Minnesota Vikings: O Futuro é Já a seguir

Paulo Pereira 18 de Dezembro de 2014 Análises, NFL Comments
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Minnesota Vikings: O Futuro é Já a seguir

Oficialmente, os Minnesota Vikings estão de fora dos playoffs. Surpresa? Claro que não. Desilusão? Alguma. E isso, por muito estranho que pareça, representa alguma esperança. Quando sentimos frustração por um resultado, é sinal que esperávamos mais da equipa. Face a tudo o que se passou nesta temporada, já devidamente escalpelizado noutros artigos (castigo de Adrian Peterson, lesões, jogo corrido e aéreo a cargo de rookies), era previsível, aceitável e tolerável que a equipa apresentasse dificuldades evidentes nos jogos. E o melhor elogio que se pode fazer a Mike Zimmer e Cª é que, pese tudo isso, nos fizeram sonhar. Querer vencer, independentemente dos obstáculos, é o mantra em vigor na NFL. E os Vikings levaram-no a sério, melhorando consideravelmente em relação ao ano passado. Competitivos em (quase) todos os jogos, deixaram-me a pensar o que se seria desta temporada se o factor sorte tivesse estado do nosso lado, sobretudo na derrota em Buffalo. Ou nesta, dolorosa, em Detroit. Um jogo que esteve ganho, fora de portas, contra um adversário que luta pela liderança na divisão, perdido de forma quase surreal, com vários tiros nos pés. Nota-se que a equipa caminha na direcção certa, mas ainda é preciso limar várias arestas…

Aplausos

  • Xavier Rhodes, CB: Provavelmente foi o jogador que mais evoluiu, de um ano para o outro. A sua temporada de estreia foi marcada por várias lesões, que abrandaram a sua entrada no mundo profissional. Quando jogou, revelou sempre claras dificuldades, parecendo algo perdido dentro de campo. Este ano a transformação foi radical. Rhodes pode vir a ser, num futuro próximo, o tão desejado shutdown corner. Numa época globalmente positiva, tem mostrado evolução contínua na cobertura, não se intimidando com o nome do adversário. Zimmer colocou-o na perseguição de Calvin Jonhson, algo que mesmo o mais tarimbado dos cornerbacks deve temer. Mas Rhodes safou-se com qualidade, manietando o gigante dos Lions e conseguindo estancar o habitual ganho de jardas destes. Apenas por uma vez, numa jogada de 23 jardas, foi batido, mas no computo geral a sua exibição foi impressionante. Grande jogo!
  • Charles Johnson, WR: A revelação no jogo aéreo, este ano, voltou a ter um jogo produtivo. Para já, aparenta ter erradicado do seu jogo o problema que o atormentava: os drops. Charles Johnson tem criado enorme empatia com Bridgewater, conectando-se com o quarterback em todos os jogos e assumindo-se como o principal alvo no ataque. Vindo da practice squad dos Browns (e, antes disso, da practice squad dos Packers), Johnson conseguiu suplantar Cordarrelle Patterson na depth chart, algo que parecia improvável no início da temporada. Contra os Lions, teve uma big catch, de 40 jardas, que permitiu uma óptima posição no terreno e que acabou por levar ao 2º TD dos Vikings no jogo.
  • Kyle Rudolph, TE: É uma pena que se tenha lesionado e perdido demasiado tempo de jogo. Rudolph tem tudo para brilhar no jogo de ataque dos Vikings, orquestrado por Norv Turner. O coordenador ofensivo costuma criar cenários favoráveis para os tight ends e Rudolph será sempre, quando saudável, uma presença assídua e importante na equipa. Conseguiu 7 recepções e 69 jardas, aparecendo maioritariamente no centro do terreno, onde se revela sempre um mismatch para os linebackers.
  • Greg Jennings, WR: É uma pena que tenha chegado aos Vikings com a equipa envolta em indefinições na posição de quarterback, como no ano passado. É, ainda um atleta notável e com uma qualidade insuspeita. Dificilmente permanecerá no roster, com o salário que terá em 2015 (cerca de 11 milhões), mas tem mantido um nível de jogo extremamente profissional. Voltou a estar em bom plano, com algumas recepções difíceis e que mostraram o empenho posto no encontro. Marcou o 2º TD dos purple & gold e provou que pode ser uma mais-valia para 2015. Mas a um preço incomportável.
  • Matt Asiata, RB: É um dos meus alvos predilectos para críticas ou piadolas grosseiras. Não gosto dele. Ponto. Voltou a mostrar, contra os Lions, que é um running back mediano, não acrescentando nada de assinalável. Mas surpreendeu-me como pass catcher, com 7 recepções (maioritariamente vindas de dump offs) para 50 jardas.

