Minnesota Vikings: O Que Esperar da Offseason

Paulo Pereira 20 de Janeiro de 2016 Equipas NFL, NFL Comments
Minesota Vikings

Minnesota Vikings: O Que Esperar da Offseason

O trabalho de sapa que é necessário para tornar uma franquia relevante é, muitas vezes, uma tarefa hercúlea. Mike Zimmer, no competitivo mundo do futebol americano profissional, chegou tarde ao cargo de head coach, mas tem mostrado qualidade, numa amostra ainda curta de dois anos. O que esperava o veterano treinador em Minnesota não era fácil. Pedia-se ao ex-coordenador defensivo dos Bengals que pegasse numa equipa que vegetava no último lugar da NFC North e lhe desse identidade, personalidade, maturando-a para crescer rapidamente e desafiar o quase eterno domínio dos Packers na divisão. Tudo podia ter descarrilado, bem antes de começar. Ou quase. Abordar a offseason, com a free agency e draft, é sempre uma empreitada delicada, que exige empatia com o general manager e um profundo conhecimento do mercado. Mercê de alguns bons movimentos no draft, a fundação preciosa para a ideia futura dos Vikings começou a ser construída com várias escolhas de 1º round. A filosofia reinante, não sendo nova, emulava o que de melhor era visto nos rivais de Green Bay: construir via draft, fazendo evoluir os próprios jogadores, evitando o recurso regular ao inflacionado mercado de jogadores livres. O ano I de Zimmer viverá sempre sob o espectro do que poderia ter sido. Um what if que nunca será respondido. E se Adrian Peterson não tivesse sido castigado 15 jogos? Mas foi. Um treinador novo, que cria um modelo ofensivo em redor do seu melhor jogador para, com apenas um jogo na temporada, ver-se privado do mesmo? Era um pesadelo, que foi limitado pela experiência de Zimmer. Terminar esse campeonato com um 7-9 foi positivo, lançando a ponte para o ano seguinte. E este, mesmo terminando de forma dolorosa, naquele field goal desperdiçado por Blair Walsh na 1ª ronda dos playoffs, apenas serve para validar o crescimento sustentado da equipa. O 11-5, já de si revelador da excelência do trabalho feito, foi coroado de forma impressiva com o título da NFC North, conquistado em casa do detentor, numa espécie de passagem de testemunho. As expectativas para 2016 são, assim, elevadas, com o progresso e promessas feitas em 2015 a terem que ser visíveis em 2016. Com uma das melhores defesas da competição e um ataque pouco sedutor, mas equilibrado e consistente, os purple & gold mostram possuir já um roster com talento de estrelas e legítimas ambições a algo mais do que a mera ida ocasional à postseason. Em redor do que existe, com alguns dos jogadores a serem pedras basilares na equipa (casos de Harrison Smith, Anthony Barr, Linval Joseph, Everson Griffen, Stefon Diggs e Joe Berger) é possível construir um contendor perpétuo, pelo menos para a próxima década. Como?

