College Football 2015: Week 14
E pronto. Já está. A decisão dos 4 finalistas já é conhecida e, com polémica ou sem ela, será a realidade com que teremos que lidar, nas próximas semanas. Neste ano 2 dos playoffs, que apareceu como forma de salvaguardar a verdade desportiva e evitar injustiças ditadas pelo obsoleto sistema [quase feudal] de pontuação, existe um repetente: Alabama. Crimson Tide é, a par de Oklahoma, Clemson e Michigan State, um dos eleitos a quem todos os sonhos são permitidos, nesta altura. Clemson e os Sooners abrem as hostilidades, na meia-final (Orange Bowl), ironicamente emulando o embate entre ambos, em Dezembro passado, na Russell Athletic Bowl, vencida de forma concludente por Clemson, por 40-6. Muita coisa mudou, desde então, mas os Tigers podem gabar-se de atingir este patamar da prova invictos, com um 13-0 que entra nos anais da universidade.
- Uma das razões para a temporada perfeita de Clemson, até à data, deve ser imputado ao coordenador defensivo Brent Venables, que teve o seu tirocínio em Kansas State e Oklahoma, sob o comando de…Bob Stoops. Esse mesmo, o actual head coach dos Sooners. Será apenas mais uma curiosidade, num encontro apelativo, mas esta história merece ser acompanhada, numa espécie de duelo entre criador e cria. Venables orientou uma das melhores defesas da competição, em 2014, criando solidez no sector que era apontado como o calcanhar de Aquiles da universidade. 2015 parecia, no início, um ano difícil e de transição, com as partidas para a NFL de Vic Besley, Stephone Anthony e Grady Jarrett, mas Venables efectuou novo trabalho de base, lançando para o estrelato o defensive end Shaq Lawson e o safety Jayron Kearse.
- Não deixa de ser curioso como os destinos de algumas equipas e pessoas parecem entrelaçados. Bob Stoops ficou, já aqui o tinha referido anteriormente, entre a espada e a parede, na ressaca dessa derrota em Dezembro de 2014, frente a Clemson. O ataque anémico, a clara impotência demonstrada e a separação competitiva, face a outros programas futebolísticos, obrigou o treinador a tomadas de posição. Difíceis. O despedimento do duo de coordenadores ofensivos, Josh Heupel e Jay Norvell, seus grandes amigos (Heupel foi, aliás, o quarterback da equipa dos Sooners que deu o único título de campeão a Stoops, em 2000), e contratou um dos especialistas no Air Raid attack. Lincoln Riley, vindo de East Carolina, aproveitou os ensinamentos que Baker Mayfield, o quarterback da equipa, já tinha do sistema atacante, quando passou por Texas Tech e pelo seu guru, Kliff Kingsbury.
- É a 5º vez, em 7 anos, que Alabama chega a Dezembro com possibilidades de se sagrar campeã, feito alcançado em 2009, 2011 e 2012. Existe como que uma aura de invencibilidade em redor de Nick Saban, head coach que parece ter mais vidas que um gato, sobrevivendo a momentos que parecem decisivos e definidores do futuro imediato. Mesmo não sendo a nº 1 no ranking (honra deixada para Clemson), pressente-se que 'Bama será o adversário a abater. A equipa, dada como moribunda depois da derrota caseira contra Ole Miss, reinventou-se e tratou de despachar toda a concorrência da SEC. Um ano depois de terem sido surpreendidos pelo underdog Ohio State, Alabama parece ter o antídoto para todos os males. Despachou Georgia, Mississipi State, LSU, Texas A&M e os Gators, na recente final de conferência. A defesa é sufocante, asfixiante, capaz de anular por completo nomes como Dak Prescott