A Maldição de John Madden!
Caro leitor!
Um ponto prévio antes do início desta análise “científica” a um dos maiores mitos e mistérios que assombram o universo dos amantes da NFL e dos videojogos: não acredito em bruxas e bruxedos. Não mudo de direcção quando vejo um gato preto. A sexta feira 13 é apenas um dia da semana e, por sinal, até é o início do fim de semana ou, em alternativa, o nome de uma série de filmes de terror de qualidade comprovadamente duvidosa. Para mim as superstições são meras muletas da nossa falta de segurança e o Halloween uma tradição importada da mitologia celta, por via da cultura “fast food” dos States! Numa palavra, em matéria de medos, superstições e maus olhados, o autor destas linhas é um perfeito agnóstico e ateu e nunca consegue deixar de achar piada aos tormentos de quem passa a vida a ler horóscopos ou a prescrustar o futuro em folhas de chá…
Mas vamos ao que interessa. (Deixem-me só acender a velinha a S.Gonçalo e virar o elefante de louça para a porta… pronto! Já está!). Mas afinal quem foi John Madden? E o que é isso da Maldição de John Madden?
Começando pelo princípio: John Earl Madden nasceu em 10 de Abril de 1936, em Austin no estado do Minnesota, USA e notabilizou-se pela sua carreira de jogador e, muito principalmente, de treinador de football. Os registos de vitórias de Madden, enquanto treinador, são absolutamente inigualáveis: nos cerca de 10 anos a a dirigir os Oakland Raiders, entre 1969 e 1978, Madden, para além de conquistar a Super Bowl de 1971, registou 112 vitórias em 158 jogos (9 em playoffs), 39 derrotas (7 em playoffs) e 7 empates, conseguindo uma impressionante percentagem de 76,3% de vitórias. Mas a saúde de Madden obrigou-o a abandonar a carreira de treinador em 1978, iniciando um percurso com comentador desportivo nas grandes cadeias de televisão americanas (CBS, FOX e NBC) e dando o seu nome e rosto à famosa série de videojogos da EA Sports, Madden NFL.
Pois bem! É aqui que vai surgir a Maldição de John Madden!
O jogo foi uma ideia do criador da Electronic Arts, Trip Hawkins que, em 1984, resolveu criar um simulador para computador do mais popular desporto dos USA. Para isso convidou John Madden para seu consultor e, mais tarde, este aceitou dar o seu rosto e nome ao jogo. Como Madden queria que o jogo fosse o mais realista possível, a primeira edição apenas saiu em 1988, obviamente apenas com a versão para PC. Entre 1988 e 1998, a capa do jogo foi preenchida, invariavelmente, com fotos do popular treinador.
É em 1999 que a EA Sports resolve inovar, colocando a imagem de um jogador na capa do jogo, em vez da foto do treinador que deu nome à popular série. Não consta que John Madden tenha ficado zangado com a decisão da EA Sports, mas a verdade é que foi a partir da edição do jogo de 1999 que a Maldição de Madden começou!
De facto, desde esse ano e até aos dias de hoje, com uma regularidade e certeza assustadoras, o jogador escolhido para a capa, sofre, na época de lançamento do jogo, os azares mais incríveis ou regista as performances mais surpreendentemente miseráveis da sua carreira. Não acreditam? Então vejam bem esta lista de nomes amaldiçoados pelo terrível mau olhado e tirem vocês mesmos as vossas conclusões:
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Madden 1999: Garrison Hearst, RB, San Francisco 49ers
Depois de uma carreira fantástica, Garrison Hearst foi escolhido para capa do Medden’99. É verdade que ainda levou os Niners aos playoffs nesse ano, mas acabou por fracturar um tornozelo, lesão que o afastou da NFL nas duas épocas seguintes, nunca mais voltando a ser o fantástico jogador do passado. Vitima nº1!
