Minnesota Vikings @ Tennessee Titans: A Redenção da Defesa

Paulo Pereira 12 de Setembro de 2016 Análise Jogos NFL, NFL Comments
Vikings vs Titans

Minnesota Vikings @ Tennessee Titans: A Redenção da Defesa

First things first.
É bom começar a vencer.
É bom começar a vencer fora de portas.
É bom começar a vencer fora de portas depois de termos perdido o franchise quarterback para a temporada (e mais além).

Depois desta declaração de intenções, se o primeiro jogo da nova época provoca este vaivém de emoções, dificilmente resistirei a uma temporada de 16 jogos na fase regular e, espero, mais alguns nos playoffs.

O jogo não era fácil. Ponto. Não há disso na NFL, mesmo que o adversário se tenha tornado num capacho em que todos batem, nos últimos anos. Estes Titans são a antítese do resto da competição. Numa época de florescimento do jogo aéreo, com sets elaborados que comportam, cada vez mais, grupos de 3 wide receivers, mais o tight end da praxe, em que as defesas, para contrariar este poderio atacante, desenvolvem packages defensivas com 3, 4 e 5 defensive backs em campo, a franquia de Tennessee comprometeu-se de forma vincada com o jogo corrido. Há quem ache que isto está fora de moda, que esta filosofia está ultrapassada e que o conceito criado por Mularkey é convencional e obsoleto. Mas o upgrade na linha ofensiva, com guards com forte impacto como run blockers, mais a aquisição de DeMarco Murray e do rookie Derick Henry, permitem aos Titans ser mais competitivos, criando as fundações para um jogo mais consistente e, pretensamente, menos atreito aos turnovers.

Isto pareceu funcionar, durante a primeira parte, quando o marcador assinalava 10-0. Os Vikings mostravam ser, no Domingo à tarde, uma equipa amorfa. Compreensivelmente. O impacto da perda de Teddy Bridgewater, emocionalmente, deixou marcas, mesmo que o front office tenha sido lesto a insuflar esperança, na trade por Sam Bradford. Com Shaun Hill aos comandos, sabia-se com o que era possível contar. Um jogo isento de erros do veterano quarterback, com um playcalling convencional, usando passes curtos, screens que pouco faziam o ataque avançar no terreno, e uma aposta vincada no run game, a cargo de Adrian Peterson. Num jogo em que era expectável uma baixa pontuação, pressentia-se igualmente que, desta feita, teria que ser o sector mais forte da equipa a carrega-la para o triunfo. E isso aconteceu. A defesa, letárgica na 1ª metade, com enormes problemas em travar o adversário nos terceiros downs, emergiu na altura crucial, com a sua capacidade de provocar turnovers a ser crucial para o triunfo.

E é esta a realidade actual dos purple & gold, que irão enfrentar, já na próxima jornada, um ataque contundente, a cargo de Aaron Rodgers. O ataque vikinguiano não existe. Facto. Nos dois últimos jogos oficiais (a derrota nos playoffs contra os Seahawks e este com os Titans), o ataque não produziu um touchdown. E, quando o jogo de passe é pedestre, com essa tendência a acentuar-se com a inclusão de Hill, já se sabe o que o opositor fará: preencher a box da scrimmage com 8 ou 9 elementos, com clara intenção de neutralizar a arma mais devastadora do arsenal de Minnesota, Adrian Peterson. Escalpelizar o porquê de termos um jogo de passe medíocre é uma tarefa mais complexa mas que, em traços genéricos, pode ser explicado pela ausência de solidez na linha ofensiva. Era esse o bode expiatório em 2015 e, pelo que se viu no primeiro jogo a sério em 2016, continuará a merecer a ira dos adeptos. Mesmo reforçada, a guarda pretoriana foi sempre submersa pela DL dos Titans, que emperraram o jogo corrido. As estatísticas de All Day falam por si mesmas: 19 corridas. 31 jardas.

