tiveram. É a quarta vitória seguida dos Colts, embalados numa improvável corrida aos playoffs. No inverso, os Jaguars somaram o sexto desaire seguido, parecendo um bando de jogadores tresmalhados, descrentes e pouco motivados. Numa equipa onde o jogo aéreo não funciona, com Blaine Gabbert a ser incapaz de mover o ataque de forma regular e consistente, é notória a desconfiança da equipa no seu talento. O plano de jogo é sempre comedido e conservador, evitando passes profundos e superiores a 10 jardas. A principal vítima dessa medida é Justin Blackmon, jogador explosivo e capaz de big plays, que se vê confinado a um limbo no ataque dos Jaguars. Raramente servido em condições, o rookie que deslumbrou em Oklahoma State vegeta nos jogos, deambulando sem chama pelo relvado. O jogo corrido, outrora a principal arma da equipa, com op imparável Jones-Drew a ser a referência no ataque, é agora uma mera lembrança. Afastado, por lesão, dos palcos onde se cobriu de glória, Jones-Drew não tem backup que consiga manter a sua produção. E assim, inseguros no passe e sem qualidade no solo, os Jaguars tornaram-se uma caricatura de equipa. A franquia implodiu internamente, mas ainda ninguém deu por isso.
O adversário, por sua vez, venceu sucessivos fantasmas, mostrando que a reestruturação encetada na offseason foi o caminho certo e adequado. A aposta em Luck, em detrimento da veterania, experiência e génio de Peyton Manning, pode ter parecido um movimento arriscado, mas tem rendido juros acrescidos, com a equipa a entrar numa improvável corrida ao apuramento para a fase seguinte da prova. Nem tudo na equipa é mérito de Luck, com a defesa a conseguir contribuir de forma assinalável e, no ataque, o traquejo de Reggie Wayne a revelar-se fundamental para o crescimento sustentado da estrela vinda do draft.
Tudo isso foi visível no jogo, onde o conceito de equilíbrio durou parcos 5 minutos. Duas equipas que deveriam, nesta altura, estar em fases semelhantes de maturação, estão apartadas por um universo de diferenças. Os Jaguars não pertencem a este campeonato. Os Colts são o futuro. Mesmo que este pareça poder ser atingido já, num curto prazo.
Links
Highlights do jogo: http://www.nfl.com/videos/nfl-game-highlights/0ap2000000092238/Colts-vs-Jaguars-highlights
1º Período
Boring. Punt. Punt. E mais punt, num campeonato particular para ver quem era mais rápido a sair de campo. A partida começou a animar apenas na 3ª vez que os Colts tiveram a bola em seu poder. Aí, finalmente, uma drive pareceu promissora, com a equipa de Indianapolis a ameaçar marcar. Bastaram 4 jogadas para aparecerem na red zone, graças ao forte braço de Luck, num arremesso excelente de 18 jardas para Reggie Wayne e a um reverse, com TY Hilton a ludibriar toda a gente e a conseguir correr para 19 jardas. Só que a defesa dos Jaguars mostrou que estava minimamente atenta e um sack de Tyson Alualu impediu mais do que 3 pontos, conquistados por Adam Vinatieri, num field goal de 31 jardas.
Os Jaguars procuraram responder e, por breves instantes, pareceu que o jogo poderia ser competitivo. Blaine Gabbert acertou um passe longo, para o tight end Marcedes Lewis, num ganho de 19 jardas e Rashad Jennings amealhou mais umas quantas, em várias corridas. O problema aqui residiu apenas na pontaria. Parados pela defesa dos Colts, Josh Scobee falhou a sua tentativa de rivalizar com Vinatieri, desperdiçando o field goal de 44 jardas.
