Minnesota Vikings Report: Vítimas de Atropelamento e Fuga!

Paulo Pereira 9 de Dezembro de 2015 Análise Jogos NFL, NFC North, NFL Comments
seattle seahawks vs minnesota vikings

Vítimas de Atropelamento e Fuga!

Apetece perguntar se alguém anotou a matrícula do camião que atropelou os Vikings. Não foi bonito. Aliás, nem sequer foi competitivo. O jogo foi um bust, uma espécie de montanha a parir um rato, quando se esperava um duelo encarniçado, musculado, levado até ao limite. Senti-me desiludido, tal como no dia em que o fanfarrão do meu vizinho do lado, mais velho, me desvendou com um sorriso maldoso no rosto que o Pai Natal não existia. Levei um baque no estômago, na altura, como se me tivessem arrancado um pedaço. Afinal não. Foi só a magia, a crença, a sensação de que existia realmente alguém benevolente que me presenteava, ano após ano, com aquilo que eu queria. Devia ter adivinhado, antes do palerma me ter destroçado os sonhos. Queria um Spectrum e nunca o recebi. Andei meses a torturar-me se tinha colocado bem a morada para o Pai Natal, e afinal…

Esta temporada dos Vikings é assim. Com um antes e um depois de jogar com os Seahawks. Antes, parecia ser possível vencer a NFC North e ir aos playoffs, com a certeza de ter um jogo garantido, em casa. Depois, o máximo que podemos almejar é mesmo uma das duas seeds restantes. Mais do que perder, foi a forma impotente como jogamos, como se não existisse solução para contrariar o jogo do adversário. Devia ter adivinhado. Tenho um amigo de firme convicção seahawkiana, que me convidou a ver o jogo, em território inimigo. Ou seja, em casa dele. Convenhamos: não existe altruísmo, nestas questões de rivalidade desportiva. Ele sabia algo. Eu também, mas teimosamente empurrava os pensamentos para o subconsciente. Os Seahawks eram melhores. E muito. Os Vikings, até aqui, até aquele momento, eram uma equipa espremida, limitada, usada em pleno. Era, se quisermos traçar um paralelismo, um carro antigo, com algumas peças novas, a carburar em esforço para se manter na dianteira da corrida. Pressentia-se que era uma questão de tempo, até o motor sofrer danos e a marcha vitoriosa sofrer um contratempo.

Valeu pela televisão gigantesca, pela comida farta e deliciosa e pelo ombro amigo de outros companheiros de desdita (leia-se fãs dos Saints e Patriots), também eles a braços com crises de identidade. O convívio foi excelente, suavizando um pouco as dores do resultado. Vamos lá desvendar o embaraço de proporções cósmicas. Depois de termos realizado um jogo miserável, na week 1, em San Francisco, eis que os purple & gold desceram um degrau na escada das humilhações.

 

Os Melhores Purple & Gold

ARE YOU KIDDING ME? Numa tareia de 38-7, que até nem reflecte a imensa superioridade adversária, ninguém merece figurar entre os melhores. O roster devia cobrir, no dia seguinte, os rostos, com sacos de pano, como forma de mostrarem que também eles estão envergonhados com o que se passou. É que, a jogar assim, ainda nos confundem com os Browns. E isso, acho, não consigo suportar.
Alguns ainda me tentarão recordar: É pá, e o Patterson? Não me lixem, a sério. O b** do Cordarrelle Patterson tem evidentes problemas cognitivos. Então a equipa está naquele limite entre o patético e medíocre, emulando um grupo de zombies, a cambalear em campo, a levar 35-0 em casa, sem conseguir uma drive prometedora, e o nosso homem dos retornos consegue o único highlight positivo, marcando num kick return de 101 jardas…para depois estragar tudo? Sim, o c**%$& dum raio, depois de se esquivar de meia equipa contrária, começa a comemorar ainda na linha de 50 jardas, como se aqueles pontos fossem fazer alguma diferença. Ok, até aqui, ainda entendo o lado pessoal, a alegria de concretizar um objectivo, etc e tal. Se fosse só isso. Mas ele levanta os braços, em sinal de esfuziante alegria, e correu que nem um desalmado para as bancadas, a comemorar. A COMEMORAR O QUÊ, PÁ? Nesta altura, já eu tinha suportado, com majestosa dignidade, uma mão-cheia de piadas do João Morão, o tal amigo com evidente mau gosto clubista (agora a sério, mas quem é que, entre 32 franquias, opta por ser fã dos Seahawks?). Foi chocante. Perder, ainda vá que não vá. Ser destroçado, espezinhado, humilhado, também se aceita, desde que não seja pelos Packers, Bears ou Lions. Mas ser derrotado e não mostrar um pingo de decoro, é que não aceito.

Brian Robinson: Depois de muito esmiuçar nas minhas memórias do jogo (e confesso que terei que ir a um terapeuta, para evitar os pesadelos nocturnos de que sofro, pós apito final), lá consegui descobrir um Viking com eles no sítio. Robinson conseguiu 2 sacks e lutou até à exaustão, naquilo que mais se aproxima duma exibição positiva. Foi pouco mas, quando comparado com os companheiros de jogo, até parecia um Hall of Famer.

