The View From the Bay

Hugo Taxa 4 de Outubro de 2015 Análises, NFL Comments
San Francisco 49ers Levi's Stadium

The View From the Bay

San Francisco

San Francisco

Depois de uma “off-season” onde se falou muito sobre o trabalho desenvolvido por Kaepernick com Kurt Warner, era com expectativa que queria ver se havia alguma evolução por parte do QB dos San Francisco 49ers. Uma vez que, por motivos pessoais não consegui ver os primeiros dois jogos dos 49ers, a perspectiva de um quente duelo divisional contra os Cardinals afigurava-se como o palco ideal para Kaepernick mostrar as suas skills. Mas bastou-me ver as primeiras 6 jogadas para reiterar a minha convicção (que não é de agora, como os meus colegas do FutebolAmericano.eu podem atestar): o Colin Kaepernick não é a solução para QB para os 49ers, e quanto mais depressa acabar esta enfatuação por ele, mais depressa poderemos partir para um novo ciclo positivo (espera-se) da equipa.

Nas duas primeiras intercepções, e com jogadores “abertos”, Kaepernick evidenciou a sua incapacidade sistemática de colocar a bola na posição que mais dificulta a acção dos defesas – Vernon Davis “tinha” a linha “descoberta” e portanto, o passe deveria ter sido feito para o seu ombro “exterior”, e não para o “interior”, onde estava um defesa; sendo que na segunda intercepção, Kaepernick demora uma eternidade a reconhecer um Anquan Boldin liberto de marcação, e denuncia o passe, dando hipótese a Tyrann Mathieu para recuperar a posição e uma vez mais, roubar uma bola apontada ao ombro errado. Foi este o trabalho efectuado com Kurt Warner? Estamos conversados… Aliás, em ambas as jogadas é ainda notória a dificuldade que Kaepernick tem de colocar a bola com precisão “in stride”, coisa que durante a década de 80 e 90 era “mandatório” para os lados de São Francisco, e que Alex Smith também fazia com competência. Mas a este tema voltaremos outro dia …

De seguida, o Coordenador Ofensivo de São Francisco ordena 13 (!!!!) corridas consecutivas, e um jogo que estava difícil (a perder por 14), ficou impossível (perder por 28). Quer dizer, impossível não é, porque em 7 de Dezembro de1980, os 49ers conseguiram virar precisamente um jogo onde perdiam por 28 pontos ao intervalo, mas  a diferença era que 14 desses pontos não foram oferecidos pelo QB de serviço (e este, não se chamava Kaepernick) … Reacção do Kaepernick? Nenhuma. Qualquer franchise QB digno desse nome, mesmo após dois pick-6, exigiria a bola nas suas mãos para mostrar que era capaz de superar um início de jogo desastroso e liderar a equipa. Kaepernick limitou-se a colocar o seu boné – valha-nos que desta vez era mesmo dos 49ers – e a amuar no banco.

Eu não sei o que é mais preocupante neste conjunto de atitudes incompreensíveis – se a total falta de confiança do OC em Kaepernick; se este “atirar da toalha” ao tomar a decisão de correr a bola 13 jogadas consecutivas; se a falta de garra de Kaepernick; se a decisão de colocar a confiança de um jogador (Kaepernick) acima dos interesses da equipa, poupando-o a ir para o banco.

O “benching” é vulgarmente utilizado nestas situações – ajuda o jogador e a equipa a acalmar, e a oportunidade de o Back-up mostrar serviço pode dar origem a uma reviravolta. E, acima de tudo, não é inédito – o Montana foi retirado do jogo várias vezes. Young também. Quem é Kaepernick e o que fez ele de muito relevante por esta equipa para ser poupado a uma “cura de banco”? Enfim …

Um punt e Hayne – uma agradável surpresa, e, cheira-me, uma das coisas poucas positivas que iremos ter esta temporada – consegue inventar um return de 37 jardas, deixando a bola na linha das 19 jardas dos Cardinals. Kaepernick marca no “read option”, mas este TD não apaga nada – um mágico não pode ter apenas um truque, e Kaepernick é um “mágico” de um truque só. A equipa parece galvanizar-se e a defesa – onde Tramaine Brock teve uma noite para esquecer, num third down crucial que deu origem ao segundo TD ofensivo dos Cardinals, após ver o seu adversário directo receber um passe, ficou literalmente a ver jogar em vez de o placar – intercepta Carlson Palmer por Kenneth Acker. Bola nas 19 jardas de São Francisco, 53 segundos para jogar e três Timeouts – Momentum Swing – vamos lá buscar mais 7 pontos, porque 14 pontos de desvantagem ao intervalo ainda dá para acreditar na remontada. Eis senão quando Kaepernick, com Vernon Davis liberto do lado direito e com campo livre à frente, faz um passe curto na vizinhança dessa direcção mas para onde não estava ninguém senão Tyrann Mathieu. Cinco jogadas depois, os Cardinals chutam a bola entre os postes e saem para o intervalo a ganhar por 31-7. Ball Game.

