Kubiak e Elway: Destinos Ligados

Paulo Pereira 24 de Março de 2015 NFL, Treinadores Comments
Denver Broncos Gary Kubiak

Kubiak e Elway: Destinos Ligados

Era uma vez…
Nope. Não pode começar assim.
Isto não é uma história.
Nem uma fábula.
É apenas um amontoado de frases com um denominador em comum.
Gary Kubiak.
Porquê?

Não que as qualidades técnicas do agora treinador dos Denver Broncos não merecesse um artigo próprio, aprofundado. Kubiak tem fama de ser um estratega, brilhante às vezes. Saído da aventura da coordenação em Baltimore, tábua de náufrago que tinha agarrado, sôfrego, após ter sido despedido dos Houston Texans, encontrou um novo posto, um patamar mais acima.
Merecido, diga-se.

Os Baltimore Ravens foram sólidos, no ataque, em 2014, graças a Kubiak. E mesmo aquela nódoa na carreira, que mancha um currículo, em Houston, foi mais fruto do status quo vigente do que de inépcia do treinador.

Nos Texans, que se tornaram relevantes até ao ponto do domínio integral na divisão, faltou apenas uma coisa. Um franchise quarterback.

Será essa, porventura, a mácula de Kubiak. Não ter, com tempo e paciência, desenvolvido um neófito que, depois, sucedesse a Matt Schaub. Mas isso são outras histórias e os quarterbacks de qualidade não aparecem por encanto.

Gosto de pessoas assim. Que, mesmo parecendo dar um passo atrás na carreira, mantêm um trabalho meritório, um foco profissional, quase obsessivo.

Os Ravens, conforme disse acima, melhoraram. Foram mais explosivos, coleccionando jogadas de mais de 20 jardas (74 no total), menos permissivos na OL (apenas 19 sacks cedidos) e terminaram a época com mais jardas ganhas em média por partida, do que um ano antes.

Não é por isso de estranhar que John Elway tenha deitado a rede a Kubiak, logo após ter fechado o ciclo John Fox em Denver.

Mas este convite não surje de forma fortuita. Há um laço que une Kubiak a Elway. E é um dos duradouros.

Tudo começou em…

1983 NFL Draft

Sem surpresas, John Elway é o escolhido com a pick nº 1. Por Baltimore (na altura, os Baltimore Colts). Elway recusa-se a jogar pela franquia e é trocado com os Denver. Nesse mesmo ano, Gary Kubiak é escolhido com a 1ª pick do round 8 (menos equipas na NFL, mais rounds do draft). Por quem? Denver Broncos.

Ambos, para quem não sabe, eram quarterbacks. Começava aqui a história.

De 1983 a 1991 John Elway trilhou o caminho que o tornou uma lenda, merecedora do Hall of Fame. 130 jogos da regular season como titular, criando uma sólida relação de amizade com o seu backup. Kubiak forçou sempre Elway a ser melhor, desafiando-os nos treinos, fomentando um clima de sadia rivalidade. A sua carreira de jogador permaneceu sempre na penumbra da do génio, jogando pouco, geralmente no garbage time, ou quando Elway tinha algum impedimento físico. Foram apenas 5 titularidades, em 8 anos de profissional.

Mas Kubiak aproveitou todo esse tempo no banco, beneficiando dos ensinamentos, capitalizando o que via. Encerrou a carreira, optando pelo outro lado da barricada. Iniciava-se aqui a carreira de treinador.

1995

Chegamos a 1995. Elway vivia o ocaso da sua carreira. A marcha do tempo era inexorável, mas prometia deixar uma profunda mágoa. Nele e nos fãs dos Broncos. 3 idas ao Super Bowl. 3 derrotas amargas. A relação de Elway com Dan Reeves era inexistente. E a chefia dos Broncos optou por trazer Mike Shanahan, com um passado na franquia, para liderar os destinos do clube. Em boa hora. Shanahan escolheu… Gary Kubiak para ser o seu coordenador ofensivo.

E assim, Kubiak deixou de ser o colega de Elway para passar a ser o seu coordenador. Foi como se as peças do puzzle finalmente se tivessem encaixado. Elway venceu dois Super Bowls, derrotando os Packers de Favre e, depois, os Falcons de Reeves. Encerrou a carreira após a última vitória. Kubiak permaneceu nos Broncos durante 11 anos.

2014

Gary Kubiak nos Ravens. Um regresso ao passado, depois de ter sido head coach nos Texans. Coordenador ofensivo nos Ravens. Klein Kubiak, o seu filho, antigo wide receiver na universidade de Rice, é contratado…pelos Broncos de John Elway. Mais uma vez, os caminhos de ambos se cruzam. Elway dá uma mão ao primogénito do seu velho companheiro de armas, arranjando-lhe um trabalho como assistente pessoal no departamento de scouting. A temporada não correu de feição aos Broncos, vendo resvalar mais uma vez o sonho de novo Super Bowl, afastados em casa nos playoffs pelos Colts. Em Baltimore, Kubiak desempenhou um papel fundamental, vendo os seus Ravens a atingirem os mesmos playoffs, onde abateram a sua besta-negra, os Steelers, para depois soçobrarem em Boston, num apertado confronto com os Patriots. O seu bom desempenho, aliado ao fracasso dos Broncos, despoletou nova reunião. John Fox sai de Denver para Chicago e Elway oferece o trono de treinador principal da equipa a Kubiak. Depois de terem sido colegas de equipa, de terem visto essa relação evoluir para uma mais profissional existência de quarterback/coordenador, o duo reune-se em Denver para uma nova e excitante aventura. Se fosse um filme de Hollywood, seria encabeçado por uma dupla de protagonistas mediáticos, facilmente reconhecíveis, e chamar-se-ia “Em busca do Super Bowl…”

2015

Sigam as cenas dos próximos capítulos. Numa televisão perto de si. A aventura inicia-se em Setembro. Daqui a sensivelmente 5 meses e meio. Mas algo me diz que os destinos de ambos continuarão entrelaçados, durante muito mais tempo…

About The Author

Paulo Pereira

O meu epitáfio, um dia mais tarde, poderá dizer: “aqui jaz Paulo Pereira, junkie em futebol americano”. A realidade é mesmo essa. Sou viciado. Renascido em 2008, quando por mero acaso apanhei o Super Bowl dos Steelers/Cardinals, fiz um reset em [quase] todos os meus dogmas. Aquele desporto estranho, jogado de capacete, entranhou-se no meu ADN, assumindo-se como parte integrante da minha personalidade. Adepto dos Vikings por gostar, simplesmente, de jogadores que desafiam os limites. Brett Favre entra nessa categoria: A de MITO.