A NFC West Depois da Free Agency
É a NFC West. Uma terra intratável, indómita, pontuada por pessoas rudes, duras, pouco dispostas a sorrisos. Penetrar nesse território é quase proibitivo, uma tentação onírica, que não deve passar das acções aos actos. Nessa geografia, vivem e respiram futebol algumas das potências da NFL. Gente que olha de forma desconfiada para forasteiros, que é lenta no desenvolvimento das amizades. Neste território sem lei, degladiam-se regularmente nos Seahawks, os Cardinals, os Rams e os 49ers. Este ano há novidades. Os Rams terão um ano logisticamente de pesadelo, com a mudança para Los Angeles, obrigados a deslocações entre o palco do jogo e os campos de treino, em locais diferentes, tudo sob uma chuva de flashes de máquinas fotográficas, com as vedetas de Hollywood a apadrinharem este regresso do futebol à meca do cinema. As novas não se esgotam aqui. Em San Francisco, com vista para a baía, há um novo czar no futebol dos 49ers. Chip Kelly, expulso de Philadelphia, encontrou um novo porto de abrigo, sob a asa protectora de Trent Baalke. O objectivo não podia ser mais difícil: reerguer o potentado numa divisão onde, actualmente, existe um diferencial gritante de competitividade para os líderes. Em Seattle e no deserto de Arizona, sob as luzes de Phoenix, moram dois contendores declarados ao título.
Arizona Cardinals
Nota Free Agency: 8
Contratações: G Evan Mathis, S Tyvon Branch, DE Chandler Jones
Renovações: TE Jermaine Gresham
Saídas: OLB Dwight Freeney, S Rashad Johnson, OT Bobby Massie, G Jonathan Cooper
Os Cardinals, que chegaram à final da NFC em 2015, pressentem que estão a um curto passo da glória. Com um roster cheio de qualidade, resta agora fazer uns upgrades, na tentativa de emular nova caminhada de sucesso na conferência, rumo ao Super Bowl. Sabedores do que lhes falta, os Cardinals foram ousados, arriscando numa trade com os Patriots, trazendo de Boston Chandler Jones e dando, em troca, uma pick de 2º round e o guard Jonathan Cooper. Se, por um lado, o preço pago parece ser elevado, a recompensa final é contar com os serviços de um edge-rusher que lhes poderá trazer dividendos notáveis, quer no ataque às OLs contrárias, quer como run defender, onde os seus números mostram a qualidade do serviço.
Aproveitando, depois dessa troca, a queda de Evan Mathis na free agency, depois do seu ano em Denver, a equipa de Arizona rapidamente encontrou o substituto para Cooper, enviado para New England. É um movimento que não visa acautelar o futuro. Cooper pode ser um elemento válida na linha ofensiva dos Patriots na próxima década, sendo valioso como run blocker, mas a vinda do veterano Mathis tem que ser vista na linha do raciocínio de que dei conta inicialmente: falta pouco aos Cards para irem ao Super Bowl. Mathis, um dos melhores guards da competição, nos últimos anos, é um upgrade sobre o que existia. Na mesma óptica do “troca peças”, a saída de Rashad Johnson foi acautelada pela vinda de Tyvon Branch, aparentemente um melhor espécime na coverage, mas também alguém que tem sérios problemas em manter-se saudável, durante a dura competição. No fundo, todos estes movimentos efectuados são similares aos de um proprietário de um bólide potente, que se limita a mudanças cosméticas para manter o brilho da máquina inalterado.
Los Angeles Rams
Nota Free Agency: 5
Contratações: DE Quinton Coples, CB Coty Sensabaugh
Renovações: DE William Hayes, CB Trumaine Johnson, S Mark Barron, C Tim Barnes
Saídas: S Rodney McLeod, DT Nick Fairley, CB Janoris Jenkins, DE Chris Long
A equipa com o roster mais jovem da NFL muda-se, de armas e bagagens, para a terra prometida, onde os disparos dos fotógrafos e a atenção das estrelas de Hollywood tornarão o dia-a-dia num circo mediático. Os Rams apostaram na renovação de Mark Barron que, até ao momento, ainda não viveu para as expectativas trazidas do college, e estenderam o vínculo contratual com William Hayes, um defensive end sólido e eficaz. As caras novas não são muitas e representam, provavelmente, apenas a introdução de profundidade no roster. Quinton Coples é uma desilusão, se levarmos em conta o facto de ter sido uma pick top-20 e a sua produção não atingir esse nível. Os Rams viram partir, na free agency, dois titulares da secundária, pagos a peso de ouro pelos Eagles (Rodney McLeod) e Giants (Janoris Jenkins), mas foi um movimento acautelado, conforme se constata pela renovação de Trumaine Johnson, a quem consideram o real shutdown corner da equipa. Os Rams acreditam que a produção dos dois jogadores que saíram poderá ser substituída, com relativa facilidade, trazendo para já Cody Sensabaugh, que pode jogar no outside ou no slot. O resto será assegurado via draft, se bem que o movimento ousado, tomado recentemente, para garantirem a escolha nº 1, lhes tenha custado caro em termos de picks. Se é compreensível que a equipa sinta que está à distância de um quarterback para poder ser contendora na divisão, o trade up custou escolhas preciosas, nos rounds 2 e 3, onde poderiam ser encontrados jogadores necessários para outras posições.
