NFL Touchdowns & Turnovers: Week 16

Paulo Pereira 24 de Dezembro de 2014 Análises, NFL Comments
Titans vs Jaguars

NFL Touchdowns & Turnovers: Week 16

Touchdowns

1- The “It” Factor

É penoso ver um Titans vs Jaguars. Mas é a vida. Quem escolhe e se vicia neste desporto tem que suplantar alguns duros obstáculos. Um jogo de quinta à noite, que se pretendia glamouroso, tinha desta feita um cartaz pouco convidativo. Mas, como em qualquer outra partida de futebol americano, sempre com alguns motivos de interesse. Mesmo que diminutos. Serviu, pelo menos, para perceber que Blake Bortles pode ter o cromossoma necessário para ser o franchise quarterback. Quem não viu o jogo e se limitou a olhar para as estatísticas, fica com uma ideia errónea do que se passou. Não que Bortles tenha deslumbrado, mas a sua exibição não pode ser medida por números. Ele foi decidido, corajoso e capaz de movimentar o ataque. Sim, teve poucas jardas passadas (apenas 115) e ainda menos passes certeiros (13), mas conduziu duas drives excelentes para touchdown, mostrando atributos com o braço e pernas. Fê-lo após uma semana limitado nos treinos, por conta duma lesão num pé. Afoito, decidiu vários third downs com os pés, em scrambles impetuosos e decisivos (um de 9 jardas e outro de 16, em dois dos momentos altos da noite), não se intimidando quando teve que lançar, como naquela conexão de 34 jardas com Marqise Lee. A temporada pode estar prestes a finalizar, mas pelo menos os Jaguars acabam-na com alguma mostra de profissionalismo e resiliência. Quem sabe não estará aqui a criação do momentum desejado…

2- CFL to NFL

Não sendo muito comum, existem transições de sucesso entre a CFL e a NFL. Para quem não sabe, a CFL é o equivalente canadiano da NFL. Salvaguardando as devidas proporções. Menos equipas, regras alteradas, numa liga com imensa popularidade, mas sem grandes estrelas, ordenados e mediatismo. Brandon Browner, agora nos Patriots, brilhou nos Seahawks. E, antes disso, encontrou no nicho do outro lado da fronteira a oportunidade de continuar a jogar futebol. A NFL tem a malha demasiado apertada, sendo difícil, para quem vem do college, conseguir entrar, face ao reduzido número de lugares. Browner foi um dos eleitos, brilhando a grande altura nos Calgary Stampeders e, com isso, atraindo atenções. A história de Cameron Wake é similar à de Browner, ambos criando nome e cimentando o status. Existe outro jogador que tenta fazer essa difícil transição. Chama-se Dontrelle Inman e é wide receiver. Merece qualquer oportunidade que lhe surgir. Saído da universidade de Virginia, viu as portas do sonho profissional fecharem-se, ao não ser escolhido no draft de 2011. Ainda foi repescado pelos Jaguars, mas não sobreviveu aos cortes do roster no training camp. Também aqui a solução foi uma emigração. Curta, atravessando o limite territorial que separa o território americano do canadiano. Logo no seu ano de estreia na CFL, deu brado, com as cores dos Toronto Argonauts, auxiliando a equipa a vencer a Grey Cup, o Super Bowl com pronúncia canadiana. 2012 e 2013 deram-lhe fama. E, com ela, nova oportunidade. Nova tentativa de acesso à NFL, tentando o que não tinha obtido, anteriormente. Nos Chargers, fez uma preseason espantosa, com o highlight a ser o seu touchdown contra os Cowboys. Foi o suficiente para merecer um lugar nos 53, em San Diego. Mas a luta não terminou aqui. Já se sabe que, seja rookie ou aparentado com um zé-ninguém, terá que ser feito um tirocínio. A recruta activa é efectuada no special team. À sua frente, na depth chart, estavam Keenan Allen, Malcom Floyd, Eddie Royal e até Ajirotutu. Demorou 16 jogos. Dezasseis Domingos. Mas Inman teve, finalmente, a sua oportunidade. Num jogo importante, com tanto em causa. Frente aos 49ers, foi chamado a intervir. Conseguiu a sua primeira recepção na NFL. Depois dela, a segunda. E a terceira. Praticamente, apanhou tudo o que Phillip Rivers lançou na sua direcção. Foram 7 recepções para 79 jardas, todas elas importantes, cimentando posição no campo, dando jardas cruciais, mantendo vivo o sonho da equipa. Pode ser que, finalmente, esteja desbloqueado o acesso ao prime-time. Inman merece.