2º Período
Iniciando a drive com uma boa posição de campo (graças a uma intempestiva falta de Andre Branch – um roughing passer que custou 15 jardas – os Colts pareciam um martelo pneumático a bater, mantendo sempre pressão sobre o adversário. Bola no chão, dividindo os snaps entre Delone Carter, Donald Brown e Vick Ballard, para depois explorar o passe, com Luck a usar o seu mais fiável receiver. Reggie Wayne foi instrumental, nesta fase, recebendo passes e catapultando a equipa para a frente. Acabou por ser Andrew Luck a marcar o touchdown, numa curta corrida de 5 jardas. Foi o princípio do fim do jogo. Os Jaguars foram incapazes de retaliar. Tentaram, mas uma dúbia decisão arbitral inverteu um passe de Blaine Gabbert para Laurent Robinson, num 1st down que se tornou num fumble. A jogada explica-se de uma penada. Robinson, recolhendo o passe, tentava ganhar as necessárias 10 jardas. Moise Fokou, na perseguição do receiver, faz um tackle e a bola acaba por se escapulir das mãos deste, acabando recuperada por Darius Butler. Fumble, decretaram os homens do apito, mesmo que as evidências televisivas sejam pouco esclarecedoras. Andrew Luck e os seus pares não se incomodaram com a polémica. Veio o melhor lance da noite. Uma bomba, magnífica, sobrevoando quase metade do campo, até aterrar docilmente nas mãos de Donnie Avery. 44 jardas no ar, colocando os Colts nas 6 jardas adversárias. Luck capitalizou o ganho, correndo uma jarda e marcando de novo.
Ainda houve tempo para mais. Luck mostrou, por meros instantes, que é ainda um rookie. A 2 minutos do intervalo, efectuou um passe desconexo, com esta a ser apanhado por Dawan Landry. Foi uma pequena golfada de oxigénio para os moribundos Jaguars, que colocaram os primeiros pontos no placard através de um field goal, de 40 jardas. 17-3 e uma remota possibilidade de termos, na segunda metade, um jogo mais equilibrado.
3º Período
A interrogação sobre se os Jaguars seriam capazes de entrar no jogo durou apenas o curto período sabático de descanso. A equipa de Jacksonville pareceu disposta a isso, é um facto, conseguindo parar a drive inicial dos Colts, sem que esta provocasse qualquer mossa. Mas, depois, Blaine Gabbert cometeru um erro crasso, não protegendo a bola devidamente. Ao tentar um curto passe para Cecil Shorts, foi interceptado por Daius Butler, que retornou a oferenda para touchdown, numa curta corrida de 11 jardas. O jogo ficou decidido ali, com o lance a ser determinante animicamente para os Jaguars, que baixaram literalmente os braços.
4º Período
Garbage time. 15 minutos que rivalizaram com o mais forte soporífero, com o tempo a passar penosamente devagar. Blaine Gabbert cedeu o lugar (após sair abalado de um sack sofrido) a Chad Henne. Este teve tempo para fazer brilhar novamente Darius Butler, que interceptou o seu passe, e para conseguir o único TD dos Jaguars na partida, numa drive que culminou num momento de glória para Cecil Shorts.
Um THE END na partida, mostrando que estes Colts podem sonhar com os playoffs e os Jaguars caminham para uma nova temporada de profunda depressão.
As Nossas Escolhas
MVP: Tendo sempre presente a debilidade do adversário, foi notório que a ausência do duo de cornerbacks titulares não prejudicou a equipa dos Colts. Pelo contrário, um dos seus substitutos, Darius Butler, foi o homem da noite, conseguindo duas intercepções, uma delas retornada para touchdown. Nem se pode dizer que existia um momentum favorável a Jacksonville, mas com 17-3 no marcador o início da drive podia colocar a equipa a apenas um parcial de distância. Butler, felino, acompanhou a jogada, antecipando-se ao receiver e apanhando o passe de Gabbert. Foi ali, naquele momento, que o jogo ficou definitivamente decidido. A noite de Butler foi especial. Apanhou um passe de Gabbert, outro de Chad Henne e ainda recuperou um fumble. MVP merecido para quem procura aproveitar a oportunidade dada pelos Colts, depois de passagens falhadas pelos Panthers e Patriots.
