10 Histórias Para Acompanhar nos Training Camps

Paulo Pereira 21 de Julho de 2014 Análises, NFL Comments
Training Camps

10 Histórias Para Acompanhar nos Training Camps

Training camps. Sentem o frémito de emoção, ao entoarem estas duas palavras? Parecemos adictos, viciados numa substância que nos provoca uma miríade de emoções. A NFL. E, depois dum enorme período de jejum, a mera visão dos nossos atletas predilectos, vestidos de pads, é capaz de nos proporcionar o despertar de sentimentos adormecidos. A competição está de volta. E os próximos meses serão insanos. Mas, até lá, os rosters terão que ser moldados. Nas próximas duas semanas, todas as 32 equipas iniciarão oficialmente a pré-temporada. Em cada um desses campos, dramas vão desenrolar-se. Pese a qualidade de muitos, a competição será canibalesca, fazendo vítimas, adensando injustiças, limitando sonhos. Cada plantel irá diminuir, numa cura de emagrecimento, até ao limite de 53 homens. E esses irão transportar os desejos, anseios e fé duma multidão de fãs, sempre crentes nas suas cores e emblemas.

Os nossos amigos da Sports Illustrated [Chris Burke e Don Banks] resolveram criar 10 histórias que, pela importância, merecem ser acompanhadas, neste período limitado de tempo. Todas elas encerram a dose correcta de drama, talento, superação, tão ao jeito americano da ascensão hierárquica pela demonstração de qualidade.

1. Conseguirão os Broncos Superar a Traumática Experiência do Super Bowl Passado, Recuperar Animicamente e Atingir Novamente o Mesmo Patamar na Competição, Algo que Já Não Acontece Desde os Tempos de Don Shula e os Seus Dolphins, em 1971 e 1972?

Não é uma pergunta fácil de responder. Os Broncos foram a melhor equipa da AFC, demonstrando-o semana após semana, com um ataque demolidor, superando recordes atrás de recordes. Mas, numa cena demasiado familiar para Peyton Manning, a uma época regular de sonho seguiu-se um claudicar nos playoffs. Os Broncos, salvo uma catástrofe de proporções épicas, estarão novamente na fase a eliminar da prova, ancorados num roster repleto de nomes conceituados e sem grandes carências visíveis. Transportam com eles aquela ansiedade quase colada a desespero. A janela de oportunidade, para conquistar o ceptro, diminui a cada ano, com a idade a começar a pesar no seu quarterback famoso. 2014 poderá ser, efectivamente, a derradeira oportunidade para que John Elway e sus muchachos conquistem a glória. Com Von Miller a regressar de lesão, e com os ingressos sonantes de Emmanuel Sandres, DeMarcus Ware, Aqib Talib e TJ Ward, a armada de Denver parece pronta para qualquer adversário. Irão eles a novo Super Bowl? Nesta fase prematura da temporada, sou bem capaz de apostar nisso com todas as fichas disponíveis.

2. Brian Hoyer ou Johnny “Football” Manziel? Quem Sairá Vencedor do Training Camp e Usará o Uniforme dos Browns no Terreno de Jogo?

O novo staff técnico já desvendou parcialmente a resposta a esta questão, apontando baterias para Hoyer, que regressa de lesão. A medida é compreensível, sobretudo na óptica da protecção do rookie Manziel e das expectativas que a sua titularidade poderia criar. Mantendo o fenómeno de Texas A&M no banco, enquanto aprende o intrincado sistema de jogo da equipa (Texas A&M não tinha um playbook ofensivo, limitando-se a construir um punhado de jogadas semanalmente) poderá render dividendos futuros. A paciência requerida, para evitar a euforia dos adeptos, será temperada pelo experiente Hoyer, que parece capaz de comandar o ataque de Cleveland enquanto Manziel ganha maturidade. Hoyer, mesmo não tendo um grande currículo, bebeu da influência de trabalhar com Tom Brady, nos Patriots, mostrando a sua qualidade em 2013, até ceder a um inoportuna lesão. Em suma, será uma luta interessante, com o novato a querer impressionar, enquanto Hoyer se bate por um reconhecimento dos seus pares. Acredito que Hoyer será o titular, na week 1, mas será difícil (a não ser um cenário em que as coisas corram surpreendentemente bem aos Browns) manter o empolgante Manziel fora do campo, por muito tempo.

