Minnesota Vikings Report: A Conquista de Chicago!
Ponto prévio. Sou um preguiçoso do caraças e não me apeteceu ir ver as estatísticas de anos anteriores, mas já não me recordo de quando foi que iniciamos uma temporada de forma tão auspiciosa, com um 5-2. Por acaso até me lembro, agora que coloquei os dois neurónios funcionais a trabalhar. 2008, talvez, sem fazer muita fé nisso, mas recordo-me de ter um senhor de provecta idade a quarterback que limpava aquilo tudo. No tempo do Favre é que era. Ganhávamos quase sempre, eramos favoritos na maior parte dos jogos e os adeptos sentiam sempre aquela sensação de que, mesmo quando as coisas estavam a correr mal, haveria algum golpe de asa, um lance de génio, um pouco de magia, que ajudaria a inverter a situação.
Curiosamente, ou talvez não, foi este sentimento que me acompanhou no visionamento do embate contra os Bears. Nunca vi os Vikings vencerem em Chicago. Mas acreditava que seria desta. Quando nada parecia correr bem, agarrava-me desesperadamente aquela esperança, pensando “é impossível perder com estes gajos”. “Estes gajos” são os tipos de Chicago, reduto que se tornou, nos últimos anos, uma espécie de masmorra sado-maso, em que fazíamos a parte do pobre amarrado a um poste, vítima dos seus fetiches. As 7 derrotas consecutivas na terra que tem uma equipa relevante – os Bulls – tinham-me tornado desconfiado. Sentia que eramos melhores, que estávamos a atravessar um bom momento, mas…
Ponto prévio 2. Ao dizer isto vou perder a minha credibilidade – se é que ainda me resta alguma – mas tenho que desabafar. Gosto do Cutler. O homem não é assim tão mau quarterback e ter Adam Gase como coordenador ofensivo é um precioso auxiliar. E se derem a um QB uma arma de destruição maciça, ele fará misérias. Alshon Jeffery é uma besta, uma espécie de Némesis dos purple & gold, um receiver fisicamente robusto, mas com velocidade para criar separação. Em suma, com ele em campo, era preciso ter cuidados redobrados.
Ponto prévio 3. Se ainda me restou um bocadinho de credibilidade, eis a machadada final. Vejo os jogos de forma apaixonada. Invectivo adversários, insulto o árbitro e toda a sua árvore genealógica, acho que existe uma conspiração global para prejudicar os Vikings e salto descontroladamente do sofá sempre que dão a bola ao Adrian Peterson. O jogo foi de altos e baixos, com maior incidência nestes últimos. Em suma, estava depressivo, à beira de passar o resto a noite a açoitar o miúdo ou a beber o que restava nas garrafas de uísque. Eis uma boa forma de terminar um domingo. Perder com os Bears e embebedar-me. Estava assim, com uns pensamentos tenebrosos a passarem-me pela cabeça, quando o Teddy encontrou o Diggs já no meio-campo de Chicago. O resto foi uma profusão de incentivos (sim, disse para aí umas três vezes “vai caralho!”) até ver o rookie passar a linha que delimita a end zone. Touchdown, já depois do two-minute-warning, empatando o jogo, quando tal parecia difícil de alcançar.
Estava ainda a comemorar, num estilo embaraçante de dança, quando os Bears fizeram um three-and-out. Um pequenino parêntesis aqui. Tivemos sorte. Matt Forte tinha saído lesionado. No seu lugar, um rookie. Jeremy Langford. Cutler tentou transformá-lo num clone de Forte, que é o running back que mais jardas recebe, fora do backfield. Não resultou. No 3º down, o lançamento até foi perfeito. E poderia ter dado novo 1º down. Com isso, os Bears esgotariam o tempo que restava, não dando a bola aos Vikings. E até poderiam, com mais umas 20 jardas, ficar em field goal range. Mas Langford, bendito seja Deus, dropou a bola. Punt, bola para os Vikings e uma última oportunidade para evitar o prolongamento. A conjugação astral devia ser a indicada, pois tudo voltou a correr bem. Num 2º down, Teddy lança uma deep ball, mas naquele estilo recente dele, enervante, sem cuidar bem do que está a fazer. A bola tinha tudo, mas mesmo tudo, para ser interceptada, não fosse a divina intervenção de…Charles Johnson. Sim, o receiver que foi uma revelação em 2014, que se lesionou e perdeu o lugar para Stefon Diggs, aproveitou (ah, as ironias da vida) a saída de Diggs lesionado, para se tornar um herói improvável. Johnson pareceu um guarda-redes, esticando-se ao limite para evitar o golo, no cantinho da baliza. . Com essa recepção e uma corrida seguinte de Adrian Peterson para 9 jardas, Blair Walsh ficou em field goal range. Aqui, nesta altura, confesso que rezei. E se isto não é um milagre, dado que sou um ateu convicto, não sei o que será. Felizmente, o kicker anda nos dias dele e meteu-a lá dentro, quase sem tempo no cronómetro. GANHÁMOS! Cerveja de graça e a próxima rodada pago eu.
