Minnesota Vikings: Tempo de Mudança?

Paulo Pereira 20 de Janeiro de 2014 Análises, Artigos, Equipas NFL, NFC North, NFL Comments
Minesota Vikings

Minnesota Vikings: Tempo de Mudança?

Enquanto os Minnesota Vikings continuavam mergulhados na procura dum novo head coach e, com ele, uma lufada de ar fresco na coordenação, o tempo que resta aos seus adeptos é de pura especulação. A NFL tem essa faceta. A de reflexão. Com o final da regular season, a máquina que sustenta a próxima temporada começa a carburar. É o tempo dos sonhos. Daqueles travestidos de purple & gold, onde tudo o que acontecerá, no futuro imediato da franquia, a colocará no rumo do Super Bowl. É o tempo da fantasia, do devaneio. Da quimera do novo franchise quarterback. Enquanto nos entretemos em adivinhar o próximo draft, alguns tentam, de forma mais séria e profissional, lançar luz sobre os destinos imediatos do clube. Como o Daily Norseman. Para quem não conhece, aqui ficam as apresentações. Site/blog gerido, de forma passional, por férreos fãs da franquia de Mineapolis, com as opiniões inflamadas pela paixão devidamente calibradas por um profundo sentido de auto-crítica.

Num dos exercícios recentes, foi lançada uma ideia que, analisando de forma mais detalhada, pode marcar o panorama dos Vikings, em 2014. Uma espécie de “what if”? Com Leslie Frazier despachado – o ex-técnico dos Vikings não demorou a encontrar nova casa, aceitando o convite para coordenador defensivo dos Buccanneers – e Rick Spielman entretido em constantes entrevistas e avaliações de putativos candidatos ao lugar (entre outros, Todd Bowles, Dan Quinn, Mike Zimmer e Ray Orton), uma concepção ganhou forma. E se os Vikings mudassem o esquema defensivo, abandonando o 4-3 e passando para um 3-4? Faz sentido tentar essa inversão, como os Saints realizaram, com a chegada de Rob Ryan? E, se sim, terão os Vikings os jogadores indicados para as diferentes funções? Para já, é uma simples associação de ideias. Dos quatro nomes acima mencionados, existe algo em comum, para além do facto de todos serem coordenadores, almejando dar o passo seguinte na ascensão. As unidades por eles geridas utilizam conceitos de 3-4. Logo, somando 2+2, se um deles se tornar o novo head coach, existirá a tentação de implementar o novo esquema táctico já em 2014. Eu sei. É um tiro no escuro. Uma especulação quase radical. E, enquanto escrevia estas linhas, preso de desinspiração total, a franquia de Mineapolis escolheu. E bem, quanto a mim, elegendo Mike Zimmer como o novo timoneiro. Mas isso, para agora, nem importa tanto.O cerne da questão é se vale a pena manter o 4-3 ou se a mudança para 3-4 trará melhorias.

Antes disso, uma explicação simplista do que é o 4-3 e quais as diferenças para um 3-4. Os Vikings usam o 4-3 há imenso tempo. Tanto que se tornará sempre difícil aceitar, de início, a alteração. O esquema colou-se à epiderme da unidade defensiva, como se de uma segunda pele se tratasse. Pois bem, para os mais leigos na questão, quando se fala em 4-3 ou 3-4, refere-se à composição do front 7. Em 4-3 o alinhamento conta com 4 defensive lineman e 3 linebackers. Em 3-4, o alinhamento é similar, com menos unidades, como facilmente se constata, na linha da frente. Num sumário superficial as grandes diferenças aparecem nas responsabilidades dos defensive ends e dos outside linebackers. Uma das vantagens mais propaladas pelos entendidos no esquema 3-4 é que ele pode confundir o quarterback adversário, que tem que adivinhar qual dos outside linebackers vai ser o pass rusher e qual cairá em cobertura. Reside aqui uma das diferenças visíveis entre os dois esquemas tácticos. Os outside linebackers em 3-4 têm que ser, preferencialmente, maiores do que num esquema 4-3, e devem ter a velocidade suficiente para conseguir chegar ao QB contrário, em situações de pass rush. Têm, igualmente, que ser capazes de lidar com situações de cobertura, no passe, sendo que o foco primário será sempre o pass rush.