Os Piores Purple & Gold

Ena, finalmente uma fácil. TODA A EQUIPA. SEM EXCEPÇÕES. Mas há alguns que merecem ser apontados a dedo e fustigados, em praça pública, pela evidente inépcia.

Brandon Fusco:  A nossa linha ofensiva é ridícula. Facto cientificamente comprovado. Podemos lamentar-nos da perda do John Sullivan e do Phil Loadholt, mas estaríamos a enganar-nos a nós mesmos. Isto é a NFL. As lesões acontecem. É a teoria do next man up. O nosso azar é que o Fusco não se lesiona. Seria difícil o backup dele fazer pior figura como left guard. Fusco cometeu uma proeza. Transformou Frank Clark, um rookie acusado de violência doméstica, num híbrido entre JJ Watt e Lawrence Taylor, tamanha foi a facilidade do facínora em penetrar na OL, passar pelo Fusco (até o meu pai, que tem 78 anos e Parkinson, seria capaz de oferecer mais resistência) e caçar Teddy Bridgewater.

TJ Clemmins:   A única coisa que ainda o salva é ser rookie e esperar-se alguma redenção, nos próximos anos. Duvido que, actualmente, exista um right tackle na competição tão medíocre, como Clemmins. É uma montanha adiposa. Um receptáculo de gordura. Um tipo que merecia sofrer bullying, no balneário, se o Richie Incognito não estivesse ocupado em Buffalo. É desesperante vê-lo a mover-se. Parece uma morsa, com problemas existenciais. Estaríamos melhor se jogassem só 3 tipos na OL. A sério.

Arbitragem:  Antes que alguém perpetre um atentado contra a minha pessoa, eis a declaração: os árbitros não influenciaram o resultado. Não foi por eles que perdemos. Bla, bla, bla. Mas vão todos pro ********. Semana a semana o mais fleumático fã de futebol americano fica exasperado. Com razão. Não há critério. Existe subjectividade. E, pior do que isso, algumas equipas de juízes são mesquinhas, na forma de abordar um jogo, lançando as famigeradas bandeiras por qualquer motivo. Dar 15 jardas ao Brian Robinson por uma pretensa falta pessoal? Meu Deus, só não se tornou ridículo, porque eles conseguiram suplantar-se. E que tal a pass interference ofensiva ao Jarius Wright? Ou aquele 1-and-10 transformado, num passe de mágica, num 1-and-38? Foi cómico, mesmo que de forma involuntária. Estes árbitros mereciam, como castigo, servir de renas, num qualquer teatro de Natal.

Norv Turner:  Podem dizer-me o que quiserem, mas a realidade é que os Vikings não são conservadores no jogo de passe. São medrosos. Novamente, como já se tinha assistido contra os Packers, se o adversário se isola na liderança, o jogo corrido é abandonado e o ataque fica órfão. Não é com um jogo de screen passes e quick slants que se cria uma dinâmica  e se mantém activa uma drive. Não há deep balls, uma tentativa que seja de explorar o fundo do campo ou, em alternativa, um lance de 15/20 jardas, usando a presença de Kyle Rudolph no centro do terreno. Nada. O jogo aéreo dos Vikings parece a faixa de Gaza. Estéril e com condições inadequadas para sobreviver. Mas a culpa é do Turner, perguntam vocês? Minha é que não é. Sim, o coordenador ofensivo tem o estigma de ter que conviver com uma OL deficitária. Mas, caramba, que se use a criatividade. Vejo todas as outras equipas a incorporar trick plays, jet sweeps ou wheel routes. Temos o Patterson. O que custa inventar 2 ou 3 jogadas, com ele a sair do backfield e a usar a sua velocidade? Os Rams fazem isso a toda a hora com o Tavon Austin. Os Vikings não. Bola para o Adrian Peterson. Bola para o Adrian Peterson. Bola para o Adrian Peterson. Contra os Seahawks, nem isso foi usado. Inovaram. Meteram o All Day no banco. A nossa melhor arma ficou a repousar, para outras batalhas.

Antone Exum Jr.:  Se, contra os Falcons, tinha demonstrado qualidade, desta feita a sua presença em campo saldou-se por um desastre completo. O seu início foi empolgante, provocando – e recuperando – um fumble. Mas depois, deu uma aula de COMO NÃO SE DEVE FAZER UM TACKLE. Levou isso tão a sério, que repetiu o episódio, vezes sem conta. Foi vê-lo, um pouco por todo o lado, a mergulhar para parar o adversário com a bola, e a agarrar uma mão cheia de ar. Ridículo!

