Momentos Icónicos do College Football

Paulo Pereira 7 de Dezembro de 2013 Artigos, College Comments

Momentos Icónicos do College Football

É o assunto do momento, no que respeita ao College Football. A impressionante jogada no final do tempo regulamentar, no Auburn vs Alabama. Quem viu em directo (eu vi, eu vi, eu vi, eu vi, eu vi, eu vi, eu vi, eu vi, eu vi) passou por uma série de reacções, num curto espaço de tempo. Surpresa. Incredulidade. Estupefacção. Delírio. Êxtase. Chris Davis e o seu agora famoso retorno de 109 jardas figurarão, para sempre, no panteão dos momentos míticos da competição. O que é que transformou aquele insano momento em algo tão icónico? Várias coisas:

  • A rivalidade exacerbada entre duas universidades da SEC, com episódios de antagonismo doentio, competição exasperada, provocações gratuitas, criando sempre uma atmosfera única para o Iron Bowl, como é apelidado o encontro;
  • As implicações do resultado final. Alabama tentava alcançar a sua 3ª final BCS consecutiva, tendo ali o seu último obstáculo numa regular season perfeita, até ao momento. Auburn, por seu lado, jogava não apenas por respeito e orgulho, mas pela oportunidade de, vencendo, atingir a final da SEC, no primeiro ano de Gus Malzahn como head coach;
  • E, claro, o momento em que o TD é obtido. No último segundo, quando toda a gente acreditava num prolongamento, na resposta a uma tentativa desesperada de field goal por parte de ‘Bama.

Já tudo foi dito e escrito sobre o jogo, num rescaldo exaustivo, comentado por todos os experts. O debate, agora, centra-se no lugar de destaque do jogo na história da competição. Foi este o mais memorável momento de sempre?

Gil Brandt, actualmente analista da NFL e antigo Vice Presidente dos Cowboys, resolveu publicar uma lista dos momentos relevantes no historial de uma rica competição, aproveitando para dar uma verdadeira lição de história e conhecimento a todos aqueles que, como eu, se apaixonaram recentemente pelo College Football. Vamos então deixar-nos guiar pelas mãos experientes de Brandt, numa viagem ao passado, repleta de memórias e encanto. Esta é a sua lista:

1– Boise State, 43 – Oklahoma, 42 (1 de Janeiro de 2007, Fiesta Bowl)

A primeira coisa que fiz, depois da descrição de Brandt sobre o jogo, foi abrir o computador e procurar, de forma ansiosa, por um torrent. Sabem quem era o running back de Oklahoma? Adrian Peterson. O encontro foi trepidante, com as duas equipas a marcarem 22 pontos…nos últimos 86 segundos. Boise State, que procurava a afirmação nacional, tentando desmistificar o preconceito sobre a conferência (e o real valor) onde jogava, desperdiçou 18 pontos de avanço, obrigados a um desesperante 4-and-18 a meros 9 segundos do fim para alcançarem o empate. O prolongamento iniciou-se com uma explosão de All Day, marcando numa corrida de 25 jardas. Boise ripostou, empatando novamente o jogo e optando pelo 2-point-conversion numa jogada alcunhada de Estátua da Liberdade. O RB Ian Johnson marcou e os Broncos venceram, de forma dramática. Logo de seguida, o mesmo Johnson propôs casamento à sua namorada, em pleno campo. Rezam as crónicas que ela aceitou.

2– Boston College, 47 @ Miami Hurricanes, 45 (23 de Novembro de 1984)

Jogo tremendo, segundo Brandt, com 15 longas drives, com 5 delas percorrendo pelo menos 80 jardas e cerca de 1300 jardas de ataque, contabilizando os esforços das duas equipas. Num encontro marcado, no pós-intervalo, por uma chuva forte, os Hurricanes tomaram a dianteira com apenas 28 segundos para jogar, colocando o marcador em 45-41. O quarterback de Boston iniciou a jogada seguinte na própria linha de 20 jardas. Doug Flutie, vencedor do Heisman, tinha apenas um objectivo. Tentar avançar, no pouco tempo restante, até ao meio-campo e, daí, optar por uma última “bala”: o tradicional Hail Mary. Com 6 segundos no cronómetro, Flutie conseguiu concretizar os seus intentos. A bola estava nas 48 jardas, timidamente dentro do campo de Miami. A bola foi lançada, percorrendo quase 60 jardas, sobrevoando defesas e aterrando nos braços de Gerard Phelan, para uma das mais improváveis vitórias na história. Jimmy Johnson, lendário técnico, estava no seu 1º ano de contrato com os Hurricanes, a quem levou posteriormente ao título nacional.

