SEC: Uma Conferência de Sonho

Paulo Pereira 30 de Agosto de 2013 College Comments
SEC

SEC: Uma Conferência de Sonho

  1. Melhor conferência do College? Mas há dúvidas? A SEC tem um estatuto à parte, no competitivo mundo universitário. Sim, é lá que reside o [crónico] campeão. E sim, é lá que moram a maioria dos emblemáticos jogadores. Aliás, duas das principais estrelas jogam na SEC. Curiosamente, nem Johnny Manziel nem Jadeveon Clowney são jogadores de Crimson Tide. Mas Alabama não se queixará. O seu roster tem um absurdo número de talentosos atletas, que se vão sucedendo, ano após ano, pese a sangria para a NFL. É impressionante a capacidade regenerativa de Alabama, mantendo-se competitiva, mesmo sofrendo sempre perdas significativas nos drafts para o mundo profissional. A SEC apresenta facilmente 5 ou 6 equipas que cabem no top-10 de qualquer ranking. É um facto que a PAC 12 ou a BIG 12 têm qualidade, boas equipas, mas nada comparável ao que se vive na SEC. Um mundo à parte.
  2. O mais assustador, no meio disto tudo, é que após ter conquistado 3 títulos nos últimos 4 anos, Alabama pode gabar-se de ter o melhor ataque na era Nick Saban. O treinador, uma espécie de mago visionário que revolucionou por completo a história da universidade, tem um toque de midas no recrutamento. As suas defesas estão sempre repletas de grandes, físicos e velozes jogadores. Chega a ser intimidante a forma agressiva e atlética como a defesa se exibe, diferenciando-se do resto da competição. O ataque, mesmo vivendo na sombra do notório papel da defesa, mostra igualmente predicados temíveis. Alabama acabou 2012 com a defesa nº 1 da prova, com o ataque a marcar uma média de 38,7 pontos/jogo, ranqueado em 12º a nível nacional. Mesmo perdendo Eddie Lacy para a NFL, a estrutura mantem-se quase imutável. Como quarterback AJ McCarron é o ideal, para liderar o ataque. Sereno e equilibrado, terminou 2012 com 30-3, no rácio TD-INT. Lacy já tem substituto, com TJ Yeldon a assumir a batuta no jogo corrido, seguindo a já longa linhagem de excelentes running backs (Mark Ingram, Trent Richardson, Eddie Lacy). Amari Cooper deixou de ser uma revelação, para assumir com direito próprio o estatuto de um dos melhores wide receivers da competição. A linha ofensiva, importante para a implementação do jogo de ataque, tem Cyrus Kouandjo, Anthony Steen e Ryan Kelly, com OJ Howard, jogador versátil para a posição de tight end, a poder ser a revelação da temporada.
  3. 3. O mais marcante na SEC é a sua competitividade. Fala-se de Alabama como se a equipa planasse num patamar superior a todas as outras. Isso em parte é verdade, com os títulos ganhos a relembrarem-nos disso mesmo. Mas Alabama, que venceu a final em grande estilo frente a Notre Dame, escapou milagrosamente da derrota na final da conferência, frente a Geórgia. E, na regular season, foi in-extremis que venceu LSU. Isto significa o quê? Precisamente o escrito no início do ponto. Mesmo com o favoritismo a pender para a equipa orientada por Nick Saban, existe uma mão cheia de candidatos a destronar Alabama. Todos da SEC.
  4. Um desses putativos candidatos é a universidade de Geórgia. Os Bulldogs ficaram a meras 5 jardas de vencerem Alabama, na final da SEC, e de irem à final nacional. A equipa, talentosa em todas as posições, pede meças aos actuais campeões. Tem um QB à imagem do rival, com Aaron Murray a ser o segundo a nível nacional com maior rating na posição. O ataque foi o nº 1, em jardas por jogada, movido pela incrível dupla de freshman na posição de running back: Todd Gurley e Keith Marshall. Juntos, conseguiram mais de 2.000 jardas e 25 touchdowns, com 6 jardas de média por corrida. Com Michael Bennett, um dos mais elegantes receivers da competição, a regressar em 2013 após um torn ACL, o futuro parece risonho para Geórgia. Mas o entusiasmo deve ser devidamente acautelado. O calendário é um dos mais difíceis, quando nos referimos a candidatos ao título. Nas primeiras semanas, os Bulldogs vão a Clemson e recebem South Carolina (no ano passado, Geórgia foi derrotada por 35-7) e LSU. Particular atenção centrada no jogo com os Gamecocks, liderados pelo head coach Steve Spurrier, fora de campo, e pelo indomável Jadeveon Clowney, no relvado. O hype em redor do jogador atinge já níveis altíssimos, comparando-o a Lawrence Taylor, um dos monstros históricos da NFL. 2013 servirá, por isso, de laboratório mediático para seguir as intempestivas acções de Clowney.
  5. Uma das equipas históricas da SEC reside na Florida. Os Gators, que ainda revivem mentalmente os feitos sob a égide de Urban Meyer (agora em Ohio State) têm um novo timoneiro, que tem sabido manter a equipa competitiva. Will Muschamp viu partir muito talento para a NFL, no draft deste ano, mas mantém a esperança em nova temporada positiva. A defesa, o bastião e alma da equipa, possui alguns dos mais reputados defensive backs da prova. O safety Jaylen Watkins e os cornerbacks Loucheiz Purifoy e Marcus Robertson são os garantes duma unidade que permite poucas jardas aos opositores. Se combinarmos a esta secundária um pass rush ao nível dos melhores, os Gators têm tudo para se intrometer nas contas pelo título de divisão. Dante Fowler, Ronald Powell e Dominique Easley são perfeitos nos movimentos disruptivos, mantendo sempre enorme pressão sobre as linhas ofensivas contrárias.