Positivo: Nos Jaguars, um dos elementos mais destacados foi Cecil Shorts, que continua a realizar uma temporada aceitável, assumindo-se como a principal referência no ataque. No seu 2º ano de experiência na NFL, Shorts mostrou ser um alvo confiável, uma deep-threat que tem capitalizado com o desaparecimento de Justin Blackmon e Laurent Robinson, as presumíveis estrelas no ataque. Foram 6 recepções, 105 jardas e o único touchdown dos Jaguars. Na defesa, destaque óbvio para um jogador que ainda não correspondeu às elevadas expectativas nele depositadas. Tyson Alualu,
[Alualu, comemorando um sack. Foto de AP Photo/John Raoux. Link: http://sportsillustrated.cnn.com/football/nfl/gameflash/2012/11/08/5025/index.html#photos]
defensive tackle que foi 10ª escolha no draft de 2010, tem tido uma produção errática e pouco consistente. Mas, contra os Colts, foi um monstro de trabalho, quer contra o passe, onde conseguiu um sack e vários hurries, quer contra a corrida, com diversas defensive stops.
Nos Colts, Andrew Luck mostrou que, mesmo sendo um pocket passer puro, tem agilidade suficiente para decidir jogadas com os pés. Se no passe mostrou serenidade, com excepção do feio lançamento interceptado, foi na corrida que marcou a diferença, conseguindo dois touchdowns que ajudaram a cimentar a liderança da equipa. Luck esteve globalmente bem, endossando passes com precisão cirúrgica e movendo o ataque com dinamismo. 169 das suas 227 jardas passadas vieram de lançamentos de 10 ou mais jardas, mostrando uma confiança tremenda nas suas capacidades. Luck fez aquilo que lhe era pedido. Dilacerou, de forma corriqueira, a secundária adversária. Reggie Wayne merece também elogios pela forma serena como soube ligar o ataque da sua equipa. Apareceu em alturas cruciais, dando linhas de passe a Luck e mostrando enorme segurança na recepção. Wayne dissipou todas as dúvidas que surgiram, no início da temporada, após a sua permanência em Indianapolis. Ele não é um produto criado pelo génio de Peyton Manning. É um wide receiver ameaçador, na mínima oportunidade, e tem sido instrumental para o crescimento sustentado de Andrew Luck. Curiosamente, tem participado activamente como blocker, em movimentos de corrida, sendo um perfeito exemplo de um veterano que colocou toda a sua disponibilidade física e mental ao serviço da reestruturação na franquia.
Negativo: Nos Jaguars, toda a gente na franquia, quer no corpo técnico, quer no roster, estarão até final da temporada em apurada avaliação. A equipa chegou a uma encruzilhada, no seu futuro imediato. Mais do que um tratamento de choque, a equipa precisa de planeamento e paciência. Será necessária uma reestruturação, um início a partir do zero, de forma a tornar a equipa mais competitiva. No ataque, pouca gente se salvará.
Blaine Gabbert deve ser um dos imolados, no sacrifício necessário. O quarterback pouco tem feito para mostrar que pertence a estas andanças. O seu ano rookie foi horrível, mas algumas melhorias na preseason levaram a equacionar que 2012 poderia marcar um virar da página. Mas, com o decorrer da competição regular, Gabbert voltou ao registo de 2011. Apagado, incapaz de mover o ataque, dá mostras de insegurança no pocket e os seus passes são erráticos e pouco precisos. Fica ligado ao resultado final, ao ser interceptado junto da própria end zone, num lance que terminou num TD para os Colts. O jogo corrido foi inexistente, nunca auxiliando o quarterback. Se numa equipa onde o jogo aéreo não funciona, o jogo corrido igualmente não consegue ser determinante, está criado o cenário para a ineficácia total. A tarefa não era fácil, com a lesão de Maurice Jones-Drew, mas Rashad Jennings poderia ter aproveitado a ausência do running back para mostrar algo de qualidade. Infelizmente para os Jaguars, dali não veio nada de proveitoso.