Assobios

  • Jogo corrido: Era expectável, mas tem que ser apontado. Se Jerick McKinnon ainda conseguiu adicionar qualidade ao sector, tornando a orfandade de Adrian Peterson mitigável, a sua lesão retirou da equação a ameaça do jogo corrido. Os Vikings são pedestres a correr com a bola. E os adversários sabem. Pouco preocupados com o perigo do jogo corrido, tem-se assistido a um aumento de blitzes, tendentes a parar o jogo aéreo e trazendo pressão adicional sobre a OL. Em 18 snaps contra os Lions (não ajudou jogar contra uma das melhores defesas contra o running game) apenas 46 jardas ganhas. É pouco. Muito pouco. E isso torna a tarefa de Teddy bem mais exigente.
  • Blair Walsh, K: É algo injusto escrever isto, mas provavelmente perdemos o jogo pelos erros do kicker. São 5 falhanços, nos últimos 6 field goals tentados. Ok, um deles era irrealizável. O último, precisamente, quando Mike Zimmer optou por um FG de 68 jardas, em detrimento de um Hail Mary. Podemos retirar da equação esse pontapé que apelou a um milagre de Natal. Mas Walsh tem sido inconstante, falhando de posições onde era confiável. Desperdiçou um field goal de 53 jardas e viu outro, de 29, ser bloqueado. Bastava apenas esse, de 29 jardas, ter sido concretizado com sucesso, e provavelmente teríamos mais uma vitória na classificação. Numa posição tão importante, vai ser interessante de acompanhar o que Zimmer irá fazer. Para já, merecidamente, Blair Walsh mereceu um voto de confiança. Pode ser apenas uma fase passageira, mas não costuma existir muita paciência para kickers com dores de alma.
  • A última drive: Ainda sonhei, confesso. 45 segundos para ganhar perto de 50/60 jardas? É realizável, mesmo sem descontos de tempo. É preciso existir alguma sincronia, nas diferentes unidades, e tentar alguns screens, com bloqueios criativos pelo meio, permitindo ao receptor da bola sair pela linha lateral e parar o cronómetro. Mas pronto. Se acima gabei o Asiata, agora transformo-o em vilão. Mas num daqueles vilões apatetados, que não fazem mal a ninguém. Uma espécie de Mr.Bean, que cria o caos e é totalmente descoordenado. Um trapalhão. Ponto. Asiata recebeu o passe…e não tentou sair pela linha. Nope. Isso seria o esperado. Asiata é um visionário. Correu com a bola. Pelo meio do campo. Ainda tentava restabalecer-me do choque, ao ver a opção, quando Asiata, sem ninguém por perto (podia ter ganho umas 10 jardas adicionais)…tropeçou. Até o destino não gosta de ti, Matt! O resultado? Confusão instalada. Sem descontos de tempo, foi necessário fazer o spike da bola, para parar o maldito relógio. Mas só nisso, em colocar toda a gente a postos, fazer o snap e depois o spike os Vikings perderam uns 10 segundos preciosos. Bridewater ainda conseguiu, depois, efectuar o passe para Rudolph, conseguindo um novo first down. Mas a bola foi lançada para o centro do terreno. Mais do mesmo. Alinhar, snap e spike. Mais 13 segundos desperdiçados. E depois foi o que se viu. Um field goal de 68 jardas.
  • Teddy Bridewater:  Já apresentou alguns sinais encorajadores esta temporada. São expectáveis as dores de crescimento na posição. Que raio, ele é apenas um rookie.Teddy tem demonstrado conseguir crescer e ganhar maturidade em plena competição, optando quase sempre pela melhor jogada, lendo bem as defesas. Mas teve duas drives consecutivas, contra os Lions, que colocaram os adeptos dos Vikings à beira dum ataque de nervos. Por momentos, parecia que não era ele em campo, mas antes um clone mais escuro de Ponder. Ou uma mistura tóxica de Geno Smith + Mark Sanchez. Em suma, um tipo desastrado com a bola nas mãos. A equipa vencia por 14-0. Tinha a posse de bola. Estava a meio duma promissora drive, parecendo poder ir pontuar novamente e cavar um fosso pontual significativo. E lançou uma pick totalmente imbecil. Tudo bem. São as dores de crescimento. Aceitáveis. A intercepção deu vida aos Lions. E pontos. No seguimento da pick, acabaram por marcar um touchdown. Bola nos Vikings. Outra vez. E nova pick? Mas estás a brincar com isto, Teddy? WTF? Quase a papel químico da anterior, lançando para o interior da rota, permitindo que o cornerback cortasse a sua movimentação e antecipasse o movimento. Mais 3 pontos no seguimento da pick.

É pena. Os Vikings foram bem mais competitivos com os Lions agora do que quando os defrontaram, em Minnesota. Para isso contribuiu a maior solidez da OL, que protegeu melhor Teddy Bridgewater (4 sacks neste jogo e 8 no anterior embate), mas mesmo assim a equipa claudicou nos instantes finais, num desaire que pareceu sempre evitável. E é isto que falta. As boas equipas conseguem vencer jogos apertados. Os Vikings ainda não. Tem sido difícil vencer on the road (2-5) e impossível de fazê-lo contra os rivais de divisão (5 derrotas em outros tantos confrontos). Aqui, nestes embates de enorme rivalidade, esteve a chave do sucesso – ou falta dele – na temporada. Mas já se sabia que, neste ano I de Zimmer, o crescimento viria sempre com alguma dor associada. A equipa é nova e suportou demasiados golpes. O importante foi conseguido. Criar um núcleo de jogadores importantes, na defesa e ataque, em redor do qual se podem construir as fundações para o futuro.

About The Author

Paulo Pereira

O meu epitáfio, um dia mais tarde, poderá dizer: “aqui jaz Paulo Pereira, junkie em futebol americano”. A realidade é mesmo essa. Sou viciado. Renascido em 2008, quando por mero acaso apanhei o Super Bowl dos Steelers/Cardinals, fiz um reset em [quase] todos os meus dogmas. Aquele desporto estranho, jogado de capacete, entranhou-se no meu ADN, assumindo-se como parte integrante da minha personalidade. Adepto dos Vikings por gostar, simplesmente, de jogadores que desafiam os limites. Brett Favre entra nessa categoria: A de MITO.