A View From the Bay: O Problema do 3rd Down

Hugo Taxa 2 de Outubro de 2016 Equipas NFL, NFL Comments
Gabbert vs Kaepernick

A View From the Bay: O Problema do 3rd Down

Após o brilharete da vitória na abertura da temporada, dois jogos fora de casa, contra dois dos adversários mais difíceis na NFC – os campeões em título Panthers e os actuais nemesis da divisão Seahawks – e outras tantas derrotas pesadas. No meio de tudo isto começam a ouvir-se vozes a pedir que Chip Kelly devolva o comando da equipa a Kaepernick, sendo que Chip mantém para já a confiança em Gabbert.

Será que Gabbert tem jogado assim tão mal? Será que com Kaepernick poderiamos almejar a uma qualidade de jogo bastante superior? Ou será que há outros factores que têm influência nas dificuldades sentidas pelo ataque nos dois últimos jogos? Não sendo um defensor acérrimo de Gabbert, gostava trazer à luz alguns indícios sobre o que se poderá estar a passar.

QB Play

QB Play

O quadro acima tem alguns dados combinadas ao fim dos primeiros 3 jogos das últimas 3 épocas dos 49ers. Relembro que o score da equipa era exactamente igual nesta altura da temporada, uma vitória e duas derrotas. Os dados são, respectivamente de cima para baixo, 2014, 2015 e 2016 (os primeiros dois com Kaepernick, o último com Gabbert); e da esquerda para a direita: passes completos, passes tentados, percentagem de passes completos, jardas ganhas em passe, Touchdowns em passe, Intercepções, Sacks sofridas, jardas perdidas em Sacks, QB Rating, jardas ganhas em corrida pelo QB, Touchdowns em corrida pelo QB, Penalidades ofensivas, jardas penalizadas ao ataque, conversões em 3rd down, 3rd downs jogados, e percentagem de conversão de 3rd downs. Se é notório que a percentagem de conversão de passes é mais baixa com Gabbert – uma redução superior a 10% – a percentagem de conversão de 3rd downs é ainda mais assustadora – apenas uma em cada três 3rd down são convertidos de modo a extender a drive. Por outro lado, Gabbert tem sofrido muito menos Sacks do que Kaepernick, e as exasperantes penalidades de delay of game parecem ter desaparecido.

Será que a responsabilidade da baixa taxa de conversão de 3rd downs é inteirinha de Gabbert? O principal factor que influencia a taxa de conversão de 3rd downs acaba por ser a distância necessária para conversão do 3rd down. Se a situação for sistematicamente um 3rd-and-long (vulgo, 6 ou mais jardas), a jogada escolhida é quase sempre um passe, pois em média uma jogada de corrida costuma render menos de 5 jardas. Ora, nestas situações as defesas podem ajustar-se à contingência e defenderem o passe, tornando muito mais difícil a conversão do 3rd down. Será que isto aconteceu nas últimas duas partidas? E se este foi o caso, o que terá motivado esta ocorrência? Pensando na mecânica do jogo, tal acontece quando o 1st e o 2nd down não conseguem render mais de 4 jardas em conjunto.

Vamos então olhar para o ponto de partida. Quais foram as tendências de playcalling dos 49ers em 1st down nos dois últimos encontros? De cinquenta 1st downs que os 49ers dispuseram (28 contra os Panthers, 22 contra os Seahawks), trinta foram em corrida (15 em cada jogo), e 20 em passe (13 contra os Panthers, 7 contra os Seahawks). Desses cinquenta 1st downs, apenas 13 ganharam mais do que 6 jardas, 8 em passe e 5 em corrida. Em termos de ganho médio de jardas por first down, temos respectivamente em corrida e passe, 3,3 jardas e 5,7 jardas (Panthers) e 5,2 e 4,4 jardas (Seahawks), sendo que no caso dos Seahawks, se retirarmos uma grande corrida por Hyde de 34 jardas, a média baixa para 2,9 jardas por corrida. Temos assim que o play-calling, por ser conservador – optando por uma corrida em 60% dos 1st downs – coloca os 49ers logo numa situação de pressão no segundo down, que depois naturalmente tenderá a se alastrar ao 3rd down. E a análise do 3rd down, que revela? Pois bem, contra os Panthers em 3rd-and-short (menos de 6 jardas) 66% de conversão (3 em 5) e 9% em 3rd-and-long (1 em 11, com 10 tentativas em passe apenas com uma conversão); já contra os Seahawks, 33% em 3rd-and-short (3 em 9) e 16% em 3rd-and-long (1 em 6, com a “conversão” a vir da corrida de Carlos Hyde para 8 jardas para o seu primeiro Touchdown, num 3rd-and-6 da linha das 8 jardas dos Seahawks).

