Vikings @ Lions: Na Motor City é sempre a acelerar

Paulo Pereira 10 de Setembro de 2013 Análise Jogos NFL Comments
Vikings vs Lions

Minnesota Vikings at Detroit Lions

1 2 3 4 F
Minnesota Vikings 7 7 10 0 24
Detroit Lions 3 10 14 7 34

Na Motor City é Sempre a Acelerar

Iniciar a nova temporada com um embate entre rivais torna tudo mais aliciante. Não é apenas a luta pelo triunfo que está em jogo. Pelo menos, no sentido convencional do termo. Um triunfo, frente a um opositor directo, tem uma carga emocional tremenda, podendo ligar a ignição para um efeito psicológico de média duração. Se fosse preciso criar motivos de interesse na partida, perante um calendário com 16 jogos, bastava proferir dois nomes: Calvin Johnson e Adrian Peterson. O melhor receiver da actualidade e o melhor running back do momento. O interessa do encontro não se esgotava, no entanto, na mera presença das super-estrelas. Havia outros. Muitos. Desde logo, algumas perguntas careciam de respostas, que seriam dadas com o desenrolar dos acontecimentos. Por exemplo:

  1. Como é que a OL dos Lions se sairia, enfrentando Jared Allen? Tendo perdido, na free agency, os seus dois offensive tackles, a equipa de Detroit estreava Riley Reiff como left tackle e Jason Fox, no lado direito. Existia ainda curiosidade em ver se o rookie Larry Warford, offensive guard, teria algum impacto na performance colectiva;
  2. Durante a offseason, foram várias as vozes a questionar a evolução de Matthew Stafford, com os seus números a denotarem alguma regressão e a sua mecânica de lançamento a parecer algo deficiente. Os jogos da preseason não ajudaram à causa do quarterback, com este a conseguir acertar pouco mais de 50% dos seus passes;
  3. Conseguiria a DL dos Lions ter as ferramentas necessárias para conter Adrian Peterson? O front seven é, assumidamente, um dos núcleos da equipa, com Ndamukong Suh, Nick Fairley e Jason Jones a serem elementos fulcrais. É o suficiente para parar AllDay?
  4. E o ataque dos Vikings, continuará a ser unidimensional, apenas assente na corrida, ou finalmente Ponder conseguirá revitalizar o jogo aéreo, com Greg Jennings a ser uma nova ameaça letal? Numa liga onde os tight ends têm visto a sua importância crescer desmesuradamente, Kyle Rudolph manterá o elevado nível de 2012?

O Jogo

Reggie Bush celebra um triunfo incontestado

Reggie Bush celebra um triunfo incontestado
Foto de AP Photo/Paul Sancya

O jogo correspondeu ao esperado. Um encontro repleto de emoção, com boas jogadas e alguns erros primários, que coroou merecidamente os Detroit Lions, numa vitória importante e potencialmente galvanizadora. Se existe uma ilação a retirar é que estes Lions podem ser extremamente perigosos no ataque. Se antes apenas existia Calvin Johnson como ameaça às defesas contrárias, agora o ataque aparece mais espartilhado, com Reggie Bush a atrair atenções dos defensores e, com isso, a afastar as habituais duplas coberturas sobre Megatron.

Nos Minnesota Vikings sabia-se da importância desta partida. Não só por constituir a estreia, com o necessário impacto psicológico, mas sim por ser contra um rival de divisão e fora de portas. Por capricho do calendário, os Vikings jogarão com Lions e Bears, nos campos dos adversários, nas duas primeiras jornadas, tendo depois uma visita a Londres (semana 4). Um bom começo era, mais do que expectável, requerido, face à exigência da competição. Mas, pela 9ª vez nos últimos 10 road games na NFC North, os Vikings perderam. A vantagem de 14-6, bem perto do intervalo, ajudava a camuflar as deficiências, que eram visíveis. A run defense não compareceu, permitindo abusivas jardas a Bush e Joique Bell. A pressão sobre Stafford foi quase inexistente, com os Vikings impotentes para aproveitarem a inexperiência da OL. A ausência de Kevin Williams pode ajudar a explicar o deboche nas jardas terrestres, mas é frustrante verificar que na ausência do DT Pro Bowler nenhum dos outros assumiu a responsabilidade. Em suma, um resultado merecido e algo lisonjeiro para os forasteiros. A 1ª parte foi um acumular de tiros nos pés dos Lions que, não fosse isso, teriam vencido de forma bem mais confortável. Começou com um field goal desperdiçado, na opening drive, passando depois por um TD de Calvin Johnson revertido e por novo TD anulado, devido a uma falta de Nadamukong Suh.

