College Bowl Season 2015 – Parte 2

Paulo Pereira 8 de Janeiro de 2016 Análise Jogos College, College Comments
Clemson Football

College Bowl Season 2015 – Parte 2

Clemson, 37 vs Oklahoma, 17 – Playoffs, Jogo 1

Foi um jogo com duas partes distintas, mas que não defraudou expectativas, acabando por coroar, no final, a equipa de Dabo Swinney, o treinador de Clemson que conseguiu a proeza de tornar a universidade relevante, no panorama nacional. Após anos a fio com promessas contínuas, óptimos jogadores (Sammy Watkins, Vic Beasley, Andre Ellington, CJ Spiller, Martavis Bryant, DeAndre Hopkins), mas soçobrando quase sempre às mãos de Florida State, na luta pela hegemonia na conferência, os Tigers alcançam um feito único: a ida à final nacional. Vencê-la será o cabo dos trabalhos, mas a fantástica – e invicta – temporada de 2015 valida todos os elogios feitos ao programa futebolístico. A perder ao intervalo, Clemson regressou e presenteou quem assistia com 30 minutos de puro deleite. No centro da acção voltou a estar Deshaun Watson, o quarterback de Clemson, que foi imparável no solo, contando com um forte contributo da defesa, o eterno calcanhar de Aquiles, em temporadas passadas, mas que soube elevar o seu jogo, na altura decisiva. As duas intercepções e Baker Mayfield foram a evidência disso mesmo.

Clemson

Depois da exibição dominante, o foco da atenção está centrado para o próximo dia 11, dia da final com Alabama. Mas, mesmo assim, mesmo com uma temporada inolvidável, há ainda quem não confie inteiramente em Clemson. Neste jogo 1 dos playoffs, os Sooners eram favoritos, para as principais casas de apostas. Como se bate isto, este sentimento vigente de quem não confia naquilo que foi alcançado, até à data? Mostrando, lá dentro, o porquê da invencibilidade. O início da 2ª metade mostrou esses predicados. A perder, os Tigers desenvolveram uma drive cirúrgica de 12 jogadas e 75 jardas, culminada num touchdown que os colocou irremediavelmente na frente. A red zone defense dos Sooners, crucial na primeira parte, apenas cedendo um TD em 4 idas de Clemson aquela zona do terreno, foi finalmente batida. O jogo teve muitos protagonistas, mas alguns não apareciam no guião pré-formatado, criado antes do jogo. A principal estrela defensiva, o defensive end Shaq Lawson, jogou apenas a primeira drive, permanecendo depois na sideline com problemas num joelho. Foi a altura para alguém desconhecido dar o passo em frente e colmatar a baixa. O rookie Austin Bryant juntou-se a Kevin Dodd e os dois trataram de aterrorizar a OL dos Sooners, somando 5 tackles for loss e 2 sacks. Se há algo que os Tigers nunca foram, na época, foi um ataque unidimensional. Sim, dependem, e muito, do génio de Watson, mas existiu sempre uma preocupação em criar um equilíbrio entre o jogo de passe e o de corrida. O ground game tornou-se uma parte instrumental no triunfo, suportado no estoicismo de Wayne Gallman, um running back pouco mediático mas que efectua o trabalho de sapa (26 corridas, 150 jardas e 2 TDs). A presença de Gallman permite criar as condições perfeitas para libertar Watson para a sua outra faceta: a de runner. Com a defesa  ter que se preocupar com o duo, nunca sabendo o que vai sair das jogadas em play-action, Watson teve um grande dia no solo, somando mais 145 jardas e novo score, na forma encontrada para derrubar o adversário.

