E a Bola de Jogo Vai Para…
Bears, 18 @ Chiefs, 17
Jay Cutler. É a redenção? Não. Mas Cutler deve ser uma daquelas pessoas que, no dia seguinte ao jogo, acordou com um sorriso de satisfação. Os Bears conseguiram uma importante vitória, a 2ª consecutiva, e mantiveram a chama do apuramento para os playoffs acesa. Não era uma espécie de tudo ou nada, mas andava lá perto. Cutler, transformado em material radioactivo, um quarterback que ninguém quer ou respeita, tinha já levado a equipa à vitória caseira contra os Raiders, com uma drive final cirúrgica a permitir o field goal do triunfo. Agora, fora de portas, num jogo que desde cedo pareceu sempre perdido, Cutler não foi perfeito – longe disso – mas apareceu na altura crucial. No 4º período. Pressentindo a fraqueza do adversário, que tinha perdido o seu melhor jogador, os Bears encurtaram distâncias e acabaram por vencer, quase no final, após nova drive excelente comandada por Cutler. Revelando frieza no pocket e precisão nos lançamentos, foi expondo a secundária, até se conectar com Martellus Bennett na end zone, a 18 segundos do final. Uma óptima exibição do veterano, sobretudo se nos lembrarmos que o seu grupo de alvos não tinha Alshon Jeffery e Eddie Royal, obrigando o quarterback a improvisar. O game plan, repleto de screen e swing passes, foi-o mantendo livre de perigo mas, na altura certa, Cutler soube encontrar Marquess Wilson na end zone. E o já falado lance de TD, para Bennett, é revelador da qualidade que Cutler tem. Um snap baixo, que parecia ir terminar num fumble, obrigou-o a um malabarismo, mas a concentração ajudou-o a encontrar depois o TE na end zone. Grande lance!
Jamaal Charles. Jamaal Charles não efectuou um jogo brilhante, mas a sua ausência revelou a fragilidade ofensiva da equipa. Com ele em campo, os Chiefs pareciam donos e senhores do encontro, liderando por 17-3. É um facto que o ataque continuava a parecer inofensivo, sem capacidade de explosão e movia-se em campo graças à inspiração e raides do running back. Em 12 corridas foram 58 jardas e mais uma catch para um ganho de 26. Até ao momento fatídico. Mais uma investida, como tantas outras, um cut para mudar de direcção e a queda, sozinho, com o joelho a ceder e o diagnóstico, ainda prematuro, a ser brutal: um potencial torn ACL que o colocará fora dos campos o resto da temporada. Se os Chiefs, até agora, denotavam dificuldades em mover a bola, sem Charles cairão num problema insolúvel.
Seahawks, 24 @ Bengals, 27
Thomas Rawls. Os Seahawks ainda devem estar a pensar como é que deixaram escapar um triunfo que, no início do 4º período, parecia certo. Uma vitória em Cinccinati mostraria que a equipa, depois do desastroso início de 0-2, estaria pronta a reivindicar o trono da NFC. Nada está perdido, é um facto, mas o conservadorismo atacante que tolheu Carroll, com uma gorda vantagem nas mãos (24-7), pode ter ditado um desaire frustrante. Mas até na mais inglória derrota podem existir motivos de satisfação. E não, não são boas notícias sobre a OL, caso algum fã dos Seahawks estivesse à espera da resolução desse problema. A OL continua má, a não conseguir proteger devidamente Russell Wilson e a contribuir de forma muito residual para o jogo corrido. Por isso, sem contar com Marshawn Lynch, o impacto do rookie undrafted Thomas Rawls apanhou quase todos de surpresa. Quase, porque um punhado de fiéis seguidores da NFL sabia que o miúdo tinha talento. De sobra. Mostrou-o na preseason, revelando uma série de atributos que agora desnudou, em horário nobre. Rawls fez de Lynch e não se notou a diferença. Esforçado, determinado, capaz de quebrar tackles e adicionar jardas quando isso parecia remotamente impossível, foi um dos elementos de Seattle que não merecia a traição da derrota. 21 corridas, 163 jardas e 1 touchdown, com o highlight naquele portentoso momento em que, com um 10-7 no marcador, ele correu para um score de 69 jardas. Impressionante!
