Houston Texans at New York Jets
1 | 2 | 3 | 4 | F | |
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Houston Texans | 7 | 10 | 6 | 0 | 23 |
New York Jets | 7 | 0 | 7 | 3 | 17 |
Requiem para um Sonho
Estes New York Jets estiveram perto. Muito perto de tocar no apetecível troféu baptizado de Vince Lombardi. Em 2009 e 2010, com um técnico bonacheirão, algo fanfarrão e adepto das provocações gratuitas, mas um estratega brilhante defensivamente, a equipa de Nova Iorque chegou à final de conferência. Fazendo da defesa agressiva e do “ground & pound” os mandamentos básicos do seu jogo, Rex Ryan colocou uma imensa mole humana à beira do sonho. Os Jets podiam, finalmente, ansiar pela repetição do inolvidável título que celebrizou Joe Namath. Esperava-se, por isso, um passo em frente, dotando a equipa de qualidade nas poucas zonas cinzentas do roster. Mas, em 2011, assistiu-se a uma inflexão. Alguns chamar-lhe-ão teimosia. Outros, menos exigentes, dirão apenas que foi uma má planificação. Os Jets, independentemente da razão, cometeram vários erros de apreciação. O jogo corrido, que era o bastião do ataque, não foi reforçado, com a saída de LaDainian Tomlinson a ser demasiado penalizadora. Shonn Greene começa a parecer um erro de casting, incapaz de produzir um jogo aceitável. A linha ofensiva foi assistindo a um envelhecimento das suas peças, deixando de ser a unidade estanque. Para finalizar o quadro negro, Mark Sanchez nunca se assumiu o quarterback que era esperado. Longe de poder ser apelidado de escolha acertada para a posição, manifesta ainda, no seu 4º ano, uma confrangedora falta de precisão, revelando igualmente uma falta de frieza preocupante. Por isso, o descarrilamento na rota do sonho era esperado.
Aparentemente, só mesmo os responsáveis dos Jets não vislumbraram os sinais de aviso. As recentes perdas de Darrelle Revis e Santonio Holmes apenas vieram selar um destino há muito anunciado. E agora, Jets?
Ironicamente, neste encontro, os Jets que estão numa espiral descendente, encontraram pela frente o seu oposto. Uma franquia que, paulatinamente e de forma sustentada, soube incorporar os elementos em falta, criando um grupo com enorme qualidade, que faz o papel dos Jets de 2010. Candidatos ao Super Bowl. Uma breve análise aos Houston Texans depara com uma equipa consistente, capaz de usar o jogo corrido como aríete ou o jogo aéreo como arma de precisão cirúrgica. Estes Texans têm tudo. A defesa, transformada no ano passado após a chegada de Wade Phillips, é agora uma máquina predadora, com JJ Watt como cabeça de cartaz.
O Jogo
Depois da derrocada caseira, frente aos 49ers, aguardava-se um novo confronto de similares condições, agora que o visitante era a excelente equipa sedeada em Houston. Durante a semana, na habitual especulação típica dos jornais nova-iorquinos, criou-se a ideia que os Jets veriam uma substituição no posto de quarterback, com Tim Tebow a assumir as rédeas do ataque. Nenhuma das teses vingou. Nem os Jets foram humilhados, conseguindo manter o suspense quanto ao vencedor do encontro até final, nem Tebow teve um papel preponderante, limitando-se às habituais incursões esporádicas em situações de corrida. Torna-se um enigma a não utilização de Tebow e das suas especiais características, se nos recordarmos que os 49ers, com Colin Kaepernick, têm obtido sucesso no wildcat. Tebow, numa das raras oportunidades dadas para lançar, conseguiu um passe profundo, bem medido, ingloriamente desperdiçado pela falta de talento do receiver. Não conseguindo uma supremacia muito vincada, os Texans venceram no entanto com maior facilidade do que a revelado pelo resultado final.
Parecendo sempre no controlo das operações, com uma defesa dominante, um jogo corrido arrasador e um jogo aéreo que raramente foi importunado pelo pass rush dos Jets, a equipa de Houston acabou por viver alguns sobressaltos nos derradeiros instantes, quando os Jets procuravam a reviravolta. Esta, a acontecer, seria demasiado penalizante para quem aparenta ter uma estrutura sólida, e seria um prémio imerecido a uma equipa demasiado contundida pelos golpes suportados. Os Jets conseguiram a proeza de manter um atraso recuperável no marcador graças a um touchdown caído do céu, com Joe McKnight a retornar um punt para touchdown no 3º período.