3 –  The Kaepernick Effect

Não quero saber se os 49ers perderam o jogo. Não me importa o rol de críticas que resolveu eleger o quarterback da equipa como o principal vilão da temporada menos conseguida. E nem me interessa dissecar se ele é preciso no lançamento, se só funciona num determinado esquema táctico, ou qualquer outra dissertação menos positiva para o atleta. Gosto dele, desde os tempos de Nevada, quando se digladiava com Boise State, de Kellen Moore, em duelos insanos. Gabo-lhe o braço canhão, o porte atlético, a velocidade. Mas, como disse, por instantes, não quero saber nada disso. Quero imortalizar, na minha mente, aquele lance magnífico que culminou no TD corrido. É disto que é feita a NFL. De vilão a herói, num curto espaço de dois snaps. Antes, fugindo do pocket, revelando dificuldades em proteger a bola, sofreu um sack e um fumble. Depois, correu. Fê-lo de forma magistral, parecendo uma gazela acossada, driblando com o corpo os adversários. Apesar da pressão sufocante, de corpos espalhados em seu redor, a sua destreza teve algo de gracioso. A sua acção foi quase furtiva, transformando-se em predador, penalizando o adversário com as pernas. A corrida, elusiva, deixou para trás os opositores, percorrendo as jardas para a end zone numa celebração prematura. É um lance delicioso, que merece ser visto e revisto, provando que a genialidade anda sempre de mãos dadas com o comum dos mortais.

4 –  A NFL é Solidária

São notícias que não recolhem cabeçalhos ou parangonas nos diferentes meios de comunicação social. Esses, não especializados em futebol americano, adoram os escândalos. É vê-los a propagar as ofensas em reportagens sensacionalistas, geralmente envolvendo a dureza do desporto, transformada em meia dúzia de palavras em brutalidade. Os jogadores envolvidos são apontados como bárbaros modernos, selvagens sem o filtro do politicamente correcto. Mas, por cada caso de violência doméstica, abuso infantil ou uso de substâncias dopantes, existe todo um outro lado. Solidário. Generoso. São inúmeros os exemplos. De Oakland chegou mais um, fresco nesta época natalícia, onde todos se mostram mais compassivos com o semelhante. Menelik Watson, jogador britânico, participou juntamente com os colegas, na recepção a Ava Urrea, uma criança de 4 anos com problemas cardíacos (nasceu apenas com metade do coração e já foi operada 14 vezes). Num daqueles momentos em que as franquias gostam de aparecer, pela boa publicidade, Ava saiu das instalações com a habitual parafernália de itens cobiçados pelo comum adepto. Bola, jersey e capacete autografados pelos elementos do roster. Mas Ava não é um adepto comum. Com a tenra idade que tem, nem gostará de futebol. Ainda. Talvez Menelik tenha percebido isso. Ou seja mais sensível aos problemas que, por serem em crianças, nos tocam mais profundamente. Menelik resolveu doar o seu salário do próximo jogo, contra os Bills, à família de Ava, para estes terem algum suporte financeiro. Menelik é rookie, com um salário pedestre, quando comparado com as grandes estrelas da competição. Em 2014, o salário base do jogador é de 622 mil dólares. A oferta representa cerca de 36 mil. Há gestos que, independentemente da época em que são realizados, nos aquecem o coração.

