Saints @ Seahawks: Degola de Santos na Chegada ao Inferno

João Malha 5 de Dezembro de 2013 Análise Jogos NFL, NFL Comments
Saints vs Seahawks

New Orleans Saints at Seattle Seahawks

1 2 3 4 F
New Orleans Saints 0 7 0 0 7
Seattle Seahawks 17 10 7 0 34

Degola de Santos na Chegada ao Inferno

Monday Night Football! Que melhor palco para um dos mais aguardados jogos da época regular da NFL? Frente a frente os dois líderes da conferência NFC, no terreno do primeiro classificado, os Seattle Seahawks. A última vez que se tinham ali enfrentado tinha sido em Janeiro de 2011, no wildcard weekend dos Playoffs, em que os de Seattle, surpreendentemente, eliminaram os New Orleans Saints, apesar dos Seahawks terem um registo negativo na fase regular, mas que ainda assim lhes permitiu vencer a divisão. Ora de vingança ambicionavam os Saints. Mas aquela que para muitos é a equipa mais forte em 2013 por certo não estaria para ajustes de contas e queria manter o seu inferno domiciliário inviolável.

Antes de irmos aos pontos de interesse que este jogo encerrava, uma curiosidade. Os Saints de Brees e Payton chegavam a este jogo com um impressionante registo de 9v-0d em outros tantos jogos de primetime à segunda-feira. Seria esse dado um factor a temer por Wilson e Lynch?

Os Seahawks fazem do seu running game a sua principal arma, com a “Besta” Marshawn Lynch como estrela maior do roster do noroeste americano. Ele que foi assim apelidado no jogo acima mencionado de 2011, frente aos Saints, onde rompeu tackles atrás de tackles numa jogada épica onde deu a sensação de levar os 11 defesas dos Saints às costas até ao Touchdown (TD) que concretizou.

Inversamente, os Saints baseiam quase todo o seu jogo no passe, apesar de nas últimas semanas terem sido mais efectivos no running game, o que frente aos Seahawks deveria ser uma arma a explorar, uma vez que os de Seattle eram à entrada para este jogo a segunda melhor defesa da liga contra o passe, o que fazia deste jogo um enigma. O segundo melhor ataque de passe contra a segunda melhor defesa! Denominada de Legion of the Boom, a secondary dos Seahawks apresentava 16 intercepções até à semana 12, o que mereceu, por certo, muito trabalho de casa de Brees e da sua ofensiva para que não fossem surpreendidos.

O frio era outro dos temores dos Saints para este jogo, habituados que estão ao conforto do seu estádio coberto. As temperaturas em Seattle na noite do jogo rondavam os zero graus, o que não ajuda ao passe. Mas a hora não era de desculpas. O barulho ensurdecedor (que já valeu o recorde mundial aos Seattle Seahawks por maior ruído num estádio aberto da história) era o último obstáculo, mas num jogo em que estava em causa a luta pelo primeiro lugar da conferência, não era hora de desculpas. Quem se assumiria como o mais forte da NFC?

O Jogo

Se a expectativa era elevada, o resultado dissipou quaisquer dúvidas. Num verdadeiro ambiente de “Welcome to Hell”, os Saints foram autenticamente degolados pelos Seahawks. Uma presa fácil demais para o que era expectável. Num jogo que teve poucos motivos de interesse tal o desequilíbrio latente desde início.

Os Saints conseguiram bater praticamente todos os seus recordes ofensivos negativos. Nunca na história da dupla Brees/Payton os de New Orleans tinha falhado alcançar um down nas três posses de bola iniciais. Bem como apenas por uma vez tinham registado apenas 7 pontos no final de um encontro, tendo assim igualado a sua pior pontuação com esta dupla em campo.