3. Depois do Ano Horrível, Como Reagirão os Texans, que Estreiam um Neófito no Comando Técnico? Poderá Bill O’Brien Seguir as Pisadas de Chip Kelly e Ter Uma Transição Suave do College para o Mundo Profissional, ou Acontecerá o Mesmo que a Tantos que Fracassaram, Nessa Mudança de Cenário?

Depois de Gary Kubiak, abre-se um novo capítulo na franquia de Houston, com a chegada de O’Brien. O jovem técnico mostrou, até à data, conhecimentos técnicos suficientes para merecer a ascensão quase meteórica, depois de apenas um ano no College. O’Brien, antigo discípulo de Bill Bellichick, construiu uma reputação de técnico moderno, conhecedor do seu métier, com a dose certa de disciplina que um roster pejado de estrelas necessita. A coordenação ofensiva dos Patriots e o excelente trabalho, em circunstâncias extremas, em Penn State (logo após o escândalo que abalou os alicerces da universidade) mostram que este movimento encetado pelos Texans foi sagaz. Talvez O’Brien não seja capaz de, no seu primeiro ano, devolver alguma da glória recente aos Texans, sobretudo porque a divisão agora é dominado, com punho de ferro, pelos Colts de Andrew Luck. Mas apostem num crescimento sustentado da franquia que, a médio prazo, pedirá meças a esses mesmos Colts. O seu primeiro desafio será dotar a equipa da competitividade necessária enquanto mantém a busca pelo seu franchise quarterback. Neste seu primeiro ano, terá que “se safar” com Ryan Fitzpatrick ou Case Keenum, dado que Tom Savage, escolhido no draft deste ano, parece ser um projecto a longo prazo. Como se isso não bastasse, a sua principal estrela, o wide receiver Andre Johnson, está a ponto de se rebelar, desejando uma trade para um emblema mais consistente.

4. Qual Será a Unidade Posicional que Mais Evoluirá, este Ano?

Os experts apontam a linha ofensiva dos Falcons como aquela unidade que deverá dar um salto qualitativo significativo. A OL dos Falcons foi horrível, terminando em último em jardas corridas, pouco contribuindo como blockers para a função. No campo de protecção a Matt Ryan as coisas não correram muito melhor, com o quarterback de Atlanta a absorver demasiada pressão, raramente tendo tempo para conseguir conduzir o ataque. Por isso, já se sabia que um dos focos dos Falcons na offseason seria o reforço do sector. Do draft veio Jake Matthews, left tackle de Texas A&M, escolhido com a pick 6 do draft de Maio. O rookie deverá ter o seu tirocínio na OL como right tackle, deixando a função prioritária para Sam Baker, que regressa de uma operação ao joelho. Da free agency chegou Jon Asamoah, que jogou em 2013 nos Chiefs e é um upgrade para a posição de right guard. Mike Tice, tido como um guru na coordenação das linhas ofensivas, mereceu igualmente um contrato, na tentativa de estabilizar o sector e conseguir extrair algo de positivo dos jogadores que permanecem.

5. Como Reagirá a Defesa dos Cowboys às Perdas da Offseason e à Lesão de Sean Lee?

Apelando à fé. Parece ser essa, pelo menos, a estratégia dos responsáveis de Dallas. A defesa foi patética, em 2013, terminando em último em jardas permitidas (uma obscena média de 415,3 por jogo), mesmo possuindo nos seus quadros nomes como Sean Lee, DeMarcus Ware e Jason Hatcher. Se foi assim com eles, perguntarão os fãs mais preocupados, como será sem? Ware foi para os Broncos. Hatcher, provavelmente o melhor defesa da equipa na época passada, mudou-se de armas e bagagens para os rivais Redskins. Lee, infelizmente, lesionou-se com gravidade nos treinos iniciais, não podendo dar o contributo para 2014. Imagino, nesta fase, o grau de preocupação de Rod Marinelli, o novo coordenador defensivo. Sem playmakers, como conseguirá ele elevar a qualidade do sector sob a sua responsabilidade?A mudança de coordenador parecia inevitável, depois do decano Monte Kiffin ter mostrado estar ultrapassado face à exigência da competição, mas será Marinelli capaz de operar milagres? Disso duvido que seja capaz, mas a defesa irá melhorar, nem que seja por deixar de lado o obsoleto sistema 4-3 Tampa 2 que Kiffin idealizou, e que levou a humilhações sucessivas (4 QBs com mais de 400 jardas, 5 QBs com 5 passes para TD e os Saints a conseguirem 40 1st downs numa noite memorável). Marinelli sabe que terá que espremer o que tem à disposição, que é uma mistura de veteranos confiáveis (Henry Melton, vindo dos Bears, Nick Hayden, Jeremy Mincey e George Selvie), rookies com talento (DeMarcus Lawrence) e defensive backs com potencial (Brandon Carr, Morris Claiborne e Orlando Scandrick). Não vai ser uma defesa brilhante, mas não será a nulidade de 2013.

