College Football 2014: Week 1 Review

Paulo Pereira 1 de Setembro de 2014 Análise Jogos College, Artigos, College Comments
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College Football 2014: Week 1 Review

E pronto. Aí está ela. A nova temporada do College, retocada e renovada em valores, mas sempre apetecível de visualizar, intensa nos jogos, surpreendente nas revelações. Uma nova fornada de jogadores, ávidos de glória e perseguindo o sonho da profissionalização. Desse lote aparecerão um punhado de atletas que, rapidamente, preencherá o vazio deixado pela partida dos ídolos para a NFL. Semanalmente, aqui neste espaço, serão dissecados os jogos mais importantes e com repercussões na novidade da época 2014: os playoffs. Não se limitará a isso, claro. Haverá sempre um olhar sobre as várias posições, procurando destacar alguns jogadores que, pela sua performance, merecem sair do anonimato e começar a ser seguidos. Acima de tudo, a nova época do College, feita de dramas e feitos, como todas as antecedentes, é para ser desfrutada. De forma sôfrega.

O Jogo da Semana

Na minha imensa generosidade, elegi não um, nem dois, mas sim três jogos que merecem ser escalpelizados nesta semana inaugural do College. Comecemos pelo que se realizou na 5ª feira à noite, abrindo as hostilidades na mais sedutora das conferências: a SEC.

South Carolina vs Texas A&M

Frente a frente, South Carolina e Texas A&M. O confronto parecia, inicialmente, desequilibrado, com as odds das casas de apostas a conferirem enorme favoritismo aos Gamecocks. No campo, duas das principais estrelas, que encantaram nos dois últimos anos, já não estavam presentes. Johnny Manziel e Jadeveon Clowney desfalcaram o espectáculo, mas abriram igualmente a oportunidade para o aparecimento de novos heróis. E o jogo produziu um. Até lhe podem chamar Kenny Football, emulando a alcunha que se colou a Manziel, como uma segunda pele. Kenny Hill, sophomore dos Aggies, mereceu a confiança de Kevin Sumlin para ser ele a orquestrar o ataque de Texas A&M. E foi uma revelação. Se querem saber porquê podem ler mais abaixo, na rubrica “o quarterback da semana”. Quanto ao jogo, os Aggies surpreenderam. Pela positiva. Kevin Sumlin demonstrou porque é um dos treinadores mais bem pagos do momento (5 milhões anuais), fortalecendo um elenco que, sinceramente, não ficou órfão após a partida de Manziel. A linha ofensiva foi instrumental, criando condições para Kenny Hill poder orquestrar drives bem conseguidas. A OL manteve quase sempre um pocket limpo, isento de pressões, permitindo que as decisões do seu QB fossem tomadas sem sobressaltos. Foram 99 jogadas e 680 jardas no ataque, o maior número alguma vez sofrido por qualquer equipa de South Carolina. Histórico! A defesa contra o jogo corrido, que em 2013 tinha sido horrível, melhorou substancialmente. E assim, quase como num passe de mágica, mesmo tendo perdido Manziel, Mike Evans e Jake Matthews, A&M dá um recital ofensivo, reclamando para si os créditos da abertura da temporada. Estes Aggies podem fazer furor, durante o ano desportivo. Precisam apenas de melhorar a secundária, que foi colocada em cheque por Dylan Thompson. O QB de South Carolina, mesmo com uma medíocre percentagem de passes completos (20 em 40), mostrou a fragilidade do sector, com 366 jardas no passe e 4 TDs obtidos. O que faltou aos Gamecocoks para justificarem o favoritismo? Quase tudo. Uma DL que pressionasse de forma eficaz e um jogo corrido que explorasse as eventuais fraquezas da DL contrária. Mike Davis, vindo de lesão, nunca conseguiu ser o running back exuberante, facilmente manietado.

LSU vs Wisconsin [em Houston]

O running back do presente (Melvin Ingram, um dos mais conceituados da nação) contra o running back do futuro (Leonard Fournette, freshman com enorme potencial), num jogo apaixonante. Duas universidades relevantes, com LSU a vencer, por apertados 28-24, conseguindo uma recuperação que, por grande parte do jogo, parecia impossível. Durante 3 períodos, Wisconsin controlou o destino da partida, colocando um 24-7 que parecia impossível de ser alterado. Os culpados? A OL, que começou a dar um pocket clean ao novato Anthony Jennings  (com 2 passes para TD, mas uma percentagem de acerto abaixo dos 50%) e a abrir buracos e rotas para Kenny Hilliard usar o seu poder no solo. O RB de LSU não se intimidou com a chegada do freshman Fournette, ficando com a maioria dos snaps e ajudando a equipa a ter dimensão terrestre. Hilliard teve uma das jogadas do encontro, ao correr 28 jardas para um TD decisivo. Hilliard acabou com110 jardas, preciosas para ultrapassar a bem montada DL do adversário (que claudicou apenas quando foi atingida por lesões). Wisconsin, por sua vez, voltou a demonstrar que pode enfrentar qualquer adversário, olhos nos olhos, mas falta-lhe sempre algo, para atingir outro tier. Óptimo jogo corrido, uma das imagens de marca do programa de futebol da universidade, com Melvin Gordon a demonstrar o porquê de ser apontado, nesta fase inicial da época, como um potencial candidato ao Heisman…mas pouco mais. A OL, que tem dado óptimos jogadores à NFL, tentou proteger um desamparado e impreparado Tanner McEvoy, mas aequipa apenas teve dimensão terrestre. Quando foi necessário, o jogo aéreo foi medíocre, com McEvoy a cometer erros primários e a sentenciar o encontro. Num jogo empolgante, 2 destaques finais:

  1. Travin Dural bem que pode ser eleito o MVP do encontro. O receiver de LSU, no seu 2º ano no College, teve uma noite fantástica. Em apenas 3 recepções conseguiu 151 jardas e marcou um TD precioso;
  2. É bonito ver a ligação umbilical que a maioria dos atletas mantém com a sua alma mater, mesmo depois de saírem do programa escolar. Na assistência estavam lá Patrick Peterson, antiga estrela de LSU e actual Pro Bowler ao serviço dos Cardinals, e JJ Watt, com carreira meterótica em Wisconsin.

Florida State vs Oklahoma State

Os Seminoles, campeões em título, abriam a nova temporada com uma deslocação complicada, mas mostraram de que cepa são feitos, conseguindo ultrapassar os obstáculos, mesmo com evidente dificuldade. O 37-31 final veio demonstrar a velha máxima de que a maioria dos jogos não são ganhos, mas sim perdidos pelo adversário. Os Cowboys colocaram os Seminoles contra a parede, mas foram incapazes de dar o último golpe. Ao invés, deram sempre tiros nos pés, nas alturas cruciais, quando parecia possível abater a equipa de Jimbo Fischer e o vencedor do último Heisman, Jameis Winston. O momento culminante do jogo aconteceu a 4 minutos do final, quando o marcador assinalava um 30-24 favorável a Florida State. O ataque desinspirado dos Seminoles (Jameis Winston teve duas intercepções e uma mão-cheia de lançamentos pouco conseguidos), parecia ter sido travado, o que permitiria a posse de bola para Oklahoma e a possibilidade de vencerem. Mas. Há sempre um mas. Rashad Greene (vão ler sobre ele na rubrica “o wide receiver da semana”) correu uma rota pelo meio, perseguido de perto pelo cornerback. Num daqueles bloopers de final de temporada, o cornerback choca contra um colega de equipa, deixando Greene inteiramente livre para uma corrida e um TD de 50 jardas. Game over. Antes disso, com apenas 3 pontos a separar as duas equipas, JW Walsh, QB de Oklahoma State (203 jardas passadas, 51 corridas e 3 TDs totais), tinha tido um fumble, quando a drive parecia promissora. Esteve aí a diferença entre as equipas. Os Seminoles puniram sempre os erros do adversário. Oklahoma apenas conseguiu 3 pontos resultantes dos turnovers do opositor.

Jameis Winston e os seus Seminoles sobreviveram, mostrando que estão prontos para nova corrida. Winston não esteve perfeito – longe disso – mas conseguiu aparecer nas alturas cruciais. E, cereja no topo do bolo, o seu TD corrido, no 3º quarto, em 28 jardas onde mostrou toda a vasta gama de habilidades que possui. Fantástico.

O Quarterback da Semana

É uma tarefa árdua nomear um jogador, em qualquer posição, perante a prolífica quantidade de jogos e universidades existentes. Eleger alguém significará, neste cantinho, um prémio pelo estabelecimento de uma exibição fora do comum, que raie o excepcional. Julgo que, analisados os jogos da week 1, o quarterback que mais se aproximou disso foi Kenny Hill. Até à noite de 5ª feira, era um perfeito desconhecido, tendo passado o ano freshman sentado no banco, olhando para as diatribes de Johnny Manziel dentro de campo. Hill superou o seu primeiro teste na offseason, quando foi obrigado a lutar pela posição, tendo como rival o freshman Kyle Allen. Depois disso, Hill tinha que conviver com uma sombra. Um fantasma. O ídolo ainda presente na mente de todos os fãs dos Aggies. Aquele que os emocionou, que encantou, que os fez sonhar, quando a universidade mudou de conferência e aterrou na SEC. Manziel, mesmo ausente, lutando outras batalhas, ainda permanece perene nas recordações de todos. E, para finalizar o enredo, o jogo inaugural era fora. Contra South Carolina, que iniciavam a nova época no 9º lugar do ranking nacional. Nas bancadas, 82.847 espectadores, criando um ambiente feérico e hostil. Era desculpável se, perante isto, Hill claudicasse. Era aceitável se mostrasse indícios de nervosismo, se cometesse erros primários, se falhasse nos momentos cruciais do encontro. Caramba, era o seu primeiro jogo. Mas aconteceu um daqueles regulares eventos no College. Kenny Hill jogou em alto nível, rodeado por um excelente elenco, capaz de destroçar a defesa de South Carolina e marcando mais de 50 pontos, feito inédito desde que Steve Spurrier está à frente dos destinos dos Gamecocks. Sereno no pocket, equilibrado nas suas decisões, Hill não se atemorizou e lançou. Lançou como nunca, conseguindo 511 jardas aéreas, mais do que Johnny Manziel (lá está a história da sombra) conseguiu, na sua passagem pelos Aggies. O QB terminou a épica performance com 44 passes completos, em 60 tentados, para as tais 511 jardas e 3 passes para TD. Rápido nas decisões, libertando-se da bola com celeridade, lançou-a para os seus receivers, de forma cirúrgica. Sendo um pocket passer, com um estilo diametralmente oposto ao de Manziel, Hill não se coíbe de terminar um down ou drive com uma corrida.