1. Os Melhores de Purple & Gold

Stefon Diggs, WR – Foi a válvula de escape do ataque, com Adrian Peterson a não conseguir furtar-se à impiedosa marcação. Com Shaun Hill reduzido a um mero game manager de braço questionável, Diggs esticou o ataque ao máximo, fazendo a equipa mover-se no terreno. Foram 7 recepções, quase todas importantes no contexto do jogo, para 103 jardas de ganhos. Depois de ter deslumbrado no seu ano rookie, na primeira metade dos jogos, Diggs parece pronto para corresponder às expectativas geradas.

Danielle Hunter, DE – Tal como Diggs, Hunter deixou flashes de talento no seu ano de estreia, em 2015, coleccionando sacks nas suas esporádicas aparições. Esta temporada é previsível um aumento no número de snaps, correspondendo à agressividade e atleticismo que ele trás para o campo. Foi um dos rostos da revolta, no pós-intervalo, surgindo mais pressionante e disruptivo. Teve um sack instrumental, no 4º período, liquidando uma drive dos Titans e foi ágil a recuperar um fumble, correndo sem oposição para o touchdown da tranquilidade.

Shaun Hill, QB – Não fez nada de extraordinário, mas isso também não era requerido. Hill, nesta altura da sua carreira, é um mero tampão, usado para fixar algo provisoriamente. O plano de jogo seria sempre conservador mas, com os Titans sabedores disso e usando tudo o que tinham à disposição para parar o jogo corrido, Hill teve que lançar. Conseguiu, a espaços, mover o ataque, graças a Diggs e a Adam Thielen (outro boa exibição de um miúdo muito underrated, que merece crédito pelo que tem conseguido na sua ainda curta carreira), terminando com um mediano 18 em 33, para 236 jardas. O mais importante foi conseguido: evitar turnovers. Para isso muito contribuiu o pass blocking que, pese terem permitido várias pressões, impediram males maiores. Hill não sofreu nenhum sack e cumpriu o seu papel.

Eric Kendricks, MLB – Merece elogios não pela globalidade do seu jogo, penalizado por ter permitido várias incursões a Murray e Henry, no jogo corrido, mas pela sua leitura de jogo fantástica, que lhe deu a intercepção posteriormente retornada para touchdown. Os pontos foram cruciais, colocando finalmente a equipa à frente.

2. Os Piores de Purple & Gold

Blair Walsh, K – Esgotei todos os insultos possíveis quando, a perder por 3-0, o vi a falhar um field goal de 37 jardas. Já não há paciência para tibiezas de qualquer espécie. Como é mesmo o mantra que Bill Bellichick gerou nos Patriots? Do your job? Ainda a sangrar interiormente depois do patético lance que ditou a derrota nos playoffs do ano passado, assiste-se a uma reedição da insegurança de um kicker que, desde há dois anos, entrou numa espiral de irregularidade que não oferece garantias de sucesso. Um contendor, que pretende revalidar o título de divisão, entrar nos playoffs com pretensões, não se pode dar ao luxo de ter sempre o coração nas mãos quando tenta uma conversão de 3 pontos. Os erros de Blair não se ficaram por aqui. Mesmo no final da primeira parte, já com o resultado penalizador de 10-0, ele voltou a falhar. 56 jardas é já uma distância considerável e até desculpável, em caso de falha. Mas o pontapé foi tão mau, tão impreciso, que se ele tentasse falhar daquela forma, de propósito, dificilmente conseguiria. Sim, Blair Walsh ainda se redimiu, parcialmente, metendo 4 field goals na segunda parte, de 30, 33, 45 e 50 jardas mas, pelo meio, falhou um ponto extra, após o touchdown de Eric Kendricks.

Andre Smith, RT – Foi o rosto da desinspiração da linha ofensiva, no quesito de apoio à corrida. Mas, se o resto dos seus companheiros claudicou como run blockers, incapazes de abrirem linhas para AP correr, Smith foi também medíocre no pass protection, revelando enormes dificuldades em suster os pass rushers adversários. Cometeu várias penalidades, impedindo progressões no terreno, e nunca revelou dotes que tranquilizem os fãs da equipa, depois do tormento do ano passado, com TJ Clemmings. Era suposto Andre Smith ser uma melhoria…

Alex Boone, LG – Foi a mais sonante aquisição na free agency e vinha com pedigree notável. O ar de bad boy e o jogo eminentemente físico deixavam antever um reforço de peso para a OL. Também aqui, tal como no caso de Andre Smith, as expectativas têm sido defraudadas. Nada de preocupante, para já, dada a precocidade da temporada, mas se AP não conseguiu correr, em grande parte deve-o à forma como Boone foi sempre batido, na luta de trincheiras. Como run blocker foi de uma inutilidade espantosa e os 7 tackles for loss que os Titans averbaram devem ser-lhe imputados, quase todos. Redimiu-se parcialmente na protecção ao quarterback, não permitindo grandes danos pelo seu lado esquerdo.