6. Geno Smith Versus Michael Vick, com o Enorme Circo Mediático Típico de Nova Iorque a Apimentar o Confronto. Quem Sairá Vencedor deste Combate?

À partida o confronto parece desigual, pendendo claramente para o mais novo dos quarterbacks dos Jets. O próprio Vick sabe disso. Geno é, ainda, o futuro da franquia. Vick é, quando muito, uma apólice de seguro, para o caso da carreira de Geno descarrilar. É em Geno que John Idzik e Rex Ryan, os arquitectos da equipa, depositam esperanças. Sabem que um franchise quarterback demora o seu tempo a maturar. A estreia de Geno no mundo profissional não abriu muitas bocas de espanto. Foi notório que a transição da spread offense em que jogava, em West Virginia, para os intrincados playbooks da NFL, não foi feita de forma suave. Com muitos altos e baixos (mais estes do que os primeiros), a temporada de 2013 de Geno Smith terminou, pelo menos, com algum momentum, num Dezembro exibicionalmente melhor do que os meses antecedentes. Essa vantagem, mesmo ligeira, deverá garantir a titularidade de Geno na semana inaugural da temporada que se avizinha. Mas sempre com uma sombra a pender sobre as suas prestações. Os Jets, mesmo mantendo uma coerência de discurso quanto à crença na qualidade de Geno Smith, querem vencer. Já. A equipa – e o público – pretendem uma ida aos playoffs e ao menor sinal de fraqueza, não hesitarão em substituir Geno pelo experiente Vick. Este encontra-se numa posição confortável. Marty Mornhinweg, o coordenador ofensivo, tem um histórico com Vick, do tempo passado juntos em Philadelphia. O que isso significa? Tal como a história dos Jets quererem vencer (sobretudo porque Rex Ryan é um treinador pressionado a mostrar resultados, depois de dois anos ausente dos playoffs), demonstra que não existe um compromisso firme e efectivo para a posição. O trabalho é de Geno Smith…até o perder. E não me admira nada que isso aconteça, numa fase ainda prematura da regular season.

7.  No Ano Passado Foram os Chiefs, Comandados por Alex Smith Dentro de Campo e Andy Reid fora Dele, que se Constituíram Como a Grande Surpresa da Temporada. Quem Assumirá esse Papel, este Ano?

Alguém disse Tampa Bay? Se sim, parece a aposta mais correcta. Os Buccaneers sofreram uma transformação profunda e o mais elementar bom senso diz que só podem melhorar. Após o pesadelo que foi o reinado de Greg Schiano, a introdução de Lovie Smith, técnico conceituado com trabalho meritório nos Bears, permitirá um trabalho bem planeado, sustentado e de qualidade. Mas mesmo um técnico experiente necessita de matéria-prima. E os donos dos Bucs não se fizeram rogados na tentativa de dotar o roster de qualidade acrescida. Os Bucs sofreram um upgrade, em várias posições, que permitem sonhar inclusive com uma entrada na corrida pelo título de divisão. Josh McCown dá consistência no posto de QB, a curto prazo. As chegadas de Anthony Collins e Evan Dietrich-Smith, aliada à recuperação física de Carl Nicks, conferem solidez à OL, o calcanhar de Aquiles de 2013. A perda de Darrele Revis foi colmatada pela chegada de Alterraun Verner, cornerback underrated. Na defesa, a inclusão de Clinton McDonald (DT) e Michael Johnson (DE) permitem opções para a defesa contra o passe e corrida. Com peças existentes no roster, como Gerald McCoy e Lavonte David, que jogam a um nível de elite, recuperar do desastroso 4-12 parece ser uma certeza. Falta o resto.

