O Que Ainda Sobra na Free Agency
Agora que já terminou o frenesim dos primeiros dias de free agency, é tempo de ver o que restou, quase como se isto fosse uma corrida aos saldos e nós, atrasados, chegássemos à loja uma semana depois. As roupas de marca, as últimas novidades da moda, já há muito que desapareceram. Mas, será que no meio da desarrumação, não se encontra uma peça em conta, utilitária, esquecida na azáfama inicial?
Há equipas que, por filosofia própria, resistem estoicamente aos caóticos primeiros dias, deixando que os mais necessitados gastem em abundância, só depois entrando em acção. Os Patriots são um bom exemplo disso. Sem grandes parangonas, Bill Bellichick tece a sua teia, qual aranha veterana, engendrando planos para fortalecer ainda mais o potentado que dirige. Nos dois últimos dias sacou de dois movimentos surpreendentes, trocando um dos seus studs na defesa, Chandler Jones, por um reforço jovem para a necessitada linha ofensiva, Jonathan Cooper, com um bónus de uma pick para o draft. Não contente com isso, o head coach cirurgicamente reforçou o seu ataque, trazendo o underrated tight end Martellus Bennett para fazer companhia a Gronkowski e perturbar, ainda mais, os coordenadores defensivos contrários. É isto que se pode esperar dos próximos dias da free agency, no período pré-draft. Negócios de ocasião, tendentes a retocar rosters, mas sem o big money envolvido, como se viu nos primeiros dias de mercado.
Todas aquelas franquias que ainda estejam a olhar para o que sobra, aqui fica uma mão cheia de veteranos com provas dadas, capazes ainda de ajudar/reforçar pretensões, em qualquer lado.
1. Russell Okung | Left Tackle
Okung não teve um ano de 2015 positivo, apanhado no caos em que se transformou a OL dos Seahawks, mas era expectável que o jogador já tivesse novo clube, numa liga desesperada por offensive linemen de qualidade. Okung é um desses exemplos, um jogador poderoso fisicamente, raçudo, capaz de ser um pass protector competente. O problema foi a lesão no ombro, que o levou a cirurgia. Isso e o facto, quase único na liga, de não ter agente, representando-se a si mesmo, o que pode justificar a sua permanência no limbo dos desempregados. Mas não se enganem. Okung tem valor. E muito. E quando se vê que, na maioria dos mocks para o próximo draft, Laremy Tunsil ou Ronnie Stanley aparecem como potenciais escolhas no top-10, fica a pergunta: em quem é que confiariam mais? Num jogador com provas dadas, ou num rookie lançado às feras, numa competição brutal e muito mais rápida e diferente do que o college?
Mesmo com o mercado a encolher, diariamente (Kelvin Beechum nos Jaguars e Ryan Harris nos Steelers), Okung merece uma nova oportunidade, num daqueles contratos de um ano, ao estilo do de Evan Mathis nos Broncos, em 2015.
2. Arian Foster | Running Back
É impressionante a forma como a realidade se altera, na NFL. Arian Foster passou de running back de elite, ao nível de Jamaal Charles ou Adrian Peterson, a desempregado sem atrair interesse de 31 franquias. Os Texans tomaram uma decisão racional, nesta offseason, optando por seguir um caminho diferente e libertando-se do contrato da sua antiga estrela. As lesões recentes de Foster (incluindo o rompimento do tendão de Aquiles em Outubro), a sua entrada na casa dos 30 anos, tida universalmente como a altura em que acontece o declínio exibicional nos running backs, justificam a ausência de oportunidades. Mas Foster, se recuperado fisicamente das mazelas, tem algo que muitos outros na posição não têm: talento e versatilidade. Igualmente marcante fora do backfield, onde as suas skills o transformam num hábil receiver, tem 5 temporadas, no últimos 8 anos, com mais de 1200 jardas corridas, provando que a durabilidade ainda não é uma preocupação a ter em conta. Foster não quererá um contrato de RB nº 1, nem isso é aconselhável, mas incluído numa depth chart com qualidade, pode ser um contribuidor sólido para qualquer equipa, marcando a diferença no ataque.
