À Procura do Franchise Quarterback
Faltam 3 fins-de-semana. Apenas isso. E já contando com o divisional round que, no final, colocará mais 4 equipas a carpir mágoas e a assistir ao resto da competição pela TV. Pese o aumento de interesse, com as partidas decisivas que se avizinham, fica aquela sensação de latente frustração, com o aproximar do fim da festa. É algo incontornável na história da competição. Regular season, playoffs, Super Bowl e…acabou.
Este acabou não é para ser levado literalmente à letra. A NFL, enquanto competição, não se esgota nos jogos. É um processo contínuo, quiçá menos interessante para o comum adepto, mas sempre com um calendário recheado. A seguir ao Super Bowl, começa a dissecação de prospects, até ao draft. Mas antes dessa data mágica, transformada num espectáculo hollywoodesco, temos a free agency. E muita equipa à “pesca” do salvador. O salvador é, entenda-se, o quarterback. É nessa figura que se vencem jogos, se conquistam divisões e se criam dinastias. É, na ausência de um nome forte e consensual na posição, que os sonhos são esmagados, a esperança aniquilada e boas equipas sucumbem. A actual classificação da prova mostra que existem várias franquias que vão estar no mercado, à procura do franchise quarterback. Mas não se deixem enganar por desespero na coluna das derrotas. Mesmo as outras, as que aparentemente estão precavidas na posição, mantêm em aberto todas as possibilidades. Muitas vezes é aí, nessa capacidade de prevenção, que reside a fórmula do sucesso. Brett Favre ainda vivia no topo das suas habilidades quando os Packers resolveram investir uma pick de round 1 em Aaron Rodgers. O processo de transição foi efectuado, neste caso, de forma lenta, permitindo um crescimento sustentado ao novato vindo do college, que mereceu três anos sabáticos a estudar o ataque e a vivenciar, em primeira mão, a forma como um dos mais geniais atletas de sempre conduzia a equipa. Nem todas as equipas, no entanto, podem dar-se ao luxo de fazer isto, mas quem tem tempo e qualidade na posição já sondou – ou sondará nos tempos mais próximos – o mercado. Quem nos diz a nós que Jimmy Garoppolo não será o Aaron Rodgers de Tom Brady? Para já, os Patriots tiveram uma postura sensata, sabendo que o futuro Hall of Famer que lidera o ataque não durará para sempre (mais um? Dois? Três anos, máximo?), incorporando já um rookie que, a salvo da pressão que a titularidade trás, terá tempo de maturar, sob a batuta sapiente de Bill Bellichick. E as outras equipas, o que farão?
Das 32 existentes, mais de metade está, presumivelmente, satisfeita com o que tem. Mas o que existe, em alguns casos, pode sofrer um upgrade. O que farão os Bengals, por exemplo, se a equipa falhar o apuramento ou, se atingir os playoffs, sucumbir novamente na 1ª ronda? Não vos parece que Andy Dalton é apenas tolerado, por não existir alternativa credível? Não é um dogma, mas a descoberta e desenvolvimento de um franchise quarterback é feita via draft. É de lá que vem o talento, muitas vezes em estado bruto, para ser trabalhado no mundo profissional. Salvo raras excepções – casos de Favre para os Vikings e mais recentemente Peyton Manning para os Broncos – a free agency não é a resposta às preces de quem suspira por um atleta de eleição. Vejamos o que nos dão os dois mercados.
Draft 2015
Marcus Mariota
À cabeça, aparece Marcus Mariota, o playmaker de Oregon, um miúdo totalmente íntegro fora dos campos e com uma qualidade assinalável, dentro dele. Em 3 anos a jogar na PAC-12, defrontando ciclicamente adversários sólidos, Mariota apenas lançou 12 intercepções. Em 3 anos. É um número que nos leva a digerir. Lentamente. QB extremamente móvel, funcionando bem fora do pocket (2136 jardas corridas e 28 touchdowns no solo, nesse arco temporal), é igualmente funcional com o braço, que mostra precisão (66% de passes certeiros), denotando ainda um enorme cuidado com a bola, dissecando defesas e evitando custosos turnovers. Pode ser um quarterback do nível de Russell Wilson, que usa o scramble meramente para ganhar posição vantajosa, e não como regular refúgio para finalizar as jogadas. Interessados nele? Uma série de franquias, sedentas por talento. Buccaneers, Jets, Titans aparecem à cabeça, claramente deficitários na posição (se bem que os Titans, tendo Zach Mettenberger, possam optar por outra solução, preferindo um veterano para liderar o ataque, enquanto o ex-jogador de LSU desenvolve), mas nunca se sabe se um contendor inesperado não se enamora das qualidades do jogador (por exemplo, os Eagles, orientados por Chip Kelly, que treinou Mariota em Oregon, ou os Saints, que parecem dispostos a procurar desde já o sucessor de Brees).