Madden 2000: Dorsey Levens, RB, Green Bay Packers
Barry Sanders (RB, Detroit Lions) foi, para muitos, o maior RB da história da NFL. Não foi, por isso, surpresa nenhuma que a EA Sports o tenha convidado para ser a capa da edição do ano 2000. Mas Sanders, por um qualquer fenómeno de premonição ou desconforto e para grande surpresa da Electronic Arts e dos fãs dos Lions tomou uma decisão radical: retirou-se da competição mesmo antes de começarem os training camps. Nunca mais jogou.
Sem capa para a edição do jogo, mesmo em cima da data de lançamento, os responsáveis da EA Sports recorreram ao próprio John Madden que assim voltou a aparecer na cover do Madden 2000. Mais tarde a Electronic Arts lançou uma reedição do jogo mas, agora sim, com um jogador na capa. A escolha recaiu em Dorsey Levens (RB) dos Green Bay Packers. Prontos! Lá temos mais uma vítima da maldição! Primeiro os Packers falharam os playoffs, depois de duas presenças consecutivas no Super Bowl (o jogo foi lançado em 1999). Dorsey Levens, por seu lado, lesionou-se com gravidade num joelho e nunca mais conseguiu reeditar as performances do passado.
Madden 2001: Eddie George, RB, Tennessee Titans
Eddie George foi um monstro ao longo de toda a época de 2000 e por um triz não coroou em glória o ano com uma vitória no Super Bowl XXXIV. Os Tennessee Titans foram derrotados pelos St. Louis Rams de Dick Vermeil e Kurt Warner, falhando um TD nos segundos finais do jogo por menos de 1 jarda. Apesar da derrota, George mereceu a (duvidosa, dizemos nós) honra de ser convidado pela EA Sports para figurar como capa da edição 2001 do Madden. Mas desta vez não foi uma lesão que se abateu sobre o desafortunado jogador da capa do malfadado jogo. Desta vez o azar bateu-lhe à porta quando, num decisivo momento do jogo para os playoffs contra os Baltimore Ravens, Eddie George perdeu o controlo da bola num passe, acabando por sofrer uma intercepção que acabou num TD definitivo para os Ravens. Os Titans seriam eliminados. Os Baltimores campeões nesse ano. Quanto a Eddie George sofreria uma lesão na época seguinte (ah! cá está ela!) que acabaria com os dias de glória do RB dos Titans na NFL.
Madden 2002: Daunte Culpepper, QB, Minnesota Vikings
Escolhido pelos Minnesota Vikings na 1ª ronda do draft de 1999, Daunte Culpepper viveu 7 anos de glória com a camisola purple and gold dos Minnesota Vikings. O seu sucesso foi tão grande que acabou por ser escolhido para capa do Madden 2002. Pois nessa época, Culpepper cedo mostrou que algo de anormal se passava no seu jogo. Na semana 12, com o registo dos Vikings nuns comprometedores 4-7, o QB sofreu uma grave lesão no joelho que o afastou dos estádios e acabou a sua carreira nos Vikings. Culpepper ainda regressou à NFL, representando equipas como os Miami Dolphins, Oakland Raiders e Detroit Lions, mas o brilho do passado nunca mais voltou, terminando os seus dias de jogador nos desconhecidos Sacramento Mountain Lions da UFL- United Football League.
Madden 2003: Marshall Faulk, RB, St. Louis Rams
Estrela intemporal da história da NFL e membro da equipa dos St. Louis Rams celebrizada com o nome de The Greatest Show on Turf, Marshall Faulk foi a escolha da EA Sports para a capa do Madden 2003. Já imaginaram o que vai acontecer ao pobre Faulk nessa época, pois já? Faulk, conhecido pelas suas épocas consecutivas com mais de 1000 jardas em corrida, sofreu uma lesão no tornozelo que, apesar de não o ter afastado dos jogos da época 2002-2003 (apenas falhou dois jogos por esse motivo), limitou definitivamente as suas capacidades. Nunca mais conseguiu alcançar as 1000 jardas numa época na NFL.