1º Período
Foi já perto do final do período que a animação chegou, em duas drives consecutivas. Primeiro os Texans, explorando o terreno de forma cirúrgica, avançando 85 jardas em 8 jogadas, finalizando no passe mais longo da noite de Matt Schaub. O quarterback de Houston, algo comedido a explorar o fundo do campo, encontrou Owen Daniels. O tight end finalizou de forma exuberante, inaugurando o marcador. Responderam de imediato os Jets, com Sanchez notoriamente a arriscar mais, procurando esticar o jogo da equipa. Uma drive curta, com apenas 4 jogadas, terminada num passe para Jeff Cumberland. Outro tight end, substituto do lesionado Dustin Keller, dando algum fôlego à equipa da casa, empatando a contenda.
2º Período
Só deu Texans, sobretudo pelo jogo corrido, onde Arian Foster beneficiou duma suprema linha ofensiva, que criou sempre inúmeros “buracos” para ele se esgueirar. A péssima prestação defensiva dos Jets, contra o jogo corrido, ajudou ao desequilíbrio. Foster foi o protagonista destes 15 minutos, com corridas preciosas. Finalizou uma drive com uma corrida de 13 jardas, correndo pela esquerda da sua linha ofensiva, para colocar o marcador em 14-7. Os Jets persistiram em busca do empate. Com uma progressão sempre feita em dificuldade, conseguiram aproximar-se da red zone adversária. Sofreram um primeiro revés com um sack de Brooks Reed, que levou a um fumble (recuperado) de Mark Sanchez. Com o tempo a esgotar-se, pouco depois, na linha de 12 jardas dos Texans, Sanchez procurou Jeremy Kerley. A bola, desviada na linha de scrimmage, foi interceptada pelo cornerback Brice McCain, que a retornou 86 jardas, permitindo que Shayne Graham, a 9 segundos do termo do período, marcasse um field goal.
3º Período
Continuou o jogo corrido dos Texans a galgar terreno, num plano de jogo racional, que procurava evitar erros desnecessários. Com Andre Johnson alvo de marcação impiedosa por parte de Antonio Cromartie, a opção pelo tandem Arian Foster/Ben Tate é compreensível. Foster conseguiu colocar novamente Shayne Graham em posição de field goal. Este, a 42 jardas, não se fez rogado, marcando mais três pontos para os Texans. Parecia que o jogo estava perto da sentença final. Mas não. Um dos melhores momentos estava ainda guardado. O retorno do kick, por Joe McKnight foi fantástico. 100 jardas intensas, com o veloz jogador a esgueirar-se por algumas nesgas de espaço, mantendo a equipa viva. Um touchdown comemorado de forma exuberante por Rex Ryan, na linha lateral.
Ainda houve tempo para novo field goal de Shayne Graham, de 22 jardas, após uma bela recepção de John Casey, o fullback, ter ganho 30 jardas no início da drive.
4º Período
Tony Sparano, o novel coordenador ofensivo, terá que acartar uma grande dose de culpa, por interromper o momentum de Sanchez, quando este procurava encurtar distâncias no marcador. O Qb dos Jets lançou para Cumberland, num passe de 24 jardas para, logo de seguida, encontrar Jeremy Kerley já dentro do território adversário, em novo lançamento longo (36 jardas). Aí, Sparano resolve introduzir Tebow no jogo, jogando 2 snaps (13 jardas ganhas numa corrida), para alternar logo de seguida, dando a Sanchez a direcção do ataque. Esta interrupção, naquele que estava a ser um excelente momento no ataque, cortou a inspiração e levou a dois consecutivos passes incompletos de Sanchez. Uma drive que parecia destinada a terminar num touchdown, culmina num field goal de Nick Folk.
As Nossas Escolhas
MVP: JJ Watt, que caminha destacado para o prémio de Defesa do Ano. Impressionante a sua capacidade de efectuar jogadas, parecendo omnipresente em todas as áreas do campo. Sendo agora um dos vértices do 3-4 defensivo, consegue aliar a habilidade para pressionar o passe (conseguiu mais um sack e uma série de pressões) com a solidez requerida a um defensor da corrida. Foi precioso na última drive dos Jets, quando estes procuravam a vantagem, aparecendo na linha de scrimmage para deflectir dois passes de Sanchez.