5 –  Pure Class

Se há algo que admiro em Cam Newton é  sua frieza emocional. Ou, provavelmente catalogando melhor, a sua resistência. No college viu-se envolvido em alguns escândalos, que primeiro o levaram a abandonar o conceituado programa desportivo dos Gators, ainda sob a égide de Urban Meyer e, depois, em Auburn, a enfrentar a tempestade mediática por causa de alegados pedidos de dinheiro para assinar por universidades. Cam aguentou a análise microscópica dos media, que dissecaram toda a sua vida, de forma menos apropriada. E, no epicentro, levou Auburn a um título nacional. Fê-lo em grande estilo, derrotando o arqui-rival Alabama, num jogo épico, na regular season, quando as notícias circulavam ainda frescas. Nesse jogo, perante mais de 100 mil pessoas, maioritariamente hostis, Cam entrou em campo ao som da música “take the money and run”, colocada estridentemente no sistema de som do estádio. Das bancadas caiam milhares de notas do monopólio, que procuravam mostrar o desprezo sentido pelas atitudes do jogador e do seu pai. A perder por 24-0, ao intervalo, Cam realiza uma segunda metade soberba, carregando a equipa ao colo, até ao triunfo por 28-27. O estádio e as vozes críticas foram silenciadas, uma a uma. Cam venceu o jogo, levou Auburn à final, trouxe o anel de campeão e partiu, para a NFL. No mundo profissional a sua carreira não tem sido pacífica, misturando momentos menos produtivos com outros de enorme classe. Os Panthers, nota-se, estão bem melhor com ele do que sem. Num ano difícil, sem uma OL consistente e órfã de Jordan Gross e com um grupo de receivers onde apenas Kelvin Benjamin aporta qualidade de forma regular, Cam vestiu a pele de SuperMan, colocando a equipa na disputa do título de divisão. Possuidor de uma personalidade forte, chamou-me a atenção quando saiu a terreiro, blasfemando contra os próprios fãs da equipa. O motivo? A defesa de um companheiro de profissão, que usa a camisola do adversário. Johnny Manziel saiu lesionado, depois de um choque violento com Luke Kuechly. Das bancadas veio a comemoração. Efusiva e audível. Numa evidente prova de falta de classe e tacanhez de espírito. Mas, quem melhor do que Cam para responder aos imbecis?
“The only thing I can say is it was sad to see the crowd's response when he was getting hurt, man.
I just think it was classless. Anytime a person's hurt, you don't celebrate. It takes the integrity out of the game.
But for the crowd to respond in that type of way, we're better than that. That's not who we are.

6 – Mike Tanier For President

Tem génio escrito por todo o lado. Se ainda não conhecem, vou massacrar-vos até que o comecem a ler. Todas as segundas-feiras, no Bleacher Report. Por causa de pequenas pérolas assim, que destilam ironia e humor, deforma tão sublime:”I did not watch the Texans' 25-13 win over Baltimore. It was my Christmas present to myself: a Sunday without an ugly Ravens game. And boy, did I pick a doozy to miss. Texans-Ravens featured 33 offensive possessions, 51 incomplete passes, four interceptions and two teams combining to average 2.888888888 yards per carry (the extra eights dramatize the futility)”.

7 – Odell Beckham is a Monster

Nada a acrescentar aqui. Apenas que é um prazer, um deleite, assistir às exibições do receiver dos Giants. Somos uns felizardos. Falando por mim, que me iniciei tardiamente neste mundo mágico (apenas em 2008), tenho assistido a inúmeros momentos históricos. São tantos, neste curto espaço de tempo de 6 anos, que fica difícil enumerar. Domingo a Domingo somos presenteados com momentos inolvidáveis. O rookie com a camisola azul da franquia de Nova Iorque conseguiu um feito histórico, tornando-se o 1º rookie a terminar uma temporada com pelo menos 75 recepções, mais de 1000 jardas e 10 touchdowns. Ainda falta um jogo. Odell falhou os 4 primeiros por lesão. Até onde poderia ter chegado o miúdo? É especulativo apontar uma meta, mas não duvido que estaria na disputa pelo título de mais jardas recebidas. É um crime que não vá ao Pro Bowl.