Madden 2004: Michael Vick, QB, Atlanta Falcons
Michael Vick foi a escolha nº1 do draft de 2001 pelos Atlanta Falcons. As suas exibições eram absolutamente espantosas e dignas de um extra-terrestre. Não faltou muito para que fosse escolhido para capa do Madden. Aconteceu na edição de 2004. No dia a seguir ao lançamento do jogo, Vick partiu o perónio e falhou 11 jogos dessa época. Recuperou e voltou a jogar. Mas quando logo a seguir partiu uma perna, todos perceberam finalmente que a Maldição de Madden era mesmo para ser levada a sério.
Madden 2005: Ray Lewis, Linebacker, Baltimore Ravens
Escolhido para capa da edição de 2005, Ray Lewis começou a época e… partiu um pulso. Nada de grave, acabando por perder apenas um jogo, mas, pela primeira vez na sua carreira, o linebacker dos Baltimore Ravens foi incapaz de registar uma mísera intercepção em toda a época e, pela primeira vez em 4 anos, a equipa de Baltimore falhou os playoffs. Ah! Na época seguinte, Lewis sofreu uma lesão numa coxa, falhando 10 jogos.
Madden 2006: Donovan McNabb, QB, Philadelphia Eagles
O menino de ouro para os fanáticos adeptos dos Philadelphia Eagles foi a capa que se seguiu na edição de 2006 do Madden. Azar! No primeiro jogo da época, McNabb saiu do campo a mancar devido a uma hérnia. Perdeu 7 jogos. Depois de 5 nomeações para o Pro Bowl, o QB de Philadelphia nunca mais foi votado pelos fãs para o jogo de estrelas da NFL. Adiante…
Madden 2007: Shaun Alexander, RB, Seattle Seahawks
Depois de ter batido recordes de TD’s numa só época, Alexander dos Seattle Seahawks recebeu o prémio anual que a EA Sports reserva para as estrelas da NFL: foi capa do Madden 2007. Foi limpinho! O RB partiu um pé, falhou 6 jogos, nunca mais conseguiu correr como antes, as suas estatísticas foram por água abaixo. Game Over.
Madden 2008: Vince Young, QB, Tennessee Titans
A escoha inicial da EA Sports para a capa da edição de 2008 foi o RB LaDainian Tomlinson, dos San Diego Chargers, mas o medo da Maldição de Madden já era tão grande que os adeptos dos Chargers fizeram uma petição apelando a L.T. que desistisse da ideia. O RB ficou tão impressionado que desistiu mesmo. Em seu lugar foi escolhido mais um QB. Desta vez a opção foi Vince Young, dos Tennessee Titans. No primeiro ano da NFL, Young foi o Offensive Player of the Year e foi escolhido para o Pro Bowl. Depois da capa do Madden… Bem! Já estão a adivinhar o que aconteceu a seguir… Young é hoje suplente de Michael Vick nos Philadelphia Eagles, depois de ter sido dispensado pelos Titans.
Madden 2009: Brett Favre, QB, New York Jets
Em 2008 a Maldição de John Madden começou a preocupar verdadeiramente os responsáveis da Electronic Arts. Para quebrar o feitiço resolveram engendrar uma solução que parecia ter tudo para dar certo. Por essa altura o mítico QB Brett Favre dos Green Bay Packers anunciou a sua intenção de se retirar. Num golpe de génio, a EA Sports resolveu prestar uma justíssima, diga-se de passagem, homenagem àquele que foi, para muitos, o melhor QB da história da NFL. E desta vez o risco de lesões ou más exibições do escolhido era absolutamente nenhum, pela simples razão de que Brett Favre não iria jogar em 2008-2009. Puro engano! A primeira das despedidas de Favre durou pouco tempo e, de forma inesperada, o jogador transferiu-se para os New York Jets. Surpreendida, a EA Sport não teve outra alternativa do que lançar uma reedição do jogo com a mesma imagem do jogador, mas agora envergando a camisola dos Jets. E, claro, o azar bateu à porta de Favre na época seguinte: uma lesão nos biceps afectou a performance do QB, acabando por perder 4 dos últimos 5 jogos, registando 8 intercepções e fazendo apenas 2 TD’s. No final da época, os Jets dispensaram os serviços de Brett Favre.
