Deflategate: Perdem Todos, Ganham as Bolas!

Pedro Nuno Silva 24 de Junho de 2015 Red Zone Comments
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Deflategate: Perdem Todos, Ganham as Bolas!

Foram 11 horas de depoimento em New York! Onze horas de argumentos avançados por Tom Brady durante a reunião com Roger Goodell.

O dia de ontem na NFL foi totalmente dominado pela audição do QB dos New England Patriots, no âmbito do recurso apresentado por este em resposta à pena de 4 jogos que lhe foi aplicada pela liga, pelo seu envolvimento e alegada responsabilidade no síndrome das bolas mal cheias na primeira parte do jogo contra os Indianapolis Colts, correspondente ao AFC Championship Game.

Dizem os analistas do outro lado do Atlântico que Tom Brady não deixou uma única pergunta sem resposta, rebatendo todos os pontos do famoso Relatório Wells, que serviu de base para o castigo aplicado pela NFL ao jogador dos Patriots.

Mas se fizermos uma avaliação aos vários intervenientes neste bizarro caso, o que mais encontramos são debilidades e fraquezas, num processo de declarações peremptórias e relatórios indiscutíveis… com muitos rabos de fora. Senão vejamos:

1. Tom Brady

Jurou, jura e jurará que nunca tocou nas bolas com defeito… com excepção durante o jogo, claro. Afirmou, logo na primeira ocasião em que prestou declarações à imprensa, que nada fez, nem em 18 de Janeiro de 2015, data do jogo, nem em momento algum da sua carreira, contra as regras do jogo. A verdade é que acabou por ser castigado pela NFL com 4 jogos de suspensão, com perda de vencimento. A sua brilhante carreira parece, assim, poder ficar ofuscada por um caso que ninguém percebe. Sobretudo quando se tenta perceber a “utilidade” de reduzir  a pressão das bolas, quando estava em causa um jogo em que os New England Patriots eram claramente favoritos, como ficou bem demonstrado através da exibição da equipa e, principalmente, inequivocamente espelhado no resultado final: 45-7, Patriots!

2. Bill Belichick

Protagonizou a mais surrealista conferência de imprensa da história do jogo quando avançou com a teoria, com recurso às leis da física, que a perda de pressão das bolas poderia ter sido provocada por efeito das diferenças de temperatura entre o ambiente dentro do estádio e no terreno do jogo. Acabou por provocar uma acesa discussão científica, acabando, de forma mais ou menos consensual, desmentido por quase todos os cientistas a que os jornalistas recorreram para validar a sua teoria. Desde essa altura, Belichick tem-se limitado a prestar declarações de apoio formal ao seu QB e a Robert Kraft…

3. Robert Kraft

O comportamento do dono dos New England Patriots é o paradigma perfeito do famoso ditado “Entradas de leão, saídas de cordeiro”! Começou por negar, com toda a frontalidade, qualquer responsabilidade da sua franquia e dos seus funcionários no caso. Na semana anterior ao Super Bowl, afirmou mesmo que iria exigir um pedido formal de desculpas da NFL pelas investigações levadas a cabo sobre o caso e pela suspeição que as mesmas levantaram sobre a reputação desportiva da equipa. Após a saída do Relatório Wells e o anúncio do castigo aplicado a Tom Brady, Robert Kraft deixou o mundo do football de boca aberta ao dizer que… aceitava a decisão da NFL e não iria recorrer da mesma. Convém lembrar que, para além dos castigo de 4 jogos de suspensão aplicado a Brady, a liga multou ainda os Patriots em 1 milhão de dólares e retirou-lhes ainda a “pick” de 1ª ronda do draft de 2016 e da 4ª ronda do draft de 2017. Deste comportamento de Kraft nasce, possivelmente, uma das maiores incógnitas para o futuro próximo dos Patriots: que efeitos terá o “Deflategate” na excelente relação de Tom Brady com o dono dos Pats?