No jogo contra os Seahawks foi ainda notório outra questão, pois em 7 dos 10 passes que Gabbert tentou em 3rd downs, o primeiro receiver nunca tinha a profundidade necessária. Ora se estamos numa situação de 3rd-and-8 e o receiver tem a sua rota com uma profundidade de apenas 6 jardas, dificilmente um passe, mesmo que completado, irá dar lugar a um 1st down. O mesmo se passa com 3rd-and-6 com profundidade de 4 jardas e 3rd-and-4 com 2 jardas. Como estas três situações se passaram no mesmo jogo, é imperativo perceber o que se passa: ou os receivers têm dificuldade na percepção de profundidade da rota e na posição dos marcadores de distância e ajustam as suas rotas para menor profundidade, ou então o responsável de play-calling anda a dormir – se é preciso 8 jardas, e a rota é um curl ou um come-back, o receiver tem que ter pelo menos 10 jardas de profundidade no final da rota. Nem o Montana conseguiria fazer milagres com este play-calling!

Quando a Defesa Fica em San Francisco

Do lado da defesa, a sensação passada foi que a vontade, a intensidade e o querer tinham ficado em San Francisco, o que começa a ser irritantemente a norma quando os 49ers se deslocam a Seattle.. A abrir o jogo Seattle pegou na bola e necessitou apenas de 2 jogadas e 36 segundos para percorrer 75 jardas e fazer Touchdown, com um passe longo para Baldwin e uma corrida longa de Christine Michael. Segunda drive, 16 jogadas, 8 minutos de tempo e mais 62 jardas para outro Touchdown. E assim que Jimmy Graham, com 8 minutos jogados no segundo período recebeu um passe de 18 jardas no coração da end-zone sem um defesa sequer no enquadramento da imagem (ou num raio de 5 jardas), colocando o resultado em 21-3, o vencedor estava encontrado, Gabbert pouco ou nada poderia fazer (pois a defesa dos Seahawks iria baixar de modo a defender o passe), e o grande objectivo era não sair de Seattle com 50 ou mais pontos “no lombo”.

A coisa foi tão má que pela primeira vez em 971 jogos, os 49ers permitiram que um RB e um WR conseguissem ambos mais de 100 jardas no mesmo jogo … se levarmos em consideração que os 49ers têm um total de 1014 encontros oficiais (incluindo playoffs) na NFL, tal remete-nos para a ocorrência anterior a ter lugar no início da década de 50 – um série de mais de 60 anos tristemente quebrada. O facto de Carlos Hyde se ter tornado o primeiro RB a conquistar 100 jardas contra a defesa dos Seahawks nos últimos 25 jogos é fraco consolo.

Os “Velhos” Rivais

Em antevisão ao encontro desta semana com os Cowboys, a NFL disponibilizou as imagens da clássica final de conferência NFC de 1981 entre os 49ers e os Cowboys, o jogo que deu origem à famosa “The Catch” e que deu acesso ao Superbowl XVI, onde os 49ers viriam a arrecadar o primeiro troféu Lombardi do seu historial. Podem ver o jogo na sua totalidade aqui:

Quanto ao encontro desta semana, o palmarés global ainda é favorável aos 49ers – 17 vitórias, 16 derrotas e um empate, e seria muito bom que a escassa vantagem fosse dilatada. Claro está, se o play-calling continuar a ser conservador, vai ser difícil.

About The Author

Hugo Taxa

Em meados da década de 80, e após ver vários episódios do "Eight is enough" na televisão (onde o filho mais novo aparecia no genérico com um capacete dos 49ers) tornei-me fã dos 49ers. A partir de 1990 tive a sorte de ter um vizinho de origem americana que recebia a Sports Illustrated, e que me dava as revistas após acabar de ler as mesmas. Segui assim as temporadas de 90, 91 e 92 pelas revistas (com de cerca de 3 meses, entre o jogo acontecer e eu ler a crónica sobre o mesmo na revista) até ver o meu primeiro Super Bowl na SIC em 1993, em directo. Tinha um teste na terça-feira seguinte, mas a antecipação era tanta que não me consegui concentrar no estudo durante o fim--de-semana ... e chumbei - tive que ir a exame!

Em 1996 acedi ao meu primeiro site na internet - espn.com. O objectivo era apenas seguir a NFL; e com o aparecimento da DSF no alinhamento da TV Cabo finalmente comecei a ver a Regular Season na TV - com comentários em Alemão!
20 anos depois me ter estreado a ver Super Bowls, acho que me posso gabar de apenas ter perdido o de 2000, e de ter visto em directo alguns dos momentos emblemáticos da NFL: Dan Marino a obter o recorde de jardas; Barry Sanders e Terrell Davis a correrem para 2000 jardas; Emmitt Smith a quebrar o recorde de Walter Payton; John Elway a "fazer de helicóptero" para ganhar o seu primeiro Super Bowl; e o melhor jogador de sempre - Jerry Rice - a dinamitar defesas adversárias.
A NFL pauta-se pelo equilíbrio, o que se traduz em todas as equipas terem os seus momentos altos e baixos. No entanto, mesmo em épocas difíceis como 2003 ou 2004 a fé nunca esmorece - 49ers Faithful!