Road To The Super Bowl XLIX: New England Patriots
A Essência de New England
É difícil para um tipo doente dos Seahawks com o eu fazer um artigo onde se arroga a compreender a essência dos Patriots (Mais ainda a poucos dias do Super Bowl onde obviamente espero que embrulhem olimpicamente). Mas vou largar preconceitos e pressupostos e emergir na nação Patriota, depois deste “mergulho” espero que os indefectíveis de Boston me perdoem.
Quem está de fora a olhar para dentro facilmente percebe que os Patriots têm tido um enorme e duradoiro sucesso na ultima década e meia e que esse sucesso assenta essencialmente em Bill Belichick e Tom Brady que estão junto nos Pats desde o ano 2000. Esta união já lhes deu um record de presenças nos play offs e muitas finais de Super Bowls das quais já trouxeram 3 anéis. Como consequência dos resultados desportivos o sucesso dos Patriots e a sua constante presença nos lugares cimeiros da NFL canalizou muitos adeptos para a equipa, mais ainda com a democratização do jogo através do desenvolvimento e maior facilidade de acesso as transmissões regulares dos jogos. De resto é normal quem contacta inicialmente com uma modalidade entrar em equipas que nessa altura estão a ganhar. No fundo é o famoso fenómeno de bandwagoning do qual inegavelmente agora e em parte sofrem os Seahawks, mas que já é antigo em New England ao ponto de se ter institucionalizado.
Além do aumento de fileiras existe uma parte negra para quem está sempre com possibilidade efectiva de ganhar. Quem está consistentemente no topo gera muito mais adversários que querem ver a equipa cair e mesmo muitos detractores que tentam constantemente minar a formula de sucesso construída. Este constante cerco aos Patriots criou um reflexo defensivo básico nos adeptos e nos jogadores de Boston. Uma coisa muito do género: “Estão todos contra nós por inveja, mas mesmo contra o mundo vamos continuar a ganhar”. É curioso ver que neste Super Bowl vão-se defrontar duas equipas acossadas, introvertidas e com a sensação que são eles contra o mundo. O engraçado é que padecendo do mesmo mal, as razões são diametralmente opostas: Os Seahawks estão sempre zangados porque ninguém lhes liga nenhuma. Os Patriots estão sempre zangados porque estão todos de olhos neles se sentem-se atacados demais.
Estão a ver aqui um padrão? Com ou sem razão e sem analisar a fundo moral e causas, é um denominador comum e muitas vezes o “nós contra o mundo” é um enorme motivar nas equipas. Na essência de Boston existe este estado de espírito, isso parece-me evidente.
Além das principais linhas condutoras da personalidade da equipa depois existem os cunhos pessoais.
O grande líder Bill Bilichick como o génio obsessivo do jogo. O estratega dos limites que construiu um inegável legado de inovações tácticas e práticas mas que insiste em renovar-se incessantemente, sem limites ao ponto da vida ser ultrapassada pela sua obsessão de vitória. Bilichick construiu isto tudo dentro de um cunho pessoal e debaixo da capa mítica envolta em distancia e mistério, muito na base do “Don’t ask questions and sleep safe. I’m doing the job”.
Em campo o General Brady. Um drat pick das rondas finais que dentro da sua quase etérea fraqueza se tornou numa das maiores figuras do jogo. Brady é arte e perseverança. As vezes é desconcertante ver o menino bonito no meio dos rufias onde quase parece não ter espaço nem ligação. Mas como um corpo estranho e dentro de uma vontade indómita de vencer teima em afirmar-se e em constantemente provar o seu valor e superioridade.
A fechar a trilogia, Robert Kraft, o famoso owner da equipa por muitos considerado o comissário sombra de Goodell, aquele que lhe sussurra na orelha o que quer ver implementado e que segundo os inside reports lhe liga todas as manhã para fazer uma revisão geral sobre estado da liga. Kraft é correcto, suave, simpático e inspira confiança. Por cima destes atributos construiu um enorme império económico e a mais organizada e estruturada equipa de Futebol Americano. A melhor definição que li sobre ele é que usa uma luva de seda para esconder a luva de ferro que usa por baixo.
