Oito Rookies Desapontantes de 2013

Paulo Pereira 3 de Janeiro de 2014 Jogadores, NFL Comments
Rookies 2013

Oito Rookies Desapontantes de 2013

Por altura do draft todos os sonhos são permitidos. Os adeptos vêem, naquele momento, a oportunidade da franquia por quem torcem dar um significativo salto em frente. Analisados os relatórios de scouts, experts e gurus, num infindável lote de informação, considera-se aquele o momento definitivo, o ponto zero do surgimento da next big thing no mundo do futebol americano. Os responsáveis pelas escolhas serão sempre mais comedidos. Sabem que o ritual de passagem do College para o competitivo universo profissional tem as suas dores de crescimento. Cada escolha implica uma quantidade astronómica de estudo, comunicação e análise. O jogador é dissecado até à sua essência, vistoriado de todos os ângulos, comparado com os seus pares, como se colocado numa redoma e analisado minuciosamente através duma lupa. Mas o jogo mudou. É cada vez mais voraz. Os resultados são exigidos de forma mais célere. Pelo dono da equipa. Pelos fãs. Por uma imprensa histérica, sempre ávida de histórias sumarentas. A pressão, em resultado destes factores agregados, aumentou exponencialmente. O tempo, a energia, o dinheiro investido, tudo colocado numa centrifugadora que exige uma maturidade e crescimento em fast-forward constante. É interessante analisar agora quem, no último draft, mais defraudou as expectativas. Todos os jogadores abaixo analisados foram escolhidos nas primeiras 45 picks. Quem é que não viveu para o hype gerado?

8. Kevin Minter, LB, Cardinals (pick 45)

Minter baqueou cedo, não conseguindo capitalizar uma série de factores que pareciam acontecer propositadamente para o ascender à ribalta. Com uma dose pesada de trabalho na preseason, Minter tinha a perfeita noção que a ausência de Daryl Washington, por castigo, lhe abria as portas da titularidade, de par em par. No entanto, desde cedo, Minter revelou alguma fragilidade no aspecto físico, incapaz de permanecer saudável e, perdendo a oportunidade de impressionar, no seu ano de estreia. No pecúlio um mísero snap jogado na NFL. No entanto, desde que recuperado, Minter pode fazer esquecer este início de pesadelo. Numa equipa jovem e aguerrida, que deu o ansiado salto qualitativo, é com redobrado interesse que se seguirá a carreira do linebacker.
Neste ponto podia-se igualmente colocar outro rookie dos Cardinals, escolhido com a pick 7. Jonathan Cooper, guard, foi uma aposta de relevo para solidificar a linha ofensiva da franquia de Arizona, mas uma grave lesão afastou-o desde a preseason dos olhares públicos.

7. Darius Slay, CB, Lions (pick 36)

Os Lions usaram o 2º round do draft para reforçarem um dos sectores mais depauperados da defesa: a secundária. O tiro saiu-lhes pela culatra. Slay foi várias vezes sentado no banco, ao longo da temporada, comprovando o descontentamento da equipa técnica em relação às suas performances. O acumular de erros desastrosos levou à perda da posição, sendo preterido em favor de Rashean Mathis. Na lista do exigente Pro Football Focus, Slay ocupa a mediocre 93ª posição, nos mais efectivos corners da competição. Elucidativo.

6. Justin Hunter, WR, Titans (pick 34)

Os Titans fizeram um trade up no draft, para ficarem com os serviços do explosive Justin Hunter, vindo de Tennesee. Tudo começou a correr mal, logo de início, com a questionável work ethic de Hunter a colidir com Shawn Jefferson, o treinador de receivers da franquia. Ao longo da época, com pouco espaço na equipa titular, Hunter foi sendo notícia, a espaços, pelos piores motivos, como na Week 15, em que foi afastado por violar regras da equipa (não especificadas). Nos primeiros 10 jogos, o jogador teve apenas uma recepção, no máximo, em cada um deles. Deu um ar de sua graça no arco temporal entre as semanas 11 e 13, conseguindo 10 recepções e 2 touchdowns, um deles nos últimos segundos em San Diego, que valeu a vitória à equipa. E é isso que ainda mantém a esperança em Hunter, que aparenta ter o potencial para explodir, em 2014.

5. Bjoern Werner, DE/OLB, Colts (pick 24)

Prospect intrigante, desde início, foi acompanhado mediaticamente ao longo da offseason, numa daquelas histórias exploradas para comprovar que qualquer um, mesmo não nascido em solo americano, pode jogar futebol ao mais alto nível. O início na NFL foi difícil, abrandado por lesões. Quando elas o deixaram em paz e teve oportunidade de mostrar o seu valor, dentro de campo, as coisas não correram de feição, sem nada de assinalável para mostrar. Os Colts são, no entanto, a equipa ideal para alavancar o jogo de Werner. Ryan Grigson é um dos general managers que melhor pensa fora da box, procurando talento em sítios insuspeitos. Poderá 2014 recompensar a confiança que a franquia depositou em Werner?

