Wild Card Weekend: Dallas Cowboys

Paulo Pereira 6 de Janeiro de 2015 Análise Jogos NFL, NFL Comments
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Wild Card Weekend: Dallas Cowboys

Pass Interference

A jogada polémica deste jogo

Dallas Cowboys, 24 vs Detroit Lions, 20

WOW. É o primeiro pensamento. Depois, novamente, repetitivo. WOW. Não foi um jogo “for the ages”, mas foi claramente o melhor encontro do wildcard weekend. Teve de tudo. Drama. Emoção. Polémica. Big plays. Coragem. Decisões arriscadas. Receio. Foram mais de 3 horas de puro entretenimento, daqueles que nos agarra e nos mantém em suspenso, tensos, contorcidos de nervosismo. Este Cowboys-Lions merecia ser dissecado em longas páginas, exaltando atletas que, de parte a parte, deixaram tudo em campo. Infelizmente, replicando comportamentos soccerianos, será mais comentado pela decisão controversa da equipa de arbitragem, no último período, do que por outros motivos. Já lá vamos. A essa decisão. Antes, contudo, fica uma questão. Sendo a NFL uma liga ultra-competitiva, que ultrapassa a mera barreira do desporto, transformada numa bem lubrificada máquina de fazer dinheiro, porque raio se inventa na altura mais decisiva do ano? Porque é que a equipa de arbitragem, em qualquer jogo dos playoffs, é misturada, com elementos diferentes, provenientes de várias outras equipas, não existindo entre eles qualquer química? Não é preferível manter os mesmos elementos, que treinam, têm formação e se conhecem integralmente, que criam empatia entre eles ao longo do ano, do que isto? Um grupo de árbitros que, muitas vezes, actua junto pela 1ª vez?

Agora, o lance contestado, que tanta celeuma criou. 20-17 no marcador, favorável aos Lions. Bola sensivelmente no centro do terreno. Um 3-and-1. Matthew Sttaford lança para o seu tight end, Brandon Pettigrew. O lance, disputado pelo rookie linebacker Anthony Hitchens, termina incompleto. Flag. Pass interference defensiva. Parece clara. O jogador dos Cowboys nunca se preocupou em virar e olhar para a bola, desesperado para suster o avanço dos Lions. Conferência entre os árbitros. Troca de opiniões. Suspense. E, num gesto raramente visto nos campos da NFL, a bandeira é retirada. There is no foul on the play. Foi com estas palavras que se criou o caos nas redes sociais. O desfecho final do encontro ficou umbilicalmente ligado a esta decisão. Justa ou injustamente? Sou pragmático na análise que faço. 60 minutos de jogo intenso, não podem depender duma decisão pretensamente errada dos juízes. Os Lions poderiam ter feito mais. No 4-and-1 subsequente, porque não arriscar, com Joique Bell e Reggie Bush perfeitamente capazes de conseguir essa jarda e manter a drive viva? Se existiu prejuízo no lance da flag retirada, foi apenas um lance, perdido numa centena deles, com os Lions a serem mais réus do que vítimas, no deve e haver final. Importa, num jogo emotivo, destacar o óbvio. O que aconteceu envolvendo as duas equipas. As histórias de redenção. Como esta:

– A época numa jogada. 20-17. 4-and-6. Bola no centro do terreno. Os Cowboys com poucas opções. Um field goal de 60 jardas? Um punt e depois deixar o destino do jogo, com pouco mais de 3 minutos para jogar, nas mãos da sua defesa? Ou arriscar? Jason Garrett optou por esta última. Ao bom estilo dum thriller de Hollywood, respirações suspensas, corações a palpitar mais do que o normal. Romo a alinhar, esperando o snap. O que se passará na cabeça de um jogador, num momento destes, sabendo que depende dele, da sua sincronia com o receiver, o desfecho de uma temporada? Romo, sempre tão criticado por falhar nos grandes e decisivos momentos, estaria calmo, resignado ou nervoso? Nunca saberemos. Jason Witten correu pelo centro do terreno, após o snap, numa option route. Sensivelmente umas 15 jardas depois do scrimmage, uma mera simulação de corpo, fingindo ir cortar para o lado externo e, com isso, a enganar o safety que o perseguia. O movimento deu-lhe uma separação mínima, quando Witten cortou para o interior, recebendo a bola de Romo, lançada na perfeição. Ganho de 21 jardas. A manutenção da drive viva. Pouco depois, TD, num passe de Romo para Terrance Williams.