Os Melhores Purple & Gold
Stefon Diggs: Agora já posso encolher os ombros quando os meus amigos me falarem das proezas desportivas do Calvin Johnson, Jordy Nelson, Dez Bryant e afins. Já temos um playmaker. É precoce dizer isto? Claro que não. O miúdo é electrizante, empolgante e mais uma quantidade de adjectivos que lhe queiram colar. Decide jogos. Dá linhas de passe. É interventivo. Foi o único a, consistentemente, importunar a defesa dos Bears (que jogou bem até claudicar nos últimos 5 minutos). O TD dele é magistral. Transformou um lance de 10 jardas num score de 40, graças aquele twist que meteu a cabeça do cornerback a andar à roda. Diggs é aquilo que todos queríamos que Cordarrelle Patterson fosse, e não é.
Matt Kalil: Não é justo ter andado a bater no bisonte (bater em termos figurativos, porque nunca me aproximaria dele, na vida real) e não elogiá-lo, quando a OL fica funcional. Ok, o pass rush dos Bears não é temível. Tem o Phernell McPhee, cujo nome parece ter sido criado para o tornar numa personagem do Harry Potter, e pouco mais, mas Kalil pareceu dominante e raramente deixou que Teddy fosse importunado. Para a semana, quando os Rams vierem à cidade, o teste será muito mais difícil, mas até lá deixem o homem descansar um bocado. Merece.
Blair Walsh: Ressuscitou. Pareceu na corda bamba, no início da época, mas já vai em 14 em 16, com os últimos 12 field goals concretizados, sem falhas. Não fracassou no jogo e coube-lhe a tarefa de sentenciar o encontro, nos derradeiros 4 segundos, da linha de 48 jardas, num ambiente hostil. Sem espinhas, meteu-a lá dentro. Sonho com esse momento, mas num Super Bowl. Quem sabe, não será este ano…
Marcus Sherels: É um dos mais valiosos elementos do special team, e voltou a confirmar a sua utilidade num punt retornado para TD, colocando os Vikings na liderança pela 1ª vez. Quando o ataque parecia anémico, deu-lhe a necessária infusão de energia. Marcou e esfregou isso na cara ao adversário, correndo mais de 60 jardas sem ser tocado por ninguém. Para uma equipa como os Vikings, onde impera a juventude, inexperiência e algumas dores de crescimento, ter um special team competente ajuda. E de que maneira.
Adrian Peterson: Dia em que não corra 70 jardas para um TD parece vulgar, para aquilo a que estamos habituados. Continua a ter dificuldades a ultrapassar a linha de scrimmage, ou por inépcia da nossa OL, ou por mérito dos opositores. Mas é perseverante, luta até ao limite e corre sempre com agressividade. Foi precioso, durante o jogo, conquistando jardas importantes (passou das 100) e no seu último snap deu mais 9 a Blair Walsh, evitando que o field goal fosse mais exigente para o kicker.
Charles Johnson: A nossa deep threat de 2014 está de volta. Aparentemente, recuperado das suas mazelas, teve um papel muito limitado e só dei por ele quando fez a catch do jogo, evitando uma INT e colocando a equipa em óptima situação de campo. Vai ser importante nos próximos jogos, evitando uma sobre-exposição de Diggs e podendo, inclusive, capitalizar a atenção que será devotada ao rookie.
