A NFC East Depois da Free Agency

Paulo Pereira 5 de Abril de 2016 NFC East, NFL Comments
NFC East

A NFC East Depois da Free Agency

A NFC East foi sempre a minha divisão predilecta, apesar de não ser nela que joga a equipa a quem devoto a minha fidelidade canina. Mas existe uma rivalidade diferente, mais acérrima, mais visceral, entre as suas 4 equipas, que não se encontra nas outras divisões que preenchem o mosaico da NFL. Os dois últimos anos não foram, contudo, favoráveis à manutenção desse ideal, com as equipas a denotarem enormes dificuldades competitivas, quando colocadas à prova contra rivais, fosse da NFC ou da AFC. O ano de 2015 premiou, pela primeira vez, Jay Gruden e os seus Redskins, com um inesperado título de divisão. A imprevisibilidade resultou da convulsão da preseason e do drama que rodeou a escolha de Kirk Cousins para quarterback, relegando para a penumbra do esquecimento o outrora golden boy Robert Griffin III. O output do título foi quase o equivalente a uma réplica dos terramotos, abrindo brechas em Nova Iorque e Philadelphia. Nessas urbes foi decretado o fim do reinado dos treinadores. Na cidade que nunca dorme Tom Coughlin foi dispensado, com os seus Giants a falharem novamente os playoffs. Em Philly, Chip Kelly foi vítima do seu protagonismo, despedido sumariamente após o facelift que tinha operado na franquia, que resultou numa mão cheia de nada. Como será este ano? Conseguirá Gruden manter relevante a franquia amaldiçoada com um nome que roça o racismo? E como será o ano 1 dos Giants, sem Tom Coughlin como timoneiro? E nos Eagles, o que fará Doug Pederson, novo head coach? Conseguirão os Cowboys entrar na rota dos playoffs?

Dallas Cowboys

Nota Free Agency: 5

Contratações: DE/DT Cedric Thornton, RB Alfred Morris

Renovações: LB Rolando McClain, TE James Hanna, CB Morris Claiborne

Saídas: DE Greg Hardy, DE Jeremy Mincey, FB Tyler Clutts, OG Mackenzy Bernadeau, QB Matt Cassel

Numa offseason mais calma do que o habitual, longe da habitual fanfarra que precede qualquer movimento engendrado por Jerry Jones, os Cowboys conseguiram reter Rolando McClain, o linebacker que ganhou uma segunda vida na cidade texana, depois de ter estado afastado do futebol, bem como o cornerback Claiborne, um jogador que até à data pouco tem mostrado para ser merecedor de confiança. No campo das contratações, a franquia optou pela discrição, trazendo apenas dois jogadores, curiosamente atletas que jogaram em rivais divisionais em 2015. Para o jogo corrido chega Alfred Morris, provavelmente um running back imensamente feliz por poder jogar atrás da fantástica linha ofensiva de Dallas. Com ele chega o único reforço, até à data, para a defesa, na forma volumosa de Thornton, um run-stuffer com passagem anterior pelos Eagles. O front seven, que perdeu o mal-afamado Greg Hardy e o journeyman Jeremy Mincey, vê a habitual agressividade que rodeava o esquema táctico a esfumar-se. Thornton pouco acrescentará à equipa como pass rusher, com a sua qualidade maior a ser na defesa contra o ground game. Nota-se que, mesmo com a presença de DeMarcus Lawrence, é necessário maior poder de fogo no front seven. Randy Gregory tarda em mostrar ser merecedor de confiança, com os seus problemas off the field a manterem-se relevantes e regulares. O draft terá que ser bem trabalhado pelo front office texano, sob pena da equipa se atrasar em relação aos seus rivais.

