College Football 2014: Bowl Season 2

Paulo Pereira 1 de Janeiro de 2015 Análise Jogos College, College Comments
Texas A&M vs West Virginia

College Football 2014: Bowl Season 2

Passo a passo, rumo ao final da época. A cada dia somos presenteados com bowls em que se defrontam equipas de topo. Tudo começa lentamente, pouco depois do fim da regular season e encerrado o capítulo dos vencedores de cada conferência. Aparecem, ainda timidamente, as bowls com universidades quase irrelevantes. Há entusiasmo, paixão, mas pouco envolvimento emocional de quem assiste. Falta algo. O glamour. Os grandes nomes. Com o aproximar do Natal, é como se abrissem a caixa de Pandora e libertassem o desejo de todos. Futebol. De elevado quilate, envolvendo os prospects mais mediáticos, as universidades mais reconhecíveis, os técnicos mais revolucionários. Depois, é quase com uma sofreguidão incontida que se tenta manter a ordem no meio do caos. Há trabalho, vida social, relacionamentos amorosos. Mas há igualmente 3 ou 4 jogos importantes, em cada dia. Por qual se deve optar? Porra, esta é uma pergunta retórica. Claro que a opção só pode ser uma. O futebol americano não é um jogo de vida ou de morte. É muito mais do que isso.

Liberty Bowl

Texas A&M, 45 vs West Virginia, 37

Primeiro, havia Johnny Manziel, também reconhecido como Johnny Football. Depois, veio o fenómeno Kenny Hill. Não eclipsou a lenda, mas teve momentos de enorme fulgor, na temporada dos Aggies. A sua lesão trouxe à ribalta um freshman em quem Kevin Sumlin depositava enorme esperança. Kyle Allen não enjeitou a oportunidade. E Texas A&M já tem o seu quarterback, para o futuro. O jogo foi, como se constata, um festival de ataque. Isso não era inesperado. O calcanhar de Aquiles de ambas as equipas, sobretudo dos Aggies, é a defesa. Porosa, inconsistente, permissiva. Curiosamente, foi a defesa que sentenciou o jogo e deu a vitória à universidade texana. Os dois primeiros períodos foram insanos, num shootout tremendo. As equipas trocaram galhardetes e combinaram 55 pontos (1001 jardas no total). Foi a altura das big plays, com Kevin White, um dos receivers protagonistas da temporada, a demonstrar o porquê do hype em seu redor. Depois, mesmo sem coordenador defensivo (Mark Snyder foi despedido), a defesa dos Aggies parou a sangria e susteve os Mountainners a apenas 10 pontos, nos 2 períodos seguintes.

MVP: Kyle “Football” Allen. Começou mal, lançando uma pick-six, mas depois redimiu-se. E que forma de pedir desculpa aos fãs ele encontrou. 4 passes para touchdown, num 22 em 35 no passe, com 294 jardas amealhadas. Somou mais um TD, numa curta corrida, onde demonstrou a sua versatilidade. Sendo freshman, o futuro pertence-lhe. Allen foi confiante, preciso, seguro no pocket. É uma estrela, prestes a ser polida, para ser apresentada à SEC, no ano que vem. Referência para Josh Reynolds, que termina a temporada com 13 touchdowns, o que o torna o mais produtivo wide receiver na história dos Aggies, suplantando Mike Evans e Jeff Fuller.

Advocare Texas Bowl

Arkansas, 31 vs Texas, 7

Era um jogo enganador, à partida. Duas equipas com recordes idênticos, 6-6, pressupunha um equilíbrio e um nivelamento, a nível de qualidade, por baixo. Nada de mais errado. Arkansas, lutando na difícil SEC, aparecia nesta Bowl em franca ascensão, com Bret Bielema a conseguir os primeiros triunfos na conferência e a mostrar um futebol mais sólido e agressivo. E essa defesa (top 25 da prova), sufocante e pressionante, imagem de marca dos Razorbacks, voltou a aparecer, manietando completamente o ataque dos Longhorns, que terminaram o jogo com apenas 59 jardas no ataque. Foi uma impressionante demonstração de pressão, um intimidante estilo de jogar, um controlo perfeito da linha de scrimmage, impondo o estilo físico. Se a defesa foi o pilar da vitória, não se pode retirar o mérito à impressionante linha ofensiva. Esta é a causa da implementação do bom jogo corrido de Arkansas (191 jardas no solo, 105 delas de Jonathan Williams), um quinteto muscular, nasty & mean, que rivaliza com as melhores unidades da prova. Quanto aos Longhorns, ficou provado que Charlie Strong, o seu head coach, ainda tem um longo caminho a trilhar. Sete derrotas no primeiro ano, o ano de reconstrução, são um rude golpe num programa futebolístico habituado a um orgulho férreo nos seus feitos.