A outra alteração de nomeada acontece nos defensive ends. Com apenas 3 lineman, existe maior responsabilidade por parte do DE na defesa contra o jogo corrido. Também por essa necessidade, um defensive end de 3-4 tem que ser maior e mais pesado do que a sua contraparte, em 4-3. Jogadores como Cameron Jordan, dos Saints, ou Muhammad Wilkerson, dos Jets, são o exemplo perfeito de um defensive end em 3-4. A sua envergadura física permite-lhes lidar regularmente com o double-team adversário, face à superioridade numérica inicial da OL sobre o trio da frente. E é essa capacidade de lidar com oposição dupla que faz a triagem primária na procura dum nose tackle. Este terá que ser um “armário”, um jogador forte e alto, maior do que um defensive tackle de 4-3, com força, poder e agilidade que lhe permitam evitar, em primeira instância, a criação de disrupção por parte do center e guards contrários. A escolha do esquema tem repercussões também no resto da unidade defensiva, sobretudo na secundária. E porquê? Num 4-3, tornou-se usual assistir à substituição de um dos 3 linebackers por um defensive back. Num esquema tradicional, as equipas jogam com dois cornerbacks e dois safeties. Em 4-3, conforme disse, é agora normal assistir a situações de nickel defense (5 defensive backs) e até dime (6 defensive backs), com a defesa a tentar encontrar formas de parar o jogo de passe do adversário, com intrincados sets de 3 e 4 receivers. A conclusão final, num esquema 4-3, é que a equipa que o adopta necessita de ter três excelentes cornerbacks e bastante profundidade no depth chart da posição. No esquema 3-4, que raramente coloca situações de nickel ou dime na defesa, jogando maioritariamente com 4 jogadores na secundária, o foco principal é ter quatro bons starting linebackers e imensa profundidade na posição. Explicado o básico, e caso os Vikings pretendam efectuar essa alteração, existem jogadores no roster que dão garantias de fiabilidade num esquema 3-4? Resposta rápida: NIM. Um nem por isso envergonhado. Mas também não tem jogadores actualmente para manter o 4-3. Conforme dito acima, um dos requisitos é ter profundidade bastante na secundária e ter, pelo menos, 3 excelentes cornerbarcks. Os Vikings têm isso? Nah. A secundária foi o calcanhar de Aquiles, ao longo da época, com péssimas jogadas por parte de Chris Cook e Robert Blanton (se bem que este tem a desculpa de ter sido adaptado à função). O único potencial shutdown corner existente na equipa é Xavier Rhodes, que mesmo assim tem um ponto de interrogação à frente, face aos constantes problemas físicos de que padeceu. Por outro lado, a equipa perderá, provavelmente, Jared Allen e Kevin Williams na free agency de 2014. Sem eles, e dada a dimensão da empreitada que espera a equipa técnica, obrigada a reestruturar quase todo o sector, mais fácil será existir uma transição para o 3-4. E pode ser que resulte…

3-4 Nose Tackle

Candidatos no roster: Nenhum

Os Vikings não possuem o nose tackle protótipo de um 3-4. Nas medidas estereotipas para a posição, um NT deve ter entre 325-360 pounds. O jogador que mais se aproxima, em termos de peso/tamanho, é Fred Evans, nuns tímidos 305. E ele será igualmente free agent em 2014. Aqui existe sempre a possibilidade de os Vikings encontrarem o jogador desejado no draft – Louis Nix III, de Notre Dame, aparenta ser o melhor para a função – ou através da free agency, como Cam Thomas ou Terrance Cody, dois dos prováveis free agents disponíveis.

3-4 Defensive End

Candidatos no roster: Sharrif Floyd, Letroy Guion e Chase Baker

Também aqui se constata a falta de um protótipo defensive end de 3-4. É possível que, numa adaptação, os defensive tackles de 4-3 possam tornar-se defensive ends. O que se espera, em termos mensuráveis, é que o DE tenha entre 285-300 pounds e seja capaz de bater-se com o double team. Os requisitos são similares, no entanto, aos que Floyd (escolha de round 1, no ano passado) e Guion desempenham actualmente, com as 3-technique position. Sendo defensive tackles abaixo do tamanho expectável, mesmo num 4-3, podem perfeitamente adaptar-se a um novo esquema. “Basta-lhes” perder algum peso e adquirir alguma velocidade.

