O que faz um fã convicto dos Patriots (devidamente vestido como tal) no MetLife Stadium a assistir ao encontro entre os New York Giants e os Pittsburgh Steelers? Era a pergunta essencial, à qual uma senhora sentada atrás de mim fez questão de responder correctamente (ainda que a meter-se comigo): deves ter vindo a voar com o furacão Sandy! Bem, não foi exactamente isso mas quase!
Irmão de um maratonista, desloquei-me em Novembro último a Nova Iorque para assistir à sua participação na maratona daquela cidade. Um evento único, marcado para dia 4, o mesmo dia do jogo acima referido. Fã dos Giants, o meu irmão ofereceu-me um bilhete, para que em conjunto com o nosso pai, fossemos os três ao football. Ia ser correr a maratona e logo depois correr para o estádio. Ia, mas não foi. Com a maratona cancelada devido às dramáticas proporções que o furacão acabou por ter, tivemos assim mais tempo, mas menos meios para chegar ao MetLife Stadium. Com os comboios também parados, só restavam aos autocarros alternativos. E foi justamente na espera para comprar os bilhetes que começou o cheiro a gameday. Jerseys azuis e brancos a conviver na maior com jerseys pretos e amarelos. Muitos Mannings, muitos Roethlisbergers, muita cerveja, muito entusiasmo, muita alegria. Percebe-se porquê! Numa época regular com apenas 16 jogos (em que só 8 são disputados em casa), cada encontro é transformado numa verdadeira festa tipo Jamor, mas à americana!
Foi exactamente isto que senti quando saí do BUS e vi um tremendo parque de estacionamento, cheio de pessoas a celebrar a ocasião . Desde famílias com os seus pequenos churrascos, às mega festas (as famosas Tailgate Partys) onde, pagando um X, se tem direito a comer, beber, fumar charutos, ver um mini museu e curtir um som antes do jogo. Atenção, nada disto que escrevo faz verdadeira justiça àquilo que vi. Amigos a fazer de quarterbacks e a passar a bola entre si, pessoas a dançar em cima de auto-caravanas, antigas glórias dos Giants a vender autógrafos e fotografias, churrascos churrascos e mais churrascos, fogueiras acesas e toneladas de lenha pronta a arder (a temperatura máxima nesse dia foram 5º), porcos no espeto, enfim, um ambiente de verdadeira celebração, onde o convívio se faz com muito fair-play e boa disposição. Derrubados dois hamburgers feitos na grelha com o queijo posto por cima para derreter e depois regados com um sem número de molhos, foi tempo de preparar a entrada no estádio, com a finalidade de capturar todos os momentos que antecedem um jogo de NFL. Junto aos portões onde se formavam as filas, ecrãs gigantes com as transmissões dos jogos que estavam a decorrer (o nosso jogo era às 16h25 e grande parte da jornada arranca às 13h). Um verdadeiro luxo!
Logo após entrar no recinto exterior do estádio, uma banda a tocar o Buddy Holly dos Weezer (hell yeah!) e logo ali ao lado, uma das várias Giants Stores Móveis. Sim, aqui tudo é business e na verdade, faz todo o sentido que assim seja. Nenhum pormenor é deixado ao acaso e cada produto parece mais apetecível do que o anterior. Subidas as escadarias, eis que chega finalmente um dos grandes momentos do dia – entrar no MetLife Stadium. Majestoso, moderno, confortável, espectacular. Podia gastar mais adjectivos e não estaria a exagerar. Corremos imediatamente para a 1ª fila, onde era possível ver já alguns jogadores a fazer exercícios de aquecimento.