4. EJ Manuel, QB, Bills (pick 16)

Foi uma das grandes surpresas do draft de 2013. EJ Manuel era visto como um produto inacabado, cru ainda para a alta competição e não aparecendo em nenhum mock saindo no primeiro round. Os Bills, no entanto, viram algo nele que os fez perder de amores pelo atleta vindo de Florida State. A temporada de Manuel foi feita de altos e baixos, com estes em maior número. Entre lesões e jogo inconsistente, os Bills viveram uma época instável na posição, obrigados a socorrerem-se de Jeff Tuel e de Thad Lewis. EJ Manuel viverá sempre sob o estigma de ter sido o primeiro QB eleito, em 2013, vendo outros atletas (por exemplo, Mike Glennon e Matt McGloin), escolhidos em rounds posteriores, a serem mais efectivos dentro de campo. Existe óbvio espaço para Manuel melhorar, sobretudo na precisão de lançamento e na presença no pocket, e os Bills terão que ter a paciência necessária para o deixar ganhar maturidade. O problema é que isso demora tempo. E isso, na NFL, é um bem cada vez mais precioso.

3. Dee Milliner, CB, Jets (pick 9)

O plano, como quase todos, parecia perfeito. No papel. Teoricamente os Jets pretendiam suprir a saída de Darrelle Revis, dando a posição de CB1 na equipa a Antoine Cromatie e colocando Miliner no posto anteriormente pertença de Cromartie. Miliner, o primeiro cornerback eleito no draft, viveu sempre atormentado, produzindo péssimas exibições, umas atrás das outras, alvo fácil para os quarterbacks contrários abusarem. Rex Ryan resguardou o quanto pode o jovem jogador, mantendo-o na equipa titular e elogiando-o amiúde na imprensa. Por fim, mesmo pela defesa da reputação do jogador, foi várias vezes retirado do jogo, evitando males maiores. Curiosamente, Miliner guardou o melhor do seu reportório para as duas jornadas finais, conseguindo em ambas interceptar passes, as suas primeiras na NFL. Mas mesmo isso não invalida que os mínimos de qualidade não tenham sido atingidos.

2. Tavon Austin, WR, Rams (pick 8)

Vindo do explosivo, empolgante e, por vezes, mortífero ataque de West Virginia (com Geno Smith aos comandos da equipa), Tavon Austin era um dos atletas por quem, sofregamente, se aguardava na NFL. A sua velocidade, o poder de explosão e as habilidades nos retornos de kicks e punts faziam salivar os fãs. Podemos amaldiçoar o play-calling dos Rams ou, em última instância, o período alargado de adaptação de Austin ao mundo profissional, mas é um facto que este primeiro ano do jogador soube a pouco. Recentemente, depois do meio da temporada, conseguimos perceber o porquê dos Rams se terem enamorado do atleta. Com um jogo acima das 100 jardas e 4 touchdowns no pecúlio, sente-se que apenas se arranhou a superfície do talento do jogador. A franquia de Saint Louis tem tido dificuldade em encontrar formas criativas de colocar Austin no campo. Uma espécie de Percy Harvin mais novo (e sem tiques de vedeta), Austin pode ser um faz-tudo no ataque, como comprovam as recepções, o TD de 98 jardas num punt return ou o uso esporádico no backfield. Soube a pouco, mas 2014 pode mostrar muito mais.

1. Eric Fisher, OT, Chiefs (pick 1)

No período antecedente ao draft de 2013 debatia-se os méritos do potencial nº 1, com as opiniões divergentes entre Luke Joeckel e Eric Fischer, ambos offensive tackles. Os Chiefs, com a primeira escolha, optaram por Fischer, pese este vir de uma universidade mais pequena e com um calendário menos exigente (o último ano de Joeckel, jogador de Texas A&M, foi passado na SEC). Não é possível, passados agora 8 meses, ter uma comparação fiável entre ambos. Joeckel teve um início difícil nos Jaguars e lesionou-se em Outubro, perdendo o resto da época. Talvez isso sirva de paliativo aos Chiefs, que não obtiveram o retorno esperado da sua opção. Fischer, que foi colocado como right tackle, revelou sempre enorme dificuldade em emparelhar com os edge-rushers adversários, cedendo sacks e pressões de forma regular. Sem surpresa, Fischer foi o elemento da linha dos Chiefs mais permissivo, lançando dúvidas quanto à estratégia inicial de Kansas, que o queria mudar para left tackle, a sua posição natural, em 2014. Depois do que se viu, atrever-se-ão a fazer essa mudança?

Artigo resgatado da excelente rubrica Eight in the Box, de Chris Burke, para a Sports Illustrated.

About The Author

Paulo Pereira

O meu epitáfio, um dia mais tarde, poderá dizer: “aqui jaz Paulo Pereira, junkie em futebol americano”. A realidade é mesmo essa. Sou viciado. Renascido em 2008, quando por mero acaso apanhei o Super Bowl dos Steelers/Cardinals, fiz um reset em [quase] todos os meus dogmas. Aquele desporto estranho, jogado de capacete, entranhou-se no meu ADN, assumindo-se como parte integrante da minha personalidade. Adepto dos Vikings por gostar, simplesmente, de jogadores que desafiam os limites. Brett Favre entra nessa categoria: A de MITO.