College Football 2015: Week 13
Rivalry Week. What.A.Day. O calendário guarda religiosamente, para a última semana da regular season, os confrontos mais aguardados, aqueles acalentados um ano a fio, com promessas de vingança, sonhos de conquista, humilhações sonhadas a rivais detestados. É um sábado sempre especial, com os jogos rodeados duma atmosfera única, vibrante. É com o resultado alcançado ali que todos terão que viver, nos próximos 365 dias, podendo ficar de um lado ou do outro nas piadas mais provocativas. Michigan versus Ohio State. Os Sooners de Oklahoma contra os Cowboys, do mesmo estado. O embate entre os Seminoles e os Gators, pela supremacia da Florida. O figadal duelo entre Auburn e Alabama. Stanford num braço de ferro com Notre Dame. Numa jornada prenhe de emoção, o caminho rumo aos playoffs ficou clarificado. E muito.
- O Iron Bowl já nos deu jogos inesquecíveis, momentos marcantes na rivalidade, feitos perpetuados na história. Mas este ano, Alabama parecia demasiado forte, com demasiada qualidade, para poder ser parada por Auburn. Os Tigers lutaram, mas isso era o mínimo exigível num duelo sempre amargo, onde o fair-play costuma ser, como diria o outro, uma treta. ‘Bama venceu, por 29-13, mas o encontro não defraudou expectativas. A primeira parte foi aquilo que se convencionou chamar futebol da SEC. Duro, áspero, com defesas dominantes e ataques sufocados, numa aposta declarada, de ambos os lados, no jogo corrido, em detrimento do passe. Mas isso foi apenas uma parte. No todo, a equipa de Nick Saban demonstrou inequivocamente os seus predicados, suportada no jogo daquele que, para mim, merece ser o vencedor do Heisman. Derrick Henry voltou a ser a alma e o coração de Crimson Tide, um monstro de trabalho, um jogador notável que carrega a equipa às costas, literalmente. Saban é um veterano de inúmeras batalhas, um sábio que sabe adaptar-se às circunstâncias. Não confiando inteiramente no quarterback Jake Coker, limita o game plan, evitando exposições desnecessários, e liberta Henry para o grosso do trabalho. Alabama usou 26 snaps no jogo de passe. 50 no de corrida. Dessas, 46 foram para Henry, que dilacerou as entranhas de Auburn, correndo e correndo, conseguindo 271 jardas (média de 5,9) e um TD. O que impressiona é que isto, nele, é regular. Numa regular season curta, Henry conseguiu 4 jogos acima das 200 jardas. No alto dos seus 6’3’’, Henry é um colosso, com imenso “nitro”, à la Fast and Furious, para acelerar em qualquer circunstância. Num embate entretido, há dois momentos sublimes, que merecem ser destacados:
- Jake Coker teve direito ao seu highlight, conduzindo ‘Bama ao 1º TD do encontro. Num 2-and-4, na linha de meio-campo, Coker conseguiu evadir-se do pocket, quando este quebrou, livrar-se dum potencial sack, rolando para a direita e, em corrida, lançou para a end zone, num rocket perfeito. O lance espectacular pode ter contribuído para o aumento de confiança no QB, a quem os seus colegas de equipa chamam de “mini-Roethlisberger”;
- Auburn entrou na disputa pelo resultado, reduzindo distancias para 19-13. 3º down. Necessárias 12 jardas. Jeremy Johnson tenta a deep ball para Jason Smith, numa seam route. O receiver, numa mistura de sorte e agilidade física, toca duas vezes na bola, sem a agarrar, ludibriando os seus defesas, até conseguir passar por estes e correr para a end zone. Espectacular número de equilibrismo!
- Clemson, nº 1 da nação e equipa ainda invicta, sobreviveu mais uma semana, mas não ganhou para o susto. A vitória sobre uma medíocre equipa de South Carolina, por 37-32, dá bem conta da intensidade e dramatismo do jogo, resolvido apenas pelo génio de Deshaun Watson. Clemson não jogou bem – longe disso – mas quando se tem um playmaker como Watson, mesmo as exibições mais medianas podem não ser penalizadoras. O quarterback de Clemson foi instrumental, quer no passe quer na corrida. Sem erros e conseguindo sempre manter o ataque em andamento, Watson finalizou o jogo com um 20 em 27, 279 jardas e um passe para TD. Na corrida foi mortífero, usando o seu atleticismo para conseguir 114 jardas, em 21 corridas e 3 TDs. Mais importante foi sempre o seu decision making, usando com perícia o passe e a corrida, adaptando-se às situações que iam surgindo. Clemson concretizou 9 em 13, em third downs, quesito importante num jogo tão apertado. O triunfo, conforme disse, mantém a perfeição na temporada, mas a equipa terá que jogar muito mais quando defrontar North Carolina, no jogo que decidirá o campeão da ACC.