S.Francisco 49ers
Nota Free Agency: 4
Contratações: G Zane Beadles, QB Thaddeus Lewis
Renovações: NT Ian Williams, TE Garrett Celek, K Phil Dawson
Saídas: WR Anquan Boldin, G Alex Boone
Esperava-se mais dos 49ers, pelo cap space que possuíam e que os poderia ter tornado mais ousados no mercado de jogadores livres, mas a franquia adoptou, neste ano inicial com Chip Kelly aos comandos, uma atitude low profile. O ponto alto da offseason, se assim o quisermos considerar, foi a garantia de manutenção de Ian Williams, o colossal nose tackle, vindo de temporada excelente, em 2014. Na linha ofensiva, que tem vindo a perder peças anualmente, a saída de Alex Boone é colmatada pela entrada de Zane Beadles, naquilo que aparenta ser um downgrade. De resto, permanecendo a incógnita quanto à titularidade do quarterback (Blaine Gabbert? Colin Kaepernick? Draft?), o roster precisa de reforços para ambas as unidades, com o draft a ser provavelmente o palco de eleição para a vinda de reforços. Realce para a permanência no limbo de Anquan Boldin, cuja presença na free agency não despertou o apetite de nenhum interessado. Apesar disso e da veterania do receiver, a sua temporada de 2015 foi a melhor num grupo pontuado pela juventude e inexperiência, destacando-se nesse lote a presença de Eric Rodgers, uma das revelações de 2015 na CFL. Chip Kelly terá muito trabalho pela frente…
Seattle Seahawks
Nota Free Agency: 5
Contratações: DT Sealver Siliga, OL J’Marcus Webb, CB Brandon Browner
Renovações: WR Jermaine Kerse, CB Jeremy Lane, DT Ahtya Rubin
Saídas: LB Bruce Irvin, OT Russell Okung, DT Brandon Mebane, G J.R. Sweezy
Opções. Os Seahawks acharam imprescindível reassinar com Jermaine Kearse, um receiver sólido, com alguns momentos de brilho em jogos cruciais, Jeremy Lane, um dos jogadores da secundária que beneficiou das saídas de Walter Thurmond e Browner (entretanto de regresso) e Rubin, este mais na óptica da rotação para a DL, num negócio relativamente barato. O problema de reassinar com uns é que, depois, torna-se impossível fazê-lo com outros, como a velha história do cobertor incapaz de cobrir todo o corpo. A franquia disse adeus, quando começou a free agency, a 4 titulares, se bem que de todos eles se possa dizer a mesma coisa: estavam em declínio exibicional e/ou de produção. Okung, nome mediático, pese o seu recente resvalamento em termos de pass protection, não tem ainda um substituto à altura, fragilizando ainda mais a paupérrima linha ofensiva existente. A entrada de J’Marcus Webb é meramente cosmética, nada trazendo de novo e revigorante para a unidade. Se é com alguma curiosidade que se aguarda o draft, para perceber qual a filosofia implementada, é com alguma dose de intriga que se assiste ao reavivar da Legion of Boom, com a recente chegada de Browner, um cornerback que não deixou saudades na sua passagem por New Orleans. Campeão indiscutível nas flags, que lhe punem sem pudor os pass interference sucessivos, irá permitir à equipa reforçar os índices de agressividade, factor que em primeiro lugar os tornou famosos. Num roster que continua pejado de talento, não deixa no entanto de causar alguma frustração a forma quase desdenhosa como o front-office (não) tratou a linha ofensiva. O activo chamado Russell Wilson merecia uma prenda melhor…