New York Giants

Nota Free Agency: 8

Contratações: DE Olivier Vernon, CB Janoris Jenkins, DT Damon Harrison, LB Keenan Robinson

Renovações: DE Jason Pierre-Paul

Saídas: CB Prince Amukamara, DT Cullen Jenkins, LB Jon Beason, WR Reuben Randle, S Brandon Meriweather

Foi, provavelmente, a maior surpresa da free agency. Falo da transfiguração dos Giants, uma franquia que assenta a sua filosofia num low profile, avessa a movimentos mediáticos e a gastos tresloucados e impulsivos. Regrada na forma como encara o mercado de jogadores livres, a equipa sentiu que era chegada a hora de arriscar. Fê-lo em grande, com movimentos ousados, disposta a mostrar, desde a primeira hora da nova época, que o grande desiderato é, não só a conquista do título da divisão, mas sobretudo a imposição dos blues como uma força dominante na NFC. Para isso, suportaram as suas investidas no cap space, limpo previamente, que lhes permitiu a caça dos grandes nomes. 76 milhões garantidos depois, pode afirmar-se que algumas das lacunas existentes no roster foram supridas. Para a secundária chegou Janoris Jenkins, vindo dos Rams, um cornerback com a habilidade para as grandes jogadas, mas permissivo na coverage, como atestam os 22 touchdowns cedidos desde que foi draftado. A ideia parece ser simples, quando se olha para a sua entrada e consequente saída de Amukamara. A secundária será mais agressiva, mais interventiva e mais brutal. Para que isso funcione, o pass rush não podia depender apenas de JPP e da sua mão mutilada. O defensive end deu um desconto gracioso, sabendo premiar a paciência que o clube teve consigo, após o incidente com o fogo-de-artifício, e renovou por valores menores do que aqueles que conseguiria na free agency. Para jogar ao seu lado chegou um dos nomes emergentes na posição: Olivier Vernon, pago a peso de ouro, mas cujas skills darão maior consistência ao anémico pass rush dos Giants. Notou-se, desde a primeira hora, que a intenção era dotar o front seven de agressividade e testosterona. Por isso, não estranhou a chegada de Damon Harrison, o menos mediático elemento do trio da frente da DL dos Jets, mas precioso naquilo que trás consigo: solidez contra o jogo corrido e disrupção pela zona interior. No deve e haver, mesmo pesando as saídas, os Giants parecem bem mais fortes do que antes. Pagaram esse upgrade de forma bem cara, gastando rios de dinheiro na free agency, mas os fins justificam os meios. Pelo menos, na NFL.

Philadelphia Eagles

Nota Free Agency: 9

Contratações: S Rodney McLeod, G Brandon Brooks, QB Chase Daniel, CB Leodis McKelvin, WR Chris Givens, WR Rueben Randle

Renovações: QB Sam Bradford, DE Vinny Curry, CB Nolan Carroll

Saídas: QB Mark Sanchez, CB Byron Maxwell, LB Kiko Alonso, RB DeMarco Murray, S Walter Thurmond

Limpar a casa. Foi esse o lema do staff técnico e do front office que tentaram, numa só offseason, fazer esquecer que Chip Kelly alguma vez tenha estado no clube. Pode parecer algo injusto para o agora técnico dos 49ers, inovador e pouco ortodoxo nos seus métodos, mas o último ano dos Eagles foi desastroso, dentro e fora de campo. A contratação de Doug Pederson para head coach trará com ele um jogo de ataque menos explosivo, mas mais consistente e pouco atreito a erros. A provável inclusão da west coast offense permitirá a reabilitação de Sam Bradford que a equipa, inteligentemente, manteve mais um ano. Com Bradford a equipa não necessitará de procurar um novo quarterback, evitando os sobressaltos na posição. Importante foi a trade feita com os Dolphins, que libertou a equipa do oneroso contrato de Byron Maxwell, cornerback que nunca viveu para as expectativas geradas. A secundária não ficou órfã do movimento, dado que os Eagles apostaram – e bem – em Rodney McLeod, provável titular ao lado de Malcolm Jenkins, formando um duo de safeties de qualidade e em Leodis McKelvin, vindo dos Bills para o lugar deixado vago por Maxwell. DeMarco Murray também saiu, terminando o vínculo contratual que se pautou por uma enorme frustração no jogo corrido. A OL recebeu um reforço de peso, com Brandon Brooks a ser um upgrade imediato na posição de guard, empobrecida depois de Chip Kelly ter deixado sair Evan Mathis. Assim, no papel, os Eagles aparentam ter resolvido os problemas na secundária, cuja coverage ridícula os expunha às big plays, criando condições para que, com um bom draft, o roster fique fortemente competitivo. Se falta ainda um nome para o jogo corrido, Bradford recebeu dois presentes, com Givens a dar-lhe a necessária deep threat e Randle a funcionar mais como um possession receiver, complementando a juventude existente na depth chart da unidade.