8. Teremos de Volta o Bom e Velho Darrelle Revis e a sua Revis Island, Agora em Boston?

A passagem de Revis pela NFC saldou-se com um travo amargo de desilusão. A habitual solidez do jogador não foi um factor extra, por vários motivos, entre um quais um torn ACL que o fez perder tempo de jogo e, claro, pela insistência de Schiano em colocá-lo num papel para o qual ele não foi moldado. De regresso à familiar AFC East, onde reencontrará os “seus” Jets, Revis funcionará provavelmente no esquema que tanto gosta, deixado sozinho na cobertura ao melhor receiver adversário. Numa equipa que é sempre um forte contendor ao título, orientada pela lenda viva que é Bill Bellichick, Revis terá uma suave adaptação, podendo as suas skills de elite serem usadas da forma mais sapiente. Numa franquia que apostou forte na limitação das fraquezas anteriormente expostas na secundária, com a contratação de Brandon Browner, e com Devin McCourty a assumir-se, a cada dia, como um safety na plenitude das suas faculdades, o sector mais recuado de New England poderá ser uma unidade hermética e estanque, um pesadelo para qualquer quarterback contrário. Vai ser uma luta titânica com os Broncos pela first seed na AFC.

9. Teremos Competição Entre Matt Schaub e o Rookie Derek Carr Pelo Posto de Quarterback Titular nos Raiders?

A história recente diz-nos que sim. Os Raiders, na sua contínua e infrutífera procura dum franchise quarterback, tentaram apressar a demanda ao apostarem em Matt Flynn, intestado como titular, pese as boas indicações deixadas nos Packers. O que aconteceu? Flynn nunca foi capaz de ser a presença edificante no ataque, perdendo a batalha para Terrelle Pryor na preseason. Teremos reedição desse fenómeno agora, com o mal-amado Schaub a perder terreno para Derek Carr? Nos OTAs Carr fez o que lhe competia, aproveitando o tempo de antena para mostrar qualidades e marcar a sua posição. A intenção do staff técnico parecia óbvia, quando elegeram Carr no recente draft. Um ano de “redshirt”, deixando-o a salvo das contingências semanais do jogo, enquanto crescia de forma sustentada, e entregar o comando do ataque a Schaub, caído em desgraça em Houston. Mas Carr parece, nestas indicações preliminares, confortável em assumir o ataque, não mostrando as dores de crescimento esperadas. É cedo ainda para conclusões precipitadas e o training camp aclarará a dúvida sobre quem prevalecerá, mas esta situação tem estranhas semelhanças com a dos Jets.

10. Como Reagirão os 49ers às Distracções Fora de Campo?

Distracções? Que distracções, perguntarão os mais distraídos. Vernin Davis, uma das estrelas da equipa e um dos tight ends mais conceituados da competição, está insatisfeito com o contrato, ponderando um holdout ao training camp. A ele pode juntar-se Alex Boone, o right guard da equipa e um elemento com qualidade testada nas trincheiras. Se já bastava assistir a dois elementos titulares a fazerem um braço-de-ferro por melhores condições salariais, o que dizer do enfant terrible Aldon Smith? O pass rusher é temível, dentro de campo, mas claramente imaturo fora dele, coleccionando problemas, como uma acusação de condução embriagado e posse de armas. Numa temporada em que se apontam baterias a nova busca pelo 6º Super Bowl, depois de 3 anos consecutivos a chegarem à final da NFC. Naquela que pode ser a última temporada de Jim Harbaugh à frente dos destinos da franquia de S.Francisco, e numa altura que que estão prestes a estrear um novo estádio, não faltam motivos de interesse

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Paulo Pereira

O meu epitáfio, um dia mais tarde, poderá dizer: “aqui jaz Paulo Pereira, junkie em futebol americano”. A realidade é mesmo essa. Sou viciado. Renascido em 2008, quando por mero acaso apanhei o Super Bowl dos Steelers/Cardinals, fiz um reset em [quase] todos os meus dogmas. Aquele desporto estranho, jogado de capacete, entranhou-se no meu ADN, assumindo-se como parte integrante da minha personalidade. Adepto dos Vikings por gostar, simplesmente, de jogadores que desafiam os limites. Brett Favre entra nessa categoria: A de MITO.