Um franchise baseado em três figuras tão profundamente únicas e marcantes ganha inegavelmente o seu cunho e este tipo de personalidades são naturalmente geradoras de loucas paixões e de ódios profundos. Obviamente estas três personalidades explicam também em muito a essência da equipa.
Continuando a nossa busca da essência da equipa, quem acabou de ler os parágrafos acima fica com a ideias que existe uma aristocracia em New England. Eu acho que não, antes pelo contrario, em Boston normalmente existe um batalhão de excelentes jogadores mas de operários e não de vedetas. É um franchise onde os nomes de potenciais vedetas são abafados pela vedeta maior que é o próprio franchise. Os jogadores mesmo quando superestrelas vão para lá porque querem ganhar, e se querem ganhar trabalham com regras e rigor, sem olhar a nomes e a estatutos. Entram no regime da equipa e têm que se adaptar a ele e são os muitos os jogadores aceitam e se submetem a este regime pois sabem que aqui mais que em qualquer outro lado podem ganhar. Vejam o exemplo de Revis entre muitos outros nestes últimos 10 a 15 anos. Esta superação e adoração do colectivo ao individual é algo que mais uma vez une Seahawks e Patriots e que é raro ver nos outros franchises. Denver numa equipa de superestrelas fracassou por não ter este principio e a maior parte dos outros franchises é mais conhecido pelas suas estrelas que pela sua filosofia e ética de trabalho. Com os Patriots não é assim.
Finalmente a ultima característica da essência de Boston. A vontade de vencer e a perfeição competitiva levada ao limite do risco. Aqui mais uma similaridade com os Seahawks. Quando a vontade de vencer é levada ao limite, as vezes pode-se perder a noção e podem-se passar limites. Nos Seahawks quero acreditar que a extrema competitividade gerada levou ao surgimento de muitos casos de doping. Não creio que tenha sido uma política orquestrada centralmente, mas sim decisões individuais de jogadores, que para não perderem o comboio na equipa não hesitaram em seguir o caminho mais fácil. Em New England o Spygate e agora o Deflategate tendo a mesma base polemica têm contornos um pouco mais profundos pois fica a ideia que são as lideranças que os causam de modo calculado, agravados em alguma impunidade devido à associação que existe entre Kraft e Goodell. Temos que dar o desconto do circo que normalmente se monta à volta destes casos e sem entrar em teorias da conspiração inverosímeis, sem empolar factos que valem o que valem, sem a arrogância de lhes chamar batoteiros ou ter a maldade de menosprezar a superioridade da melhor equipa do século XXI, a minha visão nestes casos é factual e conjuntural. Primeiro factualmente e pelo que tenho lido acredito que os casos aconteceram. Depois conjunturalmente para mim estes casos justificam também o que é a essência dos Patriots. Em New England existe um procurar incessante de fazer mais e melhor e de ir ao limite para o fazer. Existe uma ambição que faz as vezes que se cruzem linhas e que se contornem regras. Isto faz parte do ser do franchise. Quem joga no limite arrisca-se a ultrapassar limites. Não existe uma lógica de mafia organizada mas antes um principio de ambição desmesurada. Esta é a principal essência da equipa.
Esta ambição que os puxa aos limites tem óbvias consequências quando se quebram ou dobram regras e obviamente se existirem provas concretas terão que, sem dramas, sofrer as consequências criadas pelo seu próprio ADN. Não defendo como certos profetas, a visão tendenciosa da total desvalorização dos feitos de New England por causa desta sua ambição. Mas também renego virgens histéricas ofendidas que sem o mínimo principio racional defendem a santidade dos Patriots e que deixam a emoção toldar-lhes o raciocínio ao nível do absurdo. Para estes fãs dos Patriots eu digo: Não se queixem! Percebam que está na vossa essência ir ao limites e em parte esse viver nos extremos tem-vos dado um enorme edge competitivo. Agora e por isso mesmo quando esses limites são ultrapassados, devem sem dramas e como todos os outros, pagar por isso.