ou Leonard Fournette e o ataque uma máquina demolidora de acumular jardas, cortesia de Derick Henry. Se alguns ainda acreditavam que 'Bama ficaria fora do lote dos eleitos, rapidamente se desenganaram, no jogo que decidia o título da SEC. Contra os Gators, vencedores da zona este da conferência, o resultado de 29-15 até pode dar uma imagem de equilíbrio que, na realidade, nunca aconteceu. A equipa é dominante, fisicamente acima da média, punitiva nas abordagens. A mediana linha ofensiva de Florida viveu um jogo de sobressalto, lidando com um intratável front seven adversário. O mais impressionante, nesta defesa, é a sua capacidade de superação, elevando o seu patamar competitivo. Se pararam Fournette, não fariam o mesmo a outros, menos sonantes? Os Gators tentaram correr. E nunca o verbo tentar foi tão bem aplicado. 21 corridas renderam…15 jardas. 15 jardas de jogo corrido, em 60 minutos. Impressionante, sobretudo porque a DL não é meramente unidimensional. É igualmente eficaz no ataque ao jogo de passe, provocando o caos e lançando o pânico. Treon Harris sofreu 5 sacks, completou apenas 9 passes, em 25 tentativas, nunca conseguindo concretizar com sucesso um third down (0 em 11). Isto significa que 'Bama não tem pontos fracos? Não, claro que não. Tem, como todos os outros adversários, mas consegue limitá-los. Se Henry é parado – e nisso a DL dos Gators foi competente – aparece Jake Cocker. O quarterback de Alabama é enigmático, alternando momentos sublimes com outros em que parece pouco talhado para a função. Mas, nesta situação, não se deve subestimar o papel – decisivo – de Lane Kiffin, o guru ofensivo da equipa na sideline. Cocker conseguiu algumas big plays, em jogadas perfeitamente executadas, criadas em laboratório para o deixarem confortável. Em suma, Connor Cook e os Spartans que se cuidem. Não vão ter tarefa fácil.
- Acima falei de caminhos cruzados, certo? A 2ª semi-final é mais um caso desses. Nick Saban contra Mark Dantonio, o head coach dos Spartans, seu anterior empregado…em Michigan State. Não fiquem confusos, se não conheciam a história. Saban passou por vários cargos e universidades, até se estabelecer em 'Bama. Nos Spartans, Dantonio foi contratado por Saban para o seu staff, de 1995 até 1999, data da partida de Saban para LSU. O agora treinador de Alabama acumula curiosidades. Uma delas é a de nunca perder contra seus ex-funcionários, estando com um notável 8-0 nesse quesito. E sim, já jogou – em 2011 – contra Dantonio, na Capital One Bowl, reduzindo os Spartans a estilhaços, com um contundente 49-7. Desta feita será diferente? Dantonio continua a chamar a Saban o seu mentor e, como bom aluno, criou fortes semelhanças no programa futebolístico dos Spartans com aquele orientado por Saban. Desde logo, na defesa, onde Dantonio tem o seu background, criando uma unidade sufocante, preparada para parar ataques pro-style. Será um confronto interessante de seguir, repleto de matchups saborosos. Derrick Henry, com as suas 1986 jardas corridas, devastando as defesas da SEC, e os seus 23 touchdowns, contra o front-seven dos Spartans, tido como o núcleo duro da equipa. Este será o desafio nº 1 do jogo e reside nele o equilíbrio/desequilíbrio do encontro. O desafio nº 2 está nas mãos de Connor Cook e da sua capacidade de explorar downfield. É aí, nesse tipo de lances, contra receivers fisicamente fortes (e os Spartans têm Aaron Burbridge) que a secundária de 'Bama sente dificuldades.