Terence Newman: Newman podia estar, neste momento, em casa, à lareira, de pantufas calçadas, vivendo dos rendimentos e acompanhando a acção da NFL pela televisão. Ou podia entrar em desvario, como alguns dos idiotas que aparecem na competição, entrar alcoolizado num carro, com duas malas cheias de marijuana e acelerar que nem um doido por áreas residenciais. Podia fazer qualquer coisa, menos jogar futebol. Caramba, o homem já tem 38 anos. Quem é que gosta de andar a levar pancada nesta idade? Zimmer, que tem um passado com Newman, lá o convenceu a ir para Minnesota, a levar com temperaturas negativas na maior parte do ano e a jogar ao ar livre, que ainda não temos o luxo de ter um dome. Newman ou gosta muito do que faz, ou idolatra o head coach, porque aceitou o repto. Ainda bem. Numa unidade de cornerbacks que tem Xavier Rhodes a tentar ser um shutdown corner, um Trae Waynes que aparenta ser um bust, a veterania de Newman tem sido primordial. É um óptimo tackler em open field e excelente na cobertura. Tudo o que tem feito, tem feito com qualidade. Também ajuda um bocado não ter que marcar os melhores receivers dos adversários, tarefa a cargo de Rhodes, mas ele merece essa trégua.
Os Piores Purple & Gold
Secundária, com excepção de Newman: A vida até estava a correr bem com o game plan dos Bears, que era convencional, evitando grandes riscos a Cutler. O problema foi quando deram ordens ao QB dos Bears para explorar o fundo do campo. Com Jeffery incorporado no ataque, a música é outra e o receiver fez gato e sapato de quase toda a gente, adicionando jardas e marcando um TD fenomenal, mesmo com 3 elementos dos Vikings à sua volta.
Teddy Bridgewater: Mau jogo do quarterback, erróneo nos passes e falhando receivers abertos, num jogo que deveria ter sido resolvido mais cedo do que o previsto. Recordo-me de um lance em que Mike Wallace conseguiu separação do seu marcador, aparecendo completamente isolado na red zone, com Bridgewater a fazer a sua melhor personificação de Geno Smith e a lançar para as bancadas. Ok, o tipo sentado na fila C agradeceu a oferta, Teddy. E foi isto, o jogo quase todo, excepção à drive final que culminou no triunfo. Para ajudar à festa, a 1 minuto do intervalo, com a equipa a vencer por 10-3, era mais importante preservar a vantagem e deixar o cronómetro esgotar-se, do que cometer erros. Teddy achou que não. Vai daí, resolve emular Geno Smith novamente (para que não subsistam dúvidas, detesto o QB dos Jets) e lança uma INT, procurando Diggs, que estava cercado pela totalidade do exército norte-coreano. Não só a INT permitiu um TD fácil e o empate, ao intervalo, como Teddy reabilitou Kyle Fuller, que tem sido medíocre esta temporada. És um benemérito do caraças, Teddy!
O Freguês que se Segue
5-2. 3-0 na divisão. Uns vão embandeirar em arco. Outros, mais comedidos, apontarão a mediocridade dos adversários vencidos para esfriar o entusiasmo. É como a história do copo meio cheio ou meio vazio, dependendo da perspectiva de quem analisa. Estes Vikings estão bem melhores do que em 2014. E 2013. A equipa acaba de ultrapassar um adversário de divisão, num campo difícil e, com isso, terá um boost de confiança. Na altura indicada. A recepção aos Rams é dificílima. A equipa de Jeff Fischer atravessa um bom momento, com um 4-3 que a mantém na corrida pela própria divisão ou, em último recurso, às seeds 5 e 6. Ou seja, é um adversário potencial dos Vikings aos playoffs, na NFC. Um triunfo será, por isso, crucial. Vamos enfrentar uma equipa que tem na DL e no jogo corrido os seus principais atributos. A DL é uma máquina feroz e agressiva de pressão, comandada por Aaron Donald, e contando com Chris Long, Michael Brookers e Robert Quinn para tornarem a vida à OL insuportável. No ataque, o jogo aéreo parece incipiente, mas há sempre um reverse ou um jet sweep para libertarem a velocidade de Tavon Austin. É no jogo corrido que reside o verdadeiro perigo. Todd Gurley não engana. Fenómeno no college, tem mostrado a sua qualidade nos últimos jogos, dando uma dimensão extra ao ataque. Num jogo que se prevê intenso, limitar os turnovers será uma ajuda importante para alcançar a vitória.