Green Bay Packers at Detroit Lions
1 | 2 | 3 | 4 | F | |
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Green Bay Packers | 0 | 7 | 7 | 10 | 24 |
Detroit Lions | 3 | 7 | 7 | 3 | 20 |
A Freguesia Continua…
Não sendo comum, começa já a evidenciar-se a utilização de frases fortes, na propaganda e publicidade de clubes de futebol. Um deles, no nosso País, tem vincado no próprio equipamento um dogma, que pretende ser, ao mesmo tempo, épico e demonstrativo da cultura residente no clube. “A vencer, desde 1893”. Será altura para os Detroit Lions fazerem o mesmo, com um notável poder de penitência. Uma espécie de “Detroit Lions, freguês dos Packers, desde tempos imemoriais”. A realidade é essa, dolorosa para quem vive e sente o clube de Detroit. Uma estranha apatia abate-se sobre a equipa, mentalmente refém do poderio do adversário, criando uma clivagem que se vai acentuando, jogo a jogo. Nos últimos 15 confrontos, um saldo perturbador. 14 vitórias dos Packers. Um mísero triunfo dos Lions. Jim Schwartz, técnico de reconhecida competência, procurou camuflar as insuficiências da sua equipa, explorando os evidentes pontos fortes. A estratégia era simples. Manter sobre pressão constante a linha ofensiva dos Packers, calcanhar de Aquiles da equipa, evitando os mortíferos lançamentos de Rodgers. Por outro lado, a agressividade do front seven ajudaria a encobrir as deficiências posicionais na secundária. Isto, traçado a régua e esquadro num plano de jogo, funciona devidamente, no plano teórico. A realidade, contudo, costuma ter um efeito de terapia de choque. Os Lions, efectivamente, estiveram bem perto de vencer. Faltou o usual. Um killer instinct capaz de encerrar a contenda, quando as oportunidades surgiram. Ao invés, a equipa de Detroit, se esforçada na defesa, foi previsível no ataque, desperdiçando oportunidades para se distanciar no marcador. O resultado final foi o mesmo de quase sempre. Desta vez, revestido de crueldade, com o soco da derrota a chegar quase no final do tempo regulamentar.
O Jogo
Algumas vezes há que vencer de forma feia, esquecendo a tradicional questão estética para embelezar o pacote de touchdowns. Num confronto de rivais de divisão, onde a rivalidade recalcada ajuda a esquentar o encontro, a nota dominante foi o equilíbrio… e a quantidade de turnovers, com estes a assumirem-se como o actor principal da peça que se desenrolava no relvado. O jogo, não sendo tido como decisivo, tinha adquirido contornos de elevada importância, pelo início periclitante dos dois contendores. Os Packers, encostados à parede após a polémica derrota em Seattle, deram mostras de resiliência, embarcando numa aventura 100% vitoriosa, desde então. Os Lions, melhorando gradualmente a conexão entre Matthew Sttaford e Calvin Johnson, e ancorados nos esforços hercúleos da defesa, pretendiam repetir a presença nos playoffs. Não sendo esta uma batalha épica comparável à dos Ravens x Steelers, pode no entanto afirmar-se que foi disputada com ardor, paixão e intensidade, com cada lance a ser encarado como determinante e cada jarda conquistada com esforço. O resultado final, favorável à equipa vinda de Green Bay, reforça a candidatura destes à vitória na divisão, colocando enorme pressão sobre os Chicago Bears. Os Lions, com aquele travo amargo de frustração na boca, resvalaram para a beira do precipício. O esforço titânico da defesa, que conseguiu emperrar a máquina ofensiva dos Packers, não foi suficiente para amealhar o triunfo. E assim, a 6 jornadas do final, a matemática começa a tomar conta da realidade, em Detroit. Mais uma escorregadela e todo o esforço de alcançar a fase seguinte da competição ficará comprometido.
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Highlights do Jogo: http://www.nfl.com/videos/auto/0ap2000000097173/GameDay-Packers-vs-Lions-highlights
1º Período
Muito desacerto nos ataques e agressividade expectável nas defesas. O resultado desta miscelânea? Poucos momentos recordáveis, com as dificuldades a serem evidentes, para ambas as equipas, para conseguirem evoluir no terreno. O marcador foi aberto a pouco mais de 4 minutos do final do período, com um sack de Morgan Burnett a liquidar a possibilidade dos Lions conseguirem um first down. Jason Hanson foi chamado a intervir e concretizou, com sucesso, um field goal de 30 jardas.