Oklahoma

Pareceu, na 1ª metade, que as odds das casas de apostas estavam certas. Os Sooners, mesmo não conseguindo abrir espaços para Samaje Perine correr, conseguiam estancar o jogo de Clemson, com a defesa a revelar-se instrumental. O problema é que o jogo tem sempre duas partes e, na 2ª, Oklahoma nunca encontrou o antídoto para deter Watson e Gallman, que desfizeram por completo as aspirações. Na guerra das trincheiras, Clemson levou a melhor, coleccionando mais de 300 jardas corridas, número astronómico e impensável. Numa temporada que tem que ser recordada, pese a derrota, com carinho, tornando os Sooners novamente relevantes a nível nacional, Bob Stoops tem que reunir as tropas (Mayfield, Perine e o grosso dos titulares regressará para 2016) e fazer nova investida ao título, na próxima temporada, com um fito, para já, em mente. Criar um grupo mais físico e poderoso, quer na OL, quer na DL.

MVP do Jogo

Fica difícil escolher alguém no duo do one-two punch, com Gallman e Watson a serem infatigáveis, e imparáveis, no solo. Watson teve dificuldades, com um atípico 16 em 31 no passe, para 187 jardas, um TD e uma INT, não conseguindo ser o jogador preciso de outros jogos. Felizmente, o seu jogo não assenta apenas na função de pocket passer. Jogador elusivo, é um dual-threat que, com a bola em corrida, parece criar espaço onde ele não existe. Mas pese os seus malabarismos circenses, o título honorífico de homem do jogo terá que ser entregue a Gallman. O running back, apenas no seu 2º ano no college, não reivindicou cabeçalhos nos jornais, nem dividiu o tempo de antena dado ao seu mais mediático colega de equipa, mas foi crucial para dotar a equipa de soluções no solo, chegando a este encontro com mais de 1300 jardas corridas. E, na Orange Bowl, voltou a demonstrar o seu bom momento de forma, dando sempre jardas e mantendo as drives vivas, com as suas investidas. Nota final para o fake punt brilhantemente executado pelo punterAndy Teasdall, no 2º período, conseguindo um dos momentos do jogo.

Alabama, 38 vs Michigan State, 0 – playoffs, jogo 2

Quando se esperava – ou desejava – um encontro equilibrado, eis que Nick Saban e o seu staff sacam mais uma carta do seu vasto reportório de truques e transformam o jogo da semi-final num pesadelo vívido para os Spartans, no reencontro entre os técnicos das duas equipas. Curiosamente, nem foi preciso o uso intensivo de Derrick Henry, o vencedor do Heisman Trophy, num plano de jogo criativo, que apanhou desprevenido a equipa dos Spartans. Quando se esperava Henry, 'Bama dá ênfase ao jogo de passe, tornando Jake Cocker, o quarterback, no epicentro do game plan. Com sucesso, como demonstra o resultado. Se os Spartans estavam destinados a defender a corrida, de forma obstinada, não estavam preparados para o poderio aéreo. Cocker, mantido numa redoma exibicional durante a regular season, lançou 286 jardas, o seu máximo da temporada, libertado dos espartilhos anteriores, com Lane Kiffin, o coordenador ofensivo, a ter que ser creditado pela excelência do plano. Não se pense, olhando para o resultado, que Cocker teve a vida facilitada. A DL dos Spartans soube criar pressão, nunca dando tempo nem conforto ao quarterback rival, mas este encontrava sempre uma forma de finalizar a jogada, fosse fugindo do pocket e encontrando uma linha de passe, fosse evitando o turnover. Durante 3 período, Cocker levou a equipa às costas, conectando-se especialmente com Calvin Ridley, wide receiver que ameaça entrar na já longa linhagem de estrelas criadas na universidade. O freshman, um dos melhores da temporada, foi o complemento perfeito no jogo aéreo, conseguindo 8 recepções, 138 jardas e 2 TDs. Depois, chegou a vez de Cyrus Jones, num retorno de um punt para touchdown, que colocou um ponto final no encontro. Nesse score, que colocou o resultado nuns pesados 24-0, Kiffin e Saban mudaram novamente o plano de jogo. Com o adversário de joelhos, descrente e esgotado, soltaram Henry. Era a altura de gastar o cronómetro, de evitar erros penalizadores no passe…e de finalizar o que tinha sido começado. Henry ainda teve direito aos seus highlights, com 78 jardas e 2 TDs. A história do encontro não fica completa sem se falar na defensive line de 'Bama. Os homens para ela eleitos, criteriosamente escolhidos no recrutamento, tal como para a OL, são massivos. Enormes, assustadores, parecendo profissionais a jogarem contra miúdos. Na 1ª parte do encontro foi isso que se passou, com o running game dos Spartans a conseguir…menos 9 jardas. Menos, sem progressão, com os tackles for loss e os movimentos disruptivos, para além da linha de scrimmage, a reclamarem jardas acumuladas pela DL de Crimson Tide.

