Qual o melhor meio de construir uma equipa para ser candidato? Usar o draft como ferramenta de adição de talento e juventude, munindo o corpo técnico de paciência e sagacidade para extrair o melhor de cada atleta, ou utilizar um atalho, queimando etapas no crescimento sustentado? Não existe uma fórmula mágica, que usada transforme de imediato o patinho feio num belo cisne. O trabalho árduo, como método empírico, pode ajudar a resolver problemas imediatos. Mas uma visão mais profunda, uma estratégia de base, carece de outro tipo de fundamentos. O ideal, se é que essa quimera existe, é a junção do draft e da free agency, em doses calibradas, dotando o roster de juventude e irreverência, mas com o talento já comprovado e a experiência de veteranos.
Os Minnesota Vikings, de 2009, procuraram um atalho na concretização do sonho que acalenta a franquia, desde a sua criação. Vencer o Super Bowl esteve à distância de um mísero jogo, com a derrota na final da NFC com os New Orleans Saints a pesar ainda no imaginário de muitos. Aí, num plantel já com qualidade, bastou a introdução duma peça – o veterano ícone Brett Favre – para despoletar uma reacção em cadeia que levou o clube a um futebol de enorme qualidade. Mas foi um risco. Apostar tudo no sucesso, sem um prévio plano B, para prevenir um fiasco, revelou-se um erro. Será que alguém aprendeu com essa lição, ou ela passou despercebida?
Com 7 semanas decorridas na temporada regular, passemos em revista o mercado de free agents, que animou a offseason antes do Verão. O que é que esses veteranos trouxeram às equipas? Quais é que se podem considerar aquisições de sucesso? E o inverso, quem tem falhado rotundamente?
Apostas certeiras
Peyton Manning, QB, Denver Broncos
5 Anos, $96 Milhões
Muito se escreveu sobre a mega-estrela, logo após a contratação, com inúmeras ressalvas quanto ao seu estado físico. Dissipadas as dúvidas no que respeita à manutenção de todas as suas faculdades, o que se pode dizer é que John Elway, o estratega que esteve por detrás desta aquisição, acertou em cheio. Manning deu uma dimensão extra ao ataque dos Denver Broncos, criando empatia imediata com um grupo de receivers talentoso, mas ainda algo inexperiente. Salvo um período horrível de 8 minutos, contra os Atlanta Falcons, com 3 intercepções quase consecutivas, Peyton Manning tem deliciado todos aqueles que o acompanharam, ao longo da maior parte da sua carreira, nos Indianapolis Colts. O braço continua preciso, capaz de efectuar lançamentos longos, quando necessário, capitalizando a deep threat que é Demariyus Thomas. O pescoço, alvo de cirurgias no passado recente, não se tem ressentido com as pancadas que o corpo sofre, através de sacks e hits regulares em todos os jogos. A chegada de Manning, se não transformou os Broncos num declarado Super Bowl contender, trouxe pelo menos a centelha de esperança que é requerida em qualquer organização desportiva. Com ele aos comandos sente-se que tudo é possível. Até recuperar de dum défice de 24 pontos, contra os San Diego Chargers.
Cortland Finnegan, CB, St. Louis Rams
5 Anos, $50 Milhões
A reunião do cornerback dos Tennessee Titans com o seu antigo treinador, Jeff Fischer, tem sido coroada de êxito. Aposta pessoal, Finnegan conseguiu trazer para os St. Louis Rams aquilo que era requerido. Talento e experiência, solidificando uma parte da defesa, que viu este ano entrar massivamente dezenas de jogadores, muitos oriundos do draft e totalmente crus na alta competição. Uma análise mais detalhada vê que Finnegan tem sido um dos cornerbacks mais valorizados nesta temporada, com uma excelente defesa contra o passe. Continua a ser excelente na run defense e em provocar os seus adversários. Pode ser eticamente reprovável, o seu comportamento, mas o estilo quezilento e provocativo já rendeu dividendos, quando fez o WR dos Washington Redskins, Josh Morgan, perder a cabeça na drive final, com a penalidade sofrida a retirar a equipa de Washington da possibilidade de empatar a contenda. Conta já com 4 intercepções nos 7 jogos, tendo uma baixa média de jardas permitidas. Até agora, apenas 8.8 jardas.
Vincent Jackson, WR, Tampa Bay Buccaneers
5 Anos, $55.5 Milhões
Foi um dos free agents que mais apetite provocou, no Mercado, optando por uma ida até à solarenga Tampa, onde o seu talento tem sido reconhecido. Wide receiver que não faz da velocidade a sua principal arma, é precioso na red zone ou nos sideline throws, dando sempre uma ampla gama de possibilidades a Josh Freeman. A sua elevada altura e envergadura física tornam-no difícil de defender. Caminha para números grandiosos, neste seu primeiro ano sob o comando de Greg Schiano.
Reggie Wayne, WR, Indianapolis Colts
3 Anos, $17.5 Milhões
Antes da chegada do período de free agency, a especulação em redor do nome de Wayne era muita, com assumindo-se que pudesse ter o seu destino umbilicalmente ligado ao de Peyton Manning. No entanto, a aparente lealdade de Wayne ao emblema dos Indianapolis Colts falou mais alto, mantendo-se por Indianápolis, num ano em que outros nomes, menos dotados (casos de Laurent Robinson, Robert Meachem e Pierre Garçon) conseguiram chorudos contratos no mercado livre. Com a franquia em modo de total reconstrução, Reggie Wayne tem sido instrumental para o crescimento sustentado de Andrew Luck, que vê no veterano um alvo confiável e cheio de talento. Isso, aliás, foi determinante na épica vitória sobre os Green Bay Packers, com Reggie Wayne a efectuar, provavelmente, o melhor jogo da sua carreira.