Chad Greenway, WLB – É um dos históricos da equipa e um jogador imensamente respeitado, quer no balneário, quer pelos fãs, mas aproxima-se a passos largos do final da sua carreira. Nesta fase, colocá-lo no outside, no trio de linebackers e dar-lhe deveres de cobertura, é uma tarefa hercúlea para o jogador, cuja lentidão não se coaduna com as características da posição. Contra a corrida, onde Greenway sempre sobressaiu na sua longa carreira, não foi também efectivo, culpa da falta de velocidade para perseguir de forma efectiva os running backs que procuravam a zona exterior para correr.

Everson Griffen, DE – Num jogo de contacto constante, é difícil manter sob controlo as emoções, mas é por isso – e para isso – que a maioria dos jogadores é principescamente paga. O empurrão de Griffen a Mariota, já depois da jogada terminada, é duma imbecilidade tremenda, uma daquelas que nos coloca à beira de um ataque de nervos. Neste caso específico, a flag originada pelo referido empurrão anulou uma intercepção brilhantemente conseguida por Harrison Smith, imperial durante todo o jogo na secundária.

3. Nota Final

Uma vitória é uma vitória, mas esta aconteceu, senão de forma fortuita, devido ao triunfo na batalha dos turnovers e a um plano de jogo do adversário extremamente casto. O conservadorismo de Mike Mularkey, cuja permanência como head coach dos Titans não foi bem recebida pelo grosso dos adeptos, pode ter custado o sucesso, neste jogo. O playcalling foi desinspirado, avesso a riscos, optando sempre, mesmo em third downs, por passes curtos, impedindo a equipa de ir mais além. Revelador da mediocridade existente no staff técnico, quando DeMarco Murray marcou, a 23 segundos do fim, o seu 2º touchdown, colocando o marcador em 25-16, Mularkey optou pela conversão dos dois pontos. A decisão é inexplicável, pois convertendo com sucesso o ponto extra, os Titans ficariam a apenas 8 pontos, passíveis de ser recuperados, se recuperassem o onside kick e convertessem um novo TD. Ao avançar, de forma precipitada, para o two-point-conversion, não convertido, Mularkey liquidou a última réstia de esperança à equipa.

Em relação aos Vikings, há muito que melhorar, e os problemas de concretização, quando a equipa alcança a red zone, parecem insolúveis. Em 3 idas lá, os Vikings saíram de mãos a abanar, evidenciando uma falha gritante de soluções e imaginação. O jogo tornou-se previsível, com a habitual aposta no jogo corrido ou, no limite, no passe para o meio do terreno. É pouco. Há que envolver no plano de jogo o rookie LaQuon Treadwell e encontrar uma forma criativa de dar a bola a Jerick McKinnon, num desses downs. É que o grau de exigência dos jogos vai aumentar exponencialmente, nas próximas semanas, com a recepção aos Packers e a ida a Carolina.

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Paulo Pereira

O meu epitáfio, um dia mais tarde, poderá dizer: “aqui jaz Paulo Pereira, junkie em futebol americano”. A realidade é mesmo essa. Sou viciado. Renascido em 2008, quando por mero acaso apanhei o Super Bowl dos Steelers/Cardinals, fiz um reset em [quase] todos os meus dogmas. Aquele desporto estranho, jogado de capacete, entranhou-se no meu ADN, assumindo-se como parte integrante da minha personalidade. Adepto dos Vikings por gostar, simplesmente, de jogadores que desafiam os limites. Brett Favre entra nessa categoria: A de MITO.