Ou podemos falar desta também,
– Quando os Cowboys terminaram em último, em termos defensivos, no ano passado, e perderam os seus 3 playmakers, na free agency e lesão (DeMarcus Ware, Jason Hatcher e Sean Lee), foram obrigados a confiar num punhado de journeymens e rookies. Um deles, DeMarcus Lawrence, escolha do 2º round do draft, esteve no epicentro da acção, no minuto final, quando os Lions tentavam desesperadamente passar para a frente do marcador. Lawrence teve uma temporada pejada de lesões, jogando poucos jogos e não conseguindo, como defensive end, o seu objectivo. Nem um sack para amostra. Chamado à acção, nesses instantes decisivos, viu como o colega Anthony Spencer provocava um sack, com a bola a escapar-se de Stafford. Fumble. Lawrence recuperou. Tinha duas opções. A primeira era a mais óbvia. E segura. Proteger a bola, deitar-se no chão e comemorar com a equipa, quando a jogada fosse interrompida. Seria o game over. A outra, mais arriscada, foi a que ele tomou. Compreensivelmente, jogando uma partida duma dimensão tremenda para a equipa, Lawrence tentou escapar com a bola para a end zone do adversário. Não percorreu duas jardas. Sofreu um tackle, perdeu a bola e esta foi recuperada pelo adversário. Querem um exemplo melhor para arruinar a carreira dum jogador, quando esta ainda nem começou? Imaginem só o que seria de Lawrence se os Lions, no seguimento da jogada, marcassem o TD que lhes garantiria o triunfo? “Are you kidding me!!!!!!!!!Just fall on it, big fella”. Foi assim que LeBron James, fã dos Cowboys, expressou a sua frustração via twitter, dando voz a milhões que pensariam da mesma maneira. O pesadelo de Lawrence durou um minuto. Num 4-and-3, no último cartucho que os Lions tinham para disparar, na linha das 42 jardas, o momento da redenção. Lawrence desenvencilhou-se de Riley Reiff, o left tackle adversário, e conseguiu um sack, seguido dum fumble. Game Over. Que belas histórias que a NFL nos dá, em cada jogo!

No jogo propriamente dito, a franquia de Dallas soube recuperar, depois de estar a perder 17-7 ao intervalo, com a sua OL a experimentar sérias dificuldades em suster a pressão da fantástica DL dos Lions. Romo, habituado a ter o pocket limpo, foi obrigado a improvisar, sufocado por Ndamukong Suh e seus pares (6 sacks, o máximo sofrido na temporada), que nunca o deixaram confortável. Mas foi este mesmo Romo que, finalmente, enterrou os fantasmas do passado, conduzindo a equipa na 2ª metade num comeback vitorioso, com epicentro na drive final. Quando todos esperavam novas feridas auto-infligidas, as 11 jogadas que avançaram 59 jardas, culminadas naquele passe cirúrgico para Terrance Williams, mostraram a resiliência da equipa. Elogios finais para dois jogadores insuspeitos. Cole Beasley tem fornecido o ataque com um alvo suplementar. Extremamente rápido e dinâmico no slot, o loirinho da equipa agarrou a possibilidade de ser o WR3 da equipa, providenciando jardas e scores. Contra os Lions, foram mais 4 recepções para 63 jardas, importantes no contexto de cada jogada. Uma delas é impressionante. Ao receber a bola, num ganho de 13 jardas, é selvaticamente batido, helmet-to-helmet, por Tahir Whitehead. A bola? Continuou ferreamente segura. Se há algo que a época provou é que existe vida no corpo de receivers, para além de Dez Bryant. O outro jogador é Jeremy Mincey, defensive end, que conseguiu colocar o lado esquerdo da OL dos Lions em cheque. Conseguiu um sack, 5 hurries e uma séries de penetrações no pocket que mantiveram sempre Stafford em agitação. Belo jogo do veterano.

O que aguarda agora os Cowboys? Um confronto que tem tudo para ser épico, em Lambeau Field. Frente-a-frente os dois quarterbacks com melhor rating da regular season. Um duelo particular entre o metódico Aaron Rodgers e Tony Romo. Vão ser mais de 3 horas de nova batalha. Para nosso deleite.

About The Author

Paulo Pereira

O meu epitáfio, um dia mais tarde, poderá dizer: “aqui jaz Paulo Pereira, junkie em futebol americano”. A realidade é mesmo essa. Sou viciado. Renascido em 2008, quando por mero acaso apanhei o Super Bowl dos Steelers/Cardinals, fiz um reset em [quase] todos os meus dogmas. Aquele desporto estranho, jogado de capacete, entranhou-se no meu ADN, assumindo-se como parte integrante da minha personalidade. Adepto dos Vikings por gostar, simplesmente, de jogadores que desafiam os limites. Brett Favre entra nessa categoria: A de MITO.