- 2015 Conference Champions, ao lado do logo da conferência Big 12, contam a história toda e é uma das nrrativas do ano. Os Sooners conquistam o título de conferência, de forma improvável, sustentando ao mesmo tempo uma candidatura de peso aos playoffs. Isto tudo depois de um embaraçante 2014, culminado de forma ainda mais humilhante no bowl game, contra Clemson. Bob Stoops ficou na corda bamba, alvo de críticas afiadas, tornando a vida do técnico bem mais stressante. Stoops arregaçou as mangas, impôs as medidas que achou necessárias (despediu os 2 co-coordenadores ofensivos, amigos de longa data e que com ele tinham partilhado momentos especiais, como o título nacional de 2000) e fez um facelift no staff defensivo. Depois, tratou de dotar o roster de peças que o tornassem competitivo. E assim, num curto espaço de 12 meses, os Sooners tornaram-se uma das mais temidas equipas da nação, com um poderoso backfield (Samaje Perine e Joe Mixon marcaram 4 TDs em conjunto, contra os arqui-rivais Oklahoma State) e com uma mudança cirúrgica na posição de quarterback. Stoops deu a titularidade a Baker Mayfield, em detrimento de Trevor Knight, o jogador que tinha conduzido a equipa ao seu último momento de mediática glória, quando derrotou Alabama na bowl de 2013. E assim, com apenas um percalço no seu currículo de 2015 (aquela estranha derrota frente a uns Longhorns longe dos tempos áureos), Oklahoma deu uma prenda de Natal avançada à sua imensa legião de adeptos, ao derrotar fora de portas o seu rival Oklahoma State. Fê-lo de forma impressionante, com 44 pontos marcados na 1ª parte e um resultado final de 58-23, mesmo não contando com o running back Samaje Perine na 2ª metade do encontro, devido a lesão na anca. Perine, com 137 jardas e 2 TDs em apenas 17 corridas, cimentou o seu status como um dos melhores na posição, a nível nacional. No passe, Mayfield, mesmo vindo de uma concussão, jogou ao seu melhor nível, marcando 3 scores (2 no passe e 1 em corrida). Agora, os Sooners apresentam um currículo invejável, com vitórias contra Oklahoma State (10-1, na data em que se encontraram), TC U(10-2), e fora de portas contra Tennessee e Baylor.
A derrota não deslustra o que de bom os Cowboys fizeram na temporada. Mike Gundy criou um contender, que em 2016 pode ser um dos favoritos ao título.
- O sonho de Notre Dame acabou. O jogo contra Stanford, fora de casa, era uma final antecipada. Os Fighting Irish sabiam que, vencendo, seria muito difícil ficarem fora dos playoffs, depois do calendário exigente que enfrentaram. E esteve quase, mas um final dramático, com um field goal no último segundo, arredou-os desse desiderato. E o último minuto do encontro é, em si mesmo, um exemplo do que é o college, com uma intensidade, drama e emoção ao mais elevado nível. Notre Dame passou para a frente, na drive final, a 30 segundos do final da contenda, com um touchdown controverso, mas mantido pela arbitragem. Naquele momento, com um ponto de avanço no marcador e meros 30 segundos para finalizar o jogo, ninguém pensaria que ainda fosse possível existir uma reviravolta. Mas havia algo que podia fazer a diferença. Os Cardinals tinham ainda os 3 descontos de tempo. Foram suficientes para, com um passe de 27 jardas de Kevin Hogan para Devin Cajuste e um facemask que custou 15 jardas a Notre Dame, ficarem em field goal range, com um pontapé de 45 a sentenciar a partida. O destaque do jogo terá que ir por inteiro para Kevin Hogan, o quarterback de Stanford, que realizou um dos seus melhores jogos na universidade. Ele, com uma carreira pontuada por altos e baixos, soube capitalizar a atenção excessiva que o adversário colocou sobre Christian McCaffrey, o running back da equipa. Com a linha de scrimmage repleta de homens, procurando parar de imediato o elusivo running back, Hogan foi eficiente, falhando apenas 4 passes ao longo