Washington Redskins

Nota Free Agency: 6

Contratações: DE Kendall Reyes, S David Bruton, TE Vernon Davis

Renovações: QB Kirk Cousins, S Duke Ihenacho, DE Junior Galette

Saídas: DE Jason Hatcher, S Dashon Goldson, QB Robert Griffin III, NT Terrance Knighton, RB Alfred Morris, CB Will Blackmon, CB Cary Williams

À primeira vista, parece que houve uma debandada do roster, com as saídas a não serem, ainda, colmatadas por igual número de entradas. Passado o primeiro impacto, percebe-se que o êxodo, permitido pela franquia, não interferirá nos planos para o novo ano. Todos – ou quase todos – os jogadores que se despediram da franquia são de fácil substituição, seja nos saldos da free agency, ou mesmo via draft. Alfred Morris, o rosto do ground game durante 2 anos, com produção assinalável, foi uma vítima colateral da competitividade trazida pela inclusão de Matt Jones e pelo abandono crescente da corrida, que perdeu snaps significativos para o jogo aéreo. Para além dele, ninguém esperaria que, apenas 3 anos depois de ter sido eleito o rookie do ano, Robert Griffin saísse pela porta pequena, mas a aposta de Gruden em Kirk Cousins, na preseason de 2015, mostrou-se certeira e o franchise quarterback, com direito a novo contrato, será mesmo o miúdo louro escolhido no 3º round do draft em que os ‘Skins perderam a cabeça por RG3. Se a contratação de Reyes é estranha, dado que o defensive lineman nunca jogou nada de especial em San Diego, importa apenas reter um factor que pode ter passado despercebido: a renovação de Junior Galette. O impulsivo defensive end falhou a temporada toda de 2015, mas mereceu um voto de confiança, dadas as skills demonstradas anteriormente em New Orleans, na caça aos quarterbacks. Se devidamente recuperado da lesão, Galette será o reforço da offseason, pela importância da posição que ocupa.Curiosa foi a aposta no veterano Vernon Davis, um tight end sólido que, no entanto, dificilmente terá um papel de relevo, face à preponderância que Jordan Reed ganhou no último ano. Quanto ao resto, espera-se um ataque da equipa a algumas áreas que, aparentemente, estão deficitárias, como o jogo corrido e a secundária. Os reforços deverão vir, prioritariamente, do draft.

About The Author

Paulo Pereira

O meu epitáfio, um dia mais tarde, poderá dizer: “aqui jaz Paulo Pereira, junkie em futebol americano”. A realidade é mesmo essa. Sou viciado. Renascido em 2008, quando por mero acaso apanhei o Super Bowl dos Steelers/Cardinals, fiz um reset em [quase] todos os meus dogmas. Aquele desporto estranho, jogado de capacete, entranhou-se no meu ADN, assumindo-se como parte integrante da minha personalidade. Adepto dos Vikings por gostar, simplesmente, de jogadores que desafiam os limites. Brett Favre entra nessa categoria: A de MITO.