A Equipa
Os Patriots têm um dos melhores ataque da liga mas será na defesa e na sua capacidade de parar o runing game dos Seahawks que pode residir a sua maior hipótese de vitória:
Do lado ofensivo da bola destaca-se obviamente a experiencia e vontade de ganhar de Brady um dos melhor de sempre na sua posição. Depois aparece a outra grande estrela da equipa o Tight End Rob Gronkowski disruptivo nos seus raids pelo meio do campo e forte como um buldózer. Neste campo pela experiencia e capacidade atlética a vantagem vai claramente para Boston. Mais que LaGarrette Blount um inferior copy cat de Marshawn Lynch a Offensive Line pode fazer mossa na defesa de Seattle. Stoke, Solder e Vollmer desde o desastre das primeiras semanas têm-se contado como mestres na defesa de Brady e na abertura de espaços para o runing game. Edelman, Amendola, LaFell sem serem superestrela são consistentes no apoio ao jogo directo de passe curto tão característico de Brady.
Repito é do lado defensivo da bola os Patriots podem jogar o Super Bowl, pois se o ataque garante no mínimo um score acima de 20 pontos será a responsabilidade deste sector conter um típico underrated mas muito perigoso ataque dos Seahawks. A qualidade dos Defensive Tackles capitaneados por Wilfork vai ser determinante para travar o previsível runing game adversário, mas mais importante será o corpo de Linebackers e a sua capacidade de vigiar e limitar Wilson ao pocket. Será a Jamie Collins ou a Don´ta Hightower que vai caber este papel , depois o resto será responsabilidade de Jones e Ninkovich para fazer subir o tom e a pressão. Eu pessoalmente não creio que Revis, Browner, Arrington, McCourty que compõem a forte secundária sejam efectivamente testado no passing game a não ser que a o jogo comece a fugir aos Seahawks. Estes apenas terão que ter atenção às big plays características de Wilson para matar ou salvar o jogo, mas isso será sempre lá mais para o fourth quarter. Até lá serão mais um apoio ou a linha de segurança para conter Wilson no runing-pass game tão único e característico do quarter back de Seattle.
Quanto aos Head Coachs pelo bem que dizem um do outro já percebemos que são amigos que se fartam mas em termos de capacidade profissional Bill Bellichick é incomparavelmente superior. Pete Carroll é um bom condutor de atletas e um forte motivador, mas como Field Head Coach é hesitante e conservador. Está mais apoiado em bons DC´s e OC´s e este facto têm poupado aos Seahawks alguns dissabores e mesmo tem-lhes dado algumas vitórias. Agora comprar o génio die-hard coching style de Bellichick com Carroll é o mesmo comparar em doçura mel e limão.
O Percurso até ao Super Bowl
Em mais um ponto os Patriots são gémeos dos Seahawks, pois ambos tiveram um péssimo arranque de campeonato. À Week 4 estavam com um score de 2W 2L e o mundo parecia que desabava em cima deles. Duas derroats fora em Miami e Kansas e dois jogos mal conseguidos contra os Vikings e Raiders e a nação Patriota pouco acostumada a estes arranques suspendia a respiração enquanto pontuais profetas da desgraça anunciavam o fim da era Brady. Aqui posso falar de cátedra pois a seu tempo fui premonitório. Escrevi que facilmente New England chegaria ao play offs e seria neles que efectivamente iria jogar a sua época. Dito e feito. Sete vitórias consecutivas (Bengals, Bills, Jets, Bears, Broncos, Colts e Lions) apenas travadas na visita a Green Bay. Depois um final de temporada calmo com vitórias frente aos Chargers, Dolphins e Jets, apimentado apenas por uma derrota frente ao Bills mas já em gestão de plantel para os play offs.
Francamente o percurso de New England na regular season é feito sobre um calendário perfeitamente acessível à qualidade da equipa. Nos play offs a difícil vitória com os Ravens foi amaciada pelo modo imperial com que esmagaram os Colts, já clientes habituais acostumados a ser encostados pelos Patriots. A meu ver o desafio desta equipa começa realmente agora, curiosamente onde encaram os Seattle Seahawks, a mais difícil e possivelmente a mais dura equipa da NFL.
Vai ser um grande Super Bowl, ou melhor, entre bolas pretensamente esvaziadas e a indomável propensão que o Marshawn Lynch tem para agarrar as suas cada vez que faz um touch down, posso afirmar sem margem para duvidas que vai ser um Super “Balls” Bowl inesquecível.