7 – In Rivers We Trust

Dores nas costas? Lesão nas costelas? É comum ver jogadores, independentemente das posições, a suportarem estoicamente a dor, mantendo uma resiliência física notável, sacrificando o bem estar pela equipa. Phillip Rivers foi um desses, no épico comeback protagonizado contra os 49ers. Era uma final para os Chargers. Apenas o triunfo importava, para manter acesa a esperança nos playoffs. Mas o início do jogo parecia ter sentenciado qualquer ilusão num triunfo. 21-0. 28-7. Os números eram suficientemente esclarecedores. Os 49ers eram melhores e tinham o jogo ganho. Ganho? Nah! Rivers, mesmo com duas intercepções a ajudarem o adversário (mais tarde lançou uma terceira), é um veterano de inúmeras batalhas, seguidor da máxima do antes quebrar que torcer. Ele já esteve lá, do outro lado, na posição de vencedor antecipado. Sensivelmente há um ano, jogando em casa contra o rival divisional vindo de Denver, Rivers conduziu a sua equipa a um 24-0 ao intervalo. E a margem confortável no marcador, dissipada na segunda parte, apenas acentuou a frustração de perder, quando tudo parece ganho. Rivers não parou de lutar, impulsionando os companheiros para a frente, dando um exemplo de liderança. Por momentos, parecia que os Chargers jogavam contra dois adversários. Os 49ers e o destino, que os arreliava. Sempre que a equipa construía o momentum, parecendo prestes a entrar numa recuperação, lá vinha um turnover. Como pode um quarterback, qualquer um resistir a tanto, mantendo uma estranha serenidade? Rivers entrou combalido no jogo. Lançou uma INT. Depois, outra, retornada por Antoine Bethea para um touchdown. O comum dos mortais entraria num estado de resignação. Rivers não. Foi paciente, preciso, lançando com acerto. Lançou. E lançou. Tornou a lançar. Foi cirúrgico nas alturas cruciais. E elas foram tantas. 3 em 3, em fourth downs. É assim que qualquer adepto analisa um quarterback, invejando o dos outros, blasfemando o da sua equipa, se as coisas correrem mal. Toda a época, com milhares de horas de trabalho desgastante, de preparações duras, de noites dormidas em hotéis, de pressão intensa, se resumiu a um único momento. Um 4-and-8, na última drive. Se falhado o passe, era um the end. Amargo. Rivers encontrou Eddie Royal, numa out route, conseguindo 17 jardas. Pouco depois, 4-and-10. Rivers não vacilou, lançando um strike para Inman, para novo ganho de 17 jardas. Depois, foi capaz de finalizar, sereno e eficaz, para o TD de Floyd que empatou a contenda. Os números finais não contam a história toda. 33-54, 356 jardas, 4 TDs e 3 INTs.

Turnovers

1- Dirty Ass Team

E é isto. O que eu tenho andado a dizer. Só que aqui, com um tom mais forte, fugindo do politicamente correcto. A defesa dos Rams é fantástica? Sim. Greg Williams, o seu coordenador, é uma besta, no sentido insultuoso da palavra? Sim. O espectro do bounty está de regresso. Não há moralismos de pacotilha, nem histórias de redenção. Greg Williams só sabe treinar desta forma, colocando os seus jogadores naquele limbo, em que termina a agressividade normal e começa a violência disforme. Quem viu o jogo sabe que o afirmado por Jameel McClain corresponde inteiramente ao que se passou. Odell tinha um alvo virtual colocado nas costas, alvo de inúmeras provocações, trash talking e cheap shots que tinham uma de duas intenções: enervar o jogador e, quiçá, provocar uma lesão. Nos mandamentos de Greg Williams isso seria o bónus. Há coisas que nunca mudam.
“Dirty-ass team! That dirty [stuff] doesn't help you win! They suck as an organization!” “I'm just not interested,” McClain said later. “I had a lot of respect for the things their defense did. I'm just not interested in chippiness and dirty play. It's not what this game is about, and it has no room in the league.”

