NFL Free Agency Recap
Ufa. A free agency começou de forma alucinante, quase como se toda a gente tivesse sido acometida por uma vontade indómita de fazer cabeçalhos sensacionais. Comecemos pela bomba: Jimmy Graham, indiscutivelmente um dos melhores tight ends da liga e o alvo predilecto de Drew Brees nos Saints é trocado. Por si só, já constituiria um movimento de fazer abrir a boca de espanto. Mas quando o outro interveniente é a mais forte equipa da NFC e finalista nos dois últimos Super Bowls, a estupefacção é ainda maior. Os Seahawks foram audaciosos, trazendo um elemento para o seu jogo que constitui um upgrade gigantesco.O jogo aéreo ganha um elemento valioso, que criará mismatches tremendos na red zone e no centro de campo, com Russell Wilson a poder capitalizar com o que lhe é dado. Logicamente que uma trade tem sempre os dois lados da moeda. Se a equipa de Seattle se fortaleceu no jogo de passe, saiu fragilizada ao ceder o center Max Unger, um dos únicos (a par de Russell Okung) na OL a conseguir proteger devidamente o quarterback. Os Saints, perdendo o elemento mais destacado no ataque (com excepção de Brees), recebem um elemento valioso para a OL e uma pick de 1º round, num movimento que pretende ser uma renovação/reestruturação do projecto futebolístico.
Andre Johnson e Frank Gore
Andre Johnson e Frank Gore têm um passado em comum. Um daqueles que deixa marcas. Colegas de equipa na célebre Universidade de Miami, onde representaram uma das mais icónicas equipas do college, podem agora reeditar, no ocaso das carreiras, a mesma interacção nos Colts. A franquia de Indianapolis sabe que lhe falta pouco. Bem pouco para dominar a AFC. Tem apenas uma Nemésis a separá-los do êxito. Os Patriots. Mas, desde a chegada de Andrew Luck, a equipa tem subido um degrau competitivo, em cada ano. Primeiro, dominando a divisão. Depois, chegando ao wild-card weekend. No ano seguinte, divisional round. Até que em 2014 bateram à porta do Super Bowl, atingindo a final da AFC. O jogo corrido tem sido o calcanhar de Aquiles da equipa, com a aposta em Trent Richardson a não trazer o retorno esperado. O jogador, made in Alabama, tem sido uma decepção na sua aventura profissional, não dando aos Colts a dimensão no solo necessária. A chegada de Gore, se olhada de soslaio pela idade do running back (31 anos), merece aplausos, se a análise focar num ponto primordial: pese a idade, a produção do veterano jogador não dá mostras de abrandar. E, pormenor importante, Gore é uma espécie de Iron Man, não falhando um único jogo nos últimos 4 anos. Quem, jogando na desgastante posição de running back, pode afirmar o mesmo? Andre Johnson (ainda não está certo nos Colts), encerrou o capítulo Texans onde, para aqueles que apenas se importam com números e estatísticas glamourosas, aparenta não ter produção de super-estrela. Mas Andre Johnson, um dos mais reputados receivers da actualidade, pertence à elite. É um jogador fenomenal, que aguentou anos a fio de mediocridade na posição de quarterback em Houston. E, mesmo assim, produziu. A sua chegada, se concretizada, colocá-lo-á como WR1, na vaga deixada pela saída de Reggie Wayne. Luck deve estar a esfregar as mãos de contente, com os dois potenciais presentes que lhe darão. O ataque dos Colts ganhou uma nova dimensão.
Detroit Lions
Os Lions, detentores da run defense nº 1 da competição, não se deixaram abalar pela saída de Ndamukong Suh. Já se sabia que a manutenção do jogador seria uma tarefa hercúlea, destinada ao insucesso. Suh, atingindo o mercado de jogadores livres, atrairia demasiada atenção, com o leilão pelo atleta a colocar os Lions fora da corrida, financeiramente. Para o seu lugar, Haloti Ngata. O jogador, emblemático na DL dos Ravens, vê terminado o seu percurso profissional em Baltimore, com os Lions a encontrarem um aparente sucessor que será capaz de manter a mesma agressividade na DL. Ngata chega, com mais uma pick de 7º round, trocado por uma de 4º e 5º round. A troca, que pode parecer non sense na perspectiva dos Ravens, é no entanto um movimento cerebral e racional, maximizando os ganhos numa delicada situação. A equipa tentou renovar os laços contratuais com Ngata, claramente uma mais-valia em qualquer lado, mas quando o acordo se revelou difícil, pelas divergências salariais, os Ravens enfrentavam uma decisão: dispensar o jogador e não receber nada em troca ou, em alternativa, encontrar um parceiro para um acordo onde pudessem receber algo. E, quando é analisada desta forma, a trade constituiu um brilhante acto de gestão de Ozzie Newsome, obtendo duas picks com algum valor para os próximos drafts. É que o peso de Ngata, no salary cap, seria de 16 milhões, se os Ravens o mantivessem. Com esta poupança, abriu-se espaço para assinar com um receiver (Torrey Smith saiu para os 49ers), um running back (Justin Forsett é um jogador livre) ou um tight end (Owen Daniels mudou-se para os Broncos, onde reencontrará Gary Kubiak). E, atempadamente, os Ravens encontraram o substituto de Ngata, quando escolheram no draft passado Timmy Jernigan.