No final do primeiro período, já os de Seattle lideravam por 17-0. Na sua primeira posse de bola não conseguiram concretizar o TD, mas o kicker (K) Hauschka não teve dificuldade em abrir o marcador num Field Goal (FG) de curta distância. De seguida, Brees não foi protegido pela sua offensive line e sofreu um sack de Cliff Avril que deu origem a um fumble que terminou num TD de 22 jardas de Michael Bennett. E a festa foi de tal ordem que os medidores registaram um tremor de terra de magnitude de 1 a 2 na escala de richter na zona do estádio devido aos pulos de toda a assistência. Um verdadeiro inferno que contribuiu decisivamente para o desfecho final.

Na posse de bola seguinte dos Seahawks, novo TD. Muito concentrados em parar o running game de Lynch, Rob Ryan, coordenador defensivo dos Saints, esqueceu-se do valor de Wilson e de dar profundidade à defesa. Chegou a arriscar tudo em alguns third downs, com blitz que desprotegeram completamente a rectaguarda e permitiram passes de muitas jardas que terminavam na redzone dos Saints… Foi assim neste segundo TD dos Seahawks, que foi concluído com um passe curto de 2 jardas de do Quarterback (QB) Russel Wilson para o Tight End (TE) Zach Miller.

Drew Brees finalmente acordou e superou o ruído ensurdecedor que quase impossibilitou as comunicações com a sua equipa e num longo drive conseguiu pôr os Saints no marcador… algo que não se repetiria. Não é difícil prever como foi conseguido o TD dos Saints. Brees atirou para as mãos do inevitável Jimmy Graham, que bateu assim o recorde do franchise com 12 TD’s de um TE numa só época. Uma jogada habitual, mas que raramente se viu em Seattle.

Recuperação dos Saints? Nem por sombras. A fechar a primeira parte, Wilson encontrou o Wide Receiver Doug Baldwin, em mais um passe curto de 4 jardas, deixando o marcador em 24-7 ao intervalo.

Se a primeira parte teve pouca história, a segunda não teve quase nenhuma. A abrir os Seahawks aniquilaram em definitivo a presa fácil que veio do Louisiana. E com a jogada mais incrível do jogo. Um passe que não era dirigido para Derrick Coleman terminou nas suas mãos, depois de um ressalto num colega.

Estava fechado o marcador da partida. A partir daí assistiu-se continuou o massacre da defesa dos Seahawks sobre o ataque dos Saints, que só nesta segunda metade, com excepção da jogada em que concretizaram o TD, conseguiram passar a sua própria linha de 30 jardas! Impensável para o segundo melhor ataque da NFL. Por duas vezes os Saints chegaram próximos da endzone contrária, mas arriscaram por duas vezes o quarto down sem sucesso, ao invés de tentarem o FG que amenizaria a diferença no marcador.

Chegava ao fim o massacre. E estava garantido o primeiro apuramento para os playoffs. Com esta vitória, os Seahawks asseguraram um lugar, pelo menos, no wildcard, mas o mais certo é ser o primeiro da conferência dado que já tem duas vitórias à maior sobre os Saints e Panthers, as duas equipas que lutarão já no próximo domingo pela liderança da NFC South.

O mais espectacular TD da noite

O mais espectacular TD da noite, autêntico pinball que Coleman transformou
Foto de Jordan Stead, Steattlepi.com

 As Nossas Escolhas

MVP

Russel Wilson: Escolhemos Wilson, mas podíamos ter considerado a defesa dos Seahawks o MVP da partida. A escolha recai no pequeno QB de Seattle pois esteve irrepreensível esta segunda-feira.  Pelo terceiro jogo consecutivo apresentou um passer rating acima de 134.0, tendo somado 22 passes completos em trinta tentativas, para um total de 310 jardas e três passes para TD.

O destaque maior é a sua read option. Extraordinária a forma como em determinadas jogadas leu na perfeição o ataque de Junior Gallette a Lynch, optando por não lhe entregar a bola e entrando no espaço deixado em aberto pelo defesa dos Saints.