3-4 Outside Linebacker

Candidatos no roster: Everson Griffen, Brian Robison, Justin Trattou, Marvin Mitchell

O OLB ideal pesa entre 255-270 e terá uma altura entre os 6’3-6’5 e qualquer um dos nomes acima descritos não preenche essas medidas. Se perceberam a diferença enunciada, um OLB de 3-4 tem que ser agressivo e disruptivo, no ataque às linhas ofensivas, tendo que para isso ter velocidade e mobilidade. Terá igualmente que ter skills na coverage, quando for designado para situações de cobertura, daí a necessidade de a altura não colidir com essas tarefas. Everson Griffen e Marvin Mitchell são ambos free agents, mas parece claro, nesta altura, que os Vikings farão um esforço para renovar com Griffen, que tem demonstrado, na sombra de Jared Allen, qualidades apreciáveis de pass rusher. Ele parece ser o candidato mais sério a mudar de DE para OLB, no caso da equipa optar pela transição. Griffen é um atleta fenomenal e fez um trial a linebacker, no ano passado. Brian Robinson, nos tempos de college, jogou como linebacker, tendo depois feito a transição para defensive end, quando chegou ao mundo profissional. Trattou ainda é um corpo estranho na equipa, assinado a meio da temporada, podendo fazer a posição de OLB. Mitchell é linebacker, mas não se destacou em nada de particular, em 2013. Num esquema 3-4 esta é, seguramente, uma das posições mais importantes e que não poderá ser descurada. Existem, como escrevi acima, dois tipos de outside linebackers, de características distintas. Existe o Joker, aquele que é primariamente pass rusher e existe o outro tipo, uma espécie de Jack-of-all-trades, ou faz-tudo. É um linebacker que tem que possuir habilidades específicas na coverage, run defense e blitzing. Pelas características enunciadas, Brian Robinson parece talhado para ser um Joker, enquanto Griffen ou Mitchell servirão do lado oposto, na outra “versão” de OLB.

3-4 Inside Linebacker

Candidatos no roster: Audie Cole, Michael Mauti e Gerald Hodges

As responsabilidades dos dois inside linebackers num esquema 3-4 são similares às de um middle linebacker em 4-3. A grande alteração é que, em 3-4, dada a existência de dois linebackers interiores, um deles é considerado o “Mike” linebacker e deve ser extremamente atlético, capaz de cair em coverage, entrar em blitzes, cobrir receivers e tentar diagnosticar qual a jogada que o quarterback contrário fará. O outro linebacker interior é designado, neste esquema, por “Ted”. Geralmente é maior e mais forte fisicamente e deverá usar esse mesmo poder físico na eliminação dos blockers adversários, no jogo corrido. Fundamentalmente, o Ted deve bater-se fisicamente com os guards, centers ou tackles que lhe apareçam no caminho, a tentar criar rotas para o running back. Este trabalho de sapa tem a função de libertar o Mike para atacar de imediato o portador da bola. Percebe-se assim o porquê das características físicas distintas para jogadores que fazem a mesma função. Audie Cole foi uma das revelações da fase final da temporada, aproveitando as lesões no corpo de linebackers. Michael Mauti raramente foi utilizado de forma a permitir uma avaliação cabal, mas no college ele desempenhava a função, com qualidade. Gerald Hodges é algo undersized, se levarmos em linha de conta o pretendido, enquanto Chad Greenway poderá ser uma baixa colateral da eventual mudança de esquema. Gosto de Greenway, que sempre foi um dos jogadores mais emblemáticos nos Vikings, mas 2013 revelou um decréscimo acentuado da sua performance e o seu elevado salário pode levar a uma mudança de ares. Se os Vikings optarem pela transição de esquema, terão forçosamente que reforçar a unidade de linebackers, em qualidade e quantidade.