2º Período
A drive dos Packers, que se começou a desenrolar após o FG, foi devidamente calibrada entre corrida e passe, mas com maior enfase neste. Aaron Rodgers brilhou em alguns momentos, passando para Jordy Nelson (duas recepções na jogada, uma de 15 e a outra de 19), Donald Driver (o veterano tem os movimentos aguçados, capturando um passe de 12 jardas), culminando no touchdown, com Jermichael Finley a intervir e a marcar, num lance de 20 jardas. Foi pelo meio, numa zona de tráfego congestionado, que Rodgers melhor aproveitou as capacidades atléticas de Finley.
A resposta dos Lions foi imediata e contundente. Também aqui foram usados os recursos todos. Sttaford utilizou Calvin Johnson (excelente participação na jogada, com recepções de 14 e 21 jardas) e abusou dos running backs, colocando Mikel Leshoure e Joique Bell a furarem a defesa contrária. Foi Mikel Leshoure que terminou a jogada, capitalizando a presença na goal line, numa curta investida de uma jarda. Os Lions voltavam a assumir a liderança no marcador. 10-7, mas muito ainda para acontecer.
Foi o período mais insano do jogo, com turnovers a sucederem-se, um após o outro. Começou Stefan Logan, a retornar um punt dos Packers, perdendo a bola, mas conseguindo recuperar o fumble. Matthew Sttaford não lhe ficou atrás e, minutos depois, foi interceptado pelo rookie Casey Hayward, quando procurava endossar a bola a Titus Young. Apenas 25 segundos intermediaram entre esse erro de Sttaford e o seguinte, cometido por Rodgers. Quando o quarterback de Green Bay passava para o irrequieto Randall Cobb, a bola foi interceptado por Jacob Lacey, colocando um ponto final na jogada. Ufa, exclamará o leitor, perante a confusão reinante no relvado, aqui retratada. Pois bem, a catadupa de equívocos não terminou. Já com os Packers com a bola, novamente, e o intervalo a aproximar-se, a drive foi interrompida num sack de Nick Fairley, o que obrigou a um field goal. Mason Crosby, a 50 jardas, desperdiçou a oportunidade de empatar o desafio, rematando ao lado.
3º Período
Jogo equilibrado, com as defesas a assumirem o protagonismo, colecionando hits e sacks. A 8 minutos do final do período, num 3-and-10, Matthew Sttaford procurou o passe longo, tendo como alvo o tight end Tony Scheffler. A bola foi interceptado pelo safety MD Jennings que depois, numa corrida desabrida, retornou a oferta para touchdown, em 72 jardas intensas. Os Packers colocavam-se na frente, retirando benefícios dos sucessivos erros do ataque dos Lions. Mas, tal como no 1º TD dos Packers, também agora os Lions responderam de imediato. Beneficiando da produtividade de Mikel Leshoure e ajudados por um Face Mask, que lhes deu um bónus de 15 jardas, a equipa de Detroit demorou apenas 5 minutos a reassumir a liderança. O momento do touchdown é um dos lances mais brilhantes da partida, com a conexão de Sttaford e Calvin Johnson a ser profícua. Um passe longo, de 25 jardas, com Megatron a finalizar.
4º Período
15 minutos para jogar e os Lions a liderarem. Suspense crescente nas bancadas, aliviado quando a drive dos Packers esbarrou na falta de pontaria do veterano kicker. Mason Crosby, revelando um desacerto pouco habitual, falhou um FG de 38 jardas, colocando pressão extra sobre a equipa. Faltavam 8 minutos e 41 segundos. A posse de bola passava para os Lions que poderiam, com uma bem sucedida drive, colocar um fosso intransponível no resultado. Por momentos, pareceu que seria isso que aconteceria, quando Sttaford elevou o nível do seu jogo e usou Ryan Broyles (excelente lance, num ganho de 27 jardas) e Titus Young (recepção de 24 jardas) para ameaçar novo TD. Mas a equipa não passou das últimas 27 jardas, parada pela defesa. Jason Hanson marcou, colocando os Lions com 6 pontos de avanço. Mas a bola era de Rodgers, com longos 4 minutos e 25 segundos para um comeback. Os piores receios dos adeptos dos Lions tornaram-se verdadeiros. James Starks tem uma excelente corrida, depois do retorno de Randall Cobb, com Aaron Rodgers depois a sintonizar-se com Finley, numa espantosa jogada de 40 jardas. On fire, Rodgers rasgou a secundária contrária, encontrando Randall Cobb na end zone, com dupla marcação, mas conseguindo endossar a bola numa espiral perfeita. Touchdown, os Packers à frente e os Lions à beira dum ataque de nervos, que se agravou com a necessidade de irem para um 4-and-15. A perda de bolas, em downs, foi custosa e deu tempo ainda para os Packers colocarem Mason Crosby na linha de tiro. Desta feita o kicker não vacilou e marcou, de 39 jardas. THE END!