Andy Dalton. É um Dalton diferente, mais confiante, menos propício a erros. E, com isso, também os Bengals parecem uma equipa distinta, exalando segurança e firmeza. Alguém acredita que os Bengals venceriam, on the road, os Ravens, depois destes passarem para a frente no 4º período? Mas foi o que aconteceu, com Dalton firme a comandar a drive, imune à pressão. Esta semana aconteceu o mesmo, só que em solo caseiro e contra os Seahawks. Dalton terá já, no seu currículo, jogos com estatísticas melhores, mas dificilmente encontraremos um exemplo de resiliência como o deste encontro. A perder por 24-7, Dalton teve a bola nas mãos para 5 drives, no 4º período e no prolongamento. Lançou um passe para TD de 10 jardas, para Tyler Eifert. Comandou depois uma drive de 71 jardas em 3 minutos e meio, culminada num TD corrido, marcado por ele mesmo. Seguiu-se nova drive de 69 jardas, nos instantes finais, drenando o relógio e colocando o seu kicker em field goal range para o empate. E terminou a tarde com nova drive cirúrgica, no prolongamento, para novo field goal. Foram 331 jardas, com um 30 em 44 no passe, 1 TD corrido, 2 passados e uma INT. Menos afectado pela responsabilidade, é agora o comandante supremo duma esquadra que tem inúmeras armas para poder reivindicar um estatuto diferente, na AFC. Estes Bengals – e este Dalton – devem ser tidos em conta.
Redskins, 19 @ Falcons, 25
Bashaud Breeland. Excelente jogo do cornerback, numa partida em que os Skins estavam privados dos seus principais jogadores para a posição. Breeland não se deixou intimidar pela tarefa que o aguardava e soube sempre ser um defensive back maduro, lendo bem as jogadas. Inicialmente tomado como alvo predilecto de Matt Ryan, que viu ali o pretenso elo mais fraco na secundária, Breeland sobreviveu, jogando com enorme coração. Teve alguns lapsos/erros, rapidamente desvalorizados pelas big plays realizadas, como a intercepção e os dois passes defendidos, bem perto da sua end zone. Das 12 vezes em que foi alvejado, permitiu apenas 4 recepções e meras 35 jardas.
Robert Alford. Num jogo em que tudo teimava correr mal ao ataque dos Falcons, pressentia-se que teria que ser a defesa a resolver a questão e a manter a invencibilidade, por mais uma semana. O sector defensivo não sai incólume da pálida exibição da equipa de Dann Quinn, mas tem pelo menos o mérito de ter sentenciado o encontro. Os Falcons conseguiram, já no ocaso da partida, passar para a frente do marcador. Parecia que de forma definitiva, mas os Redskins ripostaram e, com um field goal já nos derradeiros segundos, presentearam os espectadores com um tempo extra de jogo. Prolongamento. Incerteza. Nervosismo. Até que surgiu Alford para eliminar a ansiedade. O cornerback, que tem tido um percurso ascendente firme na NFL, voltou a ser instrumental, adivinhando o lançamento de Kirk Cousins e interceptando a bola. Isso, por si só, já seria motivo para um meritório elogio. Mas Alford terminou com qualquer réstia de resistência, ao retornar a INT para touchdown, numa corrida de 59 jardas, celebrada euforicamente nas bancadas. Grande jogada, numa altura crucial, provando que o pass interference cometido, no 4º período, que colocou os Redskins em óptima posição de campo, estava esquecido.