3– LSU, 33 @ Kentucky, 30 (9 de Novembro de 2002)

LSU era a detentora do título de campeã da SEC. Kentucky o underdog. Como em tantos jogos, não sendo uma reedição do David vs Golias bíblico, o upset teria sempre repercussões classificativas. E ele esteve tão perto. De tal forma que o jogo, designado por The Bluegrass Miracle, entrou para a história. Kentucky marcou um field goal, com 11 segundos a separarem do triunfo. Míseros 11 segundos para uma comemoração efusiva. O kickoff seguinte colocou LSU na sua própria linha de 9 jardas. 81 jardas para conquistar. Com 11 segundos no cronómetro. Kentucky chamou uma jogada de passe, com o QB Marcus Randall a sintonizar-se com Devery Henderson (esse mesmo, o WR que venceu um anel de campeão do Super Bowl com os Saints) para um ganho de 17 jardas. Bola nas 26, ainda no campo de LSU. 2 segundos para terminar. Nada podia acontecer. Pois não? Os restantes elementos do roster de Kentucky partilhavam esta ideia. De tal forma que, mesmo com 2 segundos a faltarem, resolveram premiar o seu treinador – Guy Morriss – com o tradicional banho de Gatorade. Não anteviram o milagre. Randall tentou enviar a bola o mais longe possível, para que esta chegasse perto da end zone adversária. Contou com uma série de ressaltos, nas mãos dos ávidos, mas desastrados, defensores de Kentucky, para aterrar docilmente nas mãos de Devery Henderson. As 25 jardas que, mesmo assim, faltavam para concretizar o touchdown, foram cumpridas num sprint alucinante, perante a incredulidade geral. Nunca digam nunca, eis uma lição que foi marcada de forma impressiva na mente de quem disputou o encontro. E o banho de Gatorade entrou para o anedotário nacional…

4– Nebraska, 45 @ Missouri, 38 (8 de Novembro de 1997)

Os Cornhuskers eram uma potência, na altura, e chegaram a este encontro com um recorde de 8-0, confortavelmente instalados no 1º lugar do ranking. No pólo inverso, Missouri apresentava um modesto 6-3, sem constar no ranking. Para fazer pender a balança, ainda mais, para o lado de Nebraska, a série imbatível que a equipa detinha na Big 12. 5 anos consecutivos sem perderem um jogo. Tudo isso parecia irrelevante quando, a 4:39 do final do encontro, Coby Jones encontrou o WR Eddie Brooks para um TD, colocando o resultado em 38-31, favorável aos Tigers. O QB de Nebraska, Scott Frost, foi o epicentro dum comeback furioso, percorrendo jarda após jarda, até às 12 de Missouri, com apenas 7 segundos para terminar o encontro. No 3º down, Frost tentou um passe pelo centro, com este a ser defendido e a bola deflectida. O que se passou a seguir foi apelidado de Amazin Catch. A bola, quase a tocar no solo, foi tocada por Shevin Wiggins, sofrendo um efeito que a manteve, momentaneamente, no ar. Aí, o freshman Matt Davinson mergulhou e apanhou-a, marcando um TD milagroso que levou Nebraska ao prolongamento, acabando por vencer o encontro com novo TD no tempo extra.

5– Cal, 26 @ Stanford, 20 (20 de Novembro de 1982)

Nenhum segmento dos mais memoráveis momentos do College ficaria completo sem a referência à Jogada. The Play. Aconteceu nos últimos intantes, com Stanford passou para a frente do marcador, graças a um FG, colocando o resultado em 20-19, com 4 segundos para jogar. Na recepção do kickoff, o inesperado. Cal recebe e começa a usar ao laterals (cinco, mais precisamente), endossando a bola de um jogador para outro, enquanto progride no terreno. E isto, para tornar mais excêntrica a situação, num campo já povoado por elementos da banda de Stanford, que comemoravam uma vitória. Surrealista. Cal vence o jogo, marcando um TD nessa jogada rocambolesca, privando John Elway de atingir uma Bowl (Elway nunca conseguiu, nos 4 anos passados em Stanford, levar a equipa a esse jogo final).

About The Author

Paulo Pereira

O meu epitáfio, um dia mais tarde, poderá dizer: “aqui jaz Paulo Pereira, junkie em futebol americano”. A realidade é mesmo essa. Sou viciado. Renascido em 2008, quando por mero acaso apanhei o Super Bowl dos Steelers/Cardinals, fiz um reset em [quase] todos os meus dogmas. Aquele desporto estranho, jogado de capacete, entranhou-se no meu ADN, assumindo-se como parte integrante da minha personalidade. Adepto dos Vikings por gostar, simplesmente, de jogadores que desafiam os limites. Brett Favre entra nessa categoria: A de MITO.