A View From the Bay: Shutout!

Hugo Taxa 18 de Setembro de 2016 Equipas NFL, NFL Comments
San Francisco 49ers

A View From the Bay: Shutout!

As rivalidades constroem-se ao longo da história, na sequência das batalhas travadas nos domingos de outono e de inverno. Há rivalidades decorrentes da geografia, da relevância das batalhas, ou por simples insistência. Assim se explica, por exemplo, que a rivalidade com os Cowboys (contra quem foram disputados apenas 27 jogos em toda a história) seja ainda mais relevante que a rivalidade com os Seattle Seahawks (34 jogos disputados), pois em 5 desses jogos com os Cowboys o vencedor seria o representante da NFC no Super Bowl.

Os Rams, originalmente de Cleveland, mas que se mudaram para Los Angeles no longínquo ano de 1946 como resposta da NFL ao facto da liga rival AAFC ter colocado uma equipa na costa oeste – os 49ers – eram inicialmente rivais de liga, com conotações geográficas. A partir de 1950, com a fusão entre a NFL e a AAFC (da qual transitaram 3 equipas – os Cleveland Browns, os San Francisco 49ers e os Baltimore Colts), os Rams passaram a ser rivais geográficos de facto, fazendo sempre parte da mesma divisão dos 49ers. Este facto deu direito a 2 batalhas anuais, que nem o “temporário” desvio dos Rams para Saint Louis fez esmorecer, a que acresce uma batalha adicional na final de conferência NFC de 1990. Assim, estes 66 anos de história conjunta traduzem-se em 133 jogos – a tal insistência – com um palmarés tremendamente equilibrado: 66 vitórias dos 49ers – incluindo o NFC Championship em 1990 – 64 vitórias dos Rams e 3 empates.

Com isto em mente, a entrada na septuagésima temporada dos 49ers não podia ter corrido melhor – um shutout e ainda por cima contra aqueles que são, para todos os efeitos, os grandes rivais. Comecemos pelo resultado: um shutout é um shutout, e os shutouts não aparecem assim tão frequentemente – este foi o 32º na história dos 49ers, 25º se contabilizarmos apenas a era do Super Bowl; sendo que o último tinha sido sensivelmente à quatro anos, no MetLife contra os New York Jets (que na altura contavam com Tim Tebow no plantel), curiosamente o meu primeiro encontro ao vivo dos 49ers!

No meio destes 133 encontros com os Rams, os 49ers conseguiram secar por completo o ataque dos Rams por sete vezes – os Rams são os maiores clientes deste “tratamento” por parte dos 49ers, a que certamente não é alheio o número de encontros efectuados. Mas curiosamente, os Rams nunca conseguiram fazer uma maldade semelhante aos 49ers – ficha limpa nesse aspecto.

A excitação natural de início de temporada, amplificada pelo facto do encontro ser o derbi histórico, e um jogo de Monday Night – à entrada do qual os 49ers apresentavam uma série de 9 vitórias consecutivas em encontros realizados à segunda feira – levantavam algumas reservas à opinião generalizada dos analistas que apontava para uma vitória dos Rams em virtude da seu fortíssimo Front Seven – a linha defensiva e a unidade de Linebackers – bem como o jogo de corrida do demolidor Todd Gurley – que tinha corrido para 1106 jardas em apenas 13 jogos na temporada transacta, e ainda do explosivo Tavon Austin. Com Jared Goff – primeira escolha do draft deste ano – vestido à civil, os Rams comandados por Case Keenum atacaram primeiro conseguindo uma drive de 9 jogadas que estancou na linha de 46 jardas de San Francisco. Os 49ers responderam com 7 jogadas onde ganharam 20 jardas, finalizando a série em punt para os Rams. Tavon Austin, com mais de 10 jardas livres pela frente para devolver o punt, sinaliza o Fair Catch na linha das 9 jardas dos Rams, encurralando a sua equipa. San Francisco aproveita a situação, aumenta a pressão na defesa, e trava duas corridas de Todd Gurley e faz um sack a Case Keenum. Apesar de John Hekker ser um dos melhores punters da liga, qualquer punt da end-zone é sempre feito sob pressão. O resultado é um punt curto que permite a San Francisco tomar posse da bola praticamente na linha das 50 jardas. Gabbert tomou as rédeas do jogo, e numa drive de 10 jogadas, onde ele próprio realizou duas corridas que valeram 16 jardas e dois primeiros downs levou os 49ers até à end-zone. O touchdown foi conseguido numa corrida de 11 jardas de Carlos Hyde onde este teve a paciência para esperar que um buraco fosse aberto na linha defensiva dos Rams, para com um salto lateral – Hyde voltaria a fazer a brincadeira pelo menos em duas outras ocasiões, transformando situações complicadas em corridas que redundaram em ganhos de terreno importantes – explorar esta vulnerabilidade e colocar os primeiros pontos no marcador.