John Abraham, DE, Atlanta Falcons
3 Anos, $16.7 Milhões
Um caso similar ao de Wayne, com Abraham a nem sequer ter atingido o mercado. Os Atlanta Falcons, apesar dos 34 anos de idade do seu defensive end, nunca equacionaram outra possibilidade para além da renovação dos votos de fidelidade. Abraham não tem decepcionado, continuando a ser providencial no pass rush e uma das âncoras defensivas da equipa, a realizar a melhor temporada na história da franquia.
Philip Wheeler, OLB, Oakland Raiders
1 Ano, $700,000
Um dos mais underrated linebackers da liga, está a realizar um ano notável nos Oakland Raiders. A sua aquisição é reveladora do estado em que Reggie McKenzie, o actual general manager, encontrou o clube, após a morte de Al Davis. Uma franquia histórica, mas à deriva, com um tacto salarial sem margem de manobra e poucas escolhas no draft, mercê de alguns ruinosos negócios nos últimos anos. Dessa forma, a aquisição do OLB foi um achado, conseguindo dotar a equipa de agressividade no pass rush e na cobertura do passe, dois factores onde Wheeler tem estado francamente bem. Verdadeira máquina de tackles, constitui uma pechincha, face aos valores com que foi adquirido. A sua produção ultrapassou o expectável.
Apostas falhadas
Mark Anderson, DE, Buffalo Bills
4 Anos, $19.5 Milhões
Parece que, quando olhamos as estatísticas, falamos de um jogador diferente daquele que, ainda no ano passado, brilhou nos New England Patriots. Agora nos Buffalo Bills, a temporada tem sido um rotundo fracasso, com Anderson a ter números pedestres, incapaz de gerar algo de positivo no front four da equipa de Buffalo. Se as coisas, dentro de campo, não lhe corriam de feição, com uma total ausência de feitos relevantes (nem sacks, hits ou pressões para amostra), uma recente lesão no joelho apenas adensou a sensação de desapontamento, numa época que parece já perdida, a nível pessoal.
Laurent Robinson, WR, Jacksonville Jaguars
5 Anos, $32.5 Milhões
Num mercado de free agents que cumulou receivers medianos com grandes contratos, Robinson é o exemplo perfeito disso mesmo. Considerado um journeyman, Laurent Robinson inflaccionou o seu valor de mercado após capitalizar com as ausências por lesão de Miles Austin e Dez Bryant, nos Dallas Cowboys. Tornando-se o alvo mais consistente de Tony Romo, foi-se destacando com notáveis jogos, onde a sua velocidade e imprevisibilidade nas rotas o tornaram uma revelação em 2011. Carentes de ameaças válidas para o seu ataque, os Jacksonville Jaguars nem vacilaram na hora de pagarem o astronómico valor exigido. A retribuição tem ficado muito aquém do esperado, com a total falta de impacto de Robinson a ser um dos destaques negativos da temporada. Numa lista recentemente publicada pelo Pró Football Focus aparece no 91º lugar dos wide receivers. Elucidativo.
Demetress Bell, OT, Philadelphia Eagles
5 Years, $34.5 Milhões
O desespero tem destas coisas. Os Philadelphia Eagles, com um dos melhores left tackles da liga, na figura de Jason Peters, viram-se de repente no mercado, obrigados a uma escolha para uma posição chave, após a devastadora lesão no tendão de Aquiles de Peters. Sem contarem com ele, para toda a época, a solidez da linha ofensiva foi testada, com a adição de Demetress Bell, resgatado aos Buffalo Bills. Compreende-se o movimento, feito mais por aflição do que por necessidade. Bell fez parte da linha ofensiva dos Bills, com uma excelente 2011. Parecia um casamento de conveniência, mas perfeito, nas circunstâncias que ditaram o nó. O pior é catalogar a performance de Bell, dentro de campo, rapidamente relegado para um papel de backup, tamanha tem sido a sua porosidade na protecção. Aparece em 64º lugar, em 68 offensive tackles, o que diz bem da dimensão (ou falta dele) do seu jogo. Cedeu, nos poucos jogos jogados, 24 pressões sobre o QB, curiosamente a mesma marca permitida por Jason Peters, em 16 jogos do ano passado.
Adam Snyder, OG, Arizona Cardinals
5 Anos, $17.5 Milhões
Deve ter sido um dos piores movimentos do ultimo Mercado de free agents. O que esteve na génese da aquisição de Snyder, pelos Arizona Cardinals, era a necessidade imperiosa de estancar a linha ofensiva, um verdadeiro cancro no seio da equipa. Se, no campo teórico, o movimento tinha lógica, na prática tem-se revelado uma opção desastrada. A linha ofensiva dos Cardinals é má. Ponto. É, alias, a pior da NFL, não conseguindo proteger condignamente o seu quarterback, sistematicamente pressionado por todos os lados. Adam Snyder recolhe parte significativa das culpas, não constituindo barreira assinalável, quer como run blocker ou na protecção ao passe. Isso, aliás, era já indiciado pelos seus números, no ano passado. Aparentemente ninguém na organização dos Cardinals os leu com atenção. Se assim fosse, Adam Snyder nunca teria aterrado no deserto de Arizona.
London Fletcher, LB, Washington Redskins
2 Anos, $10.8 Milhões
Um atleta notável, com uma resiliência que merece encómios, London Fletcher denota a passagem do tempo, vendo abrandar drasticamente a sua qualidade. O linebacker, com 37 anos, ainda produz de forma consistente, em alguns itens, mas é onde ele marcava a diferença que se sente que o fim de uma era está próximo. No pass coverage navega nos últimos lugares, tendo cedido perto de 350 jardas. Nos tackles, leva já um assinalável e pouco meritório número de tackles falhados.