Dallas Cowboys at Baltimore Ravens
1 | 2 | 3 | 4 | F | |
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Dallas Cowboys | 7 | 3 | 10 | 9 | 29 |
Baltimore Ravens | 3 | 14 | 7 | 7 | 31 |
Um Final Hitchcockiano
É com jogos destes, de finais de cortar a respiração, que a NFL vai construindo e mantendo aquela aura de competição onde o impossível é uma palavra inexistente no dicionário. Uma prova onde a maioria dos jogos tem o resultado em aberto, até aos últimos segundos, mantendo um interesse inusitado nos espectadores, já habituados a sensações fortes nos instantes decisivos. Ninguém previa, aliás, uma partida sensaborona, onde o aborrecimento fosse a palavra de ordem. Os adversários, com pretensões a mais do que um mero papel de participantes, deixavam antever um jogo equilibrado, com executantes de eleição. Ninguém saiu defraudado. Os Cowboys, vindos duma semana de bye, necessitavam dum triunfo que lhes permitisse não perder o contacto com os rivais da sua exigente divisão (Giants, Eagles e Redskins). Com duas derrotas averbadas, em quatro jogos, o jogo frente aos Ravens, mesmo não sendo crucial, assumia foros de importância acrescida. Importava saber como reagiria a equipa perante um opositor sólido e com uma defesa agressiva. A equipa de Dallas já tinha vencido, fora de portas, o detentor do troféu, quando derrotou os Giants na abertura da NFL. Os visitados, algo desafogados na liderança da sua própria divisão, mais por demérito de Steelers e Bengals, do que justificado por um domínio intenso, pretendiam dissipar dúvidas recentemente surgidas sobre o momento de forma da equipa. Estes Ravens estão longe de ser uma equipa entusiasmante, seja no ataque ou na defesa, onde a perda de Terrell Suggs, o fantástico outside linebacker, se faz sentir no pass rush. Sem terem uma identidade própria vincada, beneficiam duma quantidade obscena de talento no ataque, onde nomes como Ray Rice, Torrey Smith ou Anquan Boldin marcam a diferença, em momentos importantes. Com Joe Flacco a ter a sua conta de detractores, e ainda longe de poder ascender ao panteão dos quarterbacks de elite, a equipa tem-se embrenhado num jogo confuso, errático e sem a exuberância de outrora. O núcleo da equipa sempre foi a defesa. Em redor dela tem sido construída, de forma laboriosa, a ambição da franquia, que não esconde o desejo de colocar as mãos no Vince Lombardi Trophy de novo. Mas esta defesa, por motivos vários, tem claudicado em inúmeros momentos. O jogo contra os Cowboys foi, provavelmente, o ponto mais baixo da temporada, com estes a correrem 227 jardas, o maior número permitido na história dos Ravens. Mesmo assim a série de invencibilidade caseira resistiu. Vão 15 vitórias, mas com sinais de alarme ligados. Os Ravens venceram os seus últimos 4 jogos por uma margem total de 13 pontos. A vitória deixou um travo amargo de frustração, com a perda de dois jogadores nucleares. Lardarius Webb e o mítico Ray Lewis contraíram lesões graves, delapidando a equipa numa altura importante.