Por mim, entrava o Gabbert directo no terceiro quarto, mas não, o horror continua. Primeiro passe de Kaepernick, Torrey Smith desmarcado e mais um passe curto para as mãos de um defesa. Não há que enganar. Nem em 2004, com Tim Rattay e Ken Dorsey a QB se viu uma coisa deste género: em 10 passes, Kaepernick completa 9, 5 para colegas de equipa e 4 para adversários. Os números finais não são muito melhores: 9 passes completos em 19, 67 jardas (se descontarmos as jardas de sacks e de retorno de intercepções, o número é negativo) e um rating de 16.7. Se um quarterback fizer 20 passes e todos eles embaterem incompletos com estrondo no chão, o rating é de 39.6. Kaepernick consegue fazer muito pior. Magia?

Ainda não é desta que Gabbert entra. A receita é a mesma da primeira parte – mais umas quantas corridas por Carlos Hyde num jogo completamente perdido. Agora já começa a raiar a estupidez: forçar o Carlos Hyde – aquele que parece ser o porto seguro do ataque – num jogo completamente perdido, arriscando uma lesão; ou, ordenar uma corrida da sua própria end-zone com a equipa alinhada em shotugn é preocupante. Isso e ver o Navorro Bowman, a jogar como se o jogo estivesse empatado (e eu a rezar para que nenhum dos dois se lesionasse).

Dontae Johnson – com vários bons apontamentos – sofre uma falta que o impede de interceptar a bola e os 49ers voltam ao ataque. Gabbert? Não … valha-nos que o Hyde está no banco, e só se pode lesionar se escorregar a caminho do balneário no final do jogo. O “mágico” volta a puxar o mesmo coelho da cartola já bastante gasta – 7 jardas. Termina o terceiro periodo e para mim é notório que o Kaepernick é virtualmente incapaz de completar um passe, contando com dois WRs que lhe ganharam um SuperBowl e um daqueles que – até Kaepernick ter passado a titular – era um dos melhores TEs da liga … 4 jogadas dentro do último periodo, Boldin liberto do lado direito e mais um passe curto que não chega ao destino, embatendo – com sorte! – na relva. A minha percepção altera-se: Kaepernick é TOTALMENTE incapaz de completar um passe numa situação de pressão … e não se percebe porque razão Gabbert não é chamado ao jogo …

Já com o jogo na sua fase moribunda, Kaepernick consegue completar três passes curtos sucessivos para Garrett Celek, evidenciando uma vez mais a sua incapacidade de fazer passes longos com precisão  – entrecortados, claro está, por outros tantos passes incompletos – “arredondando” os números. Pouquíssimo e demasiado tarde.

O jogo termina. 1-2 numa divisão onde os Cardinals e os Rams estão em bom plano e os Seahawks são só os campeões de conferência em título. Próxima semana, Packers em casa, sendo que o “mágico” conseguiu em três anos derrotar esta equipa três vezes, sempre à base do “truque”. Não deixa de ser irónico ser este o jogo que pode determinar o futuro do “mágico”. Será que a malta de Green Bay já viu o truque vezes suficientes para perceber como o impedir? “The winter is coming”.

Semanalmente nesta coluna vamos ainda abordar a evolução dos jogos disponíveis no site da NFL.com, nomeadamente o Weekly Pick’em e o Perfect Challenge. Assim, lennoxportugal e jbriga, líderes do grupo FutebolAmericano.eu, façam o favor de entrar em contacto comigo via tykhead@gmail.com.

Finalmente, reclamações, comentários, sugestões e abaixo-assinados para que o Kaepernick seja trocado pelo Tebow, tykhead@gmail.com. Façam o favor de incluir o vosso nome e o local de onde escrevem.

About The Author

Hugo Taxa

Em meados da década de 80, e após ver vários episódios do "Eight is enough" na televisão (onde o filho mais novo aparecia no genérico com um capacete dos 49ers) tornei-me fã dos 49ers. A partir de 1990 tive a sorte de ter um vizinho de origem americana que recebia a Sports Illustrated, e que me dava as revistas após acabar de ler as mesmas. Segui assim as temporadas de 90, 91 e 92 pelas revistas (com de cerca de 3 meses, entre o jogo acontecer e eu ler a crónica sobre o mesmo na revista) até ver o meu primeiro Super Bowl na SIC em 1993, em directo. Tinha um teste na terça-feira seguinte, mas a antecipação era tanta que não me consegui concentrar no estudo durante o fim--de-semana ... e chumbei - tive que ir a exame!

Em 1996 acedi ao meu primeiro site na internet - espn.com. O objectivo era apenas seguir a NFL; e com o aparecimento da DSF no alinhamento da TV Cabo finalmente comecei a ver a Regular Season na TV - com comentários em Alemão!
20 anos depois me ter estreado a ver Super Bowls, acho que me posso gabar de apenas ter perdido o de 2000, e de ter visto em directo alguns dos momentos emblemáticos da NFL: Dan Marino a obter o recorde de jardas; Barry Sanders e Terrell Davis a correrem para 2000 jardas; Emmitt Smith a quebrar o recorde de Walter Payton; John Elway a "fazer de helicóptero" para ganhar o seu primeiro Super Bowl; e o melhor jogador de sempre - Jerry Rice - a dinamitar defesas adversárias.
A NFL pauta-se pelo equilíbrio, o que se traduz em todas as equipas terem os seus momentos altos e baixos. No entanto, mesmo em épocas difíceis como 2003 ou 2004 a fé nunca esmorece - 49ers Faithful!