1. Melhorar a Linha Ofensiva

A linha ofensiva dos Vikings entrou em 2015 com várias questões por resolver, vivendo sob o clima da desconfiança. O regresso dos 5 titulares, que dava algum conforto competitivo, foi sol de pouca dura, com as devastadoras lesões de Phil Loadholt e John Sullivan, no início da época, a depauperarem a unidade. E, não havendo como negar, a OL viveu um ano horrível, conseguindo ser competente no apoio ao jogo corrido, mas vegetando na mediocridade na eficiência do pass blocking. A porosidade da linha teve reflexos no ataque, com Norv Turner a ter que instalar um sistema mais conservador, num ataque apoiado essencialmente no jogo corrido, alternando com um de passes curtos, evitando a exposição de Bridgewater ao pass rush adversário. Se a equipa conseguiu evitar a profusão de turnovers, foi penalizada pela ausência de big plays, escasseando os exemplos de passes acima das 10/15 jardas. O único motivo de contentamento, quando se fala na guarda pretoriana destinada a proteger o quarterback, foi o sólido jogo de Joe Berger, como center. A perda de Loadholt, um dos melhores run blockers da liga, levou à ascensão precoce de TJ Clemmigs para right tackle, com este a ser constantemente assoberbado e ultrapassado pelos opositores. Este é o primeiro dilema a resolver, em 2016. Quem manter? A lógica diz que Loadholt, pelo capital de veterania, experiência na posição e qualidade, mas a sua idade (prestes a entrar nos 30) e o peso do seu salário no cap space (quase 8 milhões), bem como as mazelas de que padece, que o fazem perder jogos em quantidade, levam a equacionar se será uma opção de longo prazo. TJ Clemmings, mesmo com a má prestação desportiva em 2016, tem ainda um capital de esperança, dado só ter entrado na liga em 2014. Se Loadholt regressar em forma, no início da próxima temporada, os Vikings poderão perfeitamente usá-lo na OL titular, enquanto desenvolvem as skills de Clemmings. Se por aqui pode existir uma solução para impermeabilizar a unidade, chegou a altura dos Vikings decidirem o que fazer com Matt Kalil. O left tackle teve um ano rookie – em 2012 – magnífico mas, desde aí, entrou numa espiral recessiva, sendo claramente um desapontamento e o elo mais fraco na unidade. 2013 e 2014 foram anos péssimos e, mesmo com uma ligeira melhoria em 2015, os Vikings recebem uma produção de Kalil abaixo da média, sobretudo quando falamos da escolha nº 3 do draft. As questões em aberto não terminam aqui. Já se viu que, com o eventual regresso de Loadholt, e com Joe Berger e John Sullivan, a equipa tem duas posições (right tackle e center) definidas para 2016. Brandon Fusco e Mike Harris tiveram anos diferentes, em termos de qualidade. Harris, que mudou para right guard, foi uma agradável surpresa, mas será um unrestricted free agent e quererá, por certo, experimentar o mercado, procurando um contrato mais avultado. Mesmo que os Vikings consigam chegar a acordo, Harris é um jogador competente, mas meramente serviçal, não podendo ser visto como solução de longo prazo. Fusco, por sua vez, passou para o lado esquerdo, procurando auxiliar Kalil, mas a alteração de lado (era right guard em 2014) funcionou ao contrário do expectável e tornou-se limitado, cedendo demasiados hits e pressões. A solução poderá passar por qualquer coisa do género:

  • Left tackle – a escolher, no draft;
  • Left guard – Aproveitar a polivalência de Joe Berger e mudá-lo para a posição, onde ele se sente igualmente confortável;
  • Center – É a posição de John Sullivan, mesmo com o excelente ano de Berger;
  • Right Guard – Brandon Fusco regressa ao local onde melhor se exibiu com as cores dos Vikings, dada a mais que provável partida de Harris na free agency;
  • Right Tackle – Phil Loadholt de regresso e Clemmings como backup.

Apesar disso, é sempre de equacionar uma incursão à free agency, onde poderão cair alguns jogadores interessantes.

2. Wide Receiver

Há um ditado que diz, mais ou menos, o seguinte: “Gato escaldado de água quente tem medo”. Aplica-se aquilo que, espero, os Vikings sintam, quando chegar a hora de reforçar a posição, depois dos fiascos que têm sido as contratações via free agency. Greg Jennings foi um bust e, depois dele, Mike Wallace nunca chegou sequer ao patamar mínimo expectável, terminando a temporada com 39 recepções, miseráveis 476 jardas e medíocres 2 touchdowns. O ex-jogador dos Steelers e Dolphins foi vítima da total ausência de deep balls mas, mesmo assim, o seu contributo foi miserável, não revelando a menor química com Teddy Bridgewater. O jogo da unidade teria sido pedestre, não fosse pela emergência de Stefon Diggs, um achado dos Vikings na 5ª ronda do draft de 2015. O rookie foi excelente, explosivo, tornando-se o alvo preferido do quarterback. Para além dele, apenas Jarius Wright mostrou predicados para a função, numa unidade que carece de reforços urgentes. Mike Wallace, já se percebeu, não é deste filme e os 11,5 milhões que custará mantê-lo são um óptimo motivo para o ajudar a fazer a mala e metê-lo no avião mais próximo, num adeus pouco sentido. Cordarrelle Patterson é unidimensional, com utilidade apenas como retornador de punts e kicks, falhando em tornar-se uma opção válida para receiver. Charles Johnson, que tinha brilhado em 2014, foi penalizado por constantes problemas físicos, nunca conseguindo encontrar o mesmo ritmo do ano anterior. O que é que a equipa precisa?
Um complemento a Diggs, desde logo. Um wide receiver que seja capaz de contestar qualquer lançamento downfield, fisicamente mais intimidante do que o speedster Diggs, uma versão mais jovem de Brandon Marshall, por exemplo. Mas que esse jogador venha pelo draft, evitando o pagamento excessivo que a free agency sempre obriga, por veteranos em fins de carreira.