- Voltemos a Clemson. Mesmo com um 12-0, a equipa dependia da vitória na final da conferência ACC, contra North Carolina, para carimbar o passaporte para os playoffs. Conseguiu-o, mas sofrendo a bom sofrer, numa vitória por 45-37. O que mais ressalta, do jogo, é o crescimento competitivo dos Tar Heels, finalmente alcançando o número mágico de 10 vitórias numa temporada e mostrando um futebol de excelente nível. A universidade, que começou o ano perdendo, em primetime, contra o rival South Carolina, num jogo em que Marqise Williams lançou 3 intercepções, foi um adversário digno nesta final e, quem sabe, até poderia ter vencido e conquistado a conferência, algo inédito nos anais da universidade. Poderia, se não existisse um miúdo, cheio de talento, chamado Deshaun Watson. Depois de uma primeira parte pateta, Clemson sobreviveu graças às 420 jardas totais de Watson e aos seus 5 touchdowns, numa exibição reivindicadora de atenção por parte do comité do Heisman Trophy. O jogo, intenso e disputado nos limites, acabou envolto em polémica, depois de North Carolina ter reduzido a distância para 8 pontos e ter tentado, com sucesso, um onside kick. O problema é que o lance foi negado pela arbitragem, por conta de um offside que não é descortinado nas imagens televisivas. Nada que, no entanto, belisque o mérito de Clemson e Dabo Swinney, o seu timoneiro, que tem levado a equipa a trilhar caminhos repletos de sucesso.
- Já aqui falei de Dantonio e dos seus Spartans, mas Michigan State foi obrigada a trabalho extra, para alcançar a honraria de estar presente nos playoffs. Sabia-se que faltava apenas um triunfo aos Spartans, para serem eleitos, mas isso também era verdade para o seu adversário no fim-de-semana. Iowa, com uma época até então perfeita, disputava a final da Big 10, pronta a fazer história. E o jogo não defraudou expectativas, com um 16-13 que dá conta do grau competitivo do encontro. Foi futebol à antiga, duro e puro, suado e transpirado, com as defesas a imporem-se, num futebol eminentemente físico. Tudo terminou com drama e emoção, num thriller sem guião. Os Spartans apenas encontraram a end zone do adversário nos derradeiros instantes, 59 minutos depois do início da contenda. Foi uma drive final desesperada, mas empolgante, cirúrgica mas enervante, culminada numa corrida de LJ Scott, num touchdown de 1 jarda. Nada vem fácil para Michigan State, com uma época notável, feita de triunfos sofridos, que mostram o grau de resiliência dos seus jogadores.
- O interesse do college football não se esgota aqui, nestes jogos finais. Há muito mais. Bowls para todos os gostos (para a semana será publicado um calendário com as melhores, aquelas imperdíveis) e o Heisman, que premiará o melhor jogador da competição. Candidatos há muitos e variados, desde Derrick Henry, que impactou enormemente o jogo de Alabama, passando por Leonard Fournette, carregador solitário do futebol de LSU, ou Deshaun Watson, quarterback de Clemson que leva o termo dual-threat ao limite, punindo opositores com os pés e mãos. Mas, para mim, acima de todos, existe outro nome. Christian McCaffrey, notável running back de Stanford, merece mais e melhor reconhecimento nacional. Se mais fosse preciso, se nos esquecêssemos da temporada toda e tivéssemos só um jogo para destacar, fica o mais recente. A final da PAC-12. McCaffrey, um sophomore ainda, correu 32 vezes, para 207 jardas e 1 touchdown. USC nunca encontrou forma de o parar, porque o running back não se limita a participar no jogo corrido. Elusivo, foge do backfield sempre que tem possibilidade, dando uma nova dimensão ao ataque como receiver. Junte-se mais 4 recepções, 107 jardas e novo touchdown, para percebermos que estamos diante de alguém destinado à grandeza. McCaffrey ainda fez mais. É ele o retornador de serviço na equipa, somando 5 kicks retornados, para um total de 105 jardas, e 2 punts, para mais 29 jardas. Para fechar com chave de ouro, tipo a cereja no topo do bolo, McCaffrey quis deixar a sua marca nas estatísticas também no quesito do passe. Sim, ele passou. Com sucesso. Numa trick play, bola nas mãos do running back, passe perfeito de 11 jardas e…TOUCHDOWN. Dêem o prémio ao miúdo, se faz favor. É da mais elementar justiça.