Russel Wilson

Russel Wilson
Foto: Elaine Thompson, Associated Press

Positivo

Defesa dos Seahawks: É impossível destacar um só jogador, até porque só houve um sack, que resultaria em fumble e TD e não houve intercepções, ao contrário do que se poderia esperar. Mas a verdade é que o bloco defensivo, tanto à frente, no pass rush, como mais atrás, com os safetys, funcionou na perfeição, eliminando por completo o jogo ofensivo contrário. Muito se especulou que a ausência dos dois Cornerbacks (CB) titulares poderia abrir brechas, mas sem Brandon Browner e Walter Thurmon, os suplentes Byron Maxwell e Jeremy Lane deram uma resposta cabal, não permitindo aos Saints avançar no terreno como é habitual, registando números muito abaixo do que o franchise apresenta desde que Brees e Payton chegaram em 2006. Apenas permitiram 12 first downs, sendo que apenas no final do terceiro período os Saints conseguiram passar a sua própria linha de 30 jardas pela segunda vez!!!

Negativo

Drew Brees: Esteve mesmo em Seattle? De certeza? Originou um fumble a abrir que deu TD ao adversário. Fez um só passe para TD e só no fim do terceiro período conseguiu conduzir a equipa para lá das suas 30 jardas. Foi uma sombra do QB que unanimemente é considerado um dos três melhores da NFL. Foi o frio? O barulho ensurcedor? Brees no final não procurou subterfúgios e assumiu que tinha sido uma noite para esquecer. Terminou assim um registo de 43 jogos seguindo com mais de 200 jardas de passe, ficando a dois jogos de igualar o recorde. O homem dos recordes da NFL falha este. Can’t win them all…

Rob Ryan: Conseguiu um feito ao tornar a pior defesa da história da NFL numa das melhores. Nunca tal havia acontecido na história do jogo, em termos de redução de pontos sofridos desde 1940. Porém, esta segunda esse foi apenas um dado para a estatística. Talvez seja injusto colocar aqui Ryan pois com um ataque que não funcionou, a defesa passou quase o tempo todo dentro de campo o que torna mais difícil ter sucesso. Mas o problema não residiu aí mas sim nos erros tácticos de Ryan. Ainda no início do jogo, arriscou tudo para tirar de campo Wilson e companhia em third downs e ao invés de o conseguir, permitiu por pelo menos três vezes que o blitz falhado resultasse em passes longos nas costas que não deram TD directo, mas, invariavelmente acabariam por terminar, numa das jogadas seguintes, em mais seis pontos para o adversário…

About The Author

João Malha

Profissional da área de comunicação e marketing, e sempre ligado ao desporto, sempre me fascinou o conceito de showbiz dos norte-americanos no que toca à promoção de qualquer espectáculo desportivo. Quando em 2003, a SportTv transmitiu pela primeira vez o Super Bowl, com estrondosa vitória dos Buccaneers de John Gruden sobre os Raiders, a curiosidade cresceu e ano após anos comecei a seguir as transmissões do maior evento desportivo mundial. Mas como em tudo na vida (pelo menos na minha forma de estar), é preciso um motivo mais forte para nos agarrarmos às coisas. Uma paixão que nos alimenta. E foi isso que aconteceu em 2010, aquando da final de Miami, ganha pelos Saints frente aos Colts do lendário Peyton Manning. Nesse dia senti finalmente que aquela era a minha equipa! E o aparecimento da ESPN America ajudou a não mais largar este desporto espectacular, que sigo semanalmente. Na Week 1 da temporada 2012/2013, cumpri o sonho de ir ver um jogo dos Saints ao vivo, ao Mercedes-Benz Superdome. Não vi os Saints vencerem, mas quem sabe se não terei a oportunidade de dizer que assisti ao primeiro jogo na NFL de um dos maiores QB’s da sua história, Robert Griffin III. Ver os Saints ao vivo foi uma experiência única que me faz olhar para o desporto com outros olhos. Quero saber mais e mais sobre o jogo, a sua história, lendas, regras, tácticas, etc. Let’s play ball!!!!