Esta vocês todos, que nos lêem, sabem. Se, num daqueles eventos sociais que misturam amigos, doses extra de álcool e jogos de tabuleiro sair a pergunta “quem é o melhor cornerback da NFL?” poderão fazer um brilharete. Enquanto o comum dos mortais processa nas células cinzentas que decoram o cérebro o que é um cornerback, os aficionados de futebol americano responderão num ápice “Darrelle Revis”. E provocarão, com isso, uma série de olhares de admiração (ou não) perante o profundo conhecimento da cultura geral que patenteiam.
É um dogma. Darrelle Revis é o melhor cornerback da actualidade. Ponto final, parágrafo. Os americanos, que gostam de adornar tudo o que é seu com uma profusão de elogios, apelidam-no de “shutdown corner”. É irrelevante qualquer termo usado para caracterizar o seu jogo. Ele joga num nível ainda não alcançável por nenhum dos seus parceiros de posição. É uma comodidade de luxo para os NY Jets, que o usam de forma gratificante. Mas este artigo nem é sobre Revis. É mesmo sobre aqueles que o perseguem, tentando alcançar o patamar elevado de perfeição onde ele habita. E, para todos os que se aventuram no mundo fascinante do fantasy football, o artigo que se segue é uma compilação de nomes que podem ser usados nas mais complexas ligas de IDP (individual defensive players), onde as equipas são formadas por jogadores de ataque…e defesa.
Quem são os senhores que se seguem, nessa perseguição insana? Fazendo fé no sempre emblemático ProFootballFocus, são muitos e dividem-se em várias classes de fácil catalogação:
Os Veteranos
Os veteranos, que são aqueles que já andam pela NFL faz tempo, tendo elevado a qualidade do seu jogo em épocas recentes.
- Johnathan Joseph não é apenas um nome difícil de escrever, com aquela gincana entre o H e o N. Ele foi um dos responsáveis pelo ressurgimento da defesa dos Houston Texans, em 2011, tendo um “boom” na produção, pela sua inata capacidade de perseguir receivers, tem uma característica peculiar. É um monstro na cobertura do WR top do adversário ao longo de todo o campo, mostrando tremendo à vontade se este optar por rotas que cruzem outras áreas que não apenas a linha lateral. No entanto, a estatística é como o algodão. Não engana. JJ permite que 57,9% dos passes para os seus alvos sejam realizados com sucesso (rating de QB de 71,3%). Revis, por sua vez, permite apenas 41,2% de passes completos, diminuindo consideravelmente o rating do QB adversário, para 45,6%.
- Brent Grimes tem um estilo de jogo diferente, nos Atlanta Falcons. Pouco dado a big plays (apenas teve uma INT em 2011), é excepcional na cobertura, limitando os estragos que os QB’s possam efectuar pelo seu lado. Relativamente bom contra o jogo corrido, é um CB mais estático, não tendo a elasticidade física de Revis ou Joseph. Mas os números são elucidativos. Apenas 44,6% das bolas lançadas para os alvos que cobre têm sucesso. Brilhante.
- Nmandi Asomugha recebeu um hype na offseason do ano passado, quando era o mais apetecível free agent no mercado. Escolhido para o dream team que se julgava serem os Philadelphia Eagles, padeceu grande parte da temporada na secundária da equipa de Filadélfia. Os números, quando comparados com o tempo de permanência em Oakland, decaíram imenso. Mas com uma justificação. Nmandi é um CB puro, daqueles que cobre a sua zona de acção como um falcão predador, numa marcação ao homem impiedosa. Nos Eagles, a versão mais ambiciosa do seu papel esbarrou nas suas limitações. Asomugha foi obrigado a cobrir o slot e a jogar em “zone coverage”, mostrando restrições nos tackles em campo aberto, falhando demasiados. A época de 2012 é ser crucial para este veterano, mas parece longe de poder incomodar Revis na disputa pelo título de melhor QB.
Os Séniors
Depois dos veteranos, aparece uma classe, uma espécie de lobos esfaimados que reivindica a permanência entre a elite. Eles são os jovens contenders, já com alguma experiência na NFL, mas a quem falta ainda algo para que possam reclamar as luzes da ribalta para si.
- Joe Haden mantém os “seus” receivers abaixo dos 50% de passes completos, sendo também competente contra a corrida. Em 2011 destacou-se no número de passes defendidos, com 17, jogando em ambos os lados do campo com igual relevância. No entanto é no lado esquerdo que mais sobressai, sendo essa também a posição de CB mais dura, dado que a maioria dos QB’s são dextros e favorecem os lançamentos para esse lado. Haden caracteriza-se pela capacidade de ler as jogadas, antecipando lançamentos e colocando-se em posição de os defender com rapidez. É apontado como sendo o mais provável sucessor de Revis, podendo rivalizar com este a curto prazo, se mantiver a evolução que te mostrado.