Jameis Winston
O ainda jogador de Florida State pode aparecer no draft com dois anéis de campeão universitário, se os Seminoles conseguirem esse feito outra vez. Winston é totalmente diferente de Mariota. Em tudo. Não sendo um clássico pocket passer, apresenta mobilidade fora dele, mas é um jogador mais talhado à semelhando de Andrew Luck. Sereno, com um braço poderoso, mostrou este ano duas facetas que ainda não tinham aparecido, após o ano de estreia: um aumento dos turnovers, com as intercepções a poderem ser explicadas pela necessidade de levar a equipa às costas, face à diminuição de talento no roster dos Seminoles, e a resiliência mental. Esta última é um case study. Problemático fora de campo, onde colecciona acusações graves (desde roubo em lojas até casos de assédio sexual), parece imune a essa pressão mediática quando defronta adversários, conseguindo liderar várias vitórias em condições extremas (como lançar 4 INTs contra os Gators e, mesmo assim, ter o discernimento de liderar o comeback). Winston não é um jogador maduro, mas a sua competência, dentro de campo, dá garantias que no ambiente certo, e com o devido acompanhamento, possa fazer furor na NFL.
Connor Cook
O quarterback de Michigan State parece ainda indeciso no caminho a adoptar, tendo deixado a porta aberta para o regresso à universidade, em 2015. Para vários scouts, é o quarterback mais NFL ready que pode estar presente no draft. Tem o tamanho e a força de braço ideais para um prospect na posição. Apresenta carências normais nas decisões que toma, ainda algo erráticas, mas nada que não possa ser limado, com a coordenação certa. Cook foi excelente no comeback contra Baylor, na Bowl disputada, provando que tem ainda algo mais em que se pode confiar: resiliência mental, aquela do nunca quebrar animicamente, apesar de acumular erros. Cook foi capaz de ultrapassar os que cometeu, na 1ª metade desse encontro, para se assumir como a face da revolta, da recuperação, num esforço digno de registo. Aparentemente, o triunfo suado, mas roçando o épico, agitou emocionalmente o jogador, que terá dado conta ao seu treinador que regressará à universidade. A ver vamos…
Os Restantes
Bryce Petty (Baylor), Brett Hundley (UCLA), Everett Golson (Notre Dame) e Cody Kessler (USC). São estes os nomes restantes, mais consensuais, numa classe de quarterbacks pouco inspirada, quando comparada com a de anos anteriores. Hundley tem visto o seu stock a decrescer, parecendo agora um clone de EJ Manuel. Antes apontado como uma pick top-20, irá resvalar para os rounds seguintes. Pode ser uma aposta de médio-longo prazo, mas longe de poder ser a resposta imediata para uma equipa carente. Petty, o sucessor de RG3 em Baylor apresenta uma mão cheia de skills interessantes, mas algumas falhas evidentes no seu jogo. Incorporado na máquina de ataque que Art Bryles montou em Baylor, é apontado como um jogador com enorme potencial, mas carente de desenvolvimento apropriado. Parece a resposta perfeita para uma equipa com um veterano tarimbado na posição (por exemplo, os Chiefs ou os Saints), dando tempo (leia-se um ou dois anos) para um crescimento sustentado. Golson, se ajuizado, regressará a Notre Dame mais um ano, para evoluir de forma consistente. É um jogador com tanto de excitante como de frustrante. Actualmente, parece um turnover-prone, e a sua saída prematura para a NFL poderia levar a um fim precoce da carreira. Cody Kessler não parece fadado ao sucesso mas, numa classe de quarterbacks fraca, poderá atrair algum interesse, sobretudo por trazer o logo de USC. Parece mais um projecto de longo prazo, a quem estará destinada uma carreira de backup, do que outra coisa qualquer.
Free Agency/Trade Market
Antes do draft, o mercado de jogadores livres. E este poderá ser bem interessante, dependendo sempre dos desenvolvimentos na ressaca dos playoffs.
