Jets @ Patriots: O Crepúsculo dos Deuses…

Pedro Nuno Silva 29 de Outubro de 2012 Análise Jogos NFL Comments

New York Jets at New England Patriots

1 2 3 4 OT F
New York Jets 7 3 7 13 0 26
New England Patriots 14 2 7 3 3 29

O Crepúsculo dos Deuses…

Tom Brady, Aaron Maybin, Antonio Allen

Tom Brandy, quarterback dos New England Patriots a sentir a pressão dos New York Jets
Fonte da Imagem: AP Photo/Charles Krupa

Em 1950 Billy Wilder realizou um dos mais míticos filmes da história do cinema: Sunset Boulevard, que em português ficou conhecido pelo nome da não menos famosa ópera do grande compositor alemão Richard Wagner: “O Crepúsculo dos Deuses”. A imagem mais marcante do filme é a da decadente actriz de filmes mudos Norma Desmond, interpretada magistralmente por Gloria Swanson, fazendo poses de diva de outros tempos, numa cena de um hipotético filme do grande Cecil B. DeMille, interpretado por ele próprio. Essa imagem de Swanson veio-nos estranhamente à memória na noite de domingo enquanto assistimos ao sempre quente duelo entre os New York Jets e os New England Patriots. Os deuses dos estádios também brilham durante um tempo que nos parece eterno. Mas também para eles o tempo passa. E o tempo passa para Tom Brady também. Quando olhamos hoje para o deus Brady não podemos deixar de reparar como ele agora falha onde antes era letal. Como hesita, onde antes era ousado. Ainda é combativo. É líder. Mas tal como já nos tinha apercebido no jogo de Seattle, Brady parece ser hoje um jogador com espaço de jogo limitado, com um raio de acção que pouco vai além dos limites nem sempre seguros do pocket. Continua eficaz nos passes de curta distância ou para alvos gigantescos como Gronk, mas parece cada vez mais impotente nas grandes distâncias. E o jogo de domingo deixou-nos assim uma impressão um pouco estranha, nova e, se calhar, também amarga. O tempo parece, finalmente, estar a passar para Brady.

Rob Gronkowski, tight end dos New England Patriots recebe um passe para touchdown
Fonte da Imagem: AP Photo/Charles Krupa

O Jogo

O jogo começou com os NY Jets em vantagem. Não. Não houve TD logo no pontapé de saída, mas quando uma equipa a quem todos traçaram o destino fatal do desastre nesta época entra no campo do seu principal rival de divisão com a liderança da mesma no bolso, temos de dar relevo ao feito. Mais ainda quando em Foxborough mora uma equipa algo desconfortável consigo própria e lutando contra moinhos de vento que apenas desconhecemos se são imaginários ou ainda resultado de traumas ainda bem vivos das inglórias 2 últimas presenças no Super Bowl. Ou talvez que o sucesso prolongado esteja a provocar um indisfraçável desgaste à dupla BB: Brady/Belichick.

1º Período

Indiferente a traumas e tratando dos seus próprios medos, Mark Sanchez e os Jets trataram logo de mostrar ao que vinham. E depois de drives de abertura inconsequentes para os 2 lados, Sanchez tratou de calar os adeptos da casa com um ataque controlado e seguro (ai esta secondary dos Patriots…) e que acabou num TD em corrida de Shonn Green.

Rex Ryan exultou, saltou e pulou mas ainda o sorriso estava estampado no seu rosto bonacheirão e já Devin McCourty corria 104 jardas de end zone a end zone, para converter um improvável TD num punt return. Tudo ficou na mesma afinal.

Sim! Tudo na mesma. Mesmo quando Brady resolve lembrar a todos os presentes no Gillette Stadium que ele é o dono da bola, ele é o deus do estádio. Ele e Gronk. Passe de 17 jardas. TD. 14-7, Patriots.

2º Período

O 2º período foi um jogo de football no europeu sentido do termo. É que os únicos pontos que subiram ao marcador foram resultado de dois pontapés: um provocado por um desastrado fumble a dois entre Mark Sanchez e Shonn Greene com o QB a resolver o embaraço com um pontapé na bola para canto já dentro da sua end zone. Safety para os Patriots (16-7). O outro pontapé ficou a cargo de Nick Folk num field goal de 54 jardas… 16-10 Patriots. O resto? O resto foi a habitual incapacidade da linha secundária da defesa dos Patriots em fazer jogadas decisivas, cedendo demasiadas jardas, apenas contrabalançada por uma linha defensiva da frente intratável e que vai dando para os gastos, com o grande Vilfork, o decisivo Ninkovich e a confirmação que Chandler Jones e Dont’a Hightower parecem empenhados em mostrar do acerto que foram as suas escolhas na primeira ronda do draft de Abril. O 2º período ainda deu para ver mais um exemplo do porquê de Sanchez nunca mais sair do estatuto de promessa. Num 2º down e 8, a meio do 2º período e com dois colegas completamente abertos mesmo à frente do seu nariz, o QB de NY resolve que bom mesmo é mandar uma bomba lá para o fundo, onde está… por uma vez, a secondary dos Patriots à espera do passe. Tempo para o rookie CB Alfonzo Dennard brilhar com uma intercepção facil.

