Road To The Super Bowl XLIX: Seattle Seahawks
A Essência de Seattle
O ano passado por esta altura escrevia um artigo a explicar como é que os Seahawks tinha chegado ao Super Bowl XLVIII. A minha lógica defendia a raiz de uma equipa de renegados e sem reconhecimento que de raiva queria marcar a sua posição na NFL. Não imaginava eu na altura a forma categórica e espectacular com os Seahawks viriam a derrotar os Denver Broncos e conquistar o seu primeiro titulo da NFL.
A seu tempo escrevi também duas coisas: Que era a equipa mais “universitária” da NFL devido ao seu estilo emotivo, competitivo e care-free e caso se unissem na vitória devido a ser uma equipa muito jovem, possivelmente se estaria a criar uma dinastia.
Com o conforto de escrever sobre o que já aconteceu hoje posso afirmar sem margem para duvidas que ambos os pontos que defendi estavam certos. Justifica-los ajuda-nos a perceber quem são esta Seahawks e como chegaram aqui.
A lógica “universitária” dos Seahawks tem várias vertentes. Não apenas pela sua construção ser feita essencialmente de draft picks e de gente muito nova, mas essencialmente na lógia pura de competição quase primária que se cultiva para aqueles lados. Para os lados de Renton o lema é “always compete” não olham a nomes nem a salários mas à capacidade e entrega que cada um deixa em campo e nos treinos. Os treinos são feitos de música aos berros e com repetições de jogos quase infantis levados ao extremo competitivo. Não se comportam como profissionais experimentados e de estatuto, mas sim como ávidos miúdos que querem deixar a sua marca. Esta é a grande diferença dos Seahawks para as outras equipas. Está foi talvez a principal razão porque despacharam a “vedeta” Percy Harvin, pois creio que nunca compreendeu nem se adaptou à essência do grupo.
Depois a lógia de Dinastia. Obviamente para se ser dinástico as vitórias contam e os Seahawks estão no bom caminho. Podem até perder este ano, mas são uma equipa jovem, que está a beneficiar de um excelente trabalho de renovação e onde as peças chaves estão praticamente todas asseguradas. Traumático seria perder o primeiro ano pois o golpe poderia ser fatal. Normal será não ganharem tudo, mas um titulo no bolso faz a equipa acreditar sempre que podem atingir os seus objectivos e eles estão cá para mais um par de anos pelos menos. Mais: se ganharem este ano, e face à lógica de renovação trabalhada por Carroll e Schneider podem já tornar-se mesmo num caso sério de durabilidade e títulos.
Mas para explicar quem é Seattle temos que voltar ao principio do texto. À parte dos renegados e raivosos sempre zangados e ávidos do atenção. Curioso ver que mesmo três anos depois de estarem sempre no topo da NFL continuam zangados, raivosos e chorosos contra o mundo. Foi engraçada a diatribe do Doug Baldwin no fim do jogo do titulo da NFC a chamar nomes aos jornalistas e a tudo o que mexia. Parece que se motivam para não esquecer. Parece que o facto de estarem contra o mundo os faz superar objectivos e lutar até ao fim. Depois não esquecem. O famoso “U Mad Bro” com que o Sherman baptizou Brady depois da vitória em Seattle frente aos Patriots derivou aparentemente de um ano antes (!) Brady se ter referido à equipa do Noroeste Americano como “nobodies”. A raiva para eles é como um combustível que os move e motiva.
Quem definiu bem a equipa de Seattle foi o excelente corner Patrick Petersen nas recentes entrevistas do Pro-Bowl quando instado a comentar o desproposito da raiva de Baldwin. Dizia ele que os receivers de Seattle são excelentes e bastante underrated. Já quanto ao facto de estarem zangados ele foi taxativo e respondeu que era normal. Afinal aquela gente está sempre zangada com alguma coisa.
Esta foi a melhor definição da essência desta equipa que eu li até hoje!