Robert Griffin III
Como terminará a saga dos Redskins, com o actual braço-de-ferro entre Jay Gruden e Robert Griffin III? O ainda quarterback dos Skins tem apenas mais um ano de contrato com a franquia, com estes a poderem accionar o 5º ano. Mas farão esse movimento, depois de dois anos decepcionantes e repletos de problemas físicos da sua estrela? Se não accionarem o 5º ano, RG3 será um jogador livre de contrato em 2016. Sabendo disso, a equipa de Washington pode sempre tentar reaver alguma coisa do enorme investimento feito nele, optando por uma trade. Ou, noutro cenário hipotético, até pode rescindir com o jogador, deixando-o já livre em 2015. E, independentemente das mazelas físicas e de algumas críticas quanto à sua ética de trabalho (sobretudo a aprendizagem de dissecação das defesas), ele atrairia sempre atenção na free agency. Não foi há muito tempo que empolgou meio mundo, na sua estreia como rookie. Outro nome causticado por críticas tem sido Colin Kaepernick, parecendo que o estado de graça do promissor jogador se esvai rapidamente. Se Jim Harbaugh sair de S.Francisco, o que acontecerá a Kaep? O novo treinador irá comprometer-se com a sua titularidade? O contrato do jogador prevê a possibilidade de ser dispensado, desde que a opção parta do clube até 1 de Abril. Mas, mesmo que os 49ers optem por algo tão radical, terão sempre que desembolsar 10 milhões em bónus devidos (mas, na dispensa, pouparão 5,5 milhões do contrato futuro). Será uma decisão meramente forjada no plano financeiro.
Jay Cutler
Por falar em jogadores sob contrato mas que parecem soterrados por censuras, Jay Cutler está no epicentro de nova temporada frustrante dos Bears. Estes fizeram um investimento sólido no quarterback, em 2014 (54 milhões), mas o jogo dele não correspondeu, dentro de campo. Irá haver alterações em Chicago? Neste caso específico, duvido, a não ser que consigam um parceiro para uma trade. O comprometimento financeiro com o quarterback foi elevado e dispensá-lo envolverá sempre a dispensa duma avultada soma (cerca de 19,5 milhões).
Quem poderá igualmente encontrar-se numa das pontas duma troca é Nick Foles, que passou de miúdo prodígio a suplente de Mark Sanchez, em virtude duma lesão. Mas já antes dela, os números de Foles eram medianos, em 2014 (13 TD e 10 INT, contra os 27 TD e apenas 2 INT do ano passado). O sistema que Chip Kelly implementou em Philadelphia consegue ser gerido por um quarterback meramente funcional, como comprova o facto de, mesmo com Sanchez, até aqui tido como medíocre, a equipa continuar a ser fortemente competitiva. Se existir uma equipa faminta por um QB, que ache que Foles pode ser a resposta, acredito que os Eagles estarão dispostos a negocia-lo pelo preço certo. A dispensa do jogador, no entanto, não faz grande sentido, dado que o contrato de Foles é cap-friendly e apenas receberá cerca de 818 mil dólares em 2015.
Andy Dalton
Os Bengals cairam nos playoffs. Outra vez. A 4ª consecutiva, na era Dalton. A postseason tem sido a kryptonite do quarterback, que poderá estar de saída da franquia. É uma possibilidade que faz algum sentido, face à irregularidade exibicional do jogador. A sua exibição caseira, contra os Browns, onde lançou 3 INTs, não foi uma excepção à regra. Pressente-se que Dalton é um QB meramente talhado para uma regular season, com claras limitações que o impedem – e à equipa – de ter sucesso quando ele mais conta. Na parte a eliminar da competição. Teoricamente, os Bengals não ganhariam nada com a sua troca, porque isso significaria um reset no ataque, um voltar à casa de partida na procura duma solução. Prevejo, isso sim, que os Bengals optem por uma pick no draft, que procurarão desenvolver rapidamente, servindo como apólice de seguro para, a médio prazo, substituir Dalton.
Deixando de lado o cenário hipotético, é quase impossível encontrar na free agency um starting quarterback. Apenas duas das 32 equipas da NFL têm QBs titulares adquiridos dessa forma. Os Bears, que aproveitaram o choque de personalidades entre Josh McDaniels e Cutler em Denver para o resgataram e os Chiefs, quando os 49ers, contentes com o que tinham em Kaepernick, se desfizeram de Alex Smith.
Os Restantes
A free agency receberá nomes que despertarão alguma atenção, mas nada que possa mudar o statuos quo vigente nas divisões. Em 2015 teremos Michael Vick, Jake Locker, Mark Sanchez, Christian Ponder, Blaine Gabbet, Shaun Hill, Jason Campbell, Brian Hoyer, Matt Flynn, Matt Moore, Tarvaris Jackson, Ryan Mallett, Jimmy Clausen e Colt McCoy a atingirem o mercado. Muitos deles mudarão de camisola, dotando o roster de alternativas para, em caso de lesão do titular, poderem dar o contributo sem que a equipa fique orfã de liderança. Mas apostariam em algum deles para titular da vossa franquia, se decisão dependesse de vocês?