As Nossas Escolhas
MVP: Equacionei colocar aqui uma verdadeira revelação, pela forma abnegada e entusiasta como jogou na defesa. Casey Hayward tem aquela irreverência competitiva que é comum encontrar em rookies, tentando impressionar quem apostou nele. Se bem que o seu papel tenha sido fulcral, na vitória final, optei por eleger Aaron Rodgers. O quarterback dos Packers, longe de ter realizado o seu melhor jogo, conseguiu algo que não é muito comum nele: conduzir uma drive vitoriosa, no 4º período. Esta foi apenas a 5ª vez que isso aconteceu, mas serviu para mostrar que, em momentos determinantes, Rodgers não perde a clarividência que o tem acompanhado. Com um jogo sólido (pese a intercepção permitida), resistiu ao habitual massacre de que é alvo, com a sua guarda pretoriana a mostrar-se incapaz de o proteger devidamente. Mesmo sobre pressão, mostrou precisão nos lançamentos e resgatou a equipa duma comprometedora derrota, com lançamentos bem medidos nos últimos instantes. Se o passe para Finley, de 40 jardas, foi uma pequena amostra do seu dote, o touchdown recebido por Randall Cobb mostra a excelência do seu jogo. Aaron Rodgers não é apenas o mais cool quartqeback da NFL. É também o seu mais valioso jogador. Mesmo que ele tenha que nos relembrar disso mesmo, com alguma regularidade.
Positivo: Nos Lions, Nick Fairley só não venceu o oficioso título de MVP da partida porque os Lions perderam. Mas o defensive tackle, agora no seu 2º ano na NFL, realizou um jogo tremendo, capitalizando a atenção extra que Ndamukong Suh recebeu da linha ofensiva dos Packers. Fairley era uma força destrutiva, no College Football, não conseguindo ainda, de forma regular, manter o mesmo padrão de eficiência no mundo profissional. Com uma temporada sem grandes sobressaltos, evidenciando um bom momento de forma, esteve omnipresente em todos os momentos do jogo, ora importunando Josh Sitton ou Evan Dietrich-Smith (a quem infernizou a vida), ora sendo disruptivo e mostrando skills de pass rusher. Conseguiu um sack, vários hurries e pressões e um fumble forçado a Aaron Rodgers.
Calvin Johnson, wide receiver, continua a subida de produção, agora que estão debelados os seus problemas físicos. Sendo sempre uma presença dominante, em qualquer zona do terreno, obrigando o adversários a usar dupla cobertura, Johnson foi sempre o mais perigoso receiver dos Lions, procurando catapultar a equipa para uma vitória que seria crucial. Terminou com mais 143 jardas recebidas (mais de 500, nos últimos 3 jogos) e um TD. Mikel Leshoure esteve bem, contra a defesa dos Packers. Não encontrando grande liberdade, nem bloqueios, porfiou bastante, procurando sempre o limite da linha lateral, usando a capacidade de explosão para ganhar vantagem sobre os adversários. Deu sempre dimensão ao jogo corrido, evitando que a equipa dependesse em exclusivo do passe. 84 jardas, em 19 corridas e um TD foram um pecúlio coerente com a exibição.