Positivo: Impossível falar dos Texans, em qualquer jogo, sem mencionar a performance de JJ Watt, que continua a contrariar a sabedoria popular. Esta, na NFL, diz que é habitual um rookie, com boas prestações na época de estreia, sofrer um abrandamento exibicional na 2ª temporada. Pois bem, isso não se aplica ao agora defensive end dos Texans, que melhorou de forma impressionante de um ano para outro. Watt foi novamente fundamental, quer pela pressão exercida sobre Sanchez, quer nas paragens do jogo corrido. Foi crucial na última drive dos Jets, desviando dois passes de Sanchez. Arian Foster voltou às grandes exibições. Começou com uma corrida espantosa, quando a equipa estava encostada à própria end zone. Foster recebeu o snap e rompeu a defesa contrária, sendo apenas travado no meio-campo. Depois disso continuou a recolher jardas, impulsionando o jogo de ataque dos Texans. Terminou com 152 jardas, conseguidas em 29 corridas (média de 5,2 jardas por corrida) e um touchdown, noutra bela corrida de 13 jardas. A linha ofensiva, nomeadamente o seu lado esquerdo, foi determinante para os ganhos de Foster, conseguindo inúmeros bloqueios que permitiram a fuga do seu running back. Na jogada referida, em que Foster é travado junto ao meio campo, foi Chris Meyers (center), Wade Smith (left guard) e Duane Brown (left tackle) que criaram as condições para que isso acontecesse.
Só com boa vontade se encontra alguém que, nos Jets, tenha conseguido atingir um patamar mediano, excepção feita a António Cromatie que apenas permitiu uma mísera recepção e 15 jardas a André Johnson. O cornerback dos Jets foi impressionante na marcação, não permitindo qualquer veleidade a um dos reconhecidos top-receivers da liga. Exibições isoladas não merecem ser grandemente valorizadas, por acontecerem mais fruto do acaso ou do brio profissional, do que por trabalho de conjunto. Joe McKnight merece, no entanto, créditos pelo seu retorno de um punt para touchdown, no terceiro período, que permitiu aos Jets manterem-se à tona da água, agarrando-se a esse sinal vital como um moribundo desesperado por uma golfada de ar. Jeff Cumberland, o tight end que substitui o lesionado Dustin Keller, apareceu algumas vezes em posição de recepção, tendo capitalizado essa apetência num touchdown, momento alto da sua carreira este ano.
Negativo: Nos Texans a nota mais negativa vai, claro, para a lesão de Brian Cushing, um dos elementos fundamentais na estratégia defensiva da equipa. Tendo perdido DeMeco Ryans na free agency, os Texans vêem agora a profundidade do grupo de linebackers seriamente afectada, sobretudo no interior, onde o improviso agora será uma realidade. Uma coisa é certa. Os Texans sofreram um rude golpe, numa zona crucial do campo
Nos Jets Mark Sanchez não merece, sinceramente, ser o único imolado na fogueira de vaidades em que se transformou a franquia, mas voltou a desiludir. Um rating de 54,5%, uma percentagem de passes completos abaixo dos 50% e duas intercepções não são, neste caso, sinónimo imediato de uma exibição igual a tantas outras. Sanchez completou 5 passes de 20 ou mais jardas, incluindo um belo lançamento para Clyde Gates, de 27, na drive de que resultou o touchdown no 1º período. Com um grupo de receivers constituído por meros tarefeiros, a tarefa de Sanchez nunca seria fácil, sobretudo defrontando os Texans. Num dos snaps, por exemplo, foi António Cromartie, o cornerback, que jogou aberto junto da linha, como receiver, o que revela claramente o desespero e a ausência de alternativas credíveis no jogo aéreo da equipa. A linha ofensiva, onde apenas Nick Mangold conseguiu jogar de forma razoável, não transmitiu qualquer segurança ao seu quarterback. Conseguindo, mesmo assim, alguma dinâmica em partes do jogo, Sanchez manteve a equipa (ajudado por aquele retorno de Joe McKnight para touchdown) sempre na discussão do resultado, algo que merece ser devidamente realçado. Falamos dum ataque em que o jogo corrido não apresenta qualquer alternativa, com os seus vários running backs a serem incapazes de furar a sólida muralha da defesa dos Texans. Por muito que as culpas recaiam, invariavelmente, no ataque, a defesa merece ver também os seus esforços vaiados. Outrora uma unidade temível, é agora uma manta de retalhos, com episódicas participações positivas (Mike DeVito, por exemplo) a mascararem a má exibição do conjunto. Bart Scott e David Harris são exemplos de quem parece ter baixado os braços, num sinal de rendição. O jogo corrido dos Texans impôs-se, com clareza, nunca sendo travado convenientemente.