Alabama

A vitória contundente serviu para afastar fantasmas que ainda residiam na equipa, após a derrota nos playoffs do ano passado e no desaire, já esta época, contra Ole Miss. Esta equipa de 'Bama pode não ter a sua conta de estrelas, como outras no passado, mas é um conjunto sólido, punitivo nas trincheiras e com um ataque, como se viu agora, que não depende apenas de Henry. Num duelo particular entre Saban e Mark Dantonio, seu anterior assistente, saiu vitorioso Saban, como sempre que defronta antigos empregados. E Saban, mais do que essa particular estatística, persegue outra: a conquista do seu 4º título na universidade, criando um legado que o poderá transformar no melhor treinador do college, de sempre.

Michigan State

O desaire constitui uma profunda desilusão, depois da equipa ter criado expectativas de que poderia sair vitoriosa do embate. O confronto nem pareceu justo, face à diferença física, mais evidente do que a de qualidade, mas os Spartans, mérito lhe seja dado, lutou bravamente até final. Num jogo em que nada correu bem, Connor Cook, de quem se esperava mostrasse que era o melhor dos dois quarterbacks em campo, teve um jogo desastrado, acossado pela DL contrária (4 sacks e mais uma quantidade apreciável de hits) e com um decision making questionável. A sua 1ª INT, na melhor drive de Michigan State no encontro, foi um tremendo golpe no equilíbrio emocional da equipa, privando o conjunto dum TD que seria precioso, na manutenção da fé. Agora, no rescaldo da derrota, Dantonio terá um problema bem maior para resolver. Com Connor Cook e uma mão-cheia de titulares prontos a partirem para o draft, a janela de oportunidade dos Spartans conquistarem o título parece estar quase fechada. O head coach de Michigan State terá que operar um verdadeiro milagre para manter a equipa relevante, sobretudo porque na conferência terá que contar com a forte oposição de Ohio State e dos renascidos Wolverines de Jim Harbaugh.

MVP do Jogo

Jack Cocker, a quem os colegas de equipa apelidaram de baby Roethlisberger, pela envergadura física e braço forte semelhantes aos do quarterback dos Steelers, com o seu melhor jogo da temporada. Apesar da pressão contrária, Cocker falhou apenas 5 passes, o jogo todo, conseguindo manter activo o ataque, com progressões no terreno bem estruturadas e com lançamentos precisos. A sua conexão com Ridley foi evidente, sobretudo naquela bomba de 50 jardas, que explorou a velocidade do receiver, até à end zone. Nota de destaque para Jonathan Allen, o defensive tackle de 'Bama que parece encarnar um mini-mamute, que conseguiu 2 sacks, apesar de ser bloqueado/marcado, na maior parte do jogo, por dois jogadores. A sua impressionante capacidade física provocou mossa na OL dos Spartans, abrindo brechas para os colegas aproveitarem e vencendo claramente o duelo que manteve com o center Jack Allen, um dos melhores a nível nacional.

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Paulo Pereira

O meu epitáfio, um dia mais tarde, poderá dizer: “aqui jaz Paulo Pereira, junkie em futebol americano”. A realidade é mesmo essa. Sou viciado. Renascido em 2008, quando por mero acaso apanhei o Super Bowl dos Steelers/Cardinals, fiz um reset em [quase] todos os meus dogmas. Aquele desporto estranho, jogado de capacete, entranhou-se no meu ADN, assumindo-se como parte integrante da minha personalidade. Adepto dos Vikings por gostar, simplesmente, de jogadores que desafiam os limites. Brett Favre entra nessa categoria: A de MITO.