Green Bay Packers
Os Packers continuam fiéis á sua filosofia de sempre, desde os tempos de Ron Wolf. Ted Thompson, discípulo de Wolf na liderança da franquia, prefere construir o roster via draft, deixando a free agency para os outros, quase se limitando a renovar com os seus próprios free agents. A excepção à regra, nos tempos mais recentes, foi a adição acertada ao roster de Julius Peppers. Este ano a prioridade foi manter Randall Cobb. Contando igualmente com a disponibilidade do receiver, os Packers mantêm intacta a armada no jogo aéreo (Rodgers, Nelson e Cobb), poupando algum do cap, face ao acordo alcançado. 4 anos e 40 milhões, numa média de 10 milhões por ano, quando o jogador conseguiria, sem grande esforço, uma oferta na casa dos 12 milhões anuais, em Oakland ou Jacksonville, pode ser considerado um excelente acto de gestão. Para além de Cobb, também Brian Bulaga se mantém nos cabeças de queijo, no que constitui uma bela notícia para a linha ofensiva.
New York Jets
O que dizer dos Jets, agora com novo GM e novo head coach? Já se sabia que seriam agressivos, depois de não terem gasto 45 milhões disponíveis no cap space na free agency de 2014. Mas a equipa parece compenetrada em transformar a forma como é vista, fora da organização. Agora, aparentemente, há método e uma filosofia que pretende erguer o roster, dando-lhe qualidade e competitividade. Todd Bowles, que granjeou reputação como coordenador defensivo nos Cardinals, terá ferramentas para colocar a defesa num patamar bem superior ao do passado. A chegada de Darrelle Revis, mais do que impactante a nível de apreço dos fãs, que idolatram o jogador, resolve a porosidade na secundária, abusada vezes sem conta no ano passado. Ter um shutdown corner numa divisão onde se enfrenta duas vezes por ano Tom Brady não é um luxo. É uma obrigação. Bastante activos nas primeiras horas da free agency, os Jets conseguiram igualmente contratar Buster Skrine, cornerback dos Browns em 2014 que, não sendo muito relevante, é competente e que dá profundidade ao sector. O contrato dado (4 anos, 25 milhões, 13 deles garantidos) parece exagerado, mas a free agency é assim e quem tem (tinha) uma secundária patética, tem que abrir os cordões à bolsa para a melhorar. Skrine, que se iniciou como nickel corner, evoluiu para um jogador sólido no outside, podendo ser utilizado em todos os downs. O único contra será mesmo a altura (5’9’’) que o tornam algo undersized para o esquema que Bowles gosta de criar nas suas equipas: defensive backs mais altos e fisicamente agressivos, que consigam romper com as rotas na linha de scrimmage, usando a compleição física para intimidar os receivers. A equipa livrou-se rapidamente de Percy Harvin e dos seus tóxicos 10 milhões que auferiria em 2015, se permanecesse em Nova Iorque, conseguindo uma troca com os Bears e assinando com Brandon Marshall. O receiver poderá formar uma dupla fenomenal com Eric Decker, trazendo algo que não existe no jogo aéreo nos Jets: imponência física. Agora, “só” falta o essencial. Um quarterback fiável.
Shane Vereen
Quem mudou de ares foi Shane Vereen, anel de campeão ainda reluzente no dedo. O jogador foi transformado no mais novo brinquedo de Eli Manning, ao mudar-se para a cidade que nunca dorme. Não havendo ainda pormenores sobre o contrato, Vereen vem ocupar a vaga deixada vazia pela saída de David Wilson, que se reformou por problemas de saúde. O backfield dos blues de Nova Iorque fica constituído por Rashad Jennings e Andre Williams, que receberam o grosso dos snaps no ano anterior, e pelo elusivo Vereen, que tem a capacidade de funcionar como receiver, fora do backfield. No ataque que Ben McAdoo está a implementar nos Giants, um híbrido da west coast offense, a presença de um jogador com estas skills é instrumental, podendo ser usado de inúmeras maneiras, incluindo como slot receiver. Vereen teve 11 recepções, no último Super Bowl, e 99 nas duas últimas temporadas, podendo ser o alvo preferencial de Manning. As habilidades do jogador não se esgotam aí, pois é também um competente pass-protector. As novidades nos Giants não acabam em Vereen. Jonathan Casillas, linebacker, assinou por 3 anos e 10 milhões, complementando a oferta para a unidade defensiva, e Dwayne Harris, receiver e retornador dos Cowboys, também integrará os quadros da equipa, ao assinar por 5 anos e 17,5 milhões (7 garantidos). O ataque, que conta ainda com o regressado Victor Cruz e Odell Beckham, promete ter soluções com fartura.
Philadelphia Eagles
Last, but not the least, temos os Eagles. E Chip Kelly. Mais a pergunta da praxe: mas o que é que vai na cabeça do head coach? Chip Kelly é um homem com um plano. Qual? Ninguém sabe, a não ser ele mesmo. Agora com poderes reforçados, depois de ter conseguido a destituição de Roseman, o antigo GM, Kelly tem tido alguns movimentos questionáveis. A troca de LeSean McCoy por Kiko Alonso é um exemplo flagrante do que afirmei. McCoy, um dos melhores running backs da prova, vai para os Bills, enquanto Alonso, jogador promissor mas que regressa de lesão grave, poderá tornar-se um elemento chave na defesa…a médio prazo. Da free agency chegaram dois ex-elementos da Legion of Boom. Byron Maxwell será pago a peso de ouro para garantir uma secundária melhor, à qual já não pertence Cary Williams (dispensado e já contratado pelos Seahawks). Walter Thurmond, que no ano passado esteve nos Giants, junta-se a Maxwell. Mas, depois da nega de Frank Gore, que tinha sido o eleito para substituir McCoy, veio outro movimento que levantou sobrancelhas a toda a gente. Uma troca de Sam Bradford por Nick Foles? Será Bradford o elemento que faltava para o ataque? E, com isto, arrefecerá o interesse em Marcus Mariota, pupilo de Kelly em Oregon e talhado para gerir o ataque speedado dos Eagles? Ou ainda haverá mais surpresas nos próximos dias?