3º Período

Com o resultado em 16-13 e após uma longa drive de Tom Brady com 15 jogadas, sai mais um passe da sociedade Brady-Gronk. TD. 23-13 Patriots. Com 10 pontos de vantagem, todos pensariam que as coisas estavam bem encaminhadas para a vitória dos da casa. Puro engano…

4º Período

Num quase remake do ocorrido no domingo passado em Seattle, os Patriots resolveram deitar fora a vantagem, permitindo aos Jets marcar 13 pontos sem resposta, incluindo um TD do TE Dustin Keller. Com Nick Folk a converter 2 field goals e o resultado em 26-23, o desepero instalou-se no estádio. Mas os deuses têm destas coisas. Brady pegou na bola, faz 2 passes para Gronkowsky e, num ápice, coloca a bola numas simpáticas 43 jardas dos postes. Por uma vez Brady fez funcionar a sua magia. No momento certo, mandou às malvas os passes loucos que não há maneira de entrarem e tratou de ser pragmático como ele muitas vezes sabe ser. Desta vez o esforço de Brady foi compensado pelo pé certeiro de Gostkowsky. Empate a 26. Vamos para prolongamento.

(http://i.cdn.turner.com/si/teamphotos/nfl/20121021/APTOPIX_Jets_Patriots_Football_117530_game.jpg)

Overtime

Já não é tão decisivo como no tempo das regras antigas, mas ganhar a moeda ao ar ainda é uam vantagem nos prolongamentos. E nem é preciso recordar a maldade de Tim Tebow nos playoffs de 2011 contra os Steelers. O facto é que uma drive inicial com pontos no marcador, deixa sempre a posse da equipa adversária sobre pressão. E Brady repetiu a dose do final do tempo regulamentar, levando de novo o jogo para uma distância de field goal. Gostkowsky voltou a não falhar.
Já o mesmo não se pode dizer de Sanchez que, no início da drive de resposta acabou por ser abalroado pelo intratável Rob Ninkovich e largou a bola. Rex Ryan ainda esboçou um protesto clamando pela aplicação da famosa e controversa Tuck Rule, mas a revisão pelo vídeo não deixou dúvidas. Foi mesmo fumble. Game Over!

As Nossas Escolhas

MVP: Rob Nokovich, New England Patriots (Defensive End). Implacável. A linha defensiva dos Patriots merecia melhor qualidade nas suas costas, mas ninguém pode questionar o valor de Ninkovich e a sua capacidade em fazer jogadas decisivas, numa defesa que tantas vezes é acusada e, muito justamente, de ser incapaz de fazer frente aos ataques de topo da liga.

Positivo: Jeremy Kerley (WR), New York Jets (7 recepções, 120 jardas). Não fez nenhum TD, mas Kerley foi sempre o alvo preferido de Sanchez e, com uma secondary dos Patriots ao seu nível, ocasiões não faltaram para o WR dos Jets brilhar.
Rob Gronkowsky (TE), New England Patriots (6 recepções, 76 jardas, 2 TD´s). Incombustível. Andamos toda a semana a temtar adivinhar se jogaria. Estava lesionado. Mas qual quê. Gronk apareceu e marcou… como sempre.

Negativo: Mark Sanchez, (QB), New York Jets (28/41, 328 jardas, 1 TD, 1 intercepção). Pode até ser injusto dar um menos a Sanchez, até porque os números que registou nem foram maus. Mas a verdade é que o QB dos Jets tem uma azarada tendência para dar nas vistas pelos piores motivos. O fumble que ocasionou o safety, a intercepção no 2º período e o sack/fumble que terminou com o prolongamento e com o jogo foram verdadeiras bombas de motivação para os Patriots. A reacção dos Jets no 4º período parecia ser a redenção esperada poor Sanchez. Mas guardado estava o bocado no prolngamento, cortesia de Rob Ninkovich.

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Pedro Nuno Silva

Português. Duriense de nascimento. Tripeiro de coração. Minhoto por adopção. Numa palavra: nortenho. Ou seja, tinha tudo para ser um ignorante sobre futebol americano. Mas a 2 de Fevereiro de 2009 tudo mudou graças a cerca de 2 minutos de um jogo que era até aí um mistério insondável! Os culpados? Todos os jogadores dos Steelers e dos Cardinals. Mas, em particular, Ben Roethlisberger e Santonio Holmes e aquele touchdown a 30 segundos do final do jogo num equilíbrio improvável e que desafiou as leis da física e se pode colocar ao lado de um qualquer volteio do mais virtuoso bailarino do Bolshoi. A paixão pelo jogo cresceu de tal forma que hoje olho à minha volta e acho estranha tanta algazarra por causa das vitórias do F.C.Porto, da nossa seleccção ou das birras do CR7. Definitivamente tornei-me num alien em pleno coração do Alto Minho!