MVP: Seria normal considerar o quarterback Brandon Allen como o homem do jogo. Comedido e prudente no passe, coleccionou apenas 160 jardas, mas manteve o ataque ritmado, dando-lhe outra dimensão que não apenas a do jogo corrido (2 passes para TD, um deles num espectacular lance de 36 jardas). Mas prefiro dar a ribalta a Bret Bielema, que conseguiu escalar a montanha e vê agora um futuro risonho pela frente. O head coach dos Razorbacks não teve a vida fácil na super-exigente conferência, perdendo 13 jogos consecutivos, contra os rivais da SEC. O seu trabalho paciente, orquestrando e criando uma defesa sem grandes pontos fracos, trouxe-lhe finalmente o prémio, com vitórias importantes contra LSU e Ole Miss. Esses dois triunfos, mais a vitória nesta Bowl, mostram o excelente trabalho efectuado e dão uma forte esperança ao programa, para 2015. Arkansas pode voltar a ser relevante. E a “culpa” é de Bielema.

Russell Athletic Bowl

Clemson, 40 vs Oklahoma, 6

Que tareia. Inesperada, pela ausência em Clemson de Deshaun  Watson, o miúdo sensação na posição de quarterback. Mas isso não foi problema para os laranjas demolirem por completo o adversário, num triunfo que tem tanto de gratificante como de humilhante. A chave do jogo foi o touchdown madrugador, num lance explosivo de Cole Stoudt para Artavis Scott, e a defesa subsequente. Asfixiante, agressiva, nunca deixando Trevor Knight confortável no pocket. E a diferença que um ano faz, no futebol. Há um ano, Knight apareceu na ribalta, depois de nesta mesma altura do ano, ter frustrado Alabama na Bowl disputada. Agora, 365 dias depois, o quarterback dos Sooners foi uma pálida imagem do exuberante e preciso atleta. Um miserável 17 em 37, com apenas 103 jardas no passe e 3 intercepções, todas custosas e penalizadoras. A defesa de Clemson é afamada e merecedora de crédito. Vic Beasley, Grady Jarrett e Cª foram dominantes, imperiais na defesa do passe e da corrida. Samaje Perine, running back freshman que fez as delícias dos fãs na regular season, foi inofensivo na maior parte do jogo, sem espaço para correr, a não ser no garbage time, onde amealhou o grosso das suas 134 jardas, mesmo assim não criando qualquer mossa. Num jogo desequilibrado e maioritariamente sem história, os despojos de guerra merecem ser angariados por Clemson, que continua a ser um programa relevante e competitivo, com consecutivas fornadas de talento a alimentarem a NFL. Quatro anos seguidos com pelo menos 10 vitórias (apenas Alabama e Oregon conseguem melhor) e 3 vitórias em bowls, nesse período de tempo, num trabalho exemplar de Dabo Swinney.

MVP: Cole Stoudt. O quarterback de Clemson teve um ano duro, acossado por Deshaun Watson e incapaz de produzir de forma consistente, quando o rival se lesionou. Com evidentes problemas de confiança (foi o titular no início da temporada, mas substituído após o periclitante 1-2 inicial), voltou à equipa inicial com a lesão de Watson, apenas para ser vaiado pelos próprio adeptos, depois de exibições desinspiradas. Por isso, o que aconteceu frente aos Sooners foi uma surpresa. Um outro Cole Stoudt, um clone perfeito, apareceu no campo, martirizando a secundária contrária. 26/36, 319 jardas e 3 passes para touchdown, marcando mais um corrido. Soutdt nunca se resguardou, procurando com regularidade o passe downfield e explorando todas as rotas possíveis. Grande jogo!