3. Safety

Se o recurso á free agency, no caso dos wide receivers, é de evitar, encaro com agrado – e alguma ansiedade – o que os Vikings farão para complementar a posição, dado que existirão óptimos playmakers no mercado, a partir de Março. Harrison Smith é um monstro, um dos melhores safeties da liga, um game changer que, no entanto, carece de segurança ao seu lado. E esse tem sido o calcanhar de Aquiles da secundária. A incapacidade da equipa resolver o premente problema tem limitado e obrigado Smith a cuidados redobrados, não podendo expandir o seu imenso reportório. Se o outro titular tinha sido Robert Blanton, em 2014, a luta pela posição na preseason, em 2015, colocou Andrew Sendejo no 11 base. Um jogador, até então, predominantemente do special team, Sendejo revelou-se um completo desastre no pass coverage, cometendo erros e mostrando inúmeras deficiências nesse quesito. Os Vikings foram fortemente penalizados, em algumas das suas derrotas, pelo ar perdido em campo que Sendejo mostrava nos deep passes, a que nem a sua habilidade para parar o jogo corrido o recomenda para a função. Assim, será crucial resolver o problema, nesta offseason, sendo que qualquer fã dos purple & gold salivará com a possibilidade de ver a equipa contratar Eric Berry, Eric Weedle ou Reggie Nelson, jogadores que deverão testar o mercado e são um upgrade gigantesco face ao que temos actualmente.

4. Punter

A posição, que passa despercebida na sua real importância à maioria dos fãs comuns, tem cada vez maior pertinência no jogo actual, onde a posição de campo pode ser o factor-chave para um triunfo. Jeff Locke é mau. E não sou eu que o digo. São os números. Draftado em 2015, na 5ª ronda, tem sido o pior ou segundo pior punter da competição, com as suas 41,6 jardas de média e as 37,8 de net average a mostrarem a mediocridade em todo o esplendor. Com uma defesa dominante, ter um punter que coloque invariavelmente a bola dentro das 20 jardas do adversário era um complemento perfeito. Não será de estranhar, por isso, que na preseason de 2016 se vejam caras novas na luta pela titularidade. Tudo, menos Locke.

Adereçando as carências acima identificadas, os Vikings darão mais um sólido passo rumo ao domínio divisional. Uma defesa punitiva, um sólido jogo corrido, um promissor quarterback e a experiência de Mike Zimmer podem fazer do conjunto um contendor perene ao título na NFC North e mesmo ao da conferência.

About The Author

Paulo Pereira

O meu epitáfio, um dia mais tarde, poderá dizer: “aqui jaz Paulo Pereira, junkie em futebol americano”. A realidade é mesmo essa. Sou viciado. Renascido em 2008, quando por mero acaso apanhei o Super Bowl dos Steelers/Cardinals, fiz um reset em [quase] todos os meus dogmas. Aquele desporto estranho, jogado de capacete, entranhou-se no meu ADN, assumindo-se como parte integrante da minha personalidade. Adepto dos Vikings por gostar, simplesmente, de jogadores que desafiam os limites. Brett Favre entra nessa categoria: A de MITO.