Cleveland Browns 2015: First Look

Paulo Pereira 6 de Agosto de 2015 Equipas NFL, NFL Comments
Cleveland Browns

Cleveland Browns 2015: First Look

Já imaginaram o que é ser fã dos Cleveland Browns? Mesmo na realidade americana, onde os adeptos, por força da filosofia desportiva implementada, estão habituados aos altos e baixos, a períodos de declínio, a pausas sabáticas nos triunfos? Mas, mesmo nas situações atrás descritas, existe esperança. Uma lufada de ar fresco, dada num draft, com a contratação de um jogador importante e mediático. Ou na construção laboriosa de um roster, mesmo pejado de inexperiência, mas com talento, que os fãs vejam que é possível sonhar, com alguma paciência. Isso, no entanto, tem estado arredado de Cleveland, como se não fosse permitido desejar mais do que o caos, a mediocridade, as más decisões. Os fãs dos Browns sobrevivem a isso tudo, com alguma bonomia, humor amargo, ironia contagiante ou apatia desconcertante. Cada um lida, à sua maneira, com a dor de ver afundar as cores desportivas que se ama. Mas (há sempre um mas) as alterações recentes no staff técnico e na direcção da equipa parecem poder resultar. Sim, não é uma certeza convicta e existe sempre a desconfiança, essa arma letal, que mina o que de bom possa ter sido feito. Os Browns estão cheios de talento. Em posições-chave. Excepto…

Não é preciso grande suspense para desvendar onde é que está um dos problemas da franquia. Todos sabem. A posição mais importante, no futebol americano, é a de quarterback. Encontrar o jogador ideal para a posição é uma tarefa hercúlea, quase como descobrir onde está o Santo Graal. Os Browns deixaram-se encantar, em 2014, por um jogador entusiasmante, playmaker, excitante pela potencialidade que demonstrava. A esperança, como tantas outras, antes dela, ruiu, com Johnny Manziel a demonstrar um comportamento imaturo, pouco profissional, indigno de um profissional bem pago, numa liga ultra-competitiva. E os Browns voltaram quase à estaca zero. Poderá tudo ser diferente em 2015?
Sim. E os Browns trabalharam nesse sentido, procurando debelar as carências existentes. Quais eram as necessidades mais prementes?

  1. A situação do quarterback. Brian Hoyer foi à vida dele, procurando o sonho de ser titular numa equipa. Dos Bucs veio o veterano Josh McCown, que poderá funcionar como um mentor para o bad boy Manziel, ainda uma aposta válida para a época que se vai iniciar. A decisão quanto à titularidade só será tomada no training camp, mas não será diametralmente diferente da que existia em 2014. McCown aporta mais experiência, parecendo uma escolha segura, mas a sua idade (perto dos 37) tornam-no numa aposta de curto prazo. Caberá a Manziel mostrar que está mais maduro e diferente.
  2. Reforçar a defesa, última em 2014 a defender o jogo corrido. De forma cirúrgica, os Browns atacaram o mercado de free agents, trazendo Randy Starks, um excelente defensive tackle, com inúmeras batalhas travadas em Miami. Depois, no draft, veio o reforço (colossal) Danny Shelton, um monstro físico que pode parar literalmente tudo naquela front seven.
  3. Arranjar playmakers. Playmakers. E mais playmakers para o ataque. A intenção é óbvia. Retirar alguma pressão dos ombros do quarterback, dando-lhe alvos fiáveis. Dwayne Bowe juntou-se ao grupo, por um preço apreciável, num mercado cada vez mais polarizado. 2 anos de contrato e 12,5 milhões. Muito? Pouco? Se nos detivermos na época 2014, em que Bowe revelou uma total incapacidade para marcar um TD, diremos que ele pode não ser o jogador ideal. Mas na WCO de Andy Reid, com um QB avesso ao risco como Alex Smith, a sua pífia produção não deve ser tida tão em conta. Bowe é um upgrade em relação ao que existia, anteriormente, trazendo versatilidade, experiência e traquejo, para o outside. Com ele veio um jogador underrated, mas que ameaça tornar-se um dos melhores slot receivers da liga. Andrew Hawkins abandona os Bengals e muda-se para Cleveland. Para todos aqueles que estão agora a murmurar um “who the fuck is Hawkins?”, aconselho paciência. Jogador que trilhou um caminho árduo, até ascender à NFL, tem qualidade, técnica e velocidade para ser uma óbvia aposta no centro do campo. Brian Hartline, que não é um nome empolgante, também chegou nessa leva de novos nomes. Com talento quanto baste, mas doses extra de profissionalismo, permitirá a criação de perigo, no lado oposto ao de Bowe, retirando pressão sobre o colega de equipa e dando mais uma ameaça a quem quer se lance a bola. Nesta colecção de nomes há um que importa gatafunhar num caderno, como forma de mantê-lo sob o radar da atenção. O rookie Vince Mayle, mesmo que vá beneficiar de poucos snaps, face à concorrência, aparenta ter um potencial tremendo, para o futuro próximo dos Browns. Se a equipa precisava de jogadores que fizessem a diferença, o esforço de consegui-los foi notório, sempre com a preocupação de dotar a equipa de mais qualidade do que a que ela tinha anteriormente. O jogo corrido continuará nas mãos de quem o fez por merecer. O tandem Isaiah Crowell e Terrance West serão os putativos titulares, mas existem mais profundidade na unidade. Destaque óbvio para Duke Johnson, supersónico running back eleito no draft, vindo dos Hurricanes e com capacidade para contribuir de imediato.
  4. Os playmakers não foram monopolizados pelo ataque. Para a defesa veio um reforço high profile. Tramon Williams, cornerback de nome facilmente reconhecível, carreira competente feita nos Packers, foi contratado como forma de criar uma dupla de corners de excelência. Com Joe Haden de um lado e Tramon do outro, é perfeitamente possível desafiar Ben Roethlisberger e Joe Flacco, duas vezes por ano. A chegada de Tramon Williams permite igualmente a retirada de pressão de Justin Gilbert. Este, escolhido na primeira ronda do draft de 2014, teve um ano para esquecer, tal como Manziel. 2015 será a altura do recomeço, agora sem a necessidade de ser lançado às feras, de imediato.

