Super Bowl 52: They Like Us!

Paulo Pereira 26 de Maio de 2014 NFL, Superbowl Comments
Minnesota Vikings Stadium

Super Bowl 52: They Like Us!

Demorou uma série de anos, mas Minnesota vingou-se de New Orleans. Ah, o doce sabor da retaliação. Recuemos um par de anos, até à final da conferência da NFC. Lá, na terra da boémia, do jazz, dos concertos espontâneos de rua, do colorido do French Market, Brett Favre levou uma tareia. Literal. Eram os tempos do bounty gate, das ordens agora proscritas de Greg Williams, dos golpes não sancionados. Os Minnesota Vikings, que tinham equipa para sonhar com nova ida ao Super Bowl, foram ao tapete. Caíram de pé, no prolongamento. Mas perderam. Os New Orleans Saints seguiram em frente e viriam a vencer o desejado Lombardi Trophy, contra os Colts de Manning. Foi uma derrota marcante, daquelas que deixa um laivo de frustração, amarga e de difícil digestão. Os sentimentos de vingança, mesmo que adormecidos, continuaram a pulsar. Num limbo. Até um dia…

Esse dia ainda não chegou, é um facto. Mas, na espera por ele, existem outros motivos de comemoração. E jubilo. Minnesota candidatou-se à realização do Super Bowl 52, em 2018. Sem estádio, ainda em construção, mas fervorosa na crença que reunia melhores condições do que os opositores. Esses eram, curiosamente, as cidades que disputaram o Super Bowl de 2010, que os Vikings falharam por uma nesga. Indianapolis e New Orleans. Esta última era considerada, quase unanimemente, a favorita a acolher o grande jogo, por uma série de motivos: o clima, bem mais temperado, a aura de diversão, que rodeia a cidade e, bem mais importante, porque 2018 coincidiria com o 300º aniversário do nascimento da cidade. No lote deste trio, Minnesota era tida como o patinho feio, uma cidade descartável pelas gélidas temperaturas de Inverno, sem nada de substancial para mostrar. Enganaram-se, todos os que pensaram assim. As Twin Cities terão, já em 2016, um estádio novo, funcional, moderno, arquitectonicamente criativo, um polo de concentração de atenções que dinamizará toda a zona envolvente.

Não é New Orleans? Pois não. Mas tem os seus méritos. Quais? Analisemos a decisão e os factores que poderão ter estado por detrás da escolha:

1. Um Novo Estádio

Daqueles cintilantes. Com um custo condizente. O Estado de Minnesota colocou na sua construção a módica quantia de 348 milhões. A esse número a raiar o obsceno, juntam-se mais 150 milhões de dólares, provenientes da cidade de Minneapolis. Demasiado dinheiro, a que falta contabilizar o que os Wilfs, donos da franquia, terão que desembolsar. Comprometimento financeiro desta envergadura geralmente é recompensado com um evento planetário, que permite algum encaixe monetário;

Uma vista de como será o interior do novo Estádio dos Minnesota Vikings

Uma vista de como será o interior do novo Estádio dos Minnesota Vikings

2. O Clima

Frio, por vezes quase glacial? E? Existirá melhor publicidade a um Super Bowl do que ver 22 indómitos jogadores a suportarem temperaturas negativas, lutando contra a adversidade da natureza, num campo coberto de neve e gelo? Esteticamente, o quadro é sedutor. Por outro lado, Minnesota não é território virgem na recepção ao Santo Graal do futebol americano. Em 1992 o estado recebeu a 2ª presença consecutiva dos Bills de Jim Kelly no Super Bowl, defrontando os Washington Redskins. Foi num dome, é um facto, mas ficou provado que a cidade sabe receber…

3. 180 Hotéis e 19.000 Quartos Disponíveis

Números de Abril deste ano. Até 2018 muitos mais surgirão, por certo. Hotéis para todos os gostos e bolsas, locais para prática desportiva e convívio, e uma “boulevard” a condizer, na semana que antecederá o grande jogo. Minnesota é sinónimo de descentralização, de oportunidade, de comprometimento com uma causa. Venham daí os efeitos económicos positivos de receber o Super Bowl. Estes são a cereja no topo do bolo. O Sports Management Reserch Institute projectou que o Super Bowl em Nova Iorque trouxe à cidade cerca de 600 milhões de dólares. Exagerado? Especulativo? Talvez nem tanto. É sempre difícil dirimir os efeitos positivos financeiros provocados por um qualquer evento, mas os números apresentados batem certo com um recente estudo da Universidade de New Orleans (feito a pedido do Comité do Super Bowl da cidade) que estimou que o impacto do evento na cidade traria cerca de 480 milhões, divididos entre novas oportunidades de trabalho – mesmo que em part time – receita tributária local e estatal. Se, mesmo sem o Super Bowl, os turistas continuariam a ir a New York, ou New Orleans, gastando na mesma o dinheiro que guardariam para o evento desportivo, em Minneapolis isso não se passará. Não irão 100 ou 200 mil pessoas passear, em pleno Inverno, para uma das zonas mais frias do País. Irão sim, unicamente para ver o jogo. E é esse impacto financeiro, totalmente diferente do que as outras cidades que se propuseram para o evento teriam, que marcou a diferença.

4. A Dimensão do Mercado

A área de Minneapolis-St.Paul é o 13º maior mercado dos Estados Unidos, alimentado por uma educação pública de qualidade e abastecida pelas sedes de corporações/multinacionais como a Target, a Best By e a 3M. Tem um vasto património cultural e mantém projectos e causas – A Historical Society, o Fundo Arts & Heritage, a Comissão dos Desportos Amadores – que são financiados apenas pela criação de uma qualidade de vida positiva.

E ser premiado com um evento desta grandeza, mais do que recompensas financeiras, criará um boost no orgulho cívico. Como li algures, numa das explosões de alegria que se seguiram ao anúncio da localização do Super Bowl, “They like us!”. E Minnesota saberá recompensar essa confiança.

About The Author

Paulo Pereira

O meu epitáfio, um dia mais tarde, poderá dizer: “aqui jaz Paulo Pereira, junkie em futebol americano”. A realidade é mesmo essa. Sou viciado. Renascido em 2008, quando por mero acaso apanhei o Super Bowl dos Steelers/Cardinals, fiz um reset em [quase] todos os meus dogmas. Aquele desporto estranho, jogado de capacete, entranhou-se no meu ADN, assumindo-se como parte integrante da minha personalidade. Adepto dos Vikings por gostar, simplesmente, de jogadores que desafiam os limites. Brett Favre entra nessa categoria: A de MITO.