3-4 Cornerback

Candidatos no roster: Xavier Rhodes, Josh Robinson, Marcus Sherels, Shaun Prater

O cancro da defesa. A zona mais permeável da unidade e aquela onde seria necessário um reforço imediato…se a equipa optar pela manutenção do 4-3 actual. Um dos principais benefícios colhidos da transição para 3-4 é que serão precisos menos cornerbacks. E, dada a falta de qualidade no roster, actualmente, isso era bem vindo… Dos quatro nomes acima mencionados, apenas Xavier Rhodes recolhe a unanimidade de elogios. Jogador novo, clara aposta no draft passado, tem tudo para se impor na equipa, desde que consiga manter-se em campo. Josh Robinson é ainda algo cru, mas melhor do que Sherels (a manutenção deste passa, sobretudo, pelo contributo que dá ao special team) e Shaun Prater. Em 3-4, o que se pede aos cornerbacks é simples: que sejam capazes de lidar com marcações ao homem e à zona, contribuindo de qualquer uma das maneiras

3-4 Safety

Candidatos no roster: Harrison Smith, Jamarca Sanford, Andrew Sendejo e Robert Blanton

Nenhum deles jogou, como se diz na gíria, “porra nenhuma” este ano. Harrison Smith, que foi Pró Bowler no ano de estreia na liga, lesionou-se com gravidade, delapidando a equipa do seu talento, obrigada a recorrer a força de trabalho a roçar a mediania. Mas, tal como no corpo de cornerbacks, se a opção for o 3-4, não será preciso nenhuma revolução a nível de contratação de jogadores. Quando muito, uma operação de cosmética. O que existe, chega e sobra para as encomendas. As responsabilidades dos safeties, em 3-4, são praticamente idênticas às de 4-3, com a existência do free e strong safety. Smith e Sanford casam com os interesses necessários, num esquema ou noutro.

Conclusão

Mudar de 4-3 para 3-4 e ter sucesso de imediato dependerá duma série de factores. A saber:

  1. Um nose tackle, actualmente inexistente no roster. O ideal, logicamente, seria Louis Nix, mas isso requeriria uma pick de 1º round, que os Vikings usarão provavelmente num quarterback. As rondas inferiores do draft têm sempre talento escondido e a posição de NT poderá ser preenchida aí. Ou na free agency. Mas esta será sempre uma necessidade primária, sem a qual não faz sentido alterar o esquema defensivo
  2. Mudar Everson Griffen e Brian Robinson de defensive end para outside linebacker…e ter sucesso na operação, com a equipa a ter necessidade de produção imediata de ambos
  3. Passar Shariff Floyd e Letroy Guion de defensive tackle para defensive end. Tal como no ponto 2, que essa alteração tenha resultados urgentes. A equipa não se poderá ressentir com períodos de adaptação, se existir a obrigatoriedade de vencer de imediato. Tudo dependerá do exigido. Os Packers, acérrimos rivais dos Vikings, demoraram a fazer o ajustamento, quando alteraram para o 3-4. Ou existe paciência com as necessárias dores de crescimento…ou mais vale ficar sossegado. Em suma. Vale a pena a mudança? Sim. Vale. É mais do que provável que Jared Allen, Erin Henderson e Chad Greenway saiam da franquia. Existem mais opções no draft para montar um esquema 3-4 com qualidade do que para o sistema vigente. A equipa, claramente, não possui agora peças de qualidade (e em quantidade para conferir profundidade ao roster) para manter o 4-3. Por isso, porque não explorar claramente essa vertente, capitalizando a experiência?

About The Author

Paulo Pereira

O meu epitáfio, um dia mais tarde, poderá dizer: “aqui jaz Paulo Pereira, junkie em futebol americano”. A realidade é mesmo essa. Sou viciado. Renascido em 2008, quando por mero acaso apanhei o Super Bowl dos Steelers/Cardinals, fiz um reset em [quase] todos os meus dogmas. Aquele desporto estranho, jogado de capacete, entranhou-se no meu ADN, assumindo-se como parte integrante da minha personalidade. Adepto dos Vikings por gostar, simplesmente, de jogadores que desafiam os limites. Brett Favre entra nessa categoria: A de MITO.