College Championship Game 2014

Paulo Pereira 14 de Janeiro de 2015 Análise Jogos College, College Comments
Ohio State Victory

College Championship Game 2014

Ohio State celebrando a vitória

Ohio State celebrando a vitória

Ohio State 42, Oregon 20

E pronto. Se isto fosse uma peça de teatro, desceria a cortina e o público, satisfeito com a performance dos actores, aplaudiria de pé. Vamos fazê-lo. Mentalmente. Prestar um tributo a todos que, durante grande parte de 2014 e neste pedacinho já decorrido de 2015, nos encantaram. Foi uma época inolvidável, repleta de emoção, de descoberta, de jogadas espantosas, da confirmação de talento e de desabrochamento de novos jogadores. Foi o college football em toda a sua plenitude, um jogo arreigado às tradições, jogado com paixão, de forma quase pura. Foi, também, o ano 1 de um novo sistema, que finalmente aboliu o modo quase feudal como eram encontrados os finalistas. Os playoffs foram, no ano de estreia, um sucesso. Enorme. Ratings abismais, suplantando audiências de jogos da NFL, provando que a mera alteração competitiva, para além da justiça que trouxe, provocou uma crescente ansiedade e empolgamento, em redor dos 4 finalistas. Não existisse o playoff e a final teria sido disputada entre Alabama e Florida State. Ambas foram finalistas, neste novo sistema, mas eliminadas de forma clara por Oregon e Ohio State. Se há algo que veio ser premiado, com estas meias-finais, foi o mérito. E a desconstrução de mitos arreigados, que teimosamente colocavam a SEC à frente das outras conferências todas. A temporada trouxe a afirmação nacional de equipas da Pac-12 (não só Oregon, mas também Arizona, juntando-se às conceituadas UCLA e USC), da ACC e da Big 10 (Ohio State), que mostraram poder competir, sem qualquer receio, com contendores da conferência que nos últimos anos tem dominado o futebol universitário.

A final tinha, como todas, vários aliciantes, colocando na montra mediática Oregon, com um crescimento sustentado na última década e aureolada pelo recente troféu Heisman ganho por Marcus Mariota, e Ohio State, renascida após uma travessia do deserto. E se há algo que merece, antes de tudo o mais, ser profusamente elogiado é o trabalho meritório de Urban Meyer. O head coach dos Buckeyes herdou um programa futebolístico famoso, mas com o orgulho abalado, após o escândalo que ditou o fim da era Jim Tressell na universidade. Esta, punida com mão férrea pela NCAA, ficou impedida de disputar qualquer bowl game, vendo o seu campo de recrutamento seriamente ameaçado. Meyer, que criou uma equipa vencedora nos Gators, soube contornar as dificuldades, criando as condições para ameaçar a hegemonia vigente. Num jogo de avanço e recuos, com alguns dissabores de permeio (como a derrota na Bowl do ano passado, no regresso à postseason), Ohio State mostrou nacionalmente que reuniu uma mostra singular de talento. Já não em estado bruto, face ao polimento dado por Meyer, criando sinergias que venceram todos os obstáculos. Perder Braxton Miller, provavelmente a principal estrela do grupo, contribuiu para a única derrota na temporada. Quando todos pensavam que a lesão do quarterback provocaria inconsistência no jogo, apareceu JT Barrett. O freshman foi um dos destaques do ano, um potencial candidato ao Heisman Trophy…se também ele não tivesse sofrido a agrura do destino. Qual é a equipa que, perdendo os seus dois quarterbacks, consegue vencer de forma categórica a final da conferência, contra Wisconsin? É uma pergunta retórica. Todos sabemos a resposta. A resiliência mental da equipa mostrou que, mesmo sem Miller ou Barrett, existiam armas suficientes no arsenal para derrubar qualquer oposição. Depois de Wisconsin, veio Alabama. E, para um final de conto de fadas, Oregon. Todos eles sucumbiram. O college tem um novo Rei Midas. Não é Saban. Nem Kevin Sumlin. Nem [ainda] Jim Harbaugh. Chama-se Urban Meyer.