  6. Não pretende ser uma lista exaustiva, mas é uma colecção de talento. Enorme. Estes são alguns dos jogadores que, com as suas qualidades, abrilhantam a conferência. Johnny Manziel, QB de Texas A&M; Jadeveon Clowney, DE de South Carolina; Amari Cooper, WR de Alabama; Jake Matthews, OT de Texas A&M; CJ Mosley, LB de Alabama; Todd Gurley, RB de Geórgia; TJ Yeldon, RB de Alabama; AJ McCarron, QB de Alabama; Anthony Johnson, DT de LSU; Cyrus Kouandijo, OT de Alabama; Ha Ha Clinton-Six, S de Alabama e vencedor do nome mais original dos últimos anos; Dominique Easley, DL de Florida; Antonio Richardson, OT de Tennessee; Mike Evans, WR de Texas A&M; Adrian Hubbard, LB de Alabama, Jordan Matthews, WR de Vanderbilt e Denzel Nkemdiche, LB de Ole Miss.
  7. Desse lote poderá sair o vencedor do Heisman Trophy, que premeia o melhor jogador universitário. Em 2012 Johnny Manziel fez história, tornando-se o primeiro freshman a vencer o reputado troféu. Este ano, sem a prova se ter iniciado, são avançados os nomes de AJ McCarron, Todd Gurley, Jadeveon Clowney, TJ Yeldon e Manziel como sendo os principais favoritos, juntamente com Braxton Miller (jogador de Ohio State, jogando na Big 10). Nem só de jogadores consagrados vive a conferência. Se algo ficou provado, em 2012, é que os estigmas existentes em relação aos novatos (freshman) foram esbatidos, com a vitória de Johnny Manziel. A extraordinária temporada do quarterback desfez mitos e abriu uma frente de possibilidades, levando outros rookies a sonharem com a consagração máxima. Eis alguns nomes (não só de freshman) que podem fazer furor, em 2013: Jordan Jenkins, LB de Geórgia; Robert Nkemdiche, DE de Ole Miss; Carl Lawson, DE de Auburn; Mike Davis, RB de South Carolina ou Demarcus Robinson, WR de Florida.
  8. Se há algo com que se pode contar, nas equipas de Les Miles, é competência. O técnico de LSU namora com o título, tentando combater a supremacia crescente de Alabama na conferência e a nível nacional. Derrotados por esse mesmo adversário, na final de 2011, LSU é sempre considerada uma das candidatas. Este ano a schedule irá testar a solidez, desde o início. O jogo de abertura, contra TCU, é um belo cartaz de apresentação para o College Football. LSU viu 11 dos seus titulares declararem-se elegíveis para o draft de 2013. A razia, que poderia inibir a ambição, é no entanto limitada pelo reload de talento. Anthony Johnson (DT), Lamin Barrow (LB), Craig Loston (S) e Jalen Mills (CB) são mais-valias na defesa, sempre a unidade nuclear em qualquer das equipas de Miles. Se o ataque se mantiver saudável, LSU pode bater qualquer equipa da SEC. Incluindo Alabama, em Tuscaloosa. Esse será um jogo imperdível para qualquer fã, numa evidente mostra que o calendário de LSU é exigente. As dificuldades não ficam por aqui, com uma viagem depois à Geórgia, para novo embate de titãs. Georgia terá que encontrar uma forma de suprir as saídas de Alec Ogletree e Jarvis Jones, agora que eles partiram para a NFL (Ogletree nos Rams e Jones para os Steelers). A perda do duo será difícil de colmatar, mesmo que Geórgia tenha Jordan Jenkins prestes a explodir. Por falar em perdas de jogadores significativos, será difícil a Texas A&M sobreviver à saída de Damontre Moore, o líder da equipa em tackles, que aportou 12,5 sacks. Sem pass rush, a defesa terá que sobreviver de qualquer forma, se quiser ter uma palavra a dizer numa eventual ida à final de conferência. Um dos jogadores que se poderá destacar é o corner Deshazor Everett. A defesa é, no entanto, a última das preocupações para os responsáveis de Texas A&M. O intenso escrutínio em que se transformou a vida de Manziel, tornado numa espécie de pop-star pela imprensa, assumiu contornos inquietantes com a acusação de que o QB teria recebido dinheiro, em troca de autógrafos em merchandising, algo veementemente condenado pela NCAA. Será difícil para a equipa emular a época anterior, agora que os adversários conhecem o estilo de jogo de Manziel. Mas o ataque, esse, continua imutável e repleto de excelentes jogadores. Mantenham debaixo de olho Mike Evans, WR. Com 8 jogos caseiros (onde figura esse emblemático confronto contra Alabama, em 14 de Setembro), a universidade pode fazer história. Todos os olhares se concentrarão no jogo de 14 de Setembro. É aí que muita coisa poderá ser decidida, tanto na SEC como numa caminhada para a final nacional.
  9. A SEC, pese o favoritismo de Alabama, será uma conferência aberta, em ambas as suas zonas, com várias equipas a poderem vencer e a marcar presença na final. No Este a luta será entre Georgia, Florida e South Carolina, com as restantes universidades a lutarem pela mera presença numa Bowl. Existe um fosso claro, a nível de qualidade, que separa estas três equipas das restantes. Tennessee, Vanderbilt e Missouri lutarão para terem mais de 50% de vitórias, procurando acompanhar o ritmo do trio de candidatos. Vanderbilt tem expectativas elevadas, depois de ter conseguido a primeira temporada com nove vitórias, desde 1915. No entanto, tem road trips a South Carolina, Texas A&M e Florida, para além do jogo caseiro com Georgia. Revista a ambição, uma presença numa bowl deixará satisfeitos os seus fãs.
Mapa das equipas do SEC