2- Rex Ryan Deserved Better

Não me interpretem mal. Nada tenho contra os Patriots e, sinceramente, nem sou um grande fã de Ryan. Não gosto da personalidade truculenta, do ar bonacheirão, que esconde alguma beligerância, da postura por vezes fanfarrona. Mas se há algo que prometi a mim mesmo, desde início, é não deixar que o “haterismo” normal me tolde o raciocínio. Posso, como afirmei acima, não gostar de Rex Ryan. Mas o homem percebe de defesa e é um raio dum fantástico coordenador para a unidade. O seu reinado nos Jets, pontuado por altos e baixos, que levou a franquia histriónica de Nova Iorque a duas finais de conferência, está à beira do fim. Ryan é um homem no denominado hot seat, aguardando pelo machado que lhe decepará virtualmente a cabeça, colocado no rol de técnicos despedidos. O embate contra os Patriots representava, por isso, mais do que um formalismo. A rivalidade entre as franquias é evidente, mesmo que amortecida pela recente inépcia dos Jets, mas Ryan quereria despedir-se da cidade e dos seus fãs com um triunfo. Ele esteve quase a acontecer mas, como tantas vezes na história da rivalidade, a vitória pendeu para os lados de Boston. Mas mesmo isso não retira qualquer mérito ao que, neste jogo, foi observado. Não sei se Ryan será mais réu ou vítima, sendo obrigado a aceitar um roster com carências visíveis e com imenso cap space para gastar. Nesta partida, viu-se o dedinho de estratega mor, com a defesa a jogar a um nível soberbo. O regresso de Muhammad Wilkerson, aliado ao excelente momento de forma de Sheldon Richardson, deram o boost necessário à defesa, que passou o jogo todo a perseguir – e atingir – Tom Brady. Jogar com uma defesa com um grupo pedestre e desconhecido de cornerbacks e manietar o ataque dos Patriots a apenas 182 jardas aéreas (231 no total), revela o brilhantismo do plano táctico, onde a agressividade do pass rush foi notória. Não se intimidando com o poderio do adversário, os Jets efectuaram mais blitzes do que o habitual, conseguindo equilibrar um jogo que, à partida, era claramente favorável aos Patriots. Mesmo os dois touchdowns sofridos não maculam o trabalho da unidade, com ambos os lances a virem no seguimento de drives curtas, devido a turnovers do próprio ataque. Rex Ryan sai, pela porta pequena, mas não lhe faltarão propostas tentadoras para regressar já no próximo ano à sideline.