O Jogo
Foi entretido, com alguns momentos vibrantes – destaque óbvio para o retorno de um kick para touchdown, cortesia da corrida de Jacoby Jones, de 108 jardas – de resultado imprevisível e com uma ponta final imprópria para cardíacos. Os Ravens pareciam ter a situação controlado, mas a drive final dos Cowboys provocava mossa. Passes cirúrgicos de Romo, intercalados com algumas corridas efectivas dos seus running backs, colocaram os fãs dos Ravens de olhos colados no cronómetro. Este mostrava o tempo a extinguir-se, com segundos preciosos a serem consumidos. Tudo pareceu terminado, quando uma penalidade, punindo um bloqueio baixo de Félix Jones, retirou 15 jardas aos Cowboys. Valeu o estoicismo da equipa, superiormente liderada por Tony Romo. O TD colocou a diferença em apenas 2 pontos. Faltavam 32 segundos. Era óbvio o que aconteceria, com a equipa de Dallas a optar pela tentativa de conversão de 2 pontos. Novamente, o passe de Romo saiu como um laser, perfeitamente calibrado na força e direcção. Dez Bryant deixou a bola passar, ingloriamente, pelas suas mãos. The end? Muitos julgaram que sim. Os mais precavidos optaram por suster os gritos de júbilo, mais uns instantes. Ainda faltava uma hipótese aos Cowboys. A derradeira bala. Um onside kick. Os momentos de tensão, palpável, não foram aliviados pela execução do kick. Muito pelo contrário. Crisparam rostos, adensaram preocupação, colocaram muitos à beira do desespero. Na jogada, que representa uma espécie de lotaria, quase sempre favorável a quem recebe a bola, a sorte grande saiu aos visitantes. Ou, pelo menos, era isso que se pensava, quando um mergulho desesperado de um jogador de Dallas permitiu a posse do esférico. Faltava ainda o derradeiro acto. Avançar no terreno. Cada jarda conquistada ajudaria à realização segura do field goal. Mas, num jogo intenso, com reviravoltas surpreendentes, a má gestão do tempo que faltava penalizou fortemente os Cowboys. Desconcentrados, deixaram fugir preciosos segundos, não conseguindo progredir no terreno e obrigando Dan Bailey a chutar de 51 jardas. Pontapé realizável? Sim, para muitos kickers no activo. Mas Dan Bailey tem, como máximo de carreira, precisamente 51 jardas. A pressão intensa do público e o nervosismo da ocasião foram demasiado para o jovem kicker, que desperdiçou a possibilidade da sua equipa conseguir uma vitória que teria sido merecida. Mas, na NFL, não existem vitórias morais. 40 minutos de posse de bola, 227 jardas corridas, 481 jardas totais no ataque e 30 primeiros downs deveriam bastar para ganhar em qualquer lado. Os Cowboys perderam um jogo que, estatisticamente, deveriam ter ganho.
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Highlights: http://www.nfl.com/videos/nfl-game-highlights/0ap1000000080144/Cowboys-vs-Ravens-highlights
1º Período
Abertura de hostilidades por conta dos Ravens. Drive inicial, calibrada entre jogo corrido (Ray Rice em destaque, ganhando 22 jardas nos 4 primeiros snaps) e aéreo, culminada num field goal de Justin Tucker, de 38 jardas. A resposta dos Cowboys foi imediata. 8 jogadas e 80 jardas depois, Félix Jones capitalizou o trabalho de sapa de DeMarco Murray, principal destaque da equipa de Dallas, correndo e recebendo (excelente o ganho de 14 jardas, num passe de Flacco para o lado). Os Cowboys terminavam o período a vencerem por 7-3.
2º Período
Tony Romo manteve a posse de bola, que já vinha do período anterior, conseguindo uma progressão assinalável (drive de 12 jogadas e 56 jardas), culminada num FG de Dan Bailey, de 42 jardas. Um aumento da vantagem que levou a uma reacção forte por parte dos Ravens.
Joe Flacco, na própria linha de 20 jardas, iniciou uma drive que roubou 4 minutos precisos ao cronómetro, percorrendo 80 jardas. A jogada mais emblemática foi a fuga de Ray Rice do backfield, aparecendo no meio do campo, pronto a receber a bola de Flacco. Depois, foram 42 jardas, naquela maneira peculiar de correr, colocando a bola na linha de 22 jardas do adversário. Bernard Pierce, o seu backup, recolhe também alguns créditos, complementando o trabalho de Rice na jogada seguinte, ganhando no solo mais 16 jardas. O touchdown, que se antevia, foi creditado a Rice, numa curta corrida de 1 jarda. Empate no marcador.
Romo, um dos quarterbacks mais escrutinados, realizou um jogo excelente, mas não isento de erros. Um deles, provavelmente o maior, veio na drive seguinte. Ao procurar Kevin Ogletree, num terceiro down, já algo desesperado devido a um holding marcado a Tyron Smith, que custou 10 jardas, Romo forçou o lançamento, vendo este interceptado por Cary Williams.