Nos Packers é tempo de dar as boas vindas a Jermichael Finley, o tight end da equipa, longe de corresponder ao expectável para a temporada. A sua participação, no ataque da equipa, tem sido errática e evidenciando um problema de drops. Neste jogo, no entanto, Finley assumiu-se como um alvo letal, atraindo atenções da defesa contrária. Mais do que números excepcionais, que ele não conseguiu, o que importa reter da sua exibição foi a maturidade e segurança que evidenciou. Decisivo na drive final, recebendo um passe de 40 jardas, mostrou que pode ser instrumental neste ataque, pelas dificuldades e desafios que cria aos adversários e pela presença física que impõe.
O que mais tem impressionado na equipa é a forma como conseguiu resistir a baixas importantes, na unidade defensiva. Torna-se rotineiro, na NFL, falar de lesões e da importância acrescida das mesmas no rendimento homogéneo das equipas. A capacidade de superação, aliada à profundidade nos rosters, dita muitas vezes a diferença entre sucesso/insucesso. Sem Charles Woodson, a secundária de Green Bay rejuvenesceu, tendo um comportamento brilhante nesta partida. Davon House (cornerback de 2º ano) e Casey Hayward (cornerback rookie) apenas permitiram 2 passes completos, num total de 14 jardas, quando foram alvejados. House é um jogador mais preventivo, apostando no posicionamento como forma de impedir danos na cobertura. Hayward, a atravessar um momento de forma exuberante, é um jogador mais dinâmico, uma espécie de pronto-socorro, parecendo adivinhar o local onde a bola vai cair. Conseguiu uma intercepção (a sua 5ª na temporada) e três passes defendidos, numa concentração competitiva de louvar. MD Jennings, safety, também brilhou, interceptando um passe de Sttaford e retornando-o para touchdown, numa jogada de 72 jardas.
James Starks pode passar abaixo do radar, para todos aqueles que gostam de analisar as estatísticas de jogo e fundamentarem as suas decisões a partir delas. Não sendo indomável, a análise da exibição de Starks terá sempre que enquadrar, na equação, o factor linha ofensiva e o número de jardas conseguidas, após contacto. Quanto ao primeiro, James Starks é obrigado a desenvolver um egoísmo exibicional, dado não poder contar com a ajuda duma linha ofensiva assoberbada e pouco eficiente. Raramente contando com bloqueios eficazes, Starks conseguiu 54 das 74 jardas após contacto, mostrando uma capacidade de explosão e trabalho que merecem encómios.
Negativo: Nos Lions, o pouco acerto de Matthew Sttaford não se pode dissociar da fraca protecção com que ele contou. Inexplicavelmente, com os Packers carentes de Nick Perry e Clay Matthews, a linha ofensiva dos Lions tremeu e revelou-se permissiva, com Stephen Peterman a ser o elemento mais em foco, pela negativa. Como run blocker Peterman conseguiu ser competente, criando bloqueios aproveitados pelos seus running backs. O pior foi mesmo a cobertura e protecção ao passe, sendo evidente o abuso a que foi submetido por Ryan Pickett e BJ Raji. Stephen Tulloch, middle linebacker, é um nome consensual, quando se fazem as listas finais dos melhores na posição. Apresentando um currículo recheado de qualidades, costuma ser sólido contra o jogo corrido, denotando elasticidade e velocidade para acompanhar e parar qualquer running back. Mas tem mostrado, este ano, uma faceta até agora desconhecida. Uma estranha insegurança a efectuar tackles, sobretudo em open field, acumulando erros e permitindo a continuação das jogadas do adversário. Contra os Lions raramente encontrou o tempo certo para parar Starks, falhando vários tackles fáceis e deixando-se ludibriar com relativa docilidade.
Matthew Sttaford também merece uma reprimenda, não sendo o quarterback seguro e eficaz que se esperaria. Errático e pouco preciso, sobretudo nos passes para o fundo de campo, pareceu sempre algo ansioso, não conseguindo sincronização com os seus receivers. Acertou apenas 17 passes, em 39 tentados, com várias más decisões pelo meio.
Nesta fase, os Packers deverão estar nervosos pela irregularidade transmitida pelo seu kicker. Mason Crosby tem estado desastrado, deixando de ser um elemento confiável. A sucessão de field goals falhados torna-o um foco de tensão. Frente aos Lions falhou mais dois FGs, de 50 e 38 jardas, elevando o número de fracassos para 7, nas suas últimas 13 tentativas. Quanta paciência mais terão os Packers, sabendo que em jogos de carácter decisivo uma falha pode significar um adeus prematuro ao Super Bowl?