Nos ecrãs (mesmo) gigantes, ora imagens de touchdowns nos jogos a decorrer, ora imagens do aquecimento, tudo isto ao som das músicas dos iPods dos jogadores dos Giants. Ideia simples, gira e eficiente. Depois foi assistir à entrada das field goal units (já devidamente equipadas), para fazerem também o seu aquecimento. Seguiram-se as equipas de ataque e de defesa. Terminados estes exercícios, os jogadores retiraram-se para dar lugar aos militares que se alinharam para a grandiosa entrada em campo das equipas. Esta acontece em separado (como antigamente se fazia por cá, com o nosso futebol), sendo que a entrada dos Giants foi a mais espectacular, com fogo de artifício e muito entusiasmo à mistura. Acto contínuo, a entrada da (mega) bandeira americana, que uma vez aberta, ocupou todo o perímetro do relvado e o pedido do speaker para que todas as pessoas se ponham de pé, que retirem gorros e bonés, para que se cante o hino Americano (neste caso, pela voz de uma actriz cujo nome não fixei), naquela tarde dedicado às vítimas do Sandy.
Que momento! O momento! Mesmo sendo Português de gema, não contive a emoção e ainda hoje lembro a voz grossa de um homem que estava atrás de mim, quase um tenor. Lembro-lhe a voz e o sentimento que metia em cada palavra que entoava. Verdadeiramente arrepiante, seguramente inesquecível. Ao contrário do que acontece no Gillette Stadium, nenhum avião fez o fly over no fim do hino.
Ouviu-se mais fogo de artifício e avançou-se rapidamente para a cerimónia da moeda ao ar. Estava a chegar a hora do kickoff! O estádio estava cheio e com uma impressionante presença de adeptos dos Steelers. O pontapé inicial foi dado por Shaun Suisham e era mesmo verdade, podia beliscar-me, estava a ver um jogo de NFL ao vivo e a cores. No estádio a festa é outra e nenhum detalhe escapa ao espectador. A cada snap, o speaker comunica o resultado da jogada. Quando há dúvidas, vê-se a repetição. Tudo é claro como a água. Ao touchdown dos Giants ouve-se o New York Groove dos KISS, aliás, foram 3(!!!) as músicas que ouvi desta banda (uma das minhas preferidas), neste estádio. O jogo em si foi espectacular, os Giants chegaram ao intervalo a ganhar 14-10. No 3º quarter fizeram mais dois field-goals e elevaram para 20-10, mas no último quarter sofreram dois touchdowns e conseguiram perder o jogo por 20-24. Perguntava-me a mim próprio a razão de não terem tido este bloqueio, tão típico desta equipa, no Super Bowl da época anterior, contra os meus Pats! Grrrrrrr!!! Enfim… por aqui as derrotas aceitam-se com desportivismo. Como me dizia um companheiro de bancada, at the end of the day, it's just sports.
À saída, estava reservado o mais duro de todos os testes. Esperar mais de 3 horas, ao vento e ao frio gelado, por um autocarro. Sem comboios, o caos instalou-se e foi preciso a imediata intervenção da polícia para ordenar as filas de espera (dando total prioridade a pessoas com crianças, pois claro!). Mas em poucos minutos, já tudo fazia sentido e foi preciso apenas paciência (e muita resistência) para que a nossa vez de entrar no autocarro chegasse. Passava já da 1h da manhã quando chegámos a Times Square, ao coração de Nova Iorque e ao fim deste dia que por mais anos que viva, jamais esquecerei. Para terminar e só por curiosidade: fui para o jogo com um blusão dos Patriots e passei o tempo a ser abordado por adeptos dos Giants e dos Steelers. Ninguém foi indelicado comigo. Muitos diziam até gostar bastante dos Pats. É outra forma de estar no desporto e seguramente mais um motivo para gostar cada vez mais da NFL.
Fiquem com as fotos desta aventura.
O Marco Castro é o fundador da página do Facebook Patriots Portugal
A Página Patriots Portugal tem como finalidade ser um local de encontro. A “sede” virtual de uma comunidade de pessoas que partilham uma paixão comum, os New England Patriots e que, diariamente, gostam de saber aquilo que se passa com o seu franchise preferido. Por aqui, conversa-se em Português, de uma forma leve e bem disposta. Sem pretensões nem certezas absolutas. Apenas com o prazer de contribuir para que muitos como nós, possam alimentar a sua devoção Patriota.