Music City Bowl

Notre Dame, 31 vs LSU, 28

Foi um combate de boxe. Um daqueles equilibrados, sem que se perceba quem vai sair vencedor. Cada um dos lutadores dá murros fortes, atacando com firmeza e sofrendo o contra-ataque, de seguida. Até que, no fim, indecisos, os juízes decidem por eleger o vencedor de forma renhida, na pontuação final. O jogo foi assim. Grandes jogadas, de parte a parte, numa espécie de “agora atacas tu, agora ataco eu”. Dois dos mais famosos programas futebolísticos deram espectáculo, numa temporada mediana, pelos seus próprios padrões. Notre Dame aparecia nesta bowl com sérias questões sobre a posição de quarterback. Everett Golson perdeu o estado de graça, a meio da época, e enredou-se numa série de decisões questionáveis. Foi o cordeiro imolado, na ânsia de um culpado pela queda dos Fighting Irish. No seu lugar apareceu o novato Malik Zaire. E o que se pode dizer é que o miúdo sobreviveu ao seu primeiro grande teste. Num plano de jogo que procurou protege-lo, Zaire lançou quase sempre pela certa, mas revelando um braço bastante forte e preciso. 12 em 15, para apenas 96 jardas e um passe para TD. Como é habitual no college, Zaire tem outras skills. Fundamentalmente, é perigoso também com os pés. Foi aí que residiu uma das chaves do encontro. Zaire conseguiu dar o jogo terrestre que rivalizasse com o do adversário. 22 corridas, suplantando o próprio running back da equipa, para 96 jardas e um TD corrido. Sem isto, provavelmente Notre Dame teria sido vitimizada. O jogo no solo conseguiu dar o domínio do cronómetro à equipa, que teve a posse de bola 37 minutos, contra apenas 23 do adversário. Drives longas, roubando tempo e progredindo no terreno, calibrando bem o jogo entre o passe e a corrida. Sim, existiu esse equilíbrio. Não se deixem enganar pelas stats que indiquei. É que Brian Kelly foi um mestre a gerir o jogo, usando Zaire…mas também Golson. Foi um método pouco ortodoxo, mas funcional, com Golson a conseguir 90 jardas no passe e a ser precioso em algumas drives. CJ Prosise também merece destaque. O WR dos Irish foi usado…como running back, surpreendendo as marcações. Conseguiu 3 corridas, ganhando espantosas 75 jardas e marcando um notável TD.

MVP: Não é costume dar o prémio a um jogador da equipa derrotada, mas Leonard Fournette merece-o. O running back de LSU é rookie. Pode, por isso, ainda passar algo despercebido. Mas apareceu na competição aureolado como o melhor prospect na posição, vindo do high school. Se as expectativas eram elevadas, foram claramente cumpridas. Fournette foi demolidor no jogo corrido, ao longo da temporada. Nesta bowl, faltam adjectivos para colorir a sua exibição. Foi um monstro. Um jogador que parece uma cópia, 10 anos mais nova, de Adrian Peterson. Corpo esculpido em músculos, dotando-o de uma força descomunal, velocidade atractiva e uma capacidade de iludir os tackles dos adversários. 11 corridas, 143 jardas (uma espantosa media de 13 por corrida) e dois touchdowns. Bastava isto para, provavelmente, o premiar. Mas ele fez mais. Retornou um kickoff para TD, numa corrida de 100 jardas. O mais assustador é pensarmos a que nível poderá ainda chegar. Tem, pelo menos, mais dois anos de maturação na universidade. E já deixa água na boca.

About The Author

Paulo Pereira

O meu epitáfio, um dia mais tarde, poderá dizer: “aqui jaz Paulo Pereira, junkie em futebol americano”. A realidade é mesmo essa. Sou viciado. Renascido em 2008, quando por mero acaso apanhei o Super Bowl dos Steelers/Cardinals, fiz um reset em [quase] todos os meus dogmas. Aquele desporto estranho, jogado de capacete, entranhou-se no meu ADN, assumindo-se como parte integrante da minha personalidade. Adepto dos Vikings por gostar, simplesmente, de jogadores que desafiam os limites. Brett Favre entra nessa categoria: A de MITO.