- Lardarius Webb foi uma das revelações do ano passado. Nos Baltimore Ravens é uma espécie de faz tudo na secundária, jogando inclusive no slot (que significa que maioritariamente tem que perseguir receivers bastante velozes em campo aberto). Em 2011 teve 20 passes defendidos, limitando os QB’s adversários a um rating de 42% (melhor do que Revis), mostrando que pode efectivamente dar o salto para junto de Revis. O único ponto de interrogação é mesmo a durabilidade do seu estado de graça, dado que 2011 foi a sua primeira grande temporada, após uma devastadora lesão no joelho, em 2009. 2012 poderá ser o ano de confirmação do enorme talento. Nova temporada idêntica à anterior e Webb mostrará que pode acompanhar Revis, num mano-a-mano interessante.
- Brandon Flowers bem pode agradecer ao guru da NFL Mike Mayock o seu actual grau de reconhecimento público. Eclipsado mediaticamente por Dominique Rodgers-Cromartie e Leodis McKelvin, principais destaques no draft do seu ano, Flowers foi desde o início uma aposta de Mayock, que o achava o melhor corner vindo do draft. 2011 finalmente fez justiça a ambos. Subindo a pulso, numa escalada com alguns erros primários, Flowers tem vindo a solidificar o seu estatuto, com a temporada de 2011 a ser a melhor da sua carreira, com 53,3% de passes certeiros para os seus alvos. Jogando preferencialmente do lado esquerdo, tem a habilidade de perseguir com ferocidade o portador da bola, sendo previsível que em 2012 assistamos a novo ano de excelência.
Os Novatos
Os novatos, mesmo trazendo colado o rótulo de inexperiência que muitas vezes é associado aos rookies, são peças importantes na consolidação das defesas, escolhidos com critério no draft, com as equipas a colocarem sobre os seus ombros enorme carga de responsabilidade, equiparada ao talento que possuem. Alguns aguardam, numa gestação lenta, alguns anos até explodirem em definitivo, mostrando o seu potencial. Outros são, desde o 1º dia, verdadeiras pérolas, necessitando apenas de serem limados em pequenas imperfeições para serem verdadeiros contendores ao título de melhores da Liga.
- Richard Sherman é um dos mais empolgantes nomes neste grupo. Relegado, desde a week 1, para o banco, mostrou perseverança até alcançar o posto de titular, ao lado de Brandon Bowner. Faltando ainda maior tempo de jogo que permita aferir a real dimensão do seu talento, Sherman revelou uma maturidade, desde que assumiu a titularidade (na semana 8), e consistência que ameçam torná-lo uma estrela, a curto prazo. Terá apenas que debelar alguma ansiedade, visível nas penalidades que comete (nove flags), de forma elevar ainda mais o seu jogo.
- Patrick Peterson é um atleta dotado, vivendo num estado de graça que, no entanto, não merece. Na cobertura Peterson cometeu vários erros, sendo batido muitas vezes, como demonstram as 869 jardas permitidas e uma percentagem de acerto de 60%, por parte dos QB’s adversários, quando usavam a sua zona de influência. Alternando jogos medianos com outros onde revelou algumas centelhas de talento (secou, por exemplo, AJ Green e Michael Crabtree), foi mediatizado em 2011 pela sua habilidade nos retornos, conseguindo alguns dos mais empolgantes lances da temporada. Nesse campo rivalizou com Devin Hester pelo título de melhor retornador da Liga. 2012 será um ano de esperado crescimento, com o seu jogo a ganhar maior consistência.
- Jimmy Smith é outro dos jogadores que chegaram à NFL com um currículo repleto de elogios. Jogador com capacidade atlética notável, está ainda num processo de adaptação e maturação a uma realidade bem distinta. Usado de forma intermitente pelos Baltimore Ravens, ainda não conseguiu arranjar o seu espaço na equipa, tendo apenas 337 snaps jogados em 2011. Parece talhado para ser uma estrela futura, mas aguarda-se por um registo mais regular, em que seja efectivamente colocado à prova. Os seus dois melhores jogos, como profissional, foram contra quarterbacks ineptos (Colts e Browns). 2012 já deverá permitir uma análise mais profunda sobre a real valia de Smith.
- Morris Claiborne ainda não jogou nenhum snap como profissional, vindo do draft de 2012 para os afamados Dallas Cowboys, mas é expectável que surja na esteira de Revis, a curto prazo. Vindo duma defesa intratável – LSU Tigers – Claiborne deu nas vistas pela sua cobertura intensa do receiver que defronta, mostrando uma agilidade espantosa no ar, onde conseguiu impor-se de forma evidente à maioria dos seus opositores. A aposta dos Cowboys (fazendo um trade up para conseguirem escolhê-lo) constitui também um factor adicional de esperança na sua adaptação célere e contributo eficaz na secundária da equipa.
Conseguirá alguém destronar Revis do título oficioso de melhor cornerback da NFL? E, se isso acontecer, será que o coroado novo rei é um dos nomes acima apontados, ou surgirá no firmamento uma nova estrela? Independentemente do teor da resposta, não percam Revis em acção. Salvaguardando alguma debilidade física ou um abaixamento de forma repentino, o CB dos Jets é um verdadeiro manual de como se deve jogar naquela posição.
Nota: Artigo inspirado por uma publicação no ProFootballFocus, intitulada “The pack chasing Revis”:
http://www.profootballfocus.com/blog/2012/06/24/cornerbacks-the-pack-chasing-revis/