Madden 2010: Troy Polamalu, Safety, Pittsburgh Steelers e Larry Fitzgerald, WR, Arizona Cardinals
Frustrados com o estrondoso falhanço da estratégia adoptada em 2009 para quebrar o enguiço da capa do Madden, a EA Sports tomou uma decisão radical em 2010: em vez de 1 jogador, decidiu colocar 2 jogadores na capa do Madden 10. Seguros que a Maldição não seria capaz de afectar dois jogadores, o jogo foi lançado com uma das melhores capas, em nossa opinião, de toda a série. Puro engano! Depois de ter brilhado na época anterior, contribuindo para a vitória dos Pittsburg Steelers no Super Bowl XLIII, Troy Polamalu sofreria várias lesões no joelho, acabando por participar apenas em 5 jogos na época seguinte. Os Steelers falhariam os playoffs. Quanto a Larry Fitzgerald dos Arizona Cardinals, bem… tudo parecia correr pelo melhor, conseguindo jogar toda a época regular e levando a equipa de novo aos playoffs que… não chegaria a jogar devido a uma lesão nas costelas. Azar de Madden!
Madden 2011: Drew Brees, QB, New Orleans Saints
A escolha de Drew Brees para capa do Madden 11 foi uma justa homenagem à extraordinária época do QB dos New Orleans Saints em 2010, coroada com a vitória no Super Bowl XLIV frente aos Indianapolis Colts. Brees confessou-se honrado com a escolha e disse não acreditar na Maldição de John Madden. E, na verdade, Brees fez toda a época e não sofreu qualquer lesão, levando a equipa, de novo, aos playoffs, no lote das super favoritas a ganhar de novo o Vince Lombardi Trophy. E o primeiro jogo da post season era até bem fácil. Contra os Seattle Seahawks, em Seattle! Os Seahawks tinham vencido a NFC West e foram a primeira equipa a vencer uma divisão e a chegar aos playoffs com um registo negativo na época regular (7-9). Isso não contou para nada e acabaram por eliminar os favoritíssimos Saints… Que vergonha Drew Brees!
Madden 2012: Peyton Hillis, RB, Cleveland Browns
Em 2010, Peyton Hillis teve uma época fantástica, registando mais de 1000 jardas em corrida. Numa votação entre os fãs, promovida pela EA Sports para escolher a capa do Madden 12, Hillis dos Cleveland Browns foi o (in)feliz escolhido. A época de 2011/2012 foi, como já adivinharam, horrível. Lesões, problemas com os managers dos Browns e os companheiros de equipa, enfim, um desastre, levaram à saída do RB para os Kansas City Chiefs. E a Maldição de Madden continuou, impávida e serena…
Madden 2013: Calvin Johnson, WR, Detroit Lions
Não foram poucos os fãs dos Detroit Lions que ficaram preocupados com a escolha da sua estrela maior, Calvin “Megatron” Johnson, para capa do Madden 13. E parece que a razão para o medo se confirma! Números de Calvin Johnson em 2011-2012: 16 jogos, 96 recepções (média de 6 por jogo); 1681 jardas (média de 105/jogo); 16 TD’s (1 por jogo). Números de Megatron nos 7 jogos em que participou em 2012: 41 recepções (5,8 por jogo); 638 jardas (91,1 por jogo) e, o pior de tudo, 1 TD… Ahh! E lesões também já teve algumas.
Depois deste estudo “científico” uma conclusão posso tirar com toda a certeza: eu continuo a não acreditar em bruxas, “mas que las hay, las hay!”