I Love This Game

Paulo Pereira 25 de Outubro de 2012 Diversos Comments

A ansiedade é quase palpável, à medida que a data – marcada com uma visível roda vermelha no calendário que decora a parede da cozinha – se aproxima. Lenta, mas inexoravelmente, o cenário anteriormente tido como utópico está cada vez mais próximo. Se alguém me dissessem, há uns anos atrás, que eu estaria nas bancadas modernas de Wembley, gritando a plenos pulmões ao ver 22 jogadores, vestidos com ridículas calças justas e espampanantes capacetes a protegerem as cabeças, afirmaria que essa pessoa estava louca. O imaginário referente a um jogo de futebol americano nunca me atraiu. O desporto estranho, as regras esquisitas e a completa falta de ligação emocional mantiveram-me aparcado da realidade norte-americana. Demasiado tempo. Mas, como todas as paixões, no dia em que me enamorei pelo desporto, foi um amor para toda a vida. Passo à frente o processo de criação de um afecto que não diminui. Pelo contrário. Tornou-se um vício. Um daqueles que nos consome a alma, uma verdadeira compulsão. Não foi nada planeado, nesta aventura em que embarquei. Fui descobrindo, numa andança solitária, regras e jogadores emblemáticos, esquemas tácticos complexos e posições de nomes misteriosos.

Patriots @ Rams London Programa

O programa do grande jogo!

Guardo ainda, num compartimento próprio no item recordações, o prazer de ver um passe milimetricamente lançado. A graciosidade duma recepção ou a força descomunal duma arrancada dum running back. Dei por mim a afastar compromissos sociais, nas tardes de Domingo, na sofreguidão de não perder um segundo sequer do desporto recém-descoberto. Depois, quando a programação da ESPN, o amigo inseparável nesta caminhada, se tornou demasiado limitativa [para quê ver um jogo de cada vez, quando se pode ver uma série deles, ao mesmo tempo] passei para o estágio seguinte. Uma despedida a uma centena de euros e um GamePass adquirido, permitindo a exploração de um novo mundo. Jogos e mais jogos, com jogadas repetidas, opções variadas e a possibilidade infinita de repetições. Chega? Sim. Dá para saciar devidamente a gula pelo futebol americano. Mas eu queria mais. Faltava algo. O sentir a verdadeira paixão, o ambiente típico de um jogo, o tomar de pulso dos adeptos, encarando cada partida como uma enorme festa. Ver – e cheirar – um tailgate, a mania tipicamente americana de confraternização, com iguarias à mistura, nos parques de estacionamento dos estádios. Como uma viagem intercontinental, num País depenado e a viver uma crise gigantesca, estava fora de questão, restava-me apenas um local para ir: Londres.

Patriots @ Rams London Programa 2

Um pormenor do programa

A imensa metrópole inglesa, que se reinventa a cada novo ano, trepidante na animação, esmagadora na cultura apresentada em cada esquina, tem já um vasto currículo na recepção a jogos da NFL. A série internacional, como é denominada a vinda de duas equipas da NFL a Londres, já cativou, pela presença assídua, uma multidão apaixonada. Será, reconheço, um substituo anémico a um jogo da NFL em território americano. Mas, até lá, acredito que todas as minhas expectativas serão concretizadas. Faça sol, chuva ou mesmo neve (a previsão meteorológica não é muito animadora para o dia 28) espero celebrar devidamente a entrada em campo dos gladiadores dos tempos modernos. Apreciar a beleza e os movimentos sensuais do grupo de cheerleaders. Entusiasmar-me com um passe de Tom Brady para Wes Welker. Ou com um sack majestoso de Chris Long. Berrar a plenos pulmões ao ver Steven Jackson a conquistar jardas, após sofrer um tackle. Ou assustar-me, quando Vince Wilfork, verdadeira força da natureza, avançar imparável no campo, intimidando colegas, adversários e público. Quero isto. E muito mais. Ver Bill Bellichick a gerir os seus homens, como se estes fossem meras peças num enorme tabuleiro de xadrez, permanecendo com o rosto circunspecto, avesso a emoções. Em contraste com Jeff Fischer, o sagaz mas mais expansivo treinador dos Rams, lançando ordens na linha lateral, impulsionando-os para o ataque.

Patriots @ Rams London Cheerleaders

As Cheerleaders que vão alegrar o jogo

E lá dentro, os matchups que são um duelo particular, dentro do próprio jogo. Cortland Finnegan, o cornerback provocador, a marcar impiedosamente a deep threat que é Brandon Lloyd. JoLonn Dunbar a ter a ingrata tarefa de travar a robustez física de Rob Gronkowski. Será um mundo de emoções, concentrado num pedaço de relva mítico, circundado por bancadas repletas de entusiastas espectadores. Cores diferentes, na adopção clubista, proveniências distintas, chegados dos diferentes cantos da Europa e até línguas diversas, mas com algo em comum. A paixão pelo futebol americano. Roubando o slogan intemporal à NBA, “I LOVE THIS GAME”!

About The Author

Paulo Pereira

O meu epitáfio, um dia mais tarde, poderá dizer: “aqui jaz Paulo Pereira, junkie em futebol americano”. A realidade é mesmo essa. Sou viciado. Renascido em 2008, quando por mero acaso apanhei o Super Bowl dos Steelers/Cardinals, fiz um reset em [quase] todos os meus dogmas. Aquele desporto estranho, jogado de capacete, entranhou-se no meu ADN, assumindo-se como parte integrante da minha personalidade. Adepto dos Vikings por gostar, simplesmente, de jogadores que desafiam os limites. Brett Favre entra nessa categoria: A de MITO.