As Nossas Escolhas

MVP

Reggie Bush

Reggie Bush
Foto de AP Photo/Duane Burleson

Reggie Bush. O running back dos Lions viveu para as expectativas geradas, após a sua contratação na free agency. No seu primeiro jogo oficial pela equipa de Detroit, Bush mostrou todos os seus predicados. Não lhe peçam que quebre tackles ou que tente furar pelo interior das linhas defensivas. Ele não é esse tipo de running back. Mais elegante e felino, é em open field que explode totalmente, assumindo-se também como um perigoso receiver, dando mais uma arma a Matthew Stafford fora do backfield. 21 corridas para 90 jardas e 4 recepções para 101 dão bem a ideia da tarde fantástica vivida pelo jogador.

Positivo

Nos Lions, se alguma indicação a preseason deixou é que a defensive line seria competente. A primeira jogada de ataque dos Vikings parecia desmentir essa ideia pré-estabelecida. A cavalgada impressionante de Adrian Peterson parecia colocar a nú fragilidades escondidas. Mas foi sol de pouca dura. Depois disso, o melhor running back da actualidade foi contido a míseras 20 jardas, no resto do jogo, cortesia de Ndamukong Suh e Nick Fairley. A dupla de defensive tackles foi impressionante, não só contra a corrida, mas colocando pressão sobre Ponder, ao longo de todo o jogo. Disruptivos, tornaram-se um pesadelo consistente para a OL dos Vikings, tendo coleccionado um fumble (Fairley) e uma intercepção (Suh), mais uma série de hits e pressões. Pena é que Suh teime em não alterar o seu comportamento, nem os impulsos psicóticos. O seu low block em John Sullivan anulou um TD de DeAndre Levy, num retorno a uma INT. O defensive tackle, useiro e vezeiro em situações de violência, sofrerá provavelmente as consequências de novo acto irreflectido. A linha defensiva não se esgotou nas exibições destes dois jogadores. Convém referir que Jason Jones e Willie Young, os starters a defensive end, foram cruciais na pressão exercida sobre a OL dos Vikings, com o roster a revelar enorme profundidade no sector, dado que Israel Idonije e Ziggy Ansah também deram o seu contributo.

A linha ofensiva foi uma surpresa. Agradável. Com Riley Reiff a left tackle, Larry Warford a right guard e Jason Fox como right tackle, 60% da linha era constituida por neófitos. No entanto, nunca pareceram estreantes, defendendo Matthew Stafford de forma sólida e competente, tendo apenas permitido um sack (Jared Allen) no jogo inteiro. Se existiam receios quanto à real valia da unidade, eles foram dissipados neste jogo.

Matthew Stafford realizou uma óptima partida, conseguindo movimentar regularmente o ataque e nunca se mostrando tolhido, quando o seu principal alvo (Calvin Jonhson) estava a ser marcado. Extremamente preciso, terminou o jogo com 2 TDs (e com mais dois revertidos, em lances finalizados com soberbos passes) e uma INT, se bem que esta resultasse de um passe deflectido na linha de scrimmage.

Jerome Simpson foi um dos únicos destaques positivos nos Vikings, conseguindo 140 jardas em 7 recepções, duas delas superiores a 40 jardas. Depois da desapontante temporada de 2012, Simpson emergiu neste encontro como a principal ameaça aérea, sendo o único a conseguir importunar a secundária dos Lions. Ao seu lado, Adrian Peterson voltou a ser o destaque positivo principal. A sua primeira arrancada, à imagem de 2012, fez sonhar os fãs dos purple & gold. 78 jardas a partir do scrimmage, num touchdown poderoso e arrasador. Contido, depois disso, pelo intratável front seven dos Lions, All Day encontrou sempre forma de contribuir para a equipa. Marcou mais um TD corrido, de curta distância, tendo algum sucesso como receiver, conseguindo mais 40 jardas para o seu pecúlio e um touchdown (o 3º do encontro).