3- Isto Não é só Pelo Dinheiro

Até se pode ganhar muito dinheiro na NFL. E coloco a ênfase no muito. Milhões, fora do alcance do comum mortal que, no entanto, idolatra as vidas de vários jogadores profissionais, almejando o secreto desejo de poder substituir o seu ídolo, recebendo em sua vez as ovações do público e os cheques da entidade patronal. Mas, num desporto eminentemente de contacto, sempre achei que cada cêntimo do dinheiro por eles ganho, era merecido. Fechem os olhos, por momentos, e coloquem-se na pele de um quarterback. Qualquer um. Imaginem a acção. A tensão. O snap, a recepção de bola e o desenrolar da jogada. O pocket a dilacerar-se e mastodontes cheios de músculos a correrem na vossa direcção. E, depois, o impacto. No peito, na barriga, tirando o ar, deixando-vos sem fôlego, pela pancada seca. E isso não é o pior. O choque provoca atrito e movimento. Na sequência do mesmo, desamparados, vocês caem no solo, sentindo os músculos retraírem-se com dor. O cronómetro avançou apenas 6 segundos, entre o snap, o choque e a dor. Faltam ainda [longos] 59 minutos e 54 segundos. Repletos de momentos destes. O exercício mental pode ser feito para qualquer posição. Como a de running back. Vamos aqui seguir um exemplo concreto. Frank Gore, running back veterano dos 49ers. Há 6 dias atrás, apresentava sinais de concussão. Passou pelos protocolos obrigatórios da NFL, despistando eventuais sequelas. Apenas treinou, de forma limitada, na 5ª e 6ª feira. Apesar do corpo dorido, de imensas batalhas, de feridas por cicatrizar, ele vai a jogo contra os Chargers. Podia perfeitamente queixar-se ao departamento médico. Informar que não se sentia bem. O profissionalismo falou mais alto, mesmo com a equipa arredada dos playoffs. Ganha muito? Sem dúvida. Mas foi lá para dentro, correu 26 vezes, transformado num cavalo de trabalho, empurrando a equipa para a frente, suportando tackles atrás de tackles, sempre ansiando por mais uma jarda. Conseguiu 158 e marcou um touchdown. Isto é resiliência física, elevada à potência máxima.

4 – Superman? Não. Apenas Clark Kent!

É uma surpresa, face às expectativas de início de temporada, mas não será de todo motivo de admiração, depois das exibições recentes da equipa, com derrotas esclarecedoras. Muito haverá a dissecar no reino de Sean Payton, de forma a justificar uma quebra assim, tão acentuada, num ano em que a NFC South estava ali, à mão de semear. A derrota caseira – mais uma, num terreno que era quase inexpugnável, nos anos recentes – frente aos Falcons foi apenas o culminar duma temporada horrível. As culpas da debacle terão que ser repartidas. Anteriormente, a defesa surgia como o bode expiatório. Neste embate divisional, o ataque aparece como principal culpado. A OL foi porosa e Brees esteve estranhamente inseguro, realizando provavelmente a pior exibição da temporada. O timing é estranho. Brees lidera o ataque como um maestro, verdadeiro mestre de marionetas, orquestrando drives a seu bel-prazer. Periclitante, desta feita, nem parecia que enfrentava a pior defesa da prova, que se revelou um Adamastor impossível de contornar. Acometido duma febre de turnovers, somou mais uns quantos ao seu elevado total. A forma como a temporada encerra é paradigmática do que foi a época de Brees. Vulgar. Tentando orquestrar um tardio comeback, sofreu um sack e perdeu a bola. E todos ficaram a ver Osi Umenyiora correr – lentamente – com ela, até à end zone e à derradeira humilhação. Num bastião onde se venceram 20 partidas consecutivas, os Saints somaram a 5ª derrota sucessiva no próprio reduto. Quando os Saints precisavam que Brees fosse o Super-Homem, ele foi apenas a versão Clark Kent. Who dat?

5 – A Vingança Serve-se Fria

Em Março, a notícia foi um choque. Chip Kelly tinha cortado os laços emocionais, dispensando DeSean Jackson dos Eagles. Jogador emblemático – e enigmático – com um passado e presente assombrados por pretensas ligações a pessoas pouco recomendáveis, foi varrido do balneário de Philadelphia, numa medida polémica. Aparentemente, o jogo dos Eagles não se ressentiu da perda da estrela, mantendo a mesma bitola do ano passado, com um ataque feito de velocidade, onde rapidamente despontou outra revelação, o rookie Jordan Matthews. Aquele sentimento de orfandade sentido pelos adeptos foi rapidamente obliterado. E DeSean Jackson esquecido, enterrado bem fundo na memória colectiva da franquia. Tornou-se apenas uma nota de rodapé. Mas o jogador, visceral, deu mostras de fervilhar em desejos de retaliação. Em novo embate contra a sua anterior equipa, quando esta tinha tanto em disputa, o receiver teve a sua vingança, sendo a deep threat que os Redskins ansiavam. Não marcou nenhum touchdown, é um facto. Não teve um número elevado de recepções, ficando-se pelas quatro. Mas fez cada uma delas contar. E penalizar o opositor. Foram 126 jardas, com destaque para duas recepções de 50 jardas cada, mostrando a fragilidade da secundária dos Eagles e dando excelente posição no campo à sua equipa. Os Eagles até podem ficar à frente dos Redskins, no rescaldo da divisão, mas estes foram o último a rir. E, se fosse um combate de boxe, os juízes gritariam, enquanto elevavam o braço de DeSean Jackson no ar: Advantage: Jackson!