Menção Honrosa da Semana

Taysom Hill, QB de BYU. Reparei nele no ano passado. Atirado às feras, parecia uma visão crua de Tebow ou Jordan Lynch. Um jogador atleticamente dotado, com uma impressionante capacidade de corrida, mas claramente desfasado no passe. Mesmo assim, colocou números interessantes nas estatísticas. Um ano depois, está de volta. Stat da semana: 28/36, 308 jardas e 3 TDs, mais o normal, 12 corridas, 97 jardas no solo e 2 TDs. Num esquema básico, jogando em play action, é imparável. Alguém que consiga treinar devidamente aquele braço (bem melhor este ano) e podemos ter jogador!

O Running Back da Semana

Todd Gurley. MVP de Georgia. Responsável-mor pela vitória contra Clemson. E putativo candidato ao Heisman Trophy. Sim, é ainda precoce admiti-lo, mas num jogo em que os Bulldogs estreavam um quarterback (Aaron Murray saiu para a NFL), foi o jogo corrido que os manteve na senda dos triunfos. Gurley, um dos atletas mais destacados da nação, massacrou literalmente Clemson, punindo-os com a sua forma de correr, extremamente autoritária e poderosa. 15 corridas, 198 jardas e 3 TDs, tendo ainda tempo para participar, como returner, no special team. E aí, um dos highlights da semana, correndo intocado para um TD de 100 jardas. Mito!

O Wide Receiver da Semana

Não há Kelvin Benjamin, agora nos Panthers? Sem problema. O next man up já estava no roster dos Seminoles. Este prémio meritório de “melhor da semana” não premiará, em primeira instância, números inflacionados. O College tem disto, todas as semanas. Jogos desequilibrados, competitividade nula e universos desportivos díspares. A importância de um jogador não pode ser medida apenas pelas estatísticas. Os números valem o que valem, mas na escolha desta semana valem muito. Numa conjugação de factores, o wide receiver da semana teve tudo: números quase obscenos, perante um adversário cotado, ajudando com a sua performance a equipa a alcançar uma vitória importante. Falo de quem? De Rashad Greene, que terminou o embate contra Oklahoma State com 11 recepções, 203 jardas e 1 TD. O senior promete ter um grande ano, na temporada mais importante da sua carreira, pelo draft que se avizinha.

O Jogador Revelação da Semana

Desenganem-se aqueles que pensam que vos vou falar duma performance inolvidável, vinda de algum freshman ainda confortado no anonimato. Não. Hoje as luzes da ribalta merecem incidir no mérito académico, provando que o sucesso dentro e fora de campo pode ser uma realidade compatível. Jake Rudock é quarterback e joga na universidade de Iowa. É, também, um dos melhores alunos da universidade, capaz de gerir a pressão de jogar futebol a um nível elevado com o grau de exigência de um curso. Rudock está no curso de medicina, tendo como objectivo tornar-se pediatra. Até lá, entre aulas e estudos complexos, vai lançando para touchdowns. Como neste fim de semana, contra Northern Iowa,  em que fez 31/41, 250 jardas e 2 TDs passados

About The Author

Paulo Pereira

O meu epitáfio, um dia mais tarde, poderá dizer: “aqui jaz Paulo Pereira, junkie em futebol americano”. A realidade é mesmo essa. Sou viciado. Renascido em 2008, quando por mero acaso apanhei o Super Bowl dos Steelers/Cardinals, fiz um reset em [quase] todos os meus dogmas. Aquele desporto estranho, jogado de capacete, entranhou-se no meu ADN, assumindo-se como parte integrante da minha personalidade. Adepto dos Vikings por gostar, simplesmente, de jogadores que desafiam os limites. Brett Favre entra nessa categoria: A de MITO.