4. Theodore Wells

O homem que já se tinha notabilizado no caso de “bullying” que envolveu, em 2013, o “guard” dos Miami Dolphins, Richie Incognito e o colega de equipa, Jonathan Martin, foi o escolhido por Roger Goodell para instruir o processo. Após meses de espera, Wells publicou o seu relatório, descrevendo em 243 páginas tudo o que se terá passado nos bastidores do jogo entre os Patriots e os Colts. Mas se as conclusões retiradas do relatório são relativamente seguras quanto ao comportamento de dois funcionários da equipa de New England, a acusação contra Tom Brady soou a pífia para os analistas do caso. De facto a mesma é apenas sustentada em trocas de sms entre os dois funcionários, onde Brady é citado várias vezes, sendo citado num deles com o sugestivo nome… ” the deflactor”. Circunstancial ou não a verdade é que Wells apontou o dedo ao QB de New England, embora, nas mesmas conclusões, apenas pudesse afirmar que a responsabilidade de Tom Brady no caso era, segundo as suas palavras, “more probable than not”. Pois…

5. Roger Goodell

A época de 2014-2015 foi de muito difícil gestão para o  comissário da NFL. Depois do caso Richie Incongnito, em 2013, a época passada foi cheia de polémicas envolvendo jogadores estrelas do jogo, com grande destaque para os casos de violência doméstica envolvendo os RB's Ray Rice e Adrian Peterson. E quando a poeira parecia ter assentado de uma vez por todas, surge a bomba Tom Brady.
A posição de Goodell não é nada fácil neste processo. E a decisão que tome no âmbito do recurso é um verdadeiro pau de dois bicos: manter o castigo a Tom Brady, mesmo perante as debilidades da prova encontradas no relatório Wells, significa perder, definitivamente, o apoio de Robert Kraft. E quem acompanhou o lock out da NFL, em 2011, sabe o papel essencial que Kraft teve na resolução do conflito entre a NFL e a Associação dos Jogadores Profissionais, liderada pelo duríssimo DeMaurice Smith, Director Executivo da NFLPA. E fica mesmo um certo cheiro a vingança, uma vez que Tom Brady, juntamente com Drew Brees, Peyton Manning e outros sete jogadores, foram protagonistas, logo no início do conflito, de uma acção “antitrust” contra a NFL (ou seja, uma acção anti monopólio ou actos contra a livre concorrência), dando assim o seu apoio às posições da NFLPA.

Por outro lado, eliminar o castigo a Tom Brady poderá exacerbar os ânimos de DeMaurice Smith, que o poderá acusar de não ter coragem de castigar as super estrelas do jogo, apimentado ainda pelo factor racial, tão sensível, por estes dias, em terras do Tio Sam.

O nosso prognóstico em relação à decisão de Goodell será um meio termo: redução da pena para 2 jogos, por exemplo. Apostamos?

6. As Bolas

As últimas notícias que nos chegam de Foxborough é que estão de muito boa saúde e que já recuperaram da súbita falta de ar que sofreram em Janeiro passado. Menos mal que há alguém feliz neste estranho caso!

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Pedro Nuno Silva

Português. Duriense de nascimento. Tripeiro de coração. Minhoto por adopção. Numa palavra: nortenho. Ou seja, tinha tudo para ser um ignorante sobre futebol americano. Mas a 2 de Fevereiro de 2009 tudo mudou graças a cerca de 2 minutos de um jogo que era até aí um mistério insondável! Os culpados? Todos os jogadores dos Steelers e dos Cardinals. Mas, em particular, Ben Roethlisberger e Santonio Holmes e aquele touchdown a 30 segundos do final do jogo num equilíbrio improvável e que desafiou as leis da física e se pode colocar ao lado de um qualquer volteio do mais virtuoso bailarino do Bolshoi. A paixão pelo jogo cresceu de tal forma que hoje olho à minha volta e acho estranha tanta algazarra por causa das vitórias do F.C.Porto, da nossa seleccção ou das birras do CR7. Definitivamente tornei-me num alien em pleno coração do Alto Minho!