Mapa das equipas da SEC

No Oeste, temos Alabama, LSU e Texas A&M, claramente separadas das restantes equipas. Ole Miss, plenamente reforçada por uma fornada de rookies talentosos (como o top recruit Robert Nkemdiche), pode fazer alguma gracinha. Hugh Freeze foi o responsável por tornar Ole Miss novamente visível, no mapa, com 2012 a ser a 1ª temporada positiva (7-6) desde há muito. Tendo perdido no ano passado para LSU e Texas A&M por um total de 9 pontos, a mescla de experiencia e talento novo pode torná-los a breve prazo num contendor a ter em conta. É previsível que a parceria entre Bo Wallace (QB) e Donte Moncrief (WR) tenha um ano em grande. Auburn procura regressar às origens da temporada que lhe valeu o título, na era Cam Newton, recrutando para head coach o antigo coordenador ofensivo. Gus Malzahn tem a árdua tarefa de recuperar um ataque que foi o 114º a nível nacional. Com um novo QB (Nico Marshall) e um talentoso tailback na figura de Tre Mason, é previsível uma melhoria substancial, mas ainda longe dos tempos de glória recentes. Auburn terminou 2012 sem vencer nenhum adversário da conferência, apenas dois anos depois de se ter sagrada campeã.

About The Author

Paulo Pereira

O meu epitáfio, um dia mais tarde, poderá dizer: “aqui jaz Paulo Pereira, junkie em futebol americano”. A realidade é mesmo essa. Sou viciado. Renascido em 2008, quando por mero acaso apanhei o Super Bowl dos Steelers/Cardinals, fiz um reset em [quase] todos os meus dogmas. Aquele desporto estranho, jogado de capacete, entranhou-se no meu ADN, assumindo-se como parte integrante da minha personalidade. Adepto dos Vikings por gostar, simplesmente, de jogadores que desafiam os limites. Brett Favre entra nessa categoria: A de MITO.