A Equipa
Os Seahawks são a melhor defesa da liga mas é o ataque que lhes permitiu dar o salto qualitativo de jogar para títulos. Mas vamos por sectores:
Do lado defensivo da bola temos um firmamento de estrelas. Não apenas na famosa LOB (Legion of Boom) composta por Sherman, Thomas, Chancellor e Maxwell (e Lane em Nikel), mas por um grupo de Linebackers de elite que permite pouco espaço ao running game adversário. KJ Wright, Bruce Irvin e especialmente Bobby Wagner são muito jovens, muito rápidos e muito fortes. São bons ao nível de Malcom Smith o MVP do Super Bowl do ano passado estar fora da equipa e a jogar em rotação. No Pass rush os experientes e muito poderosos Michel Bennett e Clif Avril são presenças assíduas na disrupção do quarter back adversário. No 4-3 de Seattle o Defensive Tackle Tony McDaniel tem sido gigante e Kevin Williams nunca pensou ter um papel tão determinante no seu final de carreira. A lesão do ondulante Mebane abriu-lhe a porta para um papel central na equipa e para um potencial final de carreira em glória.
Do lado Ofensivo da bola, podem os leigos pensar que é aqui que reside a maior fraqueza, mas não é. Comparados com a melhor defesa do campeonato posso afirmar sem duvida que os Seahawks não são o melhor ataque do campeonato. Mas o facto é que são um dos melhores e mais regulares ataques da liga especialmente no running game. Ora conjugando estes dois factores, costumo dizer que quando o ataque e defesa dos Seahawks jogam bem eles são imbatíveis.
Mas vamos decompor os sectores do ataque: Tornou-se vulgar dizer (eu inclusive) que a Offensive Line dos Seahawks é fraca. Mas quando a analisamos nome a nome e temos Okung, Carpenter, Unger e Sweezy temos um reforço no pocket que não é de desprezar. Verdade que a fraqueza tem estado na permeável extrema direita onde o rookie Britt e o inconstante Bowie têm tido enormes dores de crescimento, mas daí a dizer que é um conjunto fraco… Depois o corpo de wideouts. Dos undrafted Baldwin e Kearse já falamos acima através da opinião de Patrick Petersen. A Tight End o que parecia um enfraquecimento irreversível com a lesão de Zack Miller acabou por ser uma excelente oportunidade de renovação de posição com a ascensão do forte e dinâmico Luke Willson que tem feito um dupla demolidora com o outro Wilson. Do Russell pouco há a dizer a não ser que ainda longe do estatuto de Tom Bardy assume-se como um dos mais difíceis e imprevisíveis quarter backs da liga. A mestria na read-option, a capacidade de estender as jogadas e a habilidade de ganhar jardas a correr e fazer passes em movimento tornam-no letal. Depois o Rei Lynch o verdadeiro corpo e alma desta equipa. Mesmo com um contracto valido para mais anos em vigor e sem justificação de gestão para pedir mais dinheiro. Contra todos os meus princípios de rigor económico apenas tenho uma coisa a dizer: “Paguem ao homem!” Mais que ninguém nesta equipa ele merece.
Porque o Kicker Steven Hauschka e o Punter Jon Ryan são experientes acrescento uma nota relevante para ambos. Neste final de época em termos de importância o certeiro pé direito de Hauschka foi mesmo superado pelo fantástico passe para TD de Ryan contra Green Bay que revitalizou a equipa no jogo e os reencaminhou neste difícil percurso até ao Super Bowl. O ponto claramente negativo da equipa são as muitas faltas que provocam derivadas da lógica ambiciosa, universitária e quase infantil com que abordam o jogo. Contra uma equipa madura como os Patriots este tipo recorrente de asneira pode sair muito caro.
O Percurso até ao Super Bowl
Vista a época dos Seahawks ao contrário do que o score final apresenta o caminho na regular season foi difícil. A jogar na NFC West com os 49ers e Cardinals como adversários, o feito de conseguirem um score de 14 W 04 L ganha mais relevância. Foi uma equipa que começou mal a perder jogo teoricamente fáceis (San Diego, Dallas e St. Louis) e a ganhar os teoricamente difíceis (Denver e Green Bay). O facto é que a entrada da week 7 com um score de 3W 3 L poucos esperávamos um final de temporada tão forte dos Seahawks. Mas este foram uma equipa perfeita contra Carolina, Oakland, NYG, Arizona, São Francisco e Philadelphia. Mesmo a derrota em Kansas City acabou per ser um acidente de percurso de uma equipa que não merecia perder.
A first seed da duríssima NFC permitiu-lhes descansar nos wild cards. Depois uma vitória fácil versus Carolina escreveram história numa vitória impossível contra Green Bay num jogo que perdurará para sempre nos anais da NFL.
Encaram agora os New England Patriots, a mais difícil, mais bem treinada e mais em forma equipa da AFC para desafiar o destino e tornarem-se em improváveis bicampeões. Mais um passo para cumprirem o seu ambicioso destino de dinastia.