O Jogo

O palco não podia ser mais apelativo. Moderno, acolhedor, confortável, o AT&T recebeu 85.000 fãs. A noite foi histórica. Por muitos motivos. Num encontro emotivo, de big plays pontuadas por turnovers, os destaques (já vamos a eles) terão os holofotes mediáticos apontados. Na altura da distribuição de elogios, o ataque recebe sempre a percentagem mais elevada. Mas Ohio ganhou o jogo nas trincheiras. Com uma atitude baseada em algo que os americanos apelidam com apenas uma palavra. Nasty. A defesa dos Buckeyes foi assim. Desagradável. Bruta. Intimidante. Punitiva. E manteve sempre a equipa em jogo, permitindo a sobrevivência, mesmo quando o ataque teve quarto turnovers. O ataque, no pós-intervalo, controlou o jogo, de forma suprema. Cardale Jones é uma feel good story. Esquecido no roster, vivendo com o rótulo de third stringer, soube mostrar qualidade quando a equipa dela necessitou. Na sua 3ª titularidade correspondeu. Como nas duas anteriores. Consigo ao leme, os Buckeyes marcaram 101 pontos em apenas 3 jogos. A sua inexperiência, que podia ter resultados desastrosos, nunca apareceu. Antes, Jones foi um jogador confiante, preciso, capaz de gerir o ataque com competência. Quando se exigia apenas um game manager, que fizesse o obrigatório e deixasse as despesas para o jogo corrido, Jones foi mais do que isso. Soube ser ousado, quando era tão fácil ser conservador. Suportado por um game plan que o soube proteger mas que mostrou também confiança nas suas skills, Jones não foi mais um. Mostrou personalidade.

Mas regressemos à defesa. E ao seu domínio. Oregon, com um ataque letal, teve 5 idas à red zone. Saiu de lá com 20 pontos. 14 desses foram marcados na primeira possessão, no início de cada parte. Ou seja, os Buckeyes, passada a surpresa inicial, fizeram os ajustamentos e mantiveram o adversário, depois desses lances, em completa penúria. Apenas 2 field goals, reduzindo à vulgaridade um ataque empolgante. O triunfo começou a desenhar-se na forma como o jogo foi abordado. A tal atitude “nasty”. O jogo corrido, importante, fez pender os pratos da balança. Ohio impôs o seu. E impediu o do adversário. Os Ducks foram limitados a apenas 132 jardas corridas, o total mais baixo da época.

MVP

Ezekiel Elliott. O running back representou o seu show particular, transformando o relvado na sua coutada predilecta. Elliott, que tinha sido instrumental nas meias-finais, contra Alabama, foi um monstro no jogo corrido, quebrando tackles, encontrando rotas e adicionando jardas. Implacável, “Zeke” tomou as rédeas do ataque e levou a equipa às costas. Foram 246 jardas, 148 delas na 2ª metade, correndo com aquela mistura bélica de poder e raiva, misturada com velocidade em open field. É assim que se criam lendas, nos livros de história. Nos 3 jogos que Elliott disputou, na postseason [Wisconsin, Alabama e Oregon], ultrapassou sempre as 200 jardas. Para além das jardas, também existiu o complemento. Os scores. No plural. Foram quatro. Estilhaçando recordes. O máximo de TDs corridos (3) e de jardas corridas (até então, 200), num Championship Game, foram eclipsados. Dêem-se as vivas a Elliott, mas guarde-se um quinhão generoso para os homens que pavimentaram o terreno. A linha ofensiva dos Buckeyes, que entrou em 2014 como uma grande incógnita, soube ser competente, mantendo Cardale Jones protegido e auxiliando as corridas de Elliott. Para memória futura, e como forma de ilustrar uma exibição “for the ages”, o touchdown marcado por Elliott, na última jogada do 3º período, merece ser visto. E revisto. Com o resultado num apertado 28-20, a forma como o running back quebra a resistência e explode para a marcação dos pontos é extraordinária.

O que se Segue

Pausa. Longos oito meses. Mas depois, em Setembro, começa tudo de novo. Até lá, resta-nos apenas desejar que o tempo passe depressa. Apontem no calendário. Dia 3 de Setembro de 2015. Quinta-feira. Em Utah, inicia-se a caminhada de Jim Harbaugh com Michigan. No fim-de-semana seguinte, muito por onde escolher. Alabama vs Wisconsin. Auburn vs Louisville. Arizona State vs Texas A&M. Todos estes jogos em campo neutro. Mas não esgota aí o cartaz apelativo. Os Longhorns jogam fora, no ano 2 de Charlie Strong, contra Notre Dame. Virginia Tech recebe os campeões em título, com Ohio State a ter logo uma prova de fogo na jornada inaugural.

About The Author

Paulo Pereira

O meu epitáfio, um dia mais tarde, poderá dizer: “aqui jaz Paulo Pereira, junkie em futebol americano”. A realidade é mesmo essa. Sou viciado. Renascido em 2008, quando por mero acaso apanhei o Super Bowl dos Steelers/Cardinals, fiz um reset em [quase] todos os meus dogmas. Aquele desporto estranho, jogado de capacete, entranhou-se no meu ADN, assumindo-se como parte integrante da minha personalidade. Adepto dos Vikings por gostar, simplesmente, de jogadores que desafiam os limites. Brett Favre entra nessa categoria: A de MITO.