Jaguars, 31 @ Buccaneers, 38
Blake Bortles. Os Jaguars estão naquela fase em que já se mostram competitivos, mas onde se espera que aconteça algo de inesperado para lhes retirar das mãos a vitória. São as dores de crescimento de um grupo, ainda novo e imaturo, numa competição equilibrada. Por vezes parece que determinadas franquias não progridem, vegetando sempre na mediocridade, mas essa é uma noção falaciosa. Estes Jaguars são competentes em determinados processos de jogo, mas dão tiros nos pés. Na semana passada podiam ter ficado em 1º lugar na divisão, se tivessem batido os Colts, a besta negra da franquia. Tiveram não uma, nem duas, mas sim três possibilidades para o fazerem. Três field goals desperdiçados, no término do tempo regulamentar e no prolongamento, que deitaram tudo a perder. Desta feita, num jogo ganhável, todo o esforço colectivo foi arruinado num fumble junto à própria end zone, que permitiu que os Bucs passassem para a frente do marcador, no 4º período. Indiferente a isso, Blake Bortles jogou como o preconizado, quando foi eleito no draft. É isto que se pretende de um franchise quarterback. Capacidade de liderança, equilíbrio no pocket, valentia face à agressividade contrária, para mesmo assim fazer progredir o ataque. Os Jags foram competitivos graças ao desempenho superior de Bortles, com um 23 em 33, 303 jardas, 4 touchdowns e 1 intercepção. Sabe a pouco, no final, mas a resiliência ganha-se em dias assim.
Doug Martin. Já se sabe que o melhor amigo de um rookie quarterback é um jogo corrido consistente, que retire pressão dos ombros e não exija um esforço hercúleo na condução do ataque. Jameis Winston tem tido um início de carreira profissional complicado, com inúmeros erros, denotando um decision making questionável e onde se nota a imaturidade – natural – na transição para um mundo mais competitivo. Doug Martin, que depois do seu excelente ano rookie passou por uma espécie de travessia do deserto exibicional, tem ressurgido, assumindo-se como a principal arma ofensiva. Na semana passada, na derrota frente aos Panthers, tinha corrido de forma árdua e empenhada, com as suas 106 jardas a mostrarem que estava no bom caminho. Agora, assumindo a responsabilidade de decidir e a liderança do ataque, foi um workhorse, com 23 corridas, 123 jardas e 2 touchdowns. Não se ficou por aqui. Dinâmico, revelou utilidade fora do backfield, com 3 recepções para mais 35 jardas e novo TD. Atravessa um bom momento e os dias negros parecem fazer parte do passado.
Saints, 17 @ Eagles, 39
Willie Snead. Os Saints estão em notório período de transição ou, se quisermos ser mais acutilantes, em fase de desmantelamento da outrora temida equipa. A offseason confrontou os fãs com problemas no cap space, obrigando a um complexo jogo de saídas, que viu partir, entre outros, Jimmy Graham. No futuro próximo avolumam-se as dúvidas quanto à permanência na equipa de Sean Payton, cobiçado noutras latitudes, e de Drew Brees, rosto que se confunde com a história recente da franquia. O péssimo início de época, com uma modesta vitória à 5ª jornada, mostra que o pior ainda estará para vir. Mas, mesmo em plena penumbra, existem sempre alguns raios de luz, uma lufada de esperança. Willie Snead é um desses casos, um receiver que nenhuma das 32 equipas achou digno de ser draftado. Snead foi depois escolhido pelos Saints, com o labéu de undrafted a dificultar-lhe a vida, na ascensão dentro do roster. Era uma aposta longínqua para fazer parte dos 53 eleitos, mas conseguiu-o. Utilizado regularmente, nas 4 primeiras jornadas, explodiu no jogo em Philadelphia, apanhando 6 passes para 141 jardas, numa exibição electrizante.
Fletcher Cox. Aos 24 anos, Cox conseguiu o jogo de uma carreira. Escolha de 1º round no draft de 2012, tem sido uma aposta segura, mas pouco exuberante na defesa dos Eagles. Defensive end num 3-4, não é expectável que a sua produção se reflicta em números de abrir a boca. Mas, contra os Saints, Cox capitalizou o facto de ter como matchup o rookie Andrus Peat e tratou de colecionar movimentos disruptivos. No final, a soma foi grandiosa: 3 sacks, 6 tackles, dois forced fumbles (que levaram a 10 pontos) e um fumble recuperado. Impressionante.