Paciência foi a palavra de ordem no jogo ofensivo dos 49ers. Com a linha ofensiva a neutralizar por completo o temido Front Seven dos Rams, Gabbert não deslumbrou mas teve um dia relativamente tranquilo completando 22 de 35 passes para 170 jardas e fazendo umas corridas no timing certo, sem sofrer qualquer sack; Carlos Hyde destacou-se entre os RBs com 88 jardas em 23 corridas e 2 TDs; e, Jeremy Kerley – um jogador adquirido por troca com os Detroit Lions e que nem uma semana teve com o plantel – a destacar-se nos receivers com 7 recepções para 61 jardas e mais 11 jardas em 2 punts devolvidos.

Na defesa, “Bo” Navorro Bowman estava sempre no enquadramento, sendo que sempre que havia uma pilha de jogadores no final de uma jogada, ele era dos últimos a levantar-se – sinal inequívoco que tinha sido um dos primeiros a chegar ao “local do crime” – terminou com 9 tackles, 1 passe defendido e uma intercepção acrobática onde segurou a bola, já em queda, com os joelhos. Aliás, a defesa esteve em grande plano com os comentadores televisivos Chris Berman e o lendário Steve Young a referirem repetidamente que cada vez que a bola saía da mão de Case Keenum para a mão de um outro qualquer jogador dos Rams, um enxame de camisolas vermelhas estava sempre por perto para neutralizar a jogada. Resultado deste espírito colectivo está patente nas míseras 47 jardas conquistadas por Gurley em 17 corridas, ou nas 185 jardas totais conquistadas pelo ataque dos Rams. Aliás, à entrada para os últimos 5 minutos do encontro, e com o score já em 28-0, os Rams tinham 133 jardas conquistadas no ataque e sido penalizados em 102 jardas, espelho do total descontrolo emocional dos Rams e que levou com que Aaron Donald tivesse sido expulso por tentar estrangular Quinton Patton e lhe ter arrancado o capacete com violência na drive que resultou no quarto TD para San Francisco (e contribuindo desta forma decisivamente com 27 do total de 80 jardas para o efeito).

Três notas adicionais dignas de registo:

  • A primeira penalidade que San Francisco sofreu registou-se após 40 segundos de jogo no último quarto – que diferença para o ano transacto onde penalidades em barda logo a partir do primeiro período eram a norma;
  • O jogo ainda deu para que Kaepernick conseguisse uns minutos de jogo em mop-up, onde se limitou a entregar a bola para três corridas consecutivas de Mike Davis;
  • Uma das curiosidades do jogo foi o facto de Anthony Davis (pediu a sua reactivação após se ter retirado no defeso da temporada anterior), que aparentemente tinha conquistado a titularidade como Left Guard, não ter jogado. Isto, após rumores surgidos no passado fim-de-semana apontarem para Davis estar a ponderar retirar-se novamente. Já esta sexta-feira, voltaram a surgir novamente rumores da retirada iminente de Anthony Davis, tendo este sido declarado como inactivo para a partida contra os Carolina Panthers.

Este domingo, o jogo será bem mais difícil, contra o campeão em título da NFC. Para conseguir competir pela vitória, a defesa terá que estar pelo menos ao mesmo nível do jogo com os Rams; mas o ataque terá que subir vários patamares o seu jogo, quanto mais não seja porque a defesa dos Panthers não deverá ser tão macia como a dos Rams se veio a revelar.

About The Author

Hugo Taxa

Em meados da década de 80, e após ver vários episódios do "Eight is enough" na televisão (onde o filho mais novo aparecia no genérico com um capacete dos 49ers) tornei-me fã dos 49ers. A partir de 1990 tive a sorte de ter um vizinho de origem americana que recebia a Sports Illustrated, e que me dava as revistas após acabar de ler as mesmas. Segui assim as temporadas de 90, 91 e 92 pelas revistas (com de cerca de 3 meses, entre o jogo acontecer e eu ler a crónica sobre o mesmo na revista) até ver o meu primeiro Super Bowl na SIC em 1993, em directo. Tinha um teste na terça-feira seguinte, mas a antecipação era tanta que não me consegui concentrar no estudo durante o fim--de-semana ... e chumbei - tive que ir a exame!

Em 1996 acedi ao meu primeiro site na internet - espn.com. O objectivo era apenas seguir a NFL; e com o aparecimento da DSF no alinhamento da TV Cabo finalmente comecei a ver a Regular Season na TV - com comentários em Alemão!
20 anos depois me ter estreado a ver Super Bowls, acho que me posso gabar de apenas ter perdido o de 2000, e de ter visto em directo alguns dos momentos emblemáticos da NFL: Dan Marino a obter o recorde de jardas; Barry Sanders e Terrell Davis a correrem para 2000 jardas; Emmitt Smith a quebrar o recorde de Walter Payton; John Elway a "fazer de helicóptero" para ganhar o seu primeiro Super Bowl; e o melhor jogador de sempre - Jerry Rice - a dinamitar defesas adversárias.
A NFL pauta-se pelo equilíbrio, o que se traduz em todas as equipas terem os seus momentos altos e baixos. No entanto, mesmo em épocas difíceis como 2003 ou 2004 a fé nunca esmorece - 49ers Faithful!