6 – Falling Apart

É oficial. A época dos Eagles entrou em derrapagem [escrevo estas linhas no final do jogo com os ‘Skins, sem saber do resultado dos Cowboys]. A crise apenas foi acentuada por nova derrota – a 3ª consecutiva – frente aos até agora ridículos rivais de divisão. E é aqui que entra o termo antagonista. Levado a sério. Sempre achei que a NFC East tem uma rivalidade diferente. Figadal. De inimigos declarados, sejam os contendores os Giants, os Cowboys, os Eagles ou os Redskins. Existe, no embate entre eles, amargura. Fel. Raiva incontida. Agastamento. Não é apenas um jogo. É uma batalha, repleta de interesse para os adeptos, independentemente da classificação de cada uma. E, neste Natal, os fãs da franquia de Washington já tiveram o seu presente antecipado. Deram um rude golpe nas pretensões dos vizinhos. A NFL é uma caixinha de surpresas. Até há 3 semanas atrás, a equipa de Chip Kelly parecia senhora do seu destino, com um futebol empolgante, elogiado vezes sem conta. Mas numa competição como esta, dura e intensa, o perigo está sempre ao virar da esquina. Os Eagles tinham o apuramento para os playoffs e o título da divisão na mão. Mas viram-no a escapar, como se fosse um punhado de areia. Lenta, mas inexoravelmente. Primeiro, derrotados pelos campeões em título, na própria casa. Ok, pensou-se. Os Eagles são fortes, mas ainda não preparados para este patamar de exigência. Desculpabilizou-se. Afinal, eram os Seahawks. Depois, novamente em casa, derrota frente aos Cowboys, num jogo que tinha enormes ramificações. E, ontem, quando apenas existia uma bala no revólver, não atingiram o alvo, dando um tiro no pé. Foi disso que se tratou. Nesta fase, o que importa é vencer, de qualquer forma, esquecendo o lado estético, o adorno desnecessário. Os Eagles podiam ter vencido. Mas cometeram demasiados erros. Cody Parker, rookie kicker, teve o seu quinhão, escolhendo o jogo mais importante da época para desperdiçar dois field goals realizáveis, ele que até esta altura da temporada apenas tinha falhado dois. A defesa comprometeu, mantendo a bitola recente. Já nem se fala de Bradley Fletcher, em nova noite negra, batido ingenuamente por DeSean Jackson e permitindo elevados ganhos. Mas o que mais ressaltou foi a quantidade impressionante de penalidades absurdas, mantendo vivas drives do adversário, quando estas já estavam moribundas. Os Eagles vão ter muito que dissecar, na longa offseason, para descobrir o porquê de tamanho retrocesso.

About The Author

Paulo Pereira

O meu epitáfio, um dia mais tarde, poderá dizer: “aqui jaz Paulo Pereira, junkie em futebol americano”. A realidade é mesmo essa. Sou viciado. Renascido em 2008, quando por mero acaso apanhei o Super Bowl dos Steelers/Cardinals, fiz um reset em [quase] todos os meus dogmas. Aquele desporto estranho, jogado de capacete, entranhou-se no meu ADN, assumindo-se como parte integrante da minha personalidade. Adepto dos Vikings por gostar, simplesmente, de jogadores que desafiam os limites. Brett Favre entra nessa categoria: A de MITO.