Blair Walsh é o real deal. Mais um field goal acima das 50 jardas (o seu 11º consecutivo), não tendo concedido qualquer oportunidade aos Lions, nos retornos aos seus kicks.

Negativo

Christian Ponder

Christian Ponder
Foto de AP Photo/Carlos Osorio

Evito analisar emocionalmente o resultado de qualquer jogo, em qualquer competição. Dito isto, tenho suportado o crescimento de Ponder, sem grandes queixumes, crente que o ex-Florida State possui qualidade para singrar na NFL. Mas começa a ser difícil evitar a decepção e frustração ao assistir, no seu 3º ano, aos mesmos erros. Ponder voltou a ser irregular. Efectuou alguns lançamentos empolgantes (sobretudo a conexão com Simpson, que lhe rendeu duas bombas de mais de 40 jardas), mas alternou-os com outros de péssima qualidade. Destaco o que ele efectuou, à beira do intervalo, quando os Vikings venciam com 14-6, que levou a uma interceção e posterior TD, relançando os Lions no encontro. Parecendo sempre nervoso (a que não será alheia a má prestação da OL), o quarterback nunca foi o elemento crucial que era necessário, contribuindo para o descalabro no pós-intervalo. A sua exibição pode ser resumida no lance em que, recebendo o snap, tropeçou em Brandon Fusco, desequilibrando-se e não conseguindo fazer o handoff em condições a Adrian Peterson. O resultado é ilustrativo: um fumble. É para isso que caminha a carreira de Ponder na NFL. Um fumble metafórico!

A defesa foi desastrosa. Conceder quase 200 jardas a Reggie Bush (corridas e recebidas) implica a run defense, a secundária e, claro, o corpo de linebackers (Chad Greenway e Erin Henderson foram nulidades contra o jogo corrido). Com a excepção de Harrison Smith, que conseguiu conter Calvin Johnson a meras 37 jardas, tudo o resto foi francamente confrangedor. O pass rush não existiu, não conseguindo capitalizar o left tackle novo estreado pelos Lions (Riley Reiff), nem sequer a mediocridade esperada de Jason Fox (que acabou por se lesionar e ser substituído pelo seu backup). Matthew Stafford passou pelo encontro sem ser importunado. A imagem de marca da defesa dos Vikings ficou patente num momento, no 4º período, quando a equipa perdia por apenas 3 pontos e tinha os Lions num 3-and-18. Era expectável uma paragem, naquele momento, com os Vikings a recuperarem a bola e a poderem passar para a frente do marcador. Ao invés, Letroy Guion cometeu uma penalidade estúpida (roughing-the-passer) que deu um 1st down imediato ao adversário.

John Sullivan, um dos melhores centers da liga, realizou a pior exibição que lhe vi, até à data. Defrontando directamente Ndamukong Suh, Sullivan foi constantemente pressionado, com o poder e atleticismo de Suh a fazerem constante mossa. Jeff Locke, o novo punter, teve uma estreia aziaga, conseguindo a medíocre média de 34,8 jardas e dando boas situações de campo aos Lions, em mais do que uma ocasião.

Nos Lions, a única nota dissonante foi a exibição do rookie cornerback Darius Slay, que teve uma tarde particularmente desinspirada. Começou mal, ao tentar parar Adrian Peterson em campo aberto, falhando nos seus intentos e vendo o RB cavalgar as jardas finais para marcar um TD. Depois, calhou-lhe na rifa a defesa de Jerome Simpson, que abusou da ingenuidade do rookie, levando Jim Schwartz a substitui-lo por Rashean Mathis. Ponder concretizou 4 dos seus 6 passes, quando Slay estava na cobertura, conseguindo 75 jardas. Elucidativo!

About The Author

Paulo Pereira

O meu epitáfio, um dia mais tarde, poderá dizer: “aqui jaz Paulo Pereira, junkie em futebol americano”. A realidade é mesmo essa. Sou viciado. Renascido em 2008, quando por mero acaso apanhei o Super Bowl dos Steelers/Cardinals, fiz um reset em [quase] todos os meus dogmas. Aquele desporto estranho, jogado de capacete, entranhou-se no meu ADN, assumindo-se como parte integrante da minha personalidade. Adepto dos Vikings por gostar, simplesmente, de jogadores que desafiam os limites. Brett Favre entra nessa categoria: A de MITO.