Melhor Aquisição

Danny Shelton, defensive tackle. 141,6 jardas, em média, cedidas pelos Browns, na defesa do jogo corrido. 12 dos seus 16 adversários da temporada atingiram as 100 jardas corridas, ou mais. 3 deles conseguiram 200 jardas, ou mais. A equipa foi uma anedota nesse quesito, abusada vezes sem conta, incapaz de travar quem quer que fosse. Era premente que a sangria fosse estancada, neste defeso e os Browns, teoricamernte, fizeram o acertado, trazendo Randy Starks e, do draft, o impressionante Danny Shelton. O rookie, fascinante na massa adiposa/muscular, que o assemelha a um pequeno mamute, parece possuir a qualidade para infernizar a vida aos running backs contrários, mas a oposição com que contará é de peso. Le’Veon Bell e Jeremy/Gio Bernard Hill, dos Steelers e Bengals, respectivamente. Vão ser batalhas interessantes.

Maior Perda

Jordan Cameron, tight end. Considerar Jordan Cameron como a maior perda assenta, sobretudo, no potencial do tight end e na sua produção de 2013, ano em que saltou para a ribalta. O ano de 2014 foi algo nefasto para o jogador, que perdeu grande parte da temporada devido a uma concussão. A sua ausência foi importante e talvez devastadora para o jogo de passe, que perdeu claramente a sua referência maior. Mas, imaginem por momentos, que ele ainda está nos Browns. Ele. Dwayne Bowe. Hawkins. Hartline. Com a equipa na red zone. A multiplicidade de possibilidades tornaria este ataque temido. E temível. Mas a NFL habituou toda a gente a seguir em frente, sem carpir grandes mágoas. Cameron está agora na ensolarada Miami e, no seu lugar, aparece um Rob Housler que tem tido dificuldade em viver para as expectativas geradas. Aquele que já foi apelidado de “Gronk dos pobres” não apresenta uma produção sequer mediana, na sua passagem por Arizona, e terá aqui a sua derradeira tábua de salvação para fazer algo de palpável, como pass catcher.

Contratação Underrated

Ifo Ekpre-Olomu, cornerback. A depth na secundária dos Browns está bem e recomenda-se. A vinda de Tramon Williams, aliada à permanência de Joe Haden e à dupla existente de safeties – Donte Whitner e Tashaun Gipson – confere a necessária segurança e estabilidade ao sector. Qualquer outra escolha, vinda do draft, seria sempre nos rounds finais, numa óptica de crescimento a médio-longo prazo. Prospects com talento, mas crus ainda no desenvolvimento das potencialidades, capazes de contribuírem inicialmente no special team. Mas conseguir, no round 7, um jogador anteriormente projectado como talento first-round, pode ser considerado um steal. É um facto que a queda de Olomu no draft se deveu à grave lesão contraída, no ano passado, antes dos playoffs do college, com as equipas a acharem que, fisicamente, ele poderá demorar a recuperar a sua forma. Os Browns possuíam a situação ideal para o resgatarem, podendo ser pacientes com o jogador, deixando-o livre de pressões para jogar imediatamente. Resguardado na profundidade do grupo, Olomu terá tempo para debelar satisfatoriamente o joelho, não queimando etapas nessa tarefa. E, quando finalmente lhe for dado o ok médico, Olomu tem o potencial intacto para se tornar um cornerback titular.

Inspirado no original de Chris Burke, para a SI

About The Author

Paulo Pereira

O meu epitáfio, um dia mais tarde, poderá dizer: “aqui jaz Paulo Pereira, junkie em futebol americano”. A realidade é mesmo essa. Sou viciado. Renascido em 2008, quando por mero acaso apanhei o Super Bowl dos Steelers/Cardinals, fiz um reset em [quase] todos os meus dogmas. Aquele desporto estranho, jogado de capacete, entranhou-se no meu ADN, assumindo-se como parte integrante da minha personalidade. Adepto dos Vikings por gostar, simplesmente, de jogadores que desafiam os limites. Brett Favre entra nessa categoria: A de MITO.