do jogo todo (17 em 21), curiosamente o mesmo número de touchdowns que passou, nas suas 269 jardas, e convertendo 8 em 12, em terceiros downs. McCaffrey efectivamente foi abrandado (94 jardas e sem scores), mas Hogan encontrou um novo alvo, elegendo Devon Cajuste como o man-to-go na maioria das situações. O receiver concluiu o belo jogo com 5 recepções, 125 jardas e um TD. Quem beneficiou da vitória para se livrar duma carga monumental de críticas foi o head coach David Shaw. No 4º período, Stanford marcou e passou para a frente no marcador. Shaw, conservador, optou apenas pelo extra ponto, colocando o marcador num 35-29. 6 pontos de avanço que não livraram os Cardinals do valente susto perto do fim. Tivesse a equipa soçobrado, naqueles instantes finais, e a sua decisão de não ir para o 2-point-conversion seria motivo de julgamentos e análises semanas a fio. Para Notre Dame, o fim da temporada é amargo. E esse sentimento é acentuado pelo facto de que, provavelmente, a equipa era a melhor da competição. Minada por sucessivas lesões, como a de Malik Zaire, Tarean Folston (“apenas” o quarterback e running back titulares), CJ Prosise (receiver que se adaptou a running back, suprindo a ausência de Folston, mas que se lesionou recentemente), Durham Smythe (tight end titular), Jarron Jones (defensive tackle titular), Keivarae Russell (cornerback titular) e mais uma quantidade ainda apreciável de outros jogadores, terminou a temporada com um 10-2, com as duas únicas derrotas averbadas frente a Clemson e Stanford, em ambos os casos por meros 2 pontos. Na derrota e despedida, ficam para a história as belíssimas temporadas de Will Fuller, um dos melhores wide receivers da competição (mais um TD e 136 jardas contra Stanford) e DeShone Kizer, transformado em improvável líder do ataque, nunca se atemorizando com a árdua tarefa. Kizer manteve Notre Dame viva, até ao limite do possível, com jogo heróico, finalizado com 234 jardas de passe, 128 corridas e 2 touchdowns.
- Não se pense que isto já acabou, no que toca aos eleitos para os playoffs. Há ainda uma última bala no tambor. Para a semana começam as finais de conferência. As derrotas, aí, têm um peso acrescido. Na SEC, parece impossível que os Gators, humilhantemente derrotados pelos Seminoles, consigam um upset contra Alabama. Mas, e se conseguirem? Que implicações isso terá para os playoffs? Desde logo, faria perigar a presença nesse lote restrito de ‘Bama. Não acredito que o comité mantivesse a equipa nos 4 finalistas, com a 2ª derrota averbada. Mas isso, para já, é um cenário especulativo. O mesmo pode ser dito da final da ACC, entre Clemson e North Carolina. Estes fizeram uma temporada assinalável, a todos os níveis, e prometem um jogo intenso e duro na supremacia divisional. O que foi dito para Alabama, pode ser transcrito para aqui. O que acontecerá se Clemson perder? Desde logo, North Carolina, que apenas tem uma derrota, ficaria numa invejável situação de poder reivindicar o antigo lugar de Clemson no top 4. Quem está dentro? Para já, Oklahoma. Os Sooners estão garantidos. Depois, é como escrevi acima. Tudo dependerá dos resultados do fim-de-semana. Temos tanto para ver e dissecar. Que tal Iowa, a improvável história de sucesso na temporada, invicta, contra Michigan State, na final da Big 10. Se Iowa vencer, temos a história da Cinderela, o underdog que se coloca entre as universidades de sangue azul. Os Spartans, vencendo, estarão provavelmente dentro dos 4 finalistas. De fora desses, fica o campeão em título. Bastou uma derrota, contra estes mesmos Spartans, para Ohio State desistir do sonho de repetir a façanha. A equipa, no entanto, resolveu despedir-se da regular season em grande, vencendo o jogo mais aguardado da temporada, ao derrotar Michigan de Jim Harbaugh de forma concludente, com Ezekiel Elliott a assumir as despesas do jogo.