(Des)equilíbrios: O Football e o Futebol

João Malha 11 de Junho de 2015 Diversos, NFL Comments
Football vs Futebol

(Des)equilíbrios: O Football e o Futebol

Muitos fãs de Futebol Americano em Portugal e no Brasil são, simultaneamente, fãs fervorosos de futebol (soccer). Por isso, hoje dedicamos um artigo aos modelos organizativos e económicos destes dois desportos. Modelos esses que ajudam a explicar o porquê de no Futebol Americano termos tão diversos vencedores do Super Bowl, enquanto no Futebol de bola redonda ganham quase sempre os mesmos.

Falando primeiro do futebol jogado com o pé, olhamos para as principais ligas europeias e sabemos à partida que dificilmente o campeão de cada país fugirá aos crónicos candidatos. Em Espanha, o Real Madrid e o Barcelona. Em Itália, a Juventus, o Milan ou o Inter (atualmente com a crise dos clubes de Milão acabou por ser a Roma a única a lutar com a Juve). Na Alemanha, o Bayern de Munique, que parece que joga sozinho. Em Inglaterra, o Chelsea, os Manchesters (City e United) e o Arsenal. E em Portugal, Benfica e Porto. E podíamos continuar por essa Europa fora.

O Modelo de Negócio

Tudo se explica pelo modelo de negócio. Reina quem tem mais milhões. Reina quem tem as maiores receitas de TV. Reina quem compra os melhores. As equipas mais pequenas não têm meios para ombrear com os gigantes. Um modelo visto, gasto e aumentado pelo surgimento dos grandes magnatas que vieram dominar alguns dos clubes de relevo do panorama europeu, como Manchester City, Chelsea, Paris Saint-Germain, entre outros. Perde o espetáculo e perde acima de tudo o espectador. Já sabemos que a luta se cinge a dois ou três clubes por país e mesmo na milionária Liga dos Campeões dificilmente vemos alguém ganhar que não a meia dúzia de crónicos candidatos.

Então mas porque não é assim nos Estados Unidos? Em primeiro lugar, apesar dos vários magnatas que são proprietários das franquias da NFL (com exceção dos Packers que têm um modelo de propriedade semelhante aos dos clubes de futebol europeu, com sócios), existem tetos salariais, denominado cap space, que é igual para todas as equipas, o que impede que uma equipa possa ter vantagem financeira sobre as restantes. Por outro lado, não são permitidas transferências envolvendo dinheiro. Aqui não se compram Ronaldos nem Messis por mais de 100 milhões de euros. Para um jogador trocar de equipa, poderá fazê-lo se estiver livre de contrato (e existem vários mecanismos para uma franquia impedir que tal aconteça, como colocar uma Tag no jogador que obrigará a equipa em causa a pagar a esse jogador ao mesmo nível salarial do jogador mais bem pago da liga nessa posição) ou através de troca com outra equipa, quer seja dando jogadores em troca de outro, ou cedendo lugares no draft à outra equipa de forma a poder receber o jogador pretendido.

O Draft

E falando em draft, esta é outra das realidades que garante o equilíbrio na NFL. A equipa que tem o pior registo desportivo do ano anterior, é a primeira a escolher os jogadores do draft, provenientes do College, podendo assim reforçar-se com o melhor jogador disponível do futebol universitário e que potencialmente será uma das estrelas da NFL do amanhã. Desta forma, as franquias mais fracas conseguem trunfos para aumentar a sua competitividade, garantindo-se um equilíbrio e uma total imprevisibilidade no arranque de cada temporada sobre quem irá ganhar o Super Bowl.

Esta é na minha opinião a grande mais-valia do Futebol Americano (assim como de todos os desportos nos EUA). A certeza de que todas as equipas têm hipóteses de atingir a vitória final de forma cíclica. Um modelo que infelizmente não interessa aos poderes instalados do soccer (para mal dos pecados dos fãs da modalidade).

About The Author

João Malha

Profissional da área de comunicação e marketing, e sempre ligado ao desporto, sempre me fascinou o conceito de showbiz dos norte-americanos no que toca à promoção de qualquer espectáculo desportivo. Quando em 2003, a SportTv transmitiu pela primeira vez o Super Bowl, com estrondosa vitória dos Buccaneers de John Gruden sobre os Raiders, a curiosidade cresceu e ano após anos comecei a seguir as transmissões do maior evento desportivo mundial. Mas como em tudo na vida (pelo menos na minha forma de estar), é preciso um motivo mais forte para nos agarrarmos às coisas. Uma paixão que nos alimenta. E foi isso que aconteceu em 2010, aquando da final de Miami, ganha pelos Saints frente aos Colts do lendário Peyton Manning. Nesse dia senti finalmente que aquela era a minha equipa! E o aparecimento da ESPN America ajudou a não mais largar este desporto espectacular, que sigo semanalmente. Na Week 1 da temporada 2012/2013, cumpri o sonho de ir ver um jogo dos Saints ao vivo, ao Mercedes-Benz Superdome. Não vi os Saints vencerem, mas quem sabe se não terei a oportunidade de dizer que assisti ao primeiro jogo na NFL de um dos maiores QB’s da sua história, Robert Griffin III. Ver os Saints ao vivo foi uma experiência única que me faz olhar para o desporto com outros olhos. Quero saber mais e mais sobre o jogo, a sua história, lendas, regras, tácticas, etc. Let’s play ball!!!!