Fighting Irish

Eles fizeram HISTÓRIA
Fonte da Imagem: Gary Vasquez/US Presswire
Não é novidade. O desporto, independentemente da modalidade, costuma trazer-nos com regularidade histórias de superação, individuais ou colectivas. O Futebol Americano, por exemplo, está pejado delas. Esta é, então, apenas mais uma. Mas, tal como tantas outras, recheada de momentos de inspiração, qualidade e, claro, esforços épicos. Ninguém – e sublinho o ninguém – com um mínimo de conhecimentos sobre o College Football adivinharia, naqueles habituais prognósticos de início de temporada, a corrida improvável de Notre Dame até ao primeiro lugar do ranking. Equipa histórica mas conotada com algum elitismo e, por isso, alvo de censuras pouco justas na imprensa especializada, realizou um feito inolvidável. Não é apenas a temporada invicta que adornará os anais da universidade, relembrada para sempre como uma das mais perfeitas na história. Nem sequer o bilhete dourado, com livre acesso à final nacional, feito que nem o mais fundamentalista fã da equipa se atreveria a sonhar. O que sobressai desta caminhada imparável é algo difícil de catalogar. Como se mede a alma, pergunto eu? Como se avalia um conjunto de feitos, alicerçados não apenas na qualidade, mas sobretudo na indómita capacidade de luta, na perseverança? Pode ser mensurável a abnegação, a entrega excessiva, o jogar no limite, superando dores físicas e limitações de talento? Eu diria que sim. Foi, confesso, um prazer, um guilty pleasure da temporada, assistir a alguns jogos dos Fighting Irish. Uma mescla de sofrimento, de denodo e de exaltação de valores. Estão na final, dando uma valente bofetada de luva branca a um grupo emproado de analistas, rasgando dogmas e regras estabelecidas. E apeteceu cantar, a plenos pulmões:
“Rally Sons of Notre Dame
Sing her glory, and sound her fame
Raise her Gold and Blue
And cheer with voices true,
Rah! Rah! For Notre Dame.
We will fight in every game
Strong of heart and true to her name,
We will never Forget her
And we’ll cheer her ever,
Loyal to Notre Dame”.
O jogo contra USC era transcendente. Uma escorregadela significaria o fim do sonho. A BCS não se compadece com fraquejos momentâneos, substituindo o derrotado por novo contendor. Sabendo que um dos lugares na final nacional seria preenchido pelo vencedor da final da SEC, com Georgia e Alabama a degladiarem-se pela vaga, Notre Dame dependia exclusivamente de si. Mesmo sem a presença de Matt Barkley, o quarterback de USC, a rivalidade vigente tornaria a partida imprevisível. Mas, como tantas vezes este ano, um punhado de heróis catapultou a equipa, levando-a a ultrapassar o derradeiro obstáculo. Quem são eles?
A Defesa
Intratáveis. Indomáveis. Brutais. O sector nuclear da equipa, um elo inquebrável que consegue unir todos em seu redor. Foram vários os jogos vencidos com exibições superlativas do sector. Frente a USC, foi apenas mais uma demonstração tremenda de vitalidade. Encostados às cordas, a pouco mais de 2 minutos do final, e liderando por um parcial, Manti Te’o e os seus companheiros sustiveram 4 downs, bem junto à goal line, evitando a marcação do touchdown do adversário.
Theo Riddick

Momento de rara beleza, com Riddick a confirmar um TD para Notre Dame
Fonte da Imagem: AP Photo/Danny Moloshok
O running back da equipa foi instrumental contra USC, tal como tinha sido na temporada toda. Evitando, algumas vezes, o colapso da equipa, perdida na procura da melhor solução para a posição de quarterback, Riddick acrescentou jardas e mais jardas, num trabalho de sapa que merece créditos. Foi tremendo na LA Coliseum, desbastando a defesa opositora, com 146 jardas e 1 TD.
Kyle Brindza
O kicker merece o seu quinhão de glória. Notre Dame esbarrou sucessivamente na red zone, não conseguindo capitalizar o domínio nos dois lados da bola, excepção feita a alguns lançamentos surpreendentes de Max Wittek, o backup de Barkley. Brindza, chamado regularmente à acção, colecionou pontos no marcador, permitindo a manutenção da liderança. O destaque maior foi para a bomba, de 52 jardas, bem em cima do intervalo, colocando a equipa 6 pontos à frente do adversário.
Manti Te’o
O linebacker merece ser diferenciado do resto da defesa. Foi hercúleo durante a época. Sofrendo abalos pessoais devastadores (assistiu, na mesma semana, à morte da avó que o tinha criado e da namorada de longa data, vítima de cancro), manteve sempre uma postura de guerreiro que galvanizou os colegas. Contra USC conseguiu a sua 7ª intercepção do ano, adivinhando o local para onde Wittek passaria a bola. Tremendo contra o jogo corrido, efectuou inúmeros tackles, cerceando logo as intenções do rival. É um provável finalista do Heisman Trophy e um plausível top-10 no próximo draft.
Kapron Lewis-Moore
O defensive end, um dos capitães da equipa, merece igualmente créditos pelo esforço desempenhado. Guardou para o jogo decisivo a melhor exibição da temporada, com dois tackles for loss, 2 sacks, um fumble forçado e tendo papel determinante no sublime esforço na goal-line, quebrando a tentativa final de USC.
Everett Golson
O quarterback iniciou o ano envolto em dúvidas, enquanto discutia a titularidade. Com o decorrer da temporada assumiu finalmente o papel de maestro na equipa, mostrando resiliência e maturidade. Não é um jogador empolgante, como vários colegas de posição, mas ainda carece de crescimento, tendo previsíveis 3 anos de titularidade pela frente. Evitando, na maioria do tempo, cometer erros grosseiros, mostrando que pode ser um perfeito game manager, tem precisão nos lançamentos, conseguindo terminar essa batalha em Los Angeles com 15/26 em passes, 217 jardas aéreas e mais 50 terrestres. Trouxe estabilidade e segurança para a posição, algo que foi crucial no saldo final da época.
E agora? Ainda não terminou. Falta o derradeiro capítulo. Aquele onde se decide o final. Feliz ou infeliz, Notre Dame granjeou respeito. E algo, conseguido dentro de campo, que nunca se apagará. Aqueles momentos de inspiração perdurarão na memória colectiva.