Lesões:  São detestáveis e não as desejo a ninguém. Ok, a quase ninguém. Quando um roster é esculpido, ano após ano, a ideia é de aperfeiçoamento, sabendo-se sempre que, face às limitações de draft e cap space, o processo nunca está concluído. Ou seja, não há cá equipas sem defeitos. Mas, quando se fala numa franquia que se procura reerguer, subindo degraus com baby steps, as baixas de jogadores provocam sempre mossa. E, quando elas, no mesmo jogo, atingem não um, nem dois, mas sim três dos baluartes defensivos, a equipa abana. E viu-se, dentro de campo, com marcações erradas, erros grotescos, lapsos incompreensíveis. Linval Joseph não jogou. A DL ficou sem a sua alma mater, o colosso que para o jogo corrido. Ainda numa fase precoce do encontro, Harrison Smith e Anthony Barr tiveram que sair, cedendo a lesões. Falamos de dois dos mais empolgantes e atléticos jogadores da equipa, cuja privação tornou inconsistente o resto do grupo. O que ficou desnudado foi isso: a falta de depth, em termos qualitativos.

Terence Newman:  É com uma dor de alma que coloco aqui, neste cantinho destinado às nódoas que envergam aquela camisola sagrada, o nome do veterano cornerback. E ele, que tem feito uma temporada de solidez assinalável, não merecia a desfeita que os Seahawks provocaram. A habilidade de Russell Wilson, capaz de estender jogadas até ao limite, expôs física e mentalmente o defensive back, incapaz de provocar um passe incompleto, quer a Doug Baldwin, quer a Tyler Lockett. Foi mau, e o único jogo na temporada em que se notou, claramente, a sua provecta idade.

Eric Kendricks:  Foi uma espécie de descida à terra para o rookie linebacker, cujo progresso na temporada, como middle linebacker, foi interrompido neste encontro. Kendricks foi igualmente incompetente a defender o passe, onde deu um clinic de como não se deve abordar uma jogada, falhando rotundamente uns 3 ou 4 tackles, quer na defesa do passe, quando teve que cair em coverage. Claramente incapaz de lidar com os scrambles de Wilson (qual a dificuldade de deitar abaixo um anão?), viu-se enredado no lance do touchdown corrido do quarterback adversário, parecendo um puto do high school a jogar com os meninos grandes.

O Freguês que se Segue

Fica o aviso, para aqueles crentes que roçam o fundamentalismo. Isto não só não vai melhorar, como não vai ser bonito.Convém a realização colocar aquela bolinha vermelha, no canto superior direito da televisão, alertando o consumidor para conteúdo adulto. Parece-me que vamos ser alvo de sevícias tremendas…

A schedule tem destas coisas. Meros 4 dias depois dos Seahawks, longa viagem até ao deserto, para novo confronto com opositor da NFC West. E logo os Cardinals, que elejo como a melhor equipa da conferência. E sim, sei que os Panthers estão invictos. Deles, gosto de praticamente tudo, desde que foram buscar para head coach o Bruce Arians. Adoro o vertical attack, que obriga o adversário a dispersar-se por todas as zonas defensivas, as longas bolas de Palmer, quarterback rejuvenescido e que joga a um nível elevado, e as deep threats, que não se envergonhariam se competissem com um atleta olímpico nos 100 metros. JJ Nelson, a mais recente coqueluche e John Brown, são speedsters que colocarão inúmeros problemas à secundária dos purple & gold. As armas atacantes não acabam aqui. Está lá Larry Fitzgerald, um dos mais icónicos receivers da actualidade. O jogo corrido, mesmo com Chris Johnson lesionado, tem profundidade, com Andre Ellington, David Johnson e Stepfan Taylor. A maior conquista da equipa, no entanto, foi o fortalecimento da OL, visível nos 2 últimos anos. Jared Veldheer é um dos mais underrated left tackles da competição, agora com companhia competente ao lado, com a chegada de Mike Iupati. A defesa é um misto de veterania, onde ainda sobressai Calais Campbell e Dwight Freeney, como os rostos mais mediáticos do pass rush, com juventude ávida de conquistas. Nesse quesito, Patrick Peterson é, quase consensualmente, considerado um dos melhores corners da liga, uma espécie de mentor para o resto do grupo, onde ainda pontificam as esperanças Tyrann Mathieu e Deonte Bucannon (agora adaptado a ILB).

Em suma, e não querendo parecer pessimista, os Vikings sentirão enorme dificuldade em movimentar a bola, no ataque, e serão pressionados ao limite, na defesa. Nesta altura, pressinto que a ida aos playoffs ficou dependente de dois jogos: a recepção aos Bears e a deslocação a Detroit. Porque, se há algo que vamos aprendendo com o tempo, é que a equipa paulatinamente tem melhorado, mas existe ainda um notório défice quando confrontada com adversários de topo. Como os Packers. Os Broncos. Ou os Seahawks.

Artigo publicado originalmente na página de Facebook Minnesota Vikings Portugal

About The Author

Paulo Pereira

O meu epitáfio, um dia mais tarde, poderá dizer: “aqui jaz Paulo Pereira, junkie em futebol americano”. A realidade é mesmo essa. Sou viciado. Renascido em 2008, quando por mero acaso apanhei o Super Bowl dos Steelers/Cardinals, fiz um reset em [quase] todos os meus dogmas. Aquele desporto estranho, jogado de capacete, entranhou-se no meu ADN, assumindo-se como parte integrante da minha personalidade. Adepto dos Vikings por gostar, simplesmente, de jogadores que desafiam os limites. Brett Favre entra nessa categoria: A de MITO.