3. Chris Long | Defensive End
Também aqui se nota a voracidade da NFL. Quando escrevi estas linhas, Long permanecia à espera de um telefonema, um defensive end com pedigree mas em declínio exibicional, que levou os Rams a cortar os laços consigo. Long, filho da lenda Howie Long, Hall of Famer, cimentou desde a sua entrada na competição uma imagem de ferocidade, tornando-se um pass rusher de qualidades apreciáveis e dotando os Rams de armas que tornaram a sua defesa uma das mais temidas da prova. Os últimos 2 anos, no entanto, foram um calvário de lesões, levando-o a perder 10 jogos em 2014 e mais uma série longa deles em 2015, por problemas no joelho. O seu currículo, no entanto, deixa água na boca: 55 sacks e quase 200 tackles, 8 forced fumbles e 5 fumbles recuperados. Consistente, quando sadio, foi apanhado nas teias tecidas por Bellichick. Ao enviar Chandler Jones para Arizona, BB fez o papel de um bom jogador de xadrez, sabendo de cor e salteado os movimentos futuros. A contratação de Long insere-se numa óptica do “joga e mostra o que podes fazer”, envolvido na rotatividade do front 7. O movimento pode ser uma win-win situation, como no caso de Andre Carter em 2011, veterano a quem Bill Bellichick extraiu um excelente rendimento.
4. Reggie Nelson | Safety
Nelson tem 32 anos, o que até pode afastar alguns pretendentes, mas a sua folha de serviços não apresenta qualquer mácula. Excelente safety, vem de um 2015 onde mostrou enorme qualidade, com 8 INTs e 14 passes defendidos. Escolha de 1º round em 2007, escolhido pêlos Jaguars, já é experiente na free agency, tendo saído de Jacksonville no final do seu contrato inicial, rumo a Cincinatti. Passada a fase de loucura no mercado, é de estranhar que ele ainda esteja por ali, à espera, o que só pode ser explicado por exigências salariais difíceis de atender ou o medo de declínio que a idade provoca, nos interessados. Qualquer que seja a explicação, Nelson é um jogador que poderá dar um boost apreciável a muitas secundárias, desde que pelo preço certo.
5. Ryan Fitzpatrick | Quarterback
Se Nelson é uma situação curiosa, o que dizer de Ryan Fitzpatrick, que terminou 2015 com máximos de carreira nas jardas passadas (3905) e nos TDs 31)? No entanto, pese isso, o quarterback barbudo permanece ainda num braço-de-ferro com os Jets, equipa onde esteve under center em 2015. Existe, claro, uma explicação. O cap space dos verdes de Nova Iorque não dá para extravagâncias, e Fitzpatrick é apenas um dano colateral dessa realidade. Num ano em que que várias peças importantes podiam atingir o mercado de jogadores livres, os Jets tiveram que resolver a situação de Muhammad Wilkerson (15 milhões/ano), prioritária, procurando fechar com contratos de longa duração o seu núcleo duro, como Revis, que ganhará 17 milhões. O quarterback de 33 anos, que terminou 2015 com um rating apreciável de 88, quer um contrato avultado, em valores entre os 12/15 milhões de média anual. À partida, numa liga esfaimada por jogadores para a posição, capaz de pagar 18 milhões/ano a Brock Osweiler, um miúdo com apenas 7 titularidades, a pretensão de Fitzpatrick não parece descabida. Mas depois começa-se a escavar nas estatísticas e a realidade não é toda cor-de-rosa, existindo motivos para os Jets hesitarem na hora de oferecer novo contrato. Fitz completou apenas 59% dos passes, numa média de fazer inveja a Tim Tebow, por exemplo, mas longe do normal nestes palcos profissionais. Para além disso as suas 15 INTs continuam a demonstrar a faceta de mistake prone, num quarterback que é serviçal, mas longe de poder ser considerado um franchise QB. Os Jets, pretendendo mostrar uma posição de força negocial, mantiveram a oferta inicial nos mesmos termos: 7 milhões/ano.
Neste duelo particular, a vantagem tem pendido para os Jets, dado que Fitz ainda não recebeu qualquer oferta de outras franquias, mas este proveito pode ser revertido, a qualquer momento, dado que a equipa também não pode perder o jogador, sem ter uma opção válida para o substituir. Julgo que, mais cedo ou mais tarde, se verá Fitzpatrick novamente nos comandos dos Jets, num contrato curto, que permita à equipa sopesar outras opções, num futuro próximo.