Browns, 33 @ Ravens, 30
Josh McCown. Os Browns, que se tornaram uma anedota nos anos mais recentes, têm uma história considerável, com alguns momentos emblemáticos, recheada da presença de vários jogadores inesquecíveis. E McCown acabou de entrar para essa galeria. Nomes como Otto Graham, Bernie Kosar ou Frank Ryan preenchem o imaginário dos adeptos da equipa de Cleveland. São notáveis quarterbacks. Mas nenhum deles, ou outros mais ou menos anónimos, conseguiu o agora alcançado por McCown. Três jogos consecutivos com mais de 300 jardas. E, finalmente, no 3º dessa série, o triunfo sorriu aos Browns. Depois de perderem de forma excruciante em San Diego, no prolongamento, os Browns conseguiram algo em que poucos acreditavam. Vencer os Ravens, em Baltimore, e coleccionarem mais de 500 jardas no ataque. Desde que John Harbaugh tomou conta dos Ravens, perdeu apenas um encontro, em 17, contra os Browns. Num dia em que o jogo corrido não correspondeu ao esperado, McCown foi obrigado a lançar vezes sem conta. Foram 51 tentativas, acertando 36, para 457 jardas e 2 TDs, a que se soma um touchdown no solo, numa corrida de 10 jardas. Metódico, o quarterback liderou drives de 75 e 79 jardas, quando o marcador mostrava um 21-9 favorável aos da casa. A pressão, a hostilidade, a efervescência do ambiente, tornam o triunfo – e a forma como foi alcançado – inesquecível, um bálsamo para os sofridos fãs da equipa, que podem encarar o resto da temporada com alguma esperança, graças sobretudo à grande exibição de McCown.
Eugene Monroe. O veterano left tackle deu um verdadeiro clinic de como se deve jogar na difícil posição, no seu regresso à competição. Um verdadeiro guarda pretoriano, defendendo o reduto a que foi confinado, Monroe nunca permitiu veleidades aos edge rushers que procuraram o seu lado, dando tempo e espaço para Flacco decidir as jogadas. O seu contributo não se esgotou no papel de pass protector, sendo um eficaz run blocker e auxiliando várias das corridas de Justin Forsett. O tandem que formou com o left guard Kelechi Osemele foi um portento de força e coesão
Rams, 10 @ Packers, 24
Todd Gurley. Rodeado de algumas cautelas, devido à grave lesão contraída no ano passado, na universidade de Georgia, Gurley começou a demonstrar a sua qualidade e o porquê dos Rams o terem eleito no 10º lugar do ranking. Na semana passada, contra os Cardinals, foi o centro do ataque, na 2ª parte, demolindo a oposição e amealhando jardas, enquanto o cronómetro se esgotava. Maduro competitivamente, como se viu no último lance contra os Cardinals, onde optou por não marcar um TD que estava à sua disposição, preterindo a glória a favor do colectivo, gastando o que restava do relógio, mostrou estar pronto para assumir o grosso do trabalho. Fizeram-lhe a vontade e retiraram a trela. Gurley passou a ser o workhorse, o ponto focal no ataque, correndo 30 vezes e mostrando a sua valentia na maioria delas. Foram 159 jardas, mantendo sempre os Rams na corrida pelo resultado, coadjuvado nesse quesito pela defesa, que foi igualmente instrumental. Pena que a OL continue a ser débil na protecção do passe, nunca dando condições ideais a Nick Foles.
A Defesa. Num jogo atípico, com o ataque a soluçar e Aaron Rodgers estranhamente intranquilo, Lambeau Field pode ver que a reivindicação dos Packers ao título não se suporta apenas na qualidade ofensiva. Foram inúmeros os jogadores que, na unidade defensiva, contribuíram validamente para mais um triunfo, perante um adversário em crescendo. Datone Jones, por exemplo, foi crucial na pressão colocada sobre Nick Foles, obrigando-o a lançar de forma negligente. Quinten Rollins, rookie que constituiu uma forte e surpreendente aposta da franquia de Green Bay no recente draft, conseguiu uma pick 6. Clay Matthews voltou a ser a força omnipresente no centro do campo, acorrendo a quase todos os fogos, parando a corrida e perseguindo receivers. Foi também disruptivo, juntamente com o seu parceiro de aventuras Julius Peppers, amealhando 3 sacks entre ambos, mais uma quantidade apreciável de hits e tackles. Por último, destaque para Mike Daniels, cujo trabalho de sapa não é visível na folha das estatísticas, mas foi instrumental, quer contra o jogo corrido, que como elemento pressionante vindo do edge, ao conseguir importunar várias vezes Foles e Cª.