Holy Roller

Hugo Taxa 26 de Setembro de 2013 História, Jogadas Comments
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Domingo, 22 de Setembro, cerca das 9 da noite GMT … em Cincinnati, os Green Bay Packers têm a bola e o seu General Rodgers (#12 GB) sabe que se conseguir o first down, pode quase dar-se ao luxo de fazer correr o relógio (Cincinnati Bengals com 2 timeouts, e 4:02 no relógio), assegurar uma vitória, e partilhar temporariamente a liderança da NFC North com os Detroit Lions. Num jogo onde por lesão de James Starks (#44 GB), os Packers estavam reduzidos a um Rookie RB saudável, os Packers apresentavam uma atractiva média superior a 6 jardas por corrida … assim sendo, correr para mais uma jarda seria uma aposta segura, certo? Até porque, um field-goal apenas amplia a vantagem para 6 pontos, deixando muito tempo para a remontada dos Bengals.

4th-and-1, linha das 30 jardas de Cincinnati, bola para o Jonathan Franklin (#23 GB), o RB carrega sobre a linha … e … Fumble! Cincinnati recupera por Reggie Nelson (#20 CIN), que tenta de imediato correr em direcção à end-zone, Randall Cobb (#18 GB) apercebe-se do desastre iminente e causa um novo Fumble, sendo que desta vez Terence Newman (#23 CIN) recupera a bola e devolve o Fumble para TD … os árbitros reúnem-se no centro do terreno para conferenciar, e após tomarem uma decisão e anunciam que as “4th-down Fumble rules” só se aplicam ao ataque. As regras sobre o Fumble mudam consoante o down? Ver a regra do Fumble

Segundo o artigo 5, da secção 7 da regra 8 (”Fourth-Down Fumble”), se um atacante fizer um Fumble num fourth down, apenas o atacante que fez o Fumble poderá avançar com a bola, caso a recupere. Na eventualidade de qualquer outro atacante recuperar a bola, a jogada é declarada terminada no local do Fumble ou no local onde a bola foi recuperada (caso este local seja atrás do local do Fumble), sendo que a posse de bola passa para a equipa defensiva. Não existe qualquer restrição para avanço da bola recuperada por parte dos jogadores defensivos.

A regra parece discriminação contra o ataque, não? Na realidade é, e há uma história por detrás desta regra, e da sua regra irmã (“Fumble after Two-Minute Warning”).

San Diego, 10 de Setembro de 1978, os San Diego Chargers recebem os temidos Oakland Raiders de John Madden (sim, ESSE Madden … após ser treinador dos Raiders durante 10 temporadas, e para além de dar nome ao conhecido jogo, ainda foi comentador ao longo de 30 temporadas nas 4 estações televisivas que transmitiram jogos da NFL), que vinham de 5 presenças consecutivas na final da Conferência Americana. Após um jogo renhido, os Raiders deparam-se com uma posse de bola na linha das 14 jardas dos Chargers, e 10 segundos no relógio no último período. A perderem por 6 pontos (20-14), apenas um Touchdown lhes interessa. Ken “The Snake” Stabler (#12 OAK), recebe o snap, recua para efectuar um passe, e, sob pressão, perde a bola … sendo que esta salta “caprichosamente” para a frente, na direcção da end-zone dos Chargers. Gera-se a confusão e o primeiro jogador a tocar na bola é o RB Pete Banaszak (#40 OAK), que não consegue mantê-la na sua posse, mas que lhe dá uma ajuda na sua imparável e triunfante caminhada em direcção à end-zone dos Chargers. O próximo jogador a tocar na bola é o TE Dave Casper (#87 OAK), que tenta “driblar” a bola durante vários metros, até finalmente cair sobre a mesma na end-zone dos Chargers. O estádio fica incrédulo, e até Madden entra em campo para perceber se é mesmo Touchdown, sendo que os árbitros o confirmam. O Extra-Point é convertido com sucesso, 20-21, ganham os Raiders. Nem sempre os Raiders tiveram azar nas decisões…

Melhor do que palavras, as imagens:

A controvérsia é enorme, com os árbitros a considerarem que Stabler faz Fumble e também que os diversos toques que avançaram a bola foram fortuitos (caso contrário, seria falta). Os jogadores envolvidos, após o final do jogo, e durante 30 anos confirmaram esta versão. Ainda hoje esta jogada é considerada como uma das jogadas mais controversas da NFL

Bill King, announcer da KGO-AM, descreveu a jogada da seguinte forma: “The ball, flipped forward, is loose! A wild scramble, two seconds on the clock…Casper grabbing the ball…it is ruled a fumble…Casper has recovered in the end zone! The Oakland Raiders have scored on the most zany, unbelievable, absolutely impossible dream of a play! Madden is on the field. He wants to know if it's real. They said “yes, get your big butt out of here”! He does! There's nothing real in the world anymore! The Raiders have won the football game! The Chargers… they don't believe it. Fifty-two thousand people minus a few lonely Raider fans are stunned. This one will be relived forever!”

E vocês que pensam? Intervenção divina?

 

 

About The Author

Hugo Taxa

Em meados da década de 80, e após ver vários episódios do "Eight is enough" na televisão (onde o filho mais novo aparecia no genérico com um capacete dos 49ers) tornei-me fã dos 49ers. A partir de 1990 tive a sorte de ter um vizinho de origem americana que recebia a Sports Illustrated, e que me dava as revistas após acabar de ler as mesmas. Segui assim as temporadas de 90, 91 e 92 pelas revistas (com de cerca de 3 meses, entre o jogo acontecer e eu ler a crónica sobre o mesmo na revista) até ver o meu primeiro Super Bowl na SIC em 1993, em directo. Tinha um teste na terça-feira seguinte, mas a antecipação era tanta que não me consegui concentrar no estudo durante o fim--de-semana ... e chumbei - tive que ir a exame!

Em 1996 acedi ao meu primeiro site na internet - espn.com. O objectivo era apenas seguir a NFL; e com o aparecimento da DSF no alinhamento da TV Cabo finalmente comecei a ver a Regular Season na TV - com comentários em Alemão!
20 anos depois me ter estreado a ver Super Bowls, acho que me posso gabar de apenas ter perdido o de 2000, e de ter visto em directo alguns dos momentos emblemáticos da NFL: Dan Marino a obter o recorde de jardas; Barry Sanders e Terrell Davis a correrem para 2000 jardas; Emmitt Smith a quebrar o recorde de Walter Payton; John Elway a "fazer de helicóptero" para ganhar o seu primeiro Super Bowl; e o melhor jogador de sempre - Jerry Rice - a dinamitar defesas adversárias.
A NFL pauta-se pelo equilíbrio, o que se traduz em todas as equipas terem os seus momentos altos e baixos. No entanto, mesmo em épocas difíceis como 2003 ou 2004 a fé nunca esmorece - 49ers Faithful!