Os Ravens agradeceram a benesse, com Joe Flacco a assumir o protagonismo e a testar a secundária dos Cowboys, várias vezes, com resultados apreciáveis (ganhos de 54 jardas, de Anquan Boldin, em três jogadas seguidas). A drive foi terminada num passe para Torrey Smith (19 jardas), que marcou o touchdown. Finalmente, os Ravens tomavam a dianteira no marcador.
3º Período
Terceiro período que colocou as luzes da ribalta em Félix Jones. DeMarco Murray, até então um quebra-cabeças para a defesa dos Ravens, estava na sideline, com queixas físicas, deixando o jogo corrido para o seu backup. Este continuou a perfurar a dócil defesa contra a corrida dos Ravens, conseguindo colocar Dan Bailey em field goal range. 43 jardas de distância que não intimidaram o kicker de Dallas. Um dos momentos determinantes no desfecho final veio logo de seguida. O mesmo Dan Bailey executou o pontapé que, aparentemente, daria um touchback, obrigando os Ravens a iniciarem a drive na sua linha de 20 jardas. Jacoby Jones não pensou assim. Talvez tenha sido um momento de inspiração. Ou, quiçá, o tédio de não participar na acção do jogo, confinado a trabalhos no special team. Qualquer que tenha sido o motivo, Jacoby Jones colocou o estádio em efervescência, num retorno magnífico, de 108 jardas (empatando, na história da NFL, como o mais longo de sempre, ao lado de Ellis Hobbs e Randall Cobb), conseguindo ainda adicionar à proeza o facto de não ter sido tocado por nenhum adversário.
Os Cowboys não sentiram o golpe. Foi duro, mas encaixável. Tony Romo, desinibido, usou todos os alvos à disposição. Começou com John Phillips, o fullback, num ganho de 19 jardas. Mais importante, soube ler o jogo, vendo que era a corrida que feria os Ravens, deixando-os debilitados. Evitou protagonismo, endossando sucessivos snaps a Félix Jones e a Phillip Tanner. Foram estes, praticamente sozinhos, que levaram o jogo até à linha de 7 jardas dos Ravens. Romo tratou do resto. Novo TD.
4º Período
Antes do suspense final, a que nem o mestre Alfred Hitchcock conseguiria criar mais twists criativos, Dan Bailey marcou um novo field goal, de 34 jardas, com os Ravens a responderem numa drive de 10 jogadas, retirando quase 4 minutos ao cronómetro e terminada em nova corrida de 1 jarda de Ray Rice. Depois, chegou a animação. Para ver e rever, degustando o que nos é servido como uma iguaria rara. A NFL é F-A-N-T-Á-S-T-I-C-A!
As Nossas Escolhas
MVP: Gostava de dar o prémio a Tony Romo ou a Phil Costa, mas a derrota pesou significativamente na hora da escolha. Ray Rice, com os seus dois touchdowns e as 106 jardas corridas/recebidas (35º jogo na sua carreira acima das 100 jardas) foi instrumental.
Positivo: Nos Ravens Cary Williams conseguiu a sua 3ª intercepção, nos últimos 3 jogos (uma em cada jogo), depois de passar os 4 primeiros anos na NFL sem conseguir nenhuma. A intercepção, obtida quando as equipas estavam empatadas a 10, levou a uma drive que culminou num TD. Anquan Boldin e Torrey Smith estiveram num plano exibicional acima da média, conseguindo fugir às marcações dos cornerbacks e esticando o jogo em alturas cruciais. Torrey Smith, menos fulgurante do que noutras ocasiões, marcou um TD, superiorizando-se ao rookie Morris Claiborne (que saiu lesionado nessa jogada). O jogo corrido, encabeçado por Ray Rice, ajudou a cimentar o triunfo, com preciosa colaboração de Bernard Pierce. O rookie backup aproveitou os poucos snaps para adicionar jardas e conseguir alguns preciosos primeiros downs.
Nos Cowboys gostei do trabalho da linha ofensiva, impermeabilizando a maior parte das vezes o pocket, permitindo que Romo desenvolvesse, num ambiente esterilizado, o seu jogo. Isso reflectiu-se na segurança evidenciada pelo quarterback, capaz de planejar o ataque sem grande pressão e mantendo uma progressão que merece destaque. Phil Costa foi o grande responsável por tudo o que de positivo o ataque conseguiu. O center, habitualmente tratado de forma jocosa, foi dominante na linha ofensiva, permitindo que o jogo corrido tenha tido sucesso. Foi sempre soberano contra o adversário imediato (geralmente Ma’ake Kemoeatu), arrastando-o para trás, abrindo rotas excelentes para os seus linebackers. No pass protection foi igualmente efectivo, raramente permitindo que Romo sofresse algum tipo de abuso. O próprio Romo, mesmo com uma intercepção, realizou um jogo meritório, provando que consegue jogar ao mais alto nível, perante um adversário difícil. O jogo corrido da equipa de Dallas merece um enorme louvor, por ter colocado a nu a fragilidade defensiva dos Ravens. Demarco Murray foi um monstro, até sair lesionado. Mas, mesmo perante a ausência do seu melhor running back, os Cowboys não se intimidaram, mantendo o mesmo registo na corrida, graças a um excelente jogo de Félix Jones.
Negativo: Mais do que qualquer performance negativa dos seus jogadores, o que custará mais a cicatrizar é a ferida deixada pelas lesões de Lardarius Webb e Ray Lewis. O cornerback, um dos melhores da NFL, jogou apenas 10 snaps, tendo ficado estatelado no terreno numa disputa de bola com Dez Bryant. A sua perda, se extensível no tempo, terá um impacto tremendo numa secundária onde a profundidade não abunda. A entrada de Jimmy Smith, o jogador que veio do dfrat de 2011, apenas acentuou a sensação de orfandade. Smith, para além de ter sido batido várias vezes pelos jogadores que devia marcar, especialmente Bryant, revelou uma confrangedora incapacidade de efectuar tackles, falhando uma mão cheia deles. Aliado a isso, continua com a tendência de agarrar os receivers, tendo sido penalizado 3 vezes pela arbitragem. A perda de Ray Lewis, para toda a época, constitui um duro revés, penalizando fortemente os Ravens, que perdem um jogador emblemático e importante contra o jogo corrido (pese as suas recentes exibições revelarem um alarmante abaixamento de forma). Se os Ravens, actualmente, mostram-se permissivos na defesa, com o jogo corrido do adversário a atormentá-los, o que será agora da equipa sem o seu farol?
Na defesa Paul Kruger viveu uma noite de pesadelo, incapaz de parar a corrida e ineficaz no ataque à linha ofensiva dos Cowboys, que não tem primado pela qualidade. A sua inutilidade foi visível nos bloqueios sofridos, ora por Jason Witten ou John Phillips, com os Cowboys a darem-se ao luxo de prescindirem dum offensive lineman para o travar, deixando a tarefa a dois jogadores menos preparados para susterem um pass rusher com atributos acima da média.
Nos Cowboys, a secundária sempre foi o calcanhar de Aquiles da equipa, tornando-a penetrável ao passe em 2011. Com a escolha de Morris Claiborne no draft e a adição de Brandon Carr, na free agency, julgava-se que esse tempo tinha ficado esquecido. Mas a equipa reviveu-o, revelando-se porosa nos passes longos de Flacco. Os dois cornerbacks permitiram várias recepções aos seus adversários e um brutal número de jardas. 105 é um número algo grotesco, que revela uma postura errática na defesa ao passe. Nos complexos esquemas tácticos de Rob Ryan, o coordenador defensivo da equipa, a solidez na secundária permitiria um incremento de agressividade na frente e em blitzes. Mas tanto Anquan Boldin como Torrey Smith (pese este ter tido um papel mais discreto no jogo) abusaram dos dois CBs, com Smith a marcar um